Sou sensível à dor. Sempre procurei curar todos aqueles que cruzavam meu caminho e sempre fiz questão de que soubessem que eu estaria lá para ampará-los. Carreguei fardos que não eram meus, coloquei dentro de mim dores que não estavam planejadas para mim.
Contudo, não conseguia e não consigo lidar com a minha própria dor. Me sinto sozinho na maior parte das vezes, como se nenhum ser humano fosse capaz de entender o que acontece dentro do meu corpo. Para ser honesto, nem mesmo eu sei o que acontece comigo. Tento me anestesiar das coisas, mas não consigo. A intensidade rompe meu peito e me deixa frente a frente com meus pesadelos.
Diversas vezes me vi sentado e escrevendo sobre tudo o que sinto. A escrita sempre foi minha escudeira, mas veja bem, não consigo entender nada dos sentimentos que estão no papel. Eles apenas fluem como rios, me encharcam e me fazem refletir que finalmente os coloquei para fora. Mas entendê-los? Nunca consegui. Acho que nunca conseguirei.
Minhas dores foram se acumulando e, ao mesmo tempo em que me entregava aos outros, me perdia dentro de mim. Todas as vezes em que me deparava com a crueldade humana, me sentia violado. Nunca consegui entender o porquê de tantas coisas ruins acontecerem e o fato de não poder fazer nada perante isso me assombra.
Quanto mais dor, mais peso. Quanto mais sofrimento, maior era minha vontade de me esconder do mundo.
Não acho, de forma alguma, que alguém jamais irá entender por completo o que sinto. Sei que eu nunca compreenderei em totalidade a consciência de outro ser humano, então não vejo sentido em esperar que alguém consiga fazer o mesmo comigo. Contudo, se posso descrever na escrita aquilo que me representa, seria o caos. Eu já lutei muito contra ele, hoje apenas entendo que ele nunca vai deixar meu corpo.
Então, eu o abraço. Da mesma maneira que abraçamos um velho amigo, pois se sou incapaz de entender minhas dores, escrevo o caos através das linhas, bebo do vazio existencial para as minhas sílabas e guardo meus sentimentos por dentro da escrita.
Eu evolui, como pessoa, como filha, como amiga, como paciente e como outras coisas que eu sou. A vida me proporcionou muita dor, choro, angústia, risadas, amores e momentos. Fazendo eu enxergar além do que eu conseguia ver, coloquei vírgulas onde deveria ter pontos finais, lutei por guerras que já estavam perdidas, amei com tanta intensidade alguém e fui tão fria com outras. Mas de nada arrependo, pois a cada vez que me vi em choro, desabrochei mais forte no dia seguinte e continuei, continuo e continuarei gritando em grande voz, que essa SOU EU!
Como uma enorme peça de teatro, repleta de holofotes, grandes cortinas e figurinos minimalistas, todos desempenham seus papéis segundo seus próprios personagens. Escondidos por trás de suas máscaras claras como as páginas vazias de um livro, ilustradas a cada capítulo de seus disfarces. Ironia pensar que seria algo tão original considerando ser algo tão cansativamente saturado. Apenas o mesmo de tantas outras peças, tendo como única divergência os atores por trás dos figurinos.
A obra retrata o viver de uma família lesionada e desorientada, daquelas que nem sequer percebeu que se perdeu dentro de casa. Cada um tenta viver segundo suas crenças, o que gera uma gama de oportunidades para o ordenado caos expandir. A inflexibilidade irracional da maioria mantém a casa como sempre esteve, já que esse é o caminho com menos mudanças, até porquê, todos tem razão, não é? Um dos grandes motivos dessa permanecia caótica é que nenhum dos envolvidos expressa sua razão com verdade, apenas abrem seus braços e correm calorosamente em direção a saída mais fácil. E isso se mantém por horas e horas de apresentação dolorosamente tediosa. Mas não se engane, isso não é sobre família.
Não desejo mais participar, assistir ou sequer pensar em tal obra teatral tão desagradável. Somente nós sobramos aqui, assistindo, como meros espectadores. E quem sabe quando termina? Ninguém? Decepcionante. Pelo visto, devemos aguardar a tão esperada reviravolta. Até lá, mantenho-me tortuosamente calado, desaprovado e desaprovador.
Entre uma xícara de chá e outra, entre o silêncio e a escrita, entre as cinzas e o cinzeiro, entre as noites mal dormidas e o cansaço da alma, entre os pesadelos e a realidade.
Lembro do frio na barriga, da sensação de conforto na alma, a euforia de poder sentir pela primeira vez as emoções de um coração sendo preenchido. No começo você não entende muito, nem compreende o que está ou o que poderá acontecer e mesmo assim você sente a sede com a necessidade de continuar, até ver aonde vai dar. Ele te transborda, te deixa cego (a), sem raciocínio, o coração acelera com uma mensagem, com a voz da pessoa, com um sorriso, com um olhar mútuo e sincero. O primeiro amor é uma descoberta do começo de uma juventude plena, mas o que muitos não compreendem de primeira é o que o primeiro amor nasce de uma paixão latente que perturba seus pensamentos, sua mente e também sua vida.
Dizem que o primeiro amor marca profundamente, aquele amor que você acredita que nunca irá te decepcionar. Porém, já dizia a música: Sinônimo de amar é sofrer. E isso é uma coisa que ninguém escapa...
O amor vem de repente, sorrateiro, sem escrúpulos, sem aviso, como onda de oceano prestes a te afogar, você só afunda se não souber nadar ali. E quem disse que o amor é uma coisa fácil de lidar? Eu digo: depende de você e do seu parceiro (a).
O primeiro amor nos marca a alma e nos ensina que não será apenas uma vez que você irá viver um amor genuíno, mas terá amores que irão marcar sua vida, seus sentimentos e também seu coração de maneiras diferentes, distintas e únicas. E apesar do final ser feliz ou não, o importante é que você viva O AMOR intensamente e de todas as formas que desejar.