Cada vez que te sonho, um riso novo floresce
Uma nova cor é desovada de minhas lágrimas
Desolado, vago por fissuras entreabertas
Pregando o antagonismo que louvamos à Tânatos
Um riso ofuscado
Ainda amante do óbvio
Desabando joias de zinco
Do teu céu da boca contrabandeado
O futuro é vermelho, mas minha gestação
Fora toda gris, por toda a minha primeira infância
São ampulhetas e cristais de flúor dissolvidos em meu mergulho
A cada corpo sufocado em meus braços, os venenei com Mercúrio
A pólvora neon escarlate
Escala meu corpo e colide
Contra meus lábios, explodindo ressentimentos
Derretidos pelos olhos uma última vez
A corredeira continua
Me tira uma valsa e um verso
Derrama vestidos, aguça a açucena da saliva
Tais momentos atracam ao peito
Na frente daqueles trovões
Ordens são premeditações
Que a tração não encontra
Para domar cavalos selvagens
Tudo que me desperta para longe dessa noite
Era o fascínio que o horizonte prometera
O peso nos pés de mil anos desfazendo cores
Refazendo misturas para um céu púrpura
QUARTO DE DESPEJO (2023)
Carolina Maria de Jesus e Ruth de Souza
Quarto de Despejo" é um livro escrito por Carolina Maria de Jesus, uma escritora brasileira nascida em Minas Gerais em 1914 e falecida em 1977. O livro foi publicado pela primeira vez em 1960 e é um relato autobiográfico que apresenta o cotidiano de Carolina Maria de Jesus na favela do Canindé, em São Paulo.
O título "Quarto de Despejo" refere-se ao local onde Carolina vivia, um barraco precário na favela. No livro, ela descreve as condições de vida difíceis, a pobreza extrema, a fome e as lutas diárias para sobreviver. Carolina registrava suas experiências em diários, nos quais ela expressava seus pensamentos, emoções e observações sobre a realidade à sua volta.
O livro ganhou destaque por retratar a vida de uma mulher negra e pobre no Brasil durante os anos 1950 e 1960. Carolina Maria de Jesus foi uma das primeiras escritoras negras a alcançar reconhecimento no país, e "Quarto de Despejo" é considerado um importante documento histórico e literário que oferece uma visão única das condições de vida nas favelas brasileiras naquela época.
O livro “O Dote de Letícia” é o presente ideal para quem questiona e quer resposta para sobre a vida.
Confiança "...é a poderosa e sensível teia de sustentação. Embora fácil de quebrar, enquanto estiver íntegra se torna o poderoso sustentáculo da relação...” (Trecho do livro "O Dote de Letícia").
O Dote de Letícia consegue dar leveza a temas cotidianos que parecem pesados de se discutir. Os problemas são resolvidos sob a lógica dos personagens e ganham leveza na pena do autor.
Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.
Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de “minha vida”. Outros fragmentos, daquela “outra vida”. De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector “Tentação” na cabeça estonteada de encanto: “Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível”. Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.
De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.
Era isso – aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.
Daqui, De dentro de mim Me olhei e não me vi; Resolvi sair, Me encontrei no mar E velejei em lágrimas. #art #arte #foto #photo #poesi #poesia #poeta #kennedyanjos #poema #poesiabrasileira #poems #poetrycommunity #poetrylovers #literaturabrasileira #literatura https://www.instagram.com/p/ClhRqgWAmP-/?igshid=NGJjMDIxMWI=
"Meu rosto é meu, minhas mãos são minhas. Minha boca é minha, mas eu não sou. Eu sou seu." Capitão Fantástico
Meu rosto é meu, minhas mãos são minhas.
Ao toque das suas, tão suaves, lisas.
Minha boca é minha, perto da sua, respira.
É tudo meu, mas eu não sou.
Eu sou sua.
Somos estrelas, meu amor,
separadas pela distância de uma Via Láctea.
Um amor impossível, uma esperança falha,
de vê-lo no mais tardar de um dia sem chuva.
Os céus daqui são nebulosos e chove tanto.
Os céus daí são secos, indiferentes ao meu pranto.
Queria te ver, ter-te novamente ao meu lado.
Eu sinto sua falta, meu querido, meu amado.
Passo os dias ajudando a construir este mundo, esta galáxia.
Esperando e contando os dias até a sua chegada.
O momento prometido a nós dois, quando poderei tocar o seu rosto;
Rir com você, passar as mãos pelos teus cabelos, tê-lo de novo.
Altair, Altair, Altair...
Seu nome ecoa pelo meu coração, soando longamente no espaço.
Cada cômodo é repleto da sua falta, eu iria ao seu encalço
todos os dias, todos os anos, todos os segundos...
Se me fosse permitido ser sua.
Altair, sou eu, Vega.
Sua tecelã dos sonhos, sua princesa, sua estrela bela...
Você se lembra da minha voz, se lembra como ela soa?
Eu sempre me lembro da sua, mesmo nunca estando à toa.
Eu não quero esquecer de você, Altair, meu amor.
O cuidador do rebanho celestial, meu querido, o pastor.
Nunca quis lhe deixar, mas foi preciso...
Juntos, o mundo jamais estaria findo.
Altair, você é a mais bela estrela que algum dia passou pelo meu olhar.
Eu trabalharia ao seu lado para sempre, para sempre poder te admirar.
Tentei nos separa, e nada poderia me doer mais.
Nós não somos nada além de duas estrelas longe demais.
Em julho eu sempre me lembrarei de você, buscarei suas lembranças nos meus sentidos
Eu amo tanto você, meu príncipe, meu amor, meu amigo.
Mas para mim, o céu sempre estará nublado, em todas as noites de Tanabata.
Eu pude tê-lo por um momento, um momento tão doce, que agora amarga.
Adeus Altair, minha estrela-gêmea.
Meu coração é teu, sempre será teu.
Mesmo que em algum momento já não o seja,
lembre-se que eu te amei muito, mas tive que lhe dar adeus...
Por nós dois.
02/10/2022
Esse poema se baseia na lenda do Tanabata ou Festival das Estrelas, celebrado no dia 7 de julho. Conta a história de amor de duas estrelas, Orihime e Hikoboshi (ou Vega e Altair), e a tragédia da separação dos dois.
I’m reading that book from Guimarães Rosa and can’t help but write to you. I’ve never seen something like that! It’s the most beautiful thing these days. I don’t know the limits to his inventive power, but it’s beyond imaginable. I feel like a fool. His language, so perfect even in intonation, it's directly understood by the intimate language of ourselves - and in that sense he more than invented, he discovered, or better, invented the truth. What more could you want? I even feel afflicted by liking it so much. Now I understand your enthusiasm, Fernando. I already understood because of Sagarana, but this one goes so beyond that it explains even better what he wanted with Sagarana. The book is giving me a reconciliation with everything, explaining the invented things, enriching it all. How everything is worth it! The smallest try is worth it. I know I’m kind of confused, but it will go like that, mixed. I think the same as you: genius. What other name to give? That one.
Write me, tell things you think about him. In that way I read even better.
A bondade era morna e leve, cheirava a carne crua guardada há muito tempo. Sem apodrecer inteiramente apesar de tudo. Refrescavam-na de quando em quando, botavam um pouco de tempero, o suficiente para conservá-la um pedaço de carne morna e quieta.
Transita entre cômodos a esperança
Havia um nível de imersão na mitologia
Variando entre seringas e costelas
Um oásis a memória de elefantes é fundado
Foste visto ente Medusas e intérpretes
Confabulando deuses instáveis como animais
A mística efêmera custa a crer em austeridade
Cada aparição é o desgosto do ethos local
Esta paisagem antisséptica
Carregava ossos e cinzas
A ancestralidade não proposital
Toma para si, feitos inócuos do paladar
Esta pulsão indesejada esteve coexistindo aqui
Interpolando visitas e figuras de linguagem
Presentes em cada uma das gargantas
Que se tingem de encanto
Este país é um hotel bradando virilidade
A todo instante em todos os seus personagens atordoados
Coexistem eficientemente dentro de um teatro babilônico
Onde cada um fragmenta para si seu próprio olimpo-passivo
Imagine você, cirandando bocas
Engolindo um mantra constante
Proclamado por eletrodomésticos
Ressoando os pensamentos da máquina
Cada altar beira precipícios
Tais indicativos são:
Vampiros desdentados
Deixados para agradar hóspedes
É preciso acalma-los ou enfrentá-los
Os Cervos que se sucedem ao sacrifício
Não tem o mesmo apelo para essa época
É preciso encontrar novos deslumbramentos...
Hoje não tem resenha, hoje vou falar um pouquinho sobre literatura nacional, literatura brasileira, um assunto muito querido pra mim. Quando se fala de literatura nacional/brasileira, é padrão que venha logo à mente os livros clássicos que a escola nos impõem a ler, leituras com a linguagem de épocas passadas que acabam por tornar a leitura um pouco mais complicada, mesmo que não seja impossível de ler.
No entanto, parecem esquecer que a literatura brasileira continuou avançando, ela não parou com o último autor que você estudou na escola, ela vive e existe nos dias atuais. É triste ver que a nossa literatura, com autores, histórias e temas tão próximos da gente, não é valorizada e ver que a maioria parou no tempo junto com os livros didáticos.
É triste ver os nacionais perdendo espaço para os livros best-sellers internacionais pois, de acordo com alguns, “é melhor” ou “menos difícil”, e isso volta para o tópico de conhecer literatura nacional como somente as clássicas que entramos em contato na escola.
É inacreditável ver pessoas se surpreendendo ao ver que um livro com uma boa estrutura, narrativa e construção de cenário e personagens foi escrito por um autor nacional, como se não houvessem obras incríveis e brasileiras nos gêneros/temas: distopia, fantasia, horror, romance, thriller, steampunk, horror, gótico e afins.
Por isso, neste dia nacional do livro, queria deixar aqui um apelo para que a nossa literatura, que é tão rica, seja mais valorizada, nós temos incríveis best-sellers aqui no nosso quintal, não precisamos olhar para fora para encontrarmos universos incríveis, vamos apoiar e incentivar nossos autores e dar-lhes o reconhecimento que merecem em vida e não esperar que décadas e séculos se passem.
Deixe aí nos comentários qual seu autor e livro nacional favorito, vamos divulgar e conhecer novas histórias.
Difícil escolher um, eu sei, mas diga aí, qual o seu favorito? O meu, até o momento, é Lucky Charm, de Viviane Sampaio , publicado pela Editora Promise .
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Embarque nessa jornada misteriosa e encantadora com Letícia, uma heroína destinada a revelar um segredo há muito guardado em um cofre amarelo. 🌟🔒
À medida que as páginas se desdobram, mergulhe em uma narrativa filosófica que questiona o destino, a conspiração do universo e a liberdade. 🌌🤔
O autor, Charles G. Albuquerque, tece personagens complexos e trama repleta de reviravoltas, desafiando você a refletir sobre sua própria existência e escolhas. 📝🤯
Com sua prosa envolvente e poética, "O Dote de Letícia" é uma jornada de catarse emocional e uma chance de explorar a vida e o universo. 🌌💭
Prepare-se para uma aventura literária única e inesquecível. 📖✨
Faça alguém se sentir especial. 💝🛍️
Esta é a quarta carta que inicio para responder a sua. A primeira eu deixei no Brasil, só trouxe a primeira página, que vai junto. Pode ter certeza de que não te esqueci. Ainda ontem me lembrei muito de você, porque um americano me perguntou se o meu relógio era suíço. A Suíça existe mesmo? Serão daí mesmo os queijos suíços? Me escreva, Clarice, sou tão cínico que te peço para me escrever, me responder com a pontualidade e a presteza que não tenho, contando tudo, suas aventuras e desventuras nessa poética terra que agora vive.
Daqui de Nova York não posso te contar nada além do que você calcula. Tenho sentido muita falta de seu livro que deixei no Brasil, para plagiar uns pedaços quando vou escrever o meu.
Tenho tido muitas dores de cabeça, tenho ouvido histórias de espantar. Tenho dado muitas gafes aqui com o meu pobre inglês. Tenho tido muitos pesadelos. Tenho feito descobertas importantes. Tenho tido muitas oportunidades de ficar calado. Tenho tido muita decepção com os Correios. Tenho tido cansaço, saudade e calma. Tenho bebido muito, muito, muito. Tenho lido os suplementos dominicais. Tenho tido vontade de voltar. Tenho escrito muitas cartas para você. Tenho dormido muito pouco. Tenho xingado muito o Getúlio. Tenho tido muito medo de morrer. Tenho faltado muita missa aos domingos. Tenho contado muito nos dedos. Tenho falado muito com os meus botões. Tenho tido muita vontade de brincar. Tenho tido muita pena da Helena ter se casado comigo.
Clarice, estou perdido no meio de tantos particípios passados. Estou com vontade de fumar e o meu cigarro acabou, estou com muitas saudades de mamãe, estou com vontade de namorar de tarde numa pracinha cheia de árvores.
Só de pensar que você estará lendo esta carta muitos dias depois de ter sido escrita me dá vontade de não mandar. Mas mando, isso é uma desonestidade. Você nos escreveu há um mês. Juro que não faço mais isso, foi só da primeira vez, agora não faço mais.
Me escreva, que responderei imediatamente. Como vai indo o seu livro? O que é que você faz às três horas da tarde? Quero saber tudo, tudo. Você tem recebido notícias do Brasil? Alguém mais escreveu sobre o seu livro? É verdade que a Suíça é muito branca? Você mora numa casa de dois andares ou de um só? Tem cortina na janela? Ou ainda está num hotel? Qual é o cigarro que você está fumando agora?
Me escreva uma carta de sete páginas, Clarice.
-Fernando
Ps: Dedico essa recitação para os melhores amigos que o tumblr poderia ter me dado: @in-curavel e @nocturne-98 Acho que assim como a amizade de Fernando e Clarice... as palavras são, também, as responsáveis por matar as nossas saudades. <3