O monstro em mim
Entre toques incertos sobre minhas mãos e apertos sôfregos em meu punho, não fora preciso olhar para Scott para ter a certeza que havia lágrimas e dor. Era possível sentir o que causei no tremor de seu toque em mim tanto quanto podia ouvir sua respiração ser puxada com aspereza quando saiu pela porta do quarto me soltando por fim.
— Scott…
Quase não reconheci minha voz ao soar tão frágil e suplicante como se ainda fosse a garotinha com medo da noite e do monstro que andava até meu quarto e deitava em minha cama. Quando toda a dor do passado me deixaria livre? Quanto tempo mais teria que sugar das pessoas para no fim não sobrar nada delas e tudo que restar em mim de nada me servir?
Parada no meio do quarto, olhei para a cama que sequer fora tocada de noite, a briga tomou todo nosso sono inundando o que estava guardado há tempos. Deveria ter imaginado que uma hora ou outra iria ser jorrado para fora. Voltei-me para o espelho próximo à janela do quarto vendo perfeitamente a casca de uma mulher sobrevivente descascando depois de tanto insistirem pela sua criança interior cheia de traumas que somente queria esquecer tudo que vivera.
Minha vida era um pesadelo e falar sobre me fazia mal.
Por que Scott não entendia isso?
Sei que ele me abraçaria, me deixaria chorar até adormecer em seus braços se lhe dissesse o que tanto me traumatizou, porque era assim que ele era. Mas não quem me tornei. Havia cicatrizes em mim que mesmo cicatrizadas ainda me lembravam a causa delas e para mim o melhor era ignorá-las e fingir que não existiam. Minha mãe costumava dizer que às vezes, saber o que não é para saber, destrói percepções na nossa vida que pode ser a principal pilastra que sustenta nossa emocional.
E eu já estava tão rachada que se tocasse em tal assunto, desmoronaria.
Talvez se eu tivesse dito isso a Scott antes de optar por postergar seus questionamentos quando nossa relação começou, estaríamos ainda no quarto, acordando possivelmente com carícias e não comigo indo atrás dele na sala vendo-o revirar as pequenas molduras em cima da mesa de centro, retirando as fotos de sua família que espalhara pela casa.
Cada movimento preciso me fazia perceber que o perderia para sempre. Não havia mais dúvidas ou incertezas em suas ações de retirar e colocar elas dentro da bolsa repleta de roupas suas que há minutos jaziam no guarda-roupa do nosso quarto.
— Você não precisa sair… quem alugou e esteve aqui primeiro foi você – sussurrei sentindo uma secura incomodar minha garganta, porque escolher aquelas palavras medíocres em um término me fazia a pior nova-ex-namorada que alguém poderia ter, tanto que ele revidou soltando um som gutural debochado de sua garganta.
— É claro que preciso, Toph. Você já está em mim o suficiente. Não preciso de um quarto que cheira a você, de uma sala onde me lembre suas risadas ao sofá assistindo programas de baixa qualidade… Eu só preciso… ir.
Não queria que acabasse assim. Queria que entendesse que muitas pessoas precisavam guardar suas histórias dolorosas, que compreendesse que monstros famintos soltos devoram e estraçalham.
Por que Scott não entendia isso?
— Eu amo você.
Murmurei, mesmo que para ele soasse egoísta da minha parte. Queria que soubesse. Que não duvidasse. Jamais o impediria de ir ou tentaria o persuadir com tais palavras. Era apenas como me sentia.
— E eu amo você, T, – soltando as molduras sobre a mesa de centro, disse sem me olhar. — … e é por isso que preciso ir. Ficar só me faria te odiar… E eu prefiro perder a paixão que sinto por você do que o amor. Porque amar você foi a melhor coisa que senti em muito tempo.
Se um raio tivesse me atingido ali naquele momento, teria doído menos. Ele me mataria na hora, seria indolor. Mas ouvir Scott dizer aquilo destruiu por fim a principal pilastra que sustentava o meu emocional. E eu caí ao chão sentindo toda a dor que me preenchia, que sufocava, porque ele poderia ser a melhor coisa para mim em muito tempo também, mas eu sempre seria uma vítima de abuso e por mais que eu desejasse esquecer, o monstro em mim ainda serpenteava minhas memórias quando eu fechava meus olhos e não me deixava ser feliz e nem contar.
📖 Entre uísques & confissões
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Eu evolui, como pessoa, como filha, como amiga, como paciente e como outras coisas que eu sou. A vida me proporcionou muita dor, choro, angústia, risadas, amores e momentos. Fazendo eu enxergar além do que eu conseguia ver, coloquei vírgulas onde deveria ter pontos finais, lutei por guerras que já estavam perdidas, amei com tanta intensidade alguém e fui tão fria com outras. Mas de nada arrependo, pois a cada vez que me vi em choro, desabrochei mais forte no dia seguinte e continuei, continuo e continuarei gritando em grande voz, que essa SOU EU!
Menina de Oz
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"Ultimamente está tão difícil de conseguir algo que quando consigo até duvido que seja verdade ou se mereço mesmo."
MCPA.
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“Eu começo um poema pensando no que eu preciso. Eu preciso de silêncio para começar um poema, muito silêncio, aquele silêncio que ensurdece, que se ouve coisas que no meio de uma agitação de coisas não se ouviria. Eu preciso também de muita inspiração, mas não daquela esotérica onde eu preciso me trancar no quarto e esperar que alguma entidade se revele para mim ou de que a vida manifeste algum sinal de que existe algo belo. Inspiração de saber que eu estou vivo, e sentir que eu estou. Muito além do que saber é sentir, os sentidos importam para a poesia e para a alma também. Eu preciso também de algo que me faça sangrar sobre o poema, eu não digo figurativamente, mas literalmente, espremer o coração e parecer que faltou ar. Eu preciso de insônia, eu preciso de... Eu preciso de prazer, de um prazer contínuo que me arranque talvez um pouco da realidade, ah isso! Eu não preciso da realidade, eu preciso da loucura, de sonhos não sonhados, desejos não realizados. Eu preciso de uma lembrança, uma lembrança que eu queira apagar, mas que eu não consigo. Como uma mancha que não se remove de um tecido fino que foi costurado a mão, essa lembrança pode ser sua, pode ser nossa, mas na maioria das vezes é uma lembrança de você.”
Como Eu Começo Um Poema, @esponsal
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Angel
I didn’t want to believe you were here, but I knew. I saw the signs; I felt them. My body changed so fast. I saw you in my dreams. But, like the begging, the ending was only us. I never thought losing someone would hurt me so much as when you left me. Now I’m lost. Lost in thoughts. Lost in feelings. Lost in emotions. Sometimes I think the worst question I could ask myself “what if...?”. “What if you were here still?”. Hope I find some comfort someday. Every time I cry for you, my heart hurts. I’ve been trying to live my life as usual without you. I know it is not your fault you left me; I guess we both weren’t ready anyway. But, I want you to know that you’ll always be the first one. An angel that I will have a special place in my heart for. Angel, you’re the baby I will always miss the most. I love you. R.I.P.
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