Isso não é uma carta suicida, é um pós suicídio que claramente não deu certo, novamente. O vazio parece três vezes maior, a frustração então nem se fala, afinal por quê a vida insiste em me impedir de sair dela? É algo tão simples. Pior de tudo é a realidade voltando com tudo pra você, como um tiro na cabeça no free fire. Tudo pesa e sinceramente, me sinto mais perdida do que nunca, mas preciso colocar um sorriso no rosto e fingir que está tudo bem enquanto desmorono mais uma vez, eu preciso responder que sim, eu estou, por ficar cansada só de pensar em precisar explicar o motivo de não estar, e correr o risco de escutar "logo passa", "é fase", "poxa... sinto muito", "é drama, para com isso", "sério mesmo? não é pra chamar atenção?". Se eu quisesse chamar atenção colocaria uma melancia na cabeça. Eu continuo sentada no chão, meio zonza pela intensidade dos pensamentos e chorando feito um bebê. Tudo tem sido motivo pra eu me chatear, me fechar e tentar mais uma vez. Mas ainda não achei o motivo que faz tudo dar errado. E é assim que funciona de mês em mês, eu vejo, ouço, sinto, acumulo tudo, extravaso e não dá certo. É um ciclo sem fim, e apesar de eu não conseguir tirar a minha vida, eu sinto que ela já foi tirada de mim aos poucos, em cada crise de ansiedade, de choro, de pânico, a sensação de não saber o que fazer só aumenta, mas a vontade de de descobrir o que fazer não existe mais. No fundo eu sei que eu preciso de ajuda, mas é exaustivo, porque sempre procuro no lugar errado e isso me desgasta totalmente, forças pra me recompor não tem mais no estoque. Minha mente é um campo minado, eu mesma preciso tomar cuidado com a forma que eu vou reagir as coisas, só pra manter o pouco de sanidade que me resta. Eu não precisava contar sobre mais uma dessas experiências, mas foi o último recurso para aliviar tudo isso. Nem sempre as pessoas demonstram seus problemas, então não usem isso como motivo para tratar as pessoas como vocês bem entendem, ás vezes tudo é muito mais intenso do que você pensa.
Fragmentos de uma análise com Deusa Candelaria
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De: Fernando Sabino.
Para: Clarice Lispector.
Nova Iorque, 10 de junho de 1946
Clarice, essa é a quarta carta que início para responder a sua. Ainda ontem me lembrei muito de você, porque um americano me perguntou se meu relógio era suíço.
A suíça existe mesmo?
Daqui de Nova Iorque não posso te contar nada além do que você calcula. Tenho sentido muita falta do seu livro, que deixei no Brasil pra plagiar uns pedaços quando vou escrever o meu.
Tenho tido muitas dores de cabeça.
Tenho tido muitos pesadelos.
Tenho tido muito pouco dinheiro.
Tenho tido muitas oportunidades de ficar calado.
Tenho tido muitas decepções com os correios.
Tenho tido saudade, cansaço, calma.. Tenho bebido muito, muito, muito. Tenho lido os suplementos dominicais. Tenho sentido vontade de voltar. Tenho xingado muito o Getúlio. Tenho tido muito medo de morrer. Tenho tido muita pena da Helena ter se casado comigo. Tenho tido muita vontade de voltar a brincar.
Clarice, eu tô perdido no meio de tantos particípios passados. Eu tô com vontade de fumar, e meu cigarro acabou. Eu tô com vontade de namorar numa pracinha a tarde cheia de árvores.
E só pensar que você está lendo essa carta, muitos dias depois de eu ter escrito, me dá vontade de nem mandar. Mas eu mando.
Me escreva, te respondei imediatamente.
Como vai seu livro?
O que você faz as 03 da tarde?
Eu quero saber tudo, tudo.
Me escreva uma carta de sete páginas Clarice.
De: Clarice Lispector.
Para: Fernando Sabino.
Berna, 19 de junho de 1946.
Fernando, sua carta me surpreendeu tanto. Eu tive a impressão de ter caído numa coisa assim.. De jogar verde para colher maduro? Só agora que eu vejo, que vocês no Rio era uma das garantias que eu procurava.
Por que é que todo mundo quer sair do Brasil?
Você é espírita é Fernando? Então como é que você me pergunta o que eu faço as 03 da tarde? Ou já falamos sobre isso?
Às 03 da tarde, eu sou a mulher mais exigente do mundo. Eu fico as vezes reduzida ao essencial. Quer dizer, só o meu coração bate.
Hoje eu passei o dia lendo. As 03hrs eu li de novo a sua carta e o bilhete da Helena. Eu desejo muita felicidade a vocês, sejam muito felizes. Eu tô com vontade de dar uns conselhos grandiosos dizendo: Custa pouco adaptar-se ao um lugar novo e etc..
Fernando, você tem trabalhado? E Helena, o que é que ela faz? Eu acabei de passar por uma das piores semanas em relação ao trabalho.
Nada presta.
Não sei por onde começar.
Não sei que atitude tomar.
Eu não sei nada..
Eu digo a mim mesma, não adianta desesperar. Desesperar é mais fácil que trabalhar. Me manda um conselho Fernando, uma palavra amiga.
Um abraço grande. Me escrevam agora que vocês sabem o quanto pode valer uma carta..
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