Árida
Já não me interessa a divina engenharia
Já não me admira a auto obsessão
Já não me convence essa exposição
Já não me comove cada uma das virilhas
Meu coração é um ímã e uma ilha
Cada carícia, uma batida disforme
Cada ferida só pôde ser salva graças
A química que vertem línguas
Querer a provocação, esquecer imagens
A traça sábia antevê o ciclo
O engano do teu céu centrífugo
Dependurando anjos cheirando a formigas
Uma comoção para uma camisa branca
Saltando intestinos, mascando países
Questionar cada arcada dentária de leões?
As presas verteram-se em dedos segurando canetas
Me pesam ossos e páginas
Que desesperadamente arranco
Como se fossem pétalas
Para diminuir o peso da memória
A margem do segredo
Uma verdade de cactos:
O abandono é uma divindade
Colhida no auge do temor
Em fissuras nos céus de cemitério
Prendo o feitiço dos ossos
Cravo teu nome na saliva que me derrete
E tão pouco, me embebedo na chuva...
Desabroche âncoras do peito
Não importa qualquer escolha
A vaidade é um único amor que me prostro
Seja para cessar os enigmas da esfinge ou não...
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Cartografias
O encanto se desenha na sonoridade
Me inventa nomes e significados e ditados
Tão vingativo e doce, como seu céu de vinagre
Misturando chacinas que não coagulam
Abruptamente, o homem me interrompe
Há a espera para anjos significativos
Solvidos há luz da neblina de algodão
Meu púbis reluzindo dentro do teu mistério
Temente a construção-esôfago
Importunando a hipótese ao escombro
As glórias folhadas em um ouro cego
Ou seria um sangue advertido do processo de clarividência?
Canto somente ao meu estômago
Que sutura você nas sombras que me rodeiam
Nos amores que diluo teu nome com a força
De quem reza para enfim ser esquecido
Moinhos me atentam ao caminho de tijolos
Inventando dúzias de baratas tontas
As convencendo que meu corpo é karma
E involuntariamente eu mereceria seu conforto
Derreti em teu cinema junkie
Feito silicone na língua
Inventei você e nosso paraíso industrial
Arrotando carne de fino corte com estômagos vazios
Me assusta tua vinda, mesmo que eu a tenha desejado
Não esperaria que você se desposasse de teu amores
Tão furtivos. Já eu eu tão afoito, não lhe conheço
E pulso amor, rancor e outros mil desejos homogêneos
Outra vez, estive nas intranquilas águas
Afundava e gritava teu nome para que ele me escapasse
Para que águas o afogassem, mas tal regalia não fora comprida
Tu, mostrara-se mais resistente do que a minha vã imaginação
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Verbos/Detritos
Lágrimas de azeite
Sob a ferida-reza
A espressura de alívio
Todo o odor de êxtase
Vista-se enquanto
Eu hei de varrer teu nome
Para a catedral da memória
Onde todo o tato é réu inconfesso
Eu ouço as entidades do futuro
Dançando a sina onde um país apodrece
Seu corpo não será mais adubo
Mas a pólvora e a graxa de novas máquinas
Há uma tensão valsando no silêncio
Atiçando diabos adormecidos
Intersecções e brasas da vontade
Equilibram o Saturno de todo homem
Em tua sala há toda a fauna empalhada
Entre teus dentes uma réplica de florestas
Pulsando o álibi de eucalipto
É preciso ceder, antes que se desagradem
Com urgência traçar novos trópicos
Com rigor de garfo e faca
A etiqueta acima da verdade
As aparências como um quinto poder
Tudo que disse entre a decomposição do sal
E o desenlace de todas as fragilidades
São fagulhas que voltarão para mim no final
Como palavras-esponjas absorvendo todo o alarde
Contrariar as pressões nos pulsos
Tais eventos expandem as trações
Onde tudo é sulco posto a acusação
Gozos e pedras, abandonos e geografias...
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Antes que se Somem Duas Décadas
Teima em me tingir nos teus bosques
Tão madeira fria, que torna-se consultório médico
Tão pálidas, vide salas de espera minúsculas
Aceite-me com todo o pesar
Transcende o teu rosto
Eu não o lembro, para depois
Ser atingido violentamente
Por tua presença inócua
A meia noite eu me arrasto em rezas vulgares
Cantando teu nome entre pernas e algozes
Ferindo o tato que me manobra imprudente
Mastigando nomes de bordeis e amantes
O arrependimento artístico
É um performance por si só
A embriaguez de nudez
Se constrói fugas unânimes
Ao expelir lágrimas furtivas
Acalma-se, preciso cuspir versos
Adoto ouvidos que ainda me queiram
Lhe escrevo versos com a língua
Em buracos que nunca ousará ir
Para assim não descobrir
O rumor que meu amor por você
É a força sob a química
Eu cultuei a tua imagem nublada
Em corpos que repuxavam
Aceitavam teu nome nelas
Desde que fosse imperdoável
Eu sigo com uma certeza, em vão:
És tu a minha faca de dois gumes
Ao lembrar-me de ti, esqueço mais de mim
Ao esperar-me, reafirmo-me em óbitos
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Outra Vez Uma Carta Aberta às Reticências
Derreta o êxito nos excessos
O infortúnio das mãos moles
Te puxa e te perde de cinco em cinco minutos
E repete o exercício como um moderno Sísifo
É vertigem, meu bem
Todo este marasmo
Já converte-se em tango
A máquina do desespero autoafirma-se
As asas de cristal, o pouso na ponta da luz
A promessa feliz declarada em queda livre
Eu preciso, eu desejo, eu lhe aceito
Mas não esta pobre e atrevida encarnação
Há covos a começar por mim
Sustentando cinquenta cavalos
Em cada uma das penumbras
Julgando desinteresse, teorizando noites
Desenho o abismo de fragilidades
Performo distração, atribuo deselegância
Os olhos que fitam delírios ousam querer para si
A permanente vitória nos campos da atribulação
A única nota era a de absolvição
Prevista para o dia que espirais
O sugassem para o mar de águas castanhas
Úmidas com a invenção do outono
Vil, é a separação estendida
Pensei em cantar à lua
Por maré alta e outras carcaças
Em meu mesquinho ato de ciúme
Acredito piamente no intervalo
Acredito em todas as provisões
Costuro o lugar que não exista tempo
Nas vertentes silenciosas das tuas reticências...
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