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bpm-67 · 1 year
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Clarice Lispector
39 notes · View notes
imninahchan · 4 months
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⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀ ning yizhuo interpreta CIRCE
𓂃 ഒ ָ࣪ 𝐀𝐕𝐈𝐒𝐎𝐒: AKRASIA ato I, literatura sáfica, narrativa épica, grécia antiga, fantasia, mitologia grega, misandria, ação, harém, literatura erótica (sexo sem proteção, oral fem, sex pollen?, scissorring, a leitora é mais ativa, EEUSEIQUEVOCÊSSÃOTUDOPASSIVONASMASPFVMEDAUMACHANCEVIDASATIVASIMPORTAM, dirty talk).
Tô muito animada pra essa série, eu sou louca por mitologia grega. Tomei a liberdade de completar os mitos a serem expostos no decorrer dos capítulos com a minha própria interpretação criativa, para poder amarrar o enredo. Porém, não deixo de citar as minhas fontes (para esse ato I) sendo a Odisseia, a obra contemporânea Circe e O livro das Mitologias;
Acho que esse é o texto mais rico que eu já produzi, não só porque me levou tempo e pesquisa. Se você gosta da minha escrita como um todo, leia mesmo que não curta literatura sáfica, é só pular qualquer parte sexual que fica safe.
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⠀⠀ ⠀⠀ ⠀ ⓞⓑⓡⓘⓖⓐⓓⓐ ⓟⓞⓡ ⓛⓔⓡ
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───── ⸙.
⠀⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ ⠀ ATO I ⠀⠀ ⠀⠀ o mito de circe
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ESTA CANÇÃO COMEÇA E TERMINA NUMA TEMPESTADE. O raio que corta a imensidão noturna clareia tudo ao redor em vão, pois não há uma porção firme à vista para naufragar os restos do barco.
A trilha incandescente desenha pelo céu, semelhante a uma erva daninha, com seus ramas desaguando de canto em canto, e tomando mais e mais espaço até se perder no horizonte. Gigante, o vazio aberto faz parecer que está presenciando a fúria de um célebre titã, colossal e temido. O clarão que se estabelece pelo momento é capaz de cegar os olhos, construir a fantasia de um eterno vácuo sem cor ou forma.
E o som que sucede o fervor visual te faz tapar os ouvidos, encolhendo a postura. Jura, pelo resto de sanidade que ainda lhe resta, o compasso das ondas chocando-se contra o casco de madeira até muda de curso, como se a frequência reverberante fosse a potência que rege os mares.
O corpo tomba, para o caminho oposto em que a embarcação simplória é jogada. Bate com o peito na borda, os braços são jogados para fora, quase toca a água salgada com a ponta dos dedos. Senta-se sobre o estrado, afogando a pele da cintura para baixo no pequeno oceano que se forma dentro do barco. O supremo do mar não tem motivos para estar te atacando assim, pensa, o irmão dele, sim, pode estar enfurecendo o cosmos para te impedir de atracar em segurança. Quer a sua morte, nenhum rastro do seu cadáver quando a carcaça de madeira despontar em uma ilhota qualquer. Ninguém saberá nem a cor dos seus olhos.
— Nêmesis! — esforça-se para bradar mais alto que o repercutir das ondas quebrando.
Levanta-se num único impulso. Mal se alinha sobre os próprios pés, cambaleia conforme a embarcação nada por cima da maré, até se escorar no mastro. Abaixa o olhar.
— Nêmesis... — o título divino ecoa, agora, com mais fraqueza, tal qual um sussurro em segredo. Cerra os olhos. — Eu louvo a Nêmesis dos olhos brilhantes, filha de Nyx de capa escura...
Ó, grande deusa e rainha, Celebro-vos, a vingadora dos oprimidos, Que observais, que garantis que todo mal seja punido. Imparcial e inflexível, distribuidora da recompensa certa, Escutai meu lamento.
— Injustiça atormenta minhʼalma — confessa. — Sejais o corte da minha lâmina quando eu cruzar o destino de meu inimigo. Não deixeis que o sopro de vida opoente seja mais eterno que o meu. E eu vos prometo: será a minha alma pela dele.
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QUANDO CIRCE NASCEU o nome para o que ela viria a se tornar ainda não existia. Chamaram-na, então, de ninfa, confiando que seria como a mãe, antes de si, e as tias e as centenas primas. Modesto título, cujos poderes são tão singelos que mal podem assegurar-lhes a eternidade. Conversam com peixes e balançam-se em árvores, brincando com as gotas de chuva ou o sal das ondas na palma da mão. “Ninfa”, eles a chamaram, não apenas como em fada, mas em noiva.
Sua mãe Perseis era uma delas, uma náiade, filha do grande titã Oceanos e guardiã das fontes e águas doce. Belíssima, de ofuscar os olhos ao focar em outra coisa senão o brilho de sua pele feérica. Captura a atenção de Hélio, numa de suas visitas aos salões do primogênito dos titãs. Não havia nada igual Perseis.
Oceanos tinha uma aparência abatida, de olhos fundos na cara e uma barba branca beirando o colo. Seu palácio, entretanto, era um exímio refúgio situado nas profundezas das rochas terrestres. A estrutura se levantava em arcos altos, os pisos de pedra reluziam como a derme de bronze no corpo de Hélio. Pelos corredores amplos, era possível ouvir a dança das ondas, liderando a um infinito caminhar em que não se sabia o começo ou fim do leito rochoso. Nas margens, floresciam rosas acinzentadas, em cachoeiras dʼágua onde se banham as ninfas. Rindo, cantando e distribuindo as taças douradas entre si. Ali, se destacava Perseis. Não havia nada igual Perseis.
— E quanto àquela? — Hélio sempre se apaixonava por coisas belas, era seu defeito. Ele acreditava que a ordem natural do mundo era agradá-lo aos olhos.
Oceanos já conhecia o caráter do titã do sol, o brilho dourado em todos os netos que corriam de um canto ao outro pelos salões não o deixava esquecer.
— É minha filha Perseis — responde, num suspiro cansado. — Ela é tua, se desejar.
Hélio a encontrou no outro dia. Perseis sabia que ele viria, era frágil mas astuta, a mente feito uma enguia de dentes pontiagudos. Sabia que a glória não estava nos bastardos mortais e quedas nas margens dos rios. Pois quando estiveram frente a frente negociou, “uma troca?”, ele perguntou, poderia tê-la em seus lençóis apenas através do matrimônio. Teria o encanto de outras flores nos jardins que se espalham pela terra, mas nenhuma delas jamais reinaria em seus salões.
No dia de seu nascimento, Circe foi banhada e envolvida pela tia — uma das centenas.
— Uma menina — anunciou.
Hélio não se importava com as meninas. Suas filhas nasciam doces e brilhantes como o primeiro lagar de azeitonas. E mesmo quando olhou para o bebê emaranhado na colcha, sem reconhecer seu esplendor jovem, manteve sua fé.
Circe não era nada como Perseis.
— Ela terá um casamento digno — o titã acariciou a pele recém-nascida, feito uma bênção.
— O quão digno? — Perseis soou preocupada.
— Um príncipe, talvez.
— Um mortal?
— Com o rosto cheio dessa forma... Não sei se podemos pedir por muito.
A decepção estava clara na face de Perseis.
— Ela vai se casar com um filho de Zeus, com certeza — ela ainda insistiu, gostando de imaginar-se em banquetes no Olimpo, sentada à direita da rainha Hera.
Circe cresceu rápido — ou perdeu a noção do tempo enquanto cuidava dos irmãos. Os pés descalços correndo pelos corredores escuros do palácio do pai, sem um nome pelos primeiros quinze anos de vida. “KIRKE”, a chamaram, a princípio, para repreender quando olhavam nos profundos olhos amarelados e o choro estridente como uma águia que se senta ao canto do trono de Zeus.
O palácio de Hélio era vizinho a Oceanos, enterrado nas rochas da terra. As paredes pareciam não ter fim, extraídas de obsidiana polida. O titã do sol escolheu a dedo, gostava como a pedra refletia sua luz, superfícies lisas pegavam fogo quando ele passava. Mas não pensou na escuridão que deixaria assim que partisse.
Circe viveu na noite. As vistas demoram a se acostumar com o clarão que as rodas da carruagem celestial do pai descia dos céus. Bem-vindo de volta, papai, clamava, porém era recebida em silêncio.
Aos poucos, se acostumou a não falar tanto. Não retribuir, não repreender, não se opor. Não questionava por que não reluzia na água feito as outras náiades, ou tinha os cabelos castanhos e sedosos, por mais que os escovasse com os pentes de marfim. Na época de se casar, também não argumentou contra o matrimônio com um príncipe de uma cidade qualquer. Até hoje, ela não se lembra do nome exato.
Para classificá-lo, poderia usar um termo que fosse do horrendo ao desprezível, com tranquilidade. Sua boca tinha gosto salgado, e o som de sua voz martelava profundo na cabeça da jovem toda vez que abria a boca para dizer algo. Circe não se agradou da cama, da casa, das restrições, dos apelidos enfadonhos que recebia nas noites em que o álcool o tomava o juízo. Então, ela o matou.
Rebelde, insensata, má, foram algumas das palavras que ouviu de sua mãe ao ser devolvida nos salões do palácio. Era incompreensível para Perseis como sua filha havia retornado para casa sem uma moeda de ouro ou um herdeiro para recorrer um trono. Os cochichos sobre ervas e misturas de água quente não faziam sentido, de onde a prole de uma náiade saberia dosar veneno no cálice de vinho de alguém?
Hélio não sabia o que fazer, consumido pela decepção que tanto esforçou-se para afugentar, embora tenha visto nos olhos daquele bebê o destino miserável que o aguardava. Não queria ouvir quando os sussurros contavam sobre o terror daquele banquete em que o príncipe fora transformado em um besouro azul e pisoteado pela esposa de olhos amarelos.
Só que escutou quando Zeus murmurou em seu ouvido uma solução.
— Se odiais tanto a presença de um filho sem honra, exilai-o longe de suas preocupações.
O castigo pareceu justo. Sozinha, em exílio, Circe não seria a aberração do palácio do titã do sol. Não sentiria mais o gosto salgado dos beijos, as mãos ásperas que um dia já envolveram seu corpo. Seria somente ela e aquilo a que deu o nome de magia. E todo homem que aportasse em cais teria o mesmo fim que o primeiro.
Mas o corpo que amanheceu em sua praia não pertencia a nenhum homem.
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OS SEUS OLHOS SE ABREM DEVAGAR, a visão turva impede que reconheça perfeitamente o ambiente em que está, mas as curvas sem foco à sua frente não negam que se encontra sobre o teto de alguém, em um cômodo bem iluminado e decorado. Pisca as pálpebras, apetecendo, agora, com a pontada que sente se desprender quase que de dentro do cérebro.
Zonza, sente a cabeça pesada. Recosta na parede atrás de si. Os músculos, inicialmente, dormentes te dão a impressão de que está nas nuvens, flutuando. Até que a realidade bate e mais dores se somam ao desconforto. As pernas latejam, mas a pele está emaranhada em um tecido suave e escorregadio. Os braços doem, formigando, e só se dá conta do porquê de tamanho incômodo quando olha para os lados e percebe os punhos erguidos no ar por um pedaço de pano amarrado ao dossel de madeira da cama.
A primeira reação, claro, é se soltar. Luta contra a própria dor para puxar os punhos em direção ao corpo deitado para afrouxar as amarras, força ao máximo que o estado debilitado permite, ouvindo o estalo da madeira. Porém, é em vão.
Franze o cenho. Não deveria ser tão difícil para você conseguir se libertar assim, até que o ressoar de risadinhas doces ecoam pelo cômodo e levam os seus olhos para a beirada da cama, aos seus pés.
Vê a forma que as cabecinhas formam montanhas com seus cabelos esverdeados. Os olhinhos curiosos se erguendo do “esconderijo” para espiar a movimentação que se dá sobre a cama. Murmuram entre si, sorrindo. Ninfas, você soube na hora. Mas elas servem a alguém, quem era sua senhora?
— Saiam, saiam! — a resposta surge com o chegar de outra mulher ao recinto. Ela balança as mãos, causando um alvoroço entre todas as criaturas que estavam escondidas debaixo dos móveis para descobrir mais sobre o estranho que aportou naquela manhã.
As ninfas choramingam, passando por cima das mesas, jogando as peças de cerâmica no chão, mas não desrespeitam a ordem. Deixam todas o quarto, fechando a porta ao saírem.
— Perdoa pela confusão — a mulher diz, com um sorriso —, elas estão morrendo de curiosidade.
Você a assiste se aproximar mais. Acompanha como caminha em paz ao móvel à sua direita para despejar um pouco do líquido da jarra para o cálice. Se vira com o objeto em mãos, te oferecendo.
— Onde estou? — é o que a pergunta.
— Na minha casa — ela responde. — Bebe.
— Me solte — pede, ignorando completamente a oferta. — Com certeza, não estou no lugar onde deveria estar. — Torna a face para o próprio corpo estirado sobre o tecido e não reconhece a roupa que está vestindo. — O que fizeste com as minhas coisas? Onde estão minhas coisas?
— As ninfas te acomodaram — justifica. — A roupa molhada não te faria bem, e não havia mais nada contigo quando te encontramos na praia. Vamos, bebe.
— Mentira! — roga, virando-se para ela mais uma vez. O cálice está a milímetros dos seus lábios, mas não cede. — Eu trazia uma bolsa comigo, em meu barco, e quero de volta.
A mulher parece se controlar para não perder a paciência, respira fundo. Senta-se no cantinho da cama.
— Escuta — começa —, se estavas em alguma embarcação no caminho para cá, os destroços estão no fundo do oceano. Não havia mais nada além de ti.
Você escuta, mas claramente não digere.
— E se não queria perder sua bolsa — ela continua —, deveria tê-la segurado com mais força.
Argh, você grunhe, não conformada com o que ouve. Os braços doloridos voltam a ser flexionados, conforme tenta escapar mais uma vez.
— Não gaste tanto esforço — ela te aconselha —, não vai se soltar.
— O quê... — murmura, impaciente. Te aflige a forma com que puxa com o máximo de força que possui e mesmo assim o tecido nem fraqueja. — On... Onde estou? Que lugar é esse? Não te pedi para que me trouxesse para cá!
— Por que é tão ingrata? — levemente se irrita. Hum, resmunga, erguendo-se para largar o cálice de volta no móvel onde estava. — Está me fazendo arrepender de ter sido tão boa...
— Boa?! — repete, incrédula. — Me mantém presa à tua cama!
— Porque não confio em ti.
— Pois eu não confio em ti.
Ela pende a cabeça pro lado, te observando com pouco crédito. Se inclina, de surpresa, apoiando as mãos nos cantos do seu corpo debilitado para estar pertinho do seu rosto quando diz “certo, quer sair?”
— Espero muito que seja uma guerreira habilidosa e não uma filha de pescador qualquer, porque aí pode conseguir caminhar para fora deste palácio antes que os lobos te peguem. — O tom na voz dela é de pura gozação, como se menosprezasse até o ar que você inala nas quatro paredes do domínio dela. — E que os deuses te protejam para que não seja devorada pelos leões no caminho à praia e possa morrer de exaustão nadando sem rumo pelo oceano.
A ameaça em si não te assusta, o que desperta o seu alarde é a descrição singular. Na mente, as pecinhas desse quebra-cabeça vão se unindo para formular uma resposta para as suas perguntas.
Se lembra da fúria que enfrentou naquela tempestade a mar aberto, sem saber se sobreviveria e onde os destroços do naufrágio iriam parar. No entanto, as suas preces parecem ter sido ouvidas, pois Nêmesis te trouxe para a casa de uma das mulheres mais fascinantes da qual já ouviu falar.
Se lembra do eco da canção nas noites de festa, a lira ao fundo acompanhando a voz que recitava os versos sobre a lenda de uma jovem rebelde, insensata e má. Em exílio em uma ilha, à espreita de nobres cavalheiros que aportassem em seu cais. Embebedando cada um em seus banquetes de recepção e transformando-os em criaturas variadas para cultivar seu zoológico pessoal.
É, você a conhece muito bem. Deveria ter se tocado assim que colocou os olhos no olhar profundo e amarelado como uma águia.
— Esta é Eéia — anuncia o nome da ilha. — Tu és Circe — um sorriso ameaça crescer nos lábios da mulher —, a primeira bruxa.
Circe endireita a postura, não sabendo bem como receber esse título.
— Então é assim que me conhecem... Interessante — murmura, de queixo erguido.
— Cantam canções sobre ti, seus feitos.
— Hm, é mesmo?
— Circe dos olhos de águia. Algumas aldeias te veneram.
— Me bajular não vai fazer com que eu te solte.
Você meneia o rosto para o lado contrário, sem graça depois que suas intenções são desmascaradas. Porém, é obrigada a encará-la novamente mais quando ela te segura pelo queixo, “é minha vez de fazer as perguntas agora.”
— Qual teu nome? Da onde vens?
As suas palavras são engolidas, não emite um som em resposta sequer. E Circe espera, de bom grado, olhando no fundo dos seus olhos em busca de uma pista qualquer, mas não encontra nada.
— Além de ingrata, é muito egoísta — te diz —, como pode saber tanto sobre mim quando não sei nada sobre ti? — Sorri, soltando teu rosto. — Se não vai falar, te aconselho a beber — torna a atenção para o cálice cheio —, até que eu me decida o que fazer contigo, não quero que morra desidratada.
Se inclina, com aquele mesmo tom gozador de antes. “Sabe, é a primeira vez que isso me acontece” , ela conta, “normalmente, eu convido os marinheiros para um banquete e os amaldiçoo, eu odeio marinheiros. Mas tu não és um marinheiro como os outros... Então, pode ser que eu demore um tempo até me decidir.”
E ela não tem pressa. Os dias se somam, pela manhã as ninfas adentram o quarto para te alimentar e saem logo em seguida, silenciosas, porém risonhas. Não vê ou escuta a bruxa, como se ela nem existisse ou fosse a dona daquele palácio. O que compõe a sinfonia para os seus ouvidos é o som dos animais de pequeno porte que invadem pela janela, feito os macaquinhos e os pássaros, e o rugido dos leões. À noite, por vezes, o que julga ser uma união das vozes doces das ninfas te mantém acordada. Os gemidos prolongados, longe de choramingar por dor, mas por prazer.
Não demora a compreender que para Circe, você não tem valor algum. Com o tempo, não tem dúvidas, as servas deixaram de te trazer o cálice de kykeon com uma mistura fortificada com cevada e morrerá de fome. E se não tem valor nenhum à bruxa, talvez seja melhor mostrar para a bruxa que ela tem valor para ti.
— Diga a tua senhora que estou pronta para falar com ela — é o que orienta as ninfas numa manhã.
Circe manda organizar um pequeno festim. Você recebe uma túnica nova e um par de sandálias de couro. É banhada, vestida, o cinto lhe molda a cintura. Quando sai do quarto pela primeira vez, a decoração do lado de fora não se diferencia muito do que via no confinamento. Peças de cerâmica espatifadas pelo chão, cortinas rasgadas pelos animais, as formosas ninfas penduradas nas pilastras, olhando-te com sorrisos bobos nos lábios vermelhinhos.
Atravessa o pátio até o grande salão, sentindo-se pequena entre as feras deitadas sobre o mosaico imenso. Circe está deitada num divã, puxando as uvas do cacho e rindo. Traja uma túnica com detalhes em vermelho e dourado, unida no ombro esquerdo pelo broche de cabeça de leão. As tochas e as velas ajudam a lua a iluminar o ambiente. Ao canto, o som da lira se mistura aos demais instrumentos de sopro e o som da ninfa que cantarola com um coelho no colo.
— Ah, aí está ela! — O sorriso de Circe aumenta ao te ver. Apanha a taça na mesinha de apoio cheia de frutas e o ergue no ar, como se brindasse sozinha, antes de beber um gole.
As servas te acomodam à mesinha redonda em frente ao divã, sentada sobre as almofadas e os lençóis estirados. Um cálice te é oferecido, adoçam o vinho com mel para que a bebida forte desça mais facilmente pela garganta seca. Prova do peixe frito, controlando a própria fome para não parecer ingrata pela sopa que recebia todos os dias.
Os aperitivos parecem se multiplicar nas mesinhas espalhadas pela área coberta, chamativos. Mas você precisa manter a cabeça em foco.
— Espero que perdoe meu silêncio — faz com que a voz sobressaia de leve por cima da música, do canto em coral e do som dos passos dançados no pátio.
Circe espia brevemente na sua direção, com um sorriso pequeno.
— No teu lugar, eu também temeria.
Você leva uma unidade do cacho de uvas à boca, sentando-se aos pés do divã.
— Mas não preciso temer-te agora, preciso?
A bruxa lhe oferece mais um olhar, dessa vez com o sorriso mais largo.
— Pareço com alguém que deve temer?
É a sua vez de sorrir, desviando a atenção para o festejo que as ninfas realizam entre si.
— Não estava em meus planos atracar em tuas terras — admite a ela —, mas estou contente que assim o fiz. Tens me alimentado e por isso sou grata.
— Sou benevolente demais, é um defeito meu.
— E muito inteligente, eu suponho. Especialmente porque vai aceitar a minha oferta.
Ela aperta o cenho, não te leva a sério.
— Oh, tem uma oferta pra mim? — o tom divertido não te intimida.
— Estava certa ao duvidar de uma mulher que naufraga sozinha na tua praia — começa, em sua própria defesa. — Eu não sou filha de um pescador, ou de um comerciante qualquer. Eu naufraguei na tua ilha porque estava fugindo.
Agora, ela se interessa, “e do que estava fugindo?”
— Do meu destino — a sua resposta não é a mais precisa de todas, porém é suficiente. — Uma grande tempestade assombrava o mar naquela noite, eu, de fato, pensei que não fosse sobreviver. Mas eu rezei para que aquele não fosse meu último suspiro, e as minhas preces me trouxeram para cá, para que eu possa concluir a minha missão.
— E que tipo de missão é essa?
Você desce o olhar para o cálice em mãos. À medida que o vinha desaparece, a pintura de um guerreiro empunhando a espada surge no fundo da taça. Vingança.
— Irei subir até o topo da morada dos deuses e castigar Zeus por toda tormenta que trouxe à minha vida.
Talvez fosse a ousadia de subir o monte sem ao menos dispor de um veículo de locomoção, e possivelmente o nome sagrado dito com tamanho desprezo, Zeus, que faz Circe rir como se tivesse ouvido a piada mais bem contada no palco de uma peça.
— Quer se vingar de Zeus?! — claramente não leva seus planos a sério. — Ah, querida, não tem nem uma adaga de bolso para a viagem. Eu posso envenenar-te com esse cálice que segura e tu não conseguirias se defender. E fala de matar Zeus?! O Deus dos Deuses?
Você finaliza o vinho, para mostrar que nem a ameaça da boca pra fora dela te faz temer.
— Não tenho uma espada comigo agora, é verdade. — A olha. — Mas você me dará uma.
Circe apoia o cotovelo no descanso do divã, para chegar mais perto de ti.
— Sinto que as canções que cantaram-te eram enganosas — rebate, com a voz afiada —, pois não sou nenhum mestre da forja. Eu não crio coisas, querida, eu as transformo.
E você não se deixa intimidar.
— Não, não terá que criar nada — argumenta. — A espada que empunharei até o Olimpo será feita pelo próprio ferreiro dos deuses.
— Hefesto? — ela duvida mais uma vez. — E ele já está ciente dessa loucura?
— Ele estará, assim que chegarmos ao Submundo.
O som da risada divertida da bruxa se destaca entre a orquestra. Circe joga a cabeça para trás, manejando a taça em mãos. Recupera o fôlego sem pressa, cruelmente debruçada na comicidade para te penetrar o mínimo de juízo.
Para você, entretanto, não existe uma frase racional sequer que possa te fazer desistir do plano que elaborou meticulosamente em todos esses dias de confinamento. Enquanto as ninfas te alimentavam, tratavam as feridas superficiais que o naufrágio deixou, e os animais passeavam pela sua cama, a mente entrelaçava um percurso ousado desde de Eéia até a região da Tessália. Todas as cidades em que iria passar, com quem iria conversar e quem iria matar pelo caminho.
O riso que recebe agora é só um prelúdio para o choro incessante que despertará no panteão.
— Quando Hefesto me construir a espada, eu te entregarei o metal — você prossegue, inabalada —, e caberá a ti transformá-lo.
“Te confiarei o meu sangue, pois somente um deus pode matar outro deus”, fala, “para que abençoe a espada, e faças dela uma matadora de deuses.”
O sorriso de Circe diminui aos poucos, és uma semideusa, murmura, se familiarizando melhor com a situação que lida.
— Oh, entendo agora... — o indicador circula pela beirada da taça. — Este é um impasse familiar? Por isso quer vingança... Mas, se tratando de família, temo que devo me retirar, pois já tenho impasses desse tipo por conta própria.
Você não se dá por vencida facilmente.
— Pense em tudo que conquistará — apela. — Depois que eu matar Zeus, e eu o matarei — frisa —, quem estará sob o comando do Olimpo, uma vez que eu não disponho de nenhum interesse de poder?
— A Rainha, certamente.
— Não quando o rei dela cairá pelas minhas mãos. — Você se apruma de joelhos, mais pertinho do corpo estirado no divã. — Pode ter muito mais do que a Ilha. Uma mulher tão poderosa quanto tu não deveria estar exilada e solitária.
— Não estou sozinha.
— Eles cantam canções sobre ti, Circe. Sobre teu poder, tua grandeza. Não imagina quantas garotas por aí queriam poder gozar dos mesmos encantos que prega para se protegerem dos homens do mundo.
Apoia-se com a palma no descanso do estofado para se posicionar atrás dela. A boca ao pé do ouvido, feito uma tentação. “Poderia ser adorada como uma deusa, e responder às preces que te rogam.”
“Não tem que se contentar com os marinheiros que aportam uma vez a cada lua cheia, ou às vezes nem mesmo atracam... Não nasceste para viver nessa ilha, por mais que tenha se acostumado a chamá-la de lar. Está aqui porque te colocaram aqui. Zeus te colocou aqui.”
— Meu pai me colocou aqui — ela retruca, cuspindo cada palavra após terem tocado em sua ferida ainda aberta.
— Porque ele ouviu Zeus — você corrige mais uma vez. — Hélio teria feito diferente se não fosse pela influência daquele que chamaram de Deus dos Deuses.
— Você não conhece meu pai.
— Mas conheço Zeus.
“Eu sei do que ele é capaz”, completa. “Eu vivi a sua fúria, se eu não tenho mais uma casa para qual retornar é por sua culpa. Ele já nos causou mal demais”, aproxima-se do outro ouvido, para sussurrar: é hora de fazê-lo pagar.
Circe mantém a postura. Os olhos de águia, antes tão caçadores, agora fogem do seu olhar. Beberica do vinho em mãos, murmurando um “vou pensar com misericórdia”, tentando trazer de volta o mesmo tom gozador que já usou previamente contigo.
— Levem-na para celebrar! — orienta as servas, com aceno das mãos.
— Eu não celebro — você contradiz, em vão, pois as mãozinhas finas das ninfas te tocam os ombros e guiam para fora da área coberta.
É levada até o pátio, no centro do mosaico. Aos seus pés, o desenho que se forma com pedrinhas coloridas ilustra a cena de uma batalha sanguinária, a lâmina reluzente é erguida à mão de uma mulher. Dizem, nos cânticos, que o mosaico encantado no palácio da primeira bruxa revela aos olhos desatentos dos homens que ela embriaga o futuro que os aguarda.
Guerra, sangue, destruição. As faces assustadas e o mar de cabeças rolando não te aflige.
À sua volta os corpos belos e mal vestidos da ninfas rondam-te como presas. Cabelos extensos, passando da cintura e quase no joelho. O brilho da pele feérica cintila sob o banho da lua, somam-se ao ecoar dos instrumentos de sopro, ao tambor, e as vozes tão melosas quanto o mel que adoçou teu vinho.
Se cobrem com o véu, para valsarem ao seu rodar em sincronia. De repente, está com a visão totalmente monopolizada por elas. Aquilo que dizem sobre as ninfas, sua capacidade de hipnotizar quem quer que almejem, aqui pode provar da procedência. Talvez seja o efeito do álcool que ingeriu, é uma boa explicação senão o misticismo daquelas criaturas da floresta, quando a visão fica turva, perdendo o foco de supetão e voltando ao normal.
Sente o som dos tambores batendo no seu coração, o corpo pesar. Esquenta a pele, como se a temperatura ambiente tivesse ido às alturas em um verão mais árido que o normal. Cambaleia, perde a noção de equilíbrio. As vozes cantam no fundo do seu ouvido, parecem moldar o caminho incorreto que as suas sandálias traçam.
Olha ao redor, em busca de algo que faça sentido, e só enxerga a insanidade. Os sorrisos imorais, o mover depravado de corpo em corpo. Os rostinhos falsamente inocentes abraçados às árvores do jardim. Corpos se eriçando feito bestas, unhas pontiagudas como garras de caça. Olhos brilhando na escuridão que se guarda nos limites do refúgio infame da bruxa.
Mas um olhar se destaca entre o mar de lascividade. Grandes, profundos, amarelados. Estreitos nas pontas como uma águia.
Você pisa em falso, vai de encontro ao chão para ser recebida pelo conforto de almofadas e mantas, e descansa a nuca no pelo de um leão. O par de mãos que sobe pelas suas canelas não se importa com o limite que a sua túnica estabelece. Toque quente, queima junto à sua pele, arrepia até o último fio de cabelo. E aqueles olhos ferventes... Aqueles malditos olhos de cigana oblíqua e dissimulada. Olhos de quem percebe tudo, tudo sem dizer nada.
— Circe — chama o nome dela, segurando em seus ombros, como se evocasse um demônio. — Não me tente, bruxa.
— É isso que achas que estou fazendo? — O sorriso ladino se espalha pela boca como verme. A ponta do nariz roça na sua, respiração soprando contra o seu rosto.
Ardilosa, ela se acomoda sobre o seu colo, permite que o calor entre as pernas te aqueça o ventre por cima da fina camada de tecido que ainda lhes cobre a nudez. Os longos cabelos negros recaem para o canto, conforme se inclina, “nunca conheci nenhuma mulher além das ninfas”, ela conta, “me deixe experimentar você.”
É o feitiço em efeito, só pode ser, pois se doa sem pensar muito nas consequências. A última vez que vê o rosto dela é quando já está se aproximando no meio das suas pernas, com um sorriso libidinoso e os quadris eriçados, de quatro sobre o chão.
Encara a lua cheia no céu noturno. A imensidão vazia às bordas só não te captura a atenção porque o baixo ventre se remexe em prazer. Sente o carinho dos dedos te circulando, escorregando entre as dobrinhas conforme se molha mais e mais. O nariz se esfrega no seu monte de vênus, sensual, inebriando-se no seu cheiro antes de te provar o sabor. Quando a boca vem, você se agarra aos lençóis ao seu redor.
Pode ouvir os sons das ninfas, jura, uma orquestra erótica se fortificando ao pé do seu ouvido como se quisesse te levar à loucura. Desce as mãos pelo próprio corpo, toca os fios escorridos da moça e os toma na palma. Feito a guiasse, mantém o controle da carícia que recebe. Os olhos se fecham, um suspiro longo deixando o seu peito ao se entregar mais e mais. Desde que saiu de casa, empurrando aquele barco simples pela areia até a praia, de todos os possíveis cenários que protagonizaria em seu futuro, nenhum deles envolvia estar aqui onde está, com quem está, fazendo o que faz agora. E não é como se arrependesse, entenda.
Encontra-se à beira, quase derramando, mas não permite-se entregar ao deleite. A ergue pelos cabelos, bruta na maneira de manejá-la de volta aos teus braços. É fácil romper o broche de cabeça de leão na altura dos ombros alheios, maior ainda é a facilidade para desfazer as amarras da túnica que ela usa.
Num movimento único, a coloca sob ti, tão habilidosa com a arte de mover-se que arranca um daqueles sorrisinhos debochados que ela tem. A separa as pernas e se posiciona de modo que possam ficar bem encaixadinhas. A conexão é tão úmida, o seu desejo se misturando ao dela quando se encontram dessa forma. Deixa que a perna dela descanse no seu ombro, movendo os seus quadris contra o corpo feminino.
Circe leva a mão à sua cintura, aperta. Puxa o seu cinto, desfaz a cobertura que a túnica promove somente para poder arrastar as unhas da sua barriga às costelas. E você grunhe, ardendo não só pelo carinho arisco, mas pela ousadia de quem tecnicamente está sob seu controle.
— Má — a sua voz soa mais baixa, num murmuro como se não quisesse que ninguém além dela escutasse. — Pensei que fosse boa, esse era o seu defeito, não era?
Ela se delicia com as palavras, com o tom aveludado. Eu sou quem eu quero ser.
Amar Circe foi uma das melhores coisas que já fez, não só pela experiência nova e erótica, mas também pela conexão que se estabelece ao fazer dela sua primeira companheira. Deita ao canto dela, ao fim, quase se perde com o olhar pelo desenho do corpo nu, de lado com a cabeça sobre os lençóis macios. Os cabelos negros recaem em cascata, são jogados para trás e limpam o rosto corado, os olhos brilhantes.
Ela encolhe de leve a postura, o ombrinho tocando a bochecha.
— Eu vou contigo — diz.
Você apenas sorri, num suspiro que mistura o cansaço e o alívio.
— Mas, se me trair... — ela ameaça.
— Não vou te trair — garante. — Pareço com alguém que deves temer?
Tomam a noite para si, para o ócio. Com o nascer da manhã, porém, devem de partir. Faltam quatro dias para o fim do verão, e se querem uma passagem para o Submundo, estão com o tempo contado.
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didithefae · 3 months
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ler machado de assis é, para mim, como a primeira vez. li a muitos anos atrás, na época do colégio, e realmente não lembro de mais nada, a não ser de achar difícil. tentei ler de novo depois de adulta, mas a leitura não me prendeu o suficiente para me fazer ir até o final. então veio helena.
escolhi esse livro por estar de graça para assinantes prime no kindle. além disso, já fazia um tempo que queria ler clássicos nacionais, já que estou me aventurando bem mais nos clássicos de fora. e, pela primeira vez, a leitura de machado fluiu bem. talvez eu tenha me acostumado com a escrita mais antiga, talvez a edição da antofagica tenha ajudado também.
helena conta a história de uma jovem que vai morar com parentes desconhecidos após seu pai assumi-la como filha no testamento. apesar do título, acompanhamos a história na perspectiva de seu irmão, estácio. ainda assim, podemos conhecer helena e seu coração conflituoso ao se inserir nessa nova realidade. a vemos trazer a jovialidade para a casa, aos poucos conquistar aqueles que a cercam, enquanto enfrenta os fantasmas que a assombram em silêncio.
eu não sou uma especialista em machado de assis, na verdade somos quase estranhos, então não sei se poderia recomendar esse livro como “primeira leitura”, afinal sei que ele possui diversos contos publicados, mais curtos e de fácil acesso. mas, com certeza, vou lembrar desse livro como o livro que me fez, finalmente, compreender machado.
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itacoisa · 9 months
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25 de julho de 2023. Terça-Feira.
Terminei de ler o primeiro volume da Black Edition de Death Note!
Sinceramente, eu ainda estou em dúvida se dou 4 ou 5 estrelas, pelo simples fato de estar guardando a nota máxima para aquelas leituras em que eu ficar MUITO obcecado, mas de qualquer forma eu recomendo muito.
O plot é bem simples: um caderninho mágico no qual se você escreve o nome de uma pessoa ela morre! s2
Aí, basicamente, esse primeiro volume é uma disputa de gato e rato entre Kira e L, o primeiro é um estudante japonês que encontrou o Death Note e o segundo um super detetive.
Então, como Kira passou a assassinar vários criminosos pelo mundo, L foi incumbido a desvendar a identidade secreta de Kira, ao mesmo tempo em que Kira busca atrapalhar a investigação de L e descobrir seu nome para matá-lo usando o Death Note.
Eu não resolvi ler o mangá por causa do projeto do #embuscadosuspensedoano, mas eu acho que ele é um forte candidato!
Já que, apesar do mangá possuir momentos tensos, ele não é um suspense (está mais para o policial), no entanto, o Suspense do ano não necessariamente precisa ser um thriller...
Sendo honesto, não sei como julgar o Death Note usando os parâmetros de um mangá, mas analisando como uma pessoa super leiga nesse tipo de obra, parece ser uma ótima porta de entrada para quem quer começar a ler mangás.
Por ser uma história bem simples, ela não é confusa, é super fluida de ler e MUITO interessante.
Estou muito ansioso para o volume 2 (tanto que já comprei, haha)
Então é isso. Fica aqui a minha super indicação.
/// #embuscadosuspensedoano2023
Mesmo Death Note sendo um fortíssimo candidato, ainda não decidi se ele preenche todos os requisitos (que não sei quais são) para o título de O SUSPENSE DO ANO, por isso vou deixar ele em segundo lugar... Vamos ver se após um tempo eu vejo melhor a situação.
Enquanto isso, vou dando sequência à leitura de O Farol, que também tem chances de atingir o #1 do ranking, que por enquanto está assim:
Um pressentimento funesto
Death Note #1
M ou N
Acerto de contas
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numeroscomplexos · 29 days
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Enquanto raspava com cuidado o feijão do fundo da panela, o pensamento descuidou: Será que gastei minha ficha de amor pra vida toda logo nos primeiros cem metros da corrida? Antes mesmo de definir se acredito nisso? Não quero riscar a panela e também não quero buscar outro talher. O que exatamente acontece nesses dias que me deixam tão sozinha? Todos meus amores são mais velozes que eu, e desejo estar em lugar nenhum logo depois de tentar ser múltipla. Se eu já deixar a panela de molho, limpo bem rápido depois de comer. Quem dera. O desequilíbrio químico do qual venho sofrendo não afeta apenas minha anatomia; minha fisiologia também não é mais a mesma. Recalculo tudo, de cabeça, mas não aparece resultado algum. A desgraçada matemática é incapaz de me ajudar a dar razão ao que aconteceu com você e, consequentemente, comigo. Choro um pouco depois de comer. Não que qualquer dessas coisas tenha relação com as outras, mas os nós no meu estômago parecem apenas piorar. Não acho que tenha volta pra mim. Muito provavelmente, estou arruinada de forma profunda e permanente. Nada que ninguém possa fazer. Ou saiba, ou queira. Não é cedo demais? Certamente, mas essas coisas não nos dão escolha. A verdadeira questão agora é quantos desses tantos anos ainda vou suportar. Se é que algum? Isso porque é inevitável me sentir quebrada depois de abruptamente abandonar planos tão certeiros. Eu não lido bem com isso. Também não sei não sentir falta das pessoas. Posso esconder, de modo que não as assuste ou preocupe, até certo ponto. Hoje passei dele. Mas consegui me concentrar e não estragar a panela. E vocês, pessoas, como conseguem? Não sentir tanta falta. Repito pra mim – ninguém pensa tanto assim em você, é só isso. Uma tentativa de acalmar. Veja, eu mesma, não é por mal. Mas só sei me responder: Por quê? A medianidade te relega a um espaço ordinário no mundo dos outros, e ter consciência dela é a maldição que te aprisiona eternamente entre seu lugar secundário e sua vontade de reverter esse quadro terminal. Vontade essa que sai pela culatra toda vez.
Eu nunca vou me perdoar por me permitir amar tanto vocês. Anuncio que tomo distância para não lhes tomar o ar, mas prometo não ir embora sem antes me despedir. Eu não deveria ter almoçado hoje. Talvez.
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estranged-foreigner · 10 months
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poesia
quero escrever
mas escrever do jeito que eu penso
quero ver o meu mundo derreter
quero que me leiam mesmo que seja extenso
quero expressar a minha vida
quero que a raiva vire real
que o pensamento vire poesia
que frustração deixe de ser irracional
que a tristeza sirva de anestesia
que a angústia vire algo genial
quero escrever algo que seja importante
quero sentir o gosto de ser alguém inesquecível
quero escrever algo que seja sufocante
quero que o mundo leia o que escrevo faminto
quero que o nada seja o tudo nesse instante
quero ser um herói
quero entender como é ser mais forte do que algo que me corrompe e me destrói
quero saber como é ser prodígio,
melhor
quero saber como é ser gênio
quero saber como superar o defeito
quero entender como ser mais-que-perfeito
quero descobrir como superar o poético
e me livrar da poesia
quero parar de ser o poeta
e por um momento virar o poema
quero deixar de ser sonhador
e por um momento me deixar adormecer
quero parar de me preparar
e começar a viver
quero lutar
e fazer com que os outros sintam a guerra
eu quero o meu final
e não quero que ele seja feliz.
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luwritescoisas · 3 months
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delírio
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"Meu bem, talvez você possa compreender a minha solidão O meu som e a minha fúria e essa pressa de viver E esse jeito de deixar sempre de lado a certeza E arriscar tudo de novo com paixão Andar caminho errado pela simples alegria de ser" — Coração Selvagem, Belchior
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O calor era palpável, tão denso que eu tinha a certeza que poderia agarrá-lo e pressioná-lo contra a palma da minha mão. O líquido descia gelado pela minha garganta, lambi os lábios e deixei o copo em cima da mesa de plástico.
Do outro lado do bar de esquina, embaixo das luzes brancas, um quarteto jogava dominó. O som das peças soava por baixo da música que aparentava ser antiga, mas não tenho certeza se era.
— Qual o motivo pra gente estar aqui, mesmo? — perguntou-me Adriano. Dei de ombros, sem saber ao certo como explicar.
— Bloqueio criativo. — respondi, escolhendo não explicar. Fiz uma pausa por um tempo, antes de adicionar um pouco de drama à minha irritante falta de criatividade: — Juliana roubou minha criatividade quando foi embora.
Havia um mês que ela terminou comigo de supetão num domingo entediante. Eu acho que foi por isso que ela foi embora, nosso relacionamento era entediante para ela.
— Já pensou em escrever sobre ela? Você sempre escreve sobre ela. — sugeriu Diego e eu revirei os olhos.
Claro que eu já tinha pensado em escrever sobre nossa ruptura e como me deixou remoendo sobre minhas próprias peças durante o mês inteiro de Carnaval. Nem consegui aproveitar com meus amigos.
Maldita.
Estar com um escritor — seja amador como eu, seja profissional como os grandes ídolos que possuímos — é pedir pra virar história. Então, sim, escrevi sobre Juliana a nossa duração inteira: de quando começamos, até terminarmos. Inclusive, havia escrito um arsenal de textos de dor de cotovelo naquele mês inteiro.
— Prefiro levar um tiro. — murmurei com um revirar de olhos.
Naquela altura do campeonato, eu ainda estava amargurado demais para admitir que tudo que escrevi, foi sobre Juliana. Era um pensamento doído e constante. Martelava em minha consciência enquanto ladrava que eu só conseguia escrever sobre ela, e nada mais. Exageradamente dramático, porque é assim que eu sinto as coisas: dramaticamente e com uma aptidão especial para ignorá-las quando estava em público.
Claro que Adriano e Diego sabiam que minha falta de vontade era apenas fachada, mas não insistiram em saber dos meus pensamentos doloridos de amor não correspondido (que um dia foi).
— E como levar um tiro deliberadamente não é permitido, você tá se rendendo ao male dos cantores de sertanejo. — Adriano deu uma risada do que Marcos disse, que gentilmente o acompanhou com uma risadinha.
— Claro. Somos seres hipócritas.
E ficamos ali, revendo as mesmas conversas. Faculdade, futebol, bandas novas e velhas, amores novos e velhos.
Não sei quando ela apareceu. Para falar a verdade, ainda acho que ela foi um delírio da minha mente entorpecida pelo álcool. Ela apenas apareceu. Acompanhada de mais duas amigas, com cabelos cacheados habilmente presos num coque em sua cabeça. Estava vestida numa blusa claramente velha dos Blitz, grande demais para ela.
Acho que ela me reconheceu de algum lugar. Eu vi, pelo canto do olho, que ela apontou para minha mesa com Adriano e Diego, comentando algo para as amigas. Houve um momento de discussão entre elas, até meu delírio entrar no bar e caminhar em minha direção, interrompendo a interminável conversa de Adriano sobre alguma coisa que não gravei na minha mente.
— Tu é escritor né? — Ela perguntou, apontando para mim depois de acenar para os outros dois. Pisquei os olhos, assentindo com a cabeça.
Eu não estava a achando bonita até aquele momento. Não sei o motivo, mas não era uma garota que eu diria que é bonita à primeira vista. Porém, assim que ela abriu um sorriso, minha mente deu pane e as coisas mudaram.
Senti como se eu estivesse sendo escrito por Shakespeare. Esqueci meu coração quebrado no mesmo momento em que vi Delírio sorrindo. Automaticamente ouvi Romeu se perguntando exageradamente se teria amado até o momento em que viu Julieta pela primeira vez.
Não foi fácil esquecer Juliana, minha Rosalina, mas ver Delírio, minha Julieta, tornou Juliena apenas um pequeno incômodo no fundo da memória, um passado ofuscado pelo agora brilhante.
Delírio se movia com graça. Sentou-se em meu colo, puxou o copo americano e bebeu um gole de cerveja, apoiando o braço em meu ombro. Adriano e Diego se entreolharam, e olharam em volta. Ninguém parecia importar-se, porque ninguém realmente se importa com o que acontece nas mesas alheias. Pisquei algumas vezes, meu cérebro lento por causa da cerveja tentando entender o que estava acontecendo.
— Escreve um verso pra mim.
Voz doce, suave. Parecia veludo. Os olhos de mel se fixaram nos meus, suavemente afundando-se em mim, buscando pela minha alma. Eu até pensei em olhar em volta, em buscar por algum norte nos olhos de meus amigos, mas Delírio sorriu, e eu fiquei aprisionado nela de novo.
— Não sou poeta. — Consegui dizer, de algum modo.
Ela torceu o nariz, parecendo decepcionada e eu desejei saber escrever poemas. Poemas nunca foram meu forte, mas eu desejei desesperadamente poder voltar no tempo e me forçar a escrever, apenas para escrever o que ela queria.
— Mas ainda pode me escrever?
Olhei para ela, ainda vidrado no jeito com que se movia. Pisquei mais algumas vezes e assenti com a cabeça.
— Acho que sim.
— Acha?
Sim, apenas acho. Porque não sei como escreveria Delírio de uma forma melhor do que chamá-la de delírio, uma garota de cabelos brilhantes e de sorriso tonteante. Ao ver que eu não ia responder para além de um aceno afirmativo, estalou a língua no céu da boca e arrumou-se em meu colo, puxando o copo americano novamente — meu copo americano — e tomou outro gole.
— O que pode escrever?
— O que você quer que eu escreva?
Ela tamborilou os dedos na coxa, pensando sobre o que responderia; meus olhos não se atreviam a correr dela. Ela mordiscou o lábio e então ergueu o queixo, voltando a me olhar.
— Algo da alma.
Parecia um jogo de xadrez. Ela fazia uma jogada e eu outra, e lutávamos para ver quem era mais vagamente poético numa conversa de bar entre dois desconhecidos.
Delírio moveu a cabeça, chamando minha atenção. Perguntei-me se ela iria se aproximar só mais um pouco, o suficiente para me beijar. E eu nem sabia o nome dela. Percebi que foi fácil ela entrar em minha mente e fazer seu próprio lugar, como se fosse de casa há anos. Ela sorriu suavemente e aproximou-se. Nossos narizes esbarraram, e seus lábios se chocaram com os meus.
Foi devagar, não tão intenso quanto eu imaginava que seria. Talvez ela quisesse que eu lembrasse disso. Lembrasse da sua contradição e sentisse a dormência do desejo. Lembrasse que passou-se muitas partes da música que tocava no rádio, que agora era uma balada dos anos 70. Não faço ideia de que música era.
Foi lento o suficiente para eu me apaixonar.
Delírio sorriu quando se afastou. Olhou-me nos olhos, deixou a mão no meu ombro e eu segurei sua cintura, sem querer que ela fosse embora.
— Pronto. Dei algo para você escrever.
Eu dei um sorriso, inevitavelmente, e ela riu, balançando a cabeça.
Não tive tempo para descobrir mais sobre a garota que sentava-se em meu colo como se fosse uma conhecida de dezenas acumuladas, mesmo com nossa pouca idade. Sorria para meus amigos enquanto suspirava sobre a vida, então voltava a me encarar, dizendo-me que seu coração era frágil e habitava num corpo que não temia quebrá-lo.
— A vida é curta demais pra ficar pensando em dores. — disse, depois de dar de ombros quando fora questionada por Adriano, que parecia tão encantado quanto eu.
Acho que eu entenderia mais sobre Delírio se tivéssemos mais tempo para conversar. Se ela não estivesse com pressa de viver — bem como me disse —, poderia ter entendido o caos que rodopiava nas tempestades castanhas que me observavam; lendo-me como se fosse um livro de simples compreensão, sem muitos plot twists. Talvez deste modo, se tivesse a oportunidade de ouvir mais suas filosofias de bar, ela deixaria de ser um Delírio, e passaria a ser apenas arte — coisas que, geralmente, caminham juntas.
Pronto. Aqui está. Escrevi sobre você, Delírio.
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divisória por @cafekitsune
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congestaofrasal · 1 year
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Um dia desses você me destrói. Não há ninguém mais capacitado, ninguém capaz de tamanho estrago. Nessas noites incertas, chego a ter medo do seu poder sobre mim. Tanto me abandonei em suas mãos, que hora me sustentam, hora me perdem para o chão. E lá eu fico, recobrando a respiração. Até você decidir meu destino, minha sentença.
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umapalavraqueajude · 8 months
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30 de agosto..
Mitologia romana
Festival da Caristeria, em honra a Cárites, deusa da benevolência.
🌎
Dia das Vítimas de Desaparecimentos Forçados 2011
🇹🇷
Dia da Vitória, q comemora a Batalha de Dumlupınar, q marcou a vitória na Guerra de independência turca.
🇧🇷
Dia de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla
Dia do Perdão
Aniversário de:
Botelhos MG
Campestre MG
Cláudio MG
Conceição do Rio Verde MG
Contagem MG
Coronel Pacheco MG
Elói Mendes MG
Guarani MG
Itaí SP
João Pinheiro MG
Limoeiro do Norte CE
Nepomuceno MG
Orleans SC
Paraguaçu MG
Passa Tempo MG
Pereiro CE
Silvianópolis MG
Virgínia MG
1956 É aberta a Ponte do Lago Pontchartrain, em Mandeville, na Luisiana, c uma extensão de 38.422 metros, uma das + longas pontes do mundo.
1962 O Japão realiza o teste do NAMC YS-11, seu 1º avião desde a 2ª Guerra Mundial e seu único avião comercial de sucesso desde antes ou depois da guerra.
1963 Entra em operação a linha direta Moscou-Washington entre os líderes dos EUA e da União Soviética.
1984 Lançada a STS-41-D, 1ª missão do ônibus espacial Discovery.
1991 O Azerbaijão declara-se independente da União Soviética.
Nasceram…
Anita Garibaldi 1821-1849
Ernest Rutherford 1871-1937
Cameron Diaz n. 1972
Morreram…
Cleópatra n. 69 a.C.-30 a.C.
Nicolau Nasoni 1691-1773
Charles Bronson 1921-2003
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brunolazzsays · 2 years
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Do livro: Retrato do artista quando coisa - Manoel de Barros. . . #poesia #poema #poetry #literaturabrasileira #Brasil #Br #literatura #livros #artista #quote #citacoes #manoeldebarros (em Itapema - Sta. Catarina) https://www.instagram.com/p/Cj79PPzL7Fg/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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aesrot · 1 year
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Oi! Tudo bem?
Vim aqui discutir se o Diadorim gosta ou não do Riobaldo. Eu sei que durante o livro a gente só tem o ponto de vista do Riobaldo e talvez a vontade que ele tinha de ter o seu amor correspondido tenha atrapalhado um pouco como ele se lembra da sua vida porém tem alguns momentos que me fazem pensar que o Diadorim gostava também do Riobaldo só que como a situação dele era mais complicada (por causa do seu gênero e ser filho do Joca Ramiro) ele era mais reservado.
Eu acho que o Diadorim gostava do Riobaldo por causa daquele pacto de não fazer sexo, de como ele reagiu com a Nhorinhá, Otácilia, a maneira que ele reagiu quando o Riobaldo falou que daria a pedra pra Otácilia e uma cena que me marcou muito que foi quando o Diadorim voltou após ter sido ferido, e ele não estava bem, meio magro, e foi sorrindo até o Riobaldo perguntando se ele tinha sentido falta dele.
Diadorim é definitivamente mais sutil e tipo nós só sabemos que o Riobaldo amava o Diadorim por causa dos pensamentos dele o que a gente não tem do Diadorim.
O que vc acha?
(desculpa por vir aqui do nada e te mandar um textão confuso)
Oie!! Então, apesar de eu amar um narrador não confiável, dessa possibilidade de que o Riobaldo pode ter influenciado sua narrativa com suas expectativas e sentimentos, eu ainda acho que Diadorim amou ele também. Só que ele tem muita prática quando se trata de agir de acordo com o que se é esperado de um jagunço, justamente por seu segredo.
Diadorim passou muito tempo reafirmando sua identidade como homem, tanto que ele fica bem defensivo quando alguém tá perto de desconfiar de algo (tipo aquela cena q um jagunço fala q o Diadorim é 'delicado', por ter feições mais suaves, e ele tá pronto lutar com o cara no mesmo instante). Ele já tem muito a perder se isso fosse trazido a tona, então ele não pode tomar riscos assim, não numa sociedade tão heteronormativa, cercada de pessoas que acreditam tanto na virilidade como inerente ao homem.
E eu acho q isso se aplica também aos seus sentimentos: ele, sendo reconhecido como homem pelos seus companheiros, tinha noção de que se ele tivesse algum afeto com o Riobaldo, tudo podia ir por água a baixo. Claro, eu não acho que Diadorim achava que o Riobaldo ia expor pra todo mundo que ele era possivelmente homosexual, mas tinha um risco ali também. Ainda mais se os afetos o levassem a momentos mais íntimos, o que traria atenção pro corpo dele, também muito arriscado. E mesmo se isso não fosse um problema, só por ter relações entre dois homens já era perigoso demais pra ambos. Claro, tem alguns momentos q eles parecem estar bem íntimos, tendo uma relação bem mais complexa que os outros jagunços têm entre si.
Acho que Diadorim, mesmo que amasse o Riobaldo, não se permitiria uma abordagem direta, não enquanto eles estivessem em risco, pelo bem dos dois. Ou ainda, talvez ele achasse que Riobaldo só o enxergava como um grande amigo (a famosa friendzone), já q ele teve seus casos com outras mulheres (ainda mais com Otacília, que podia oferecer tudo que ele jamais poderia) e tinha medo de perder tudo isso se o Riobaldo descobrisse ou desconfiasse de seus sentimentos.
Minha análise tá beeeem fraquinha pq li o livro faz um tempo já, e li pra uma matéria da faculdade, focando mais nos paralelos entre o livro e Brasil colônia/república e tals; então lembro bem pouco da relação entre eles. Tô planejando reler em breve, aí vou poder dar uma resposta mais elaborada.
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fragmentosdeginevra · 11 months
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Resenha #08 | Atos humanos
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Autora: Han Kang.
Número de páginas: 192.
Sinopse:
Período de leitura: 22/05/23 - 25/05/23.
Editora: Todavia.
Em maio de 1980, na cidade sul-coreana Gwangju, o exército reprimiu um levante estudantil, causando milhares de mortes. Entre os sobreviventes está o menino Dongho, de apenas quinze anos, que busca seu melhor amigo em meio às vítimas num ginásio onde os cadáveres estão à espera de reconhecimento. A história desse trágico episódio se desdobra em uma sequência de capítulos conectados à medida que vítimas e enlutados encontram a supressão e a negação do terrível massacre. O evento de trágicas consequências foi transfigurado nesta ficção extraordinária, poética, violenta e repleta de humanidade.
O que chamou minha atenção nesse romance a primeira vez em que o peguei foi o narrador. A história é narrada em 2ª pessoa. Esse fator me interessou muitíssimo, porque nunca li nenhum livro assim antes. Eu possuía uma leve curiosidade sobre o movimento estudantil sul-coreano, também. Ao aliar o narrador à história que a autora pretendia contar, vi que havia muito potencial.
Atos humanos é um livro emocionalmente sobrecarregado. Não há outra forma de descrevê-lo. Eu imaginava que ia ser difícil, vivenciar a história com o narrador se referindo a mim o tempo todo. É uma ferramenta poderosa, colocar seu leitor no centro dos eventos. Mesmo que o personagem central esteja ali com um nome próprio, uma família, nacionalidade e idade definidos, é impossível para a mente do leitor não mergulhar momentaneamente na narrativa como se ela se referisse a ele mesmo. 
O livro trata de assuntos como relação entre corpo e espírito, síndrome do sobrevivente, busca por lógica em meio à crueldade, psicologia das multidões etc. Todos esses subtemas estão englobados em um tema guarda-chuva: "o que define a humanidade?"
A autora expõe o lado feio do ser humano, e levanta várias perguntas acerca de sua natureza. É algo intrínseco à espécie? É possível escapar dele? Como conviver com isso?
Não esqueço que todos que encontro, diariamente, são seres humanos. O senhor, que está ouvindo essa história, também é um ser humano. E eu também sou um ser humano.
Se eu fosse estudante de Letras, definitivamente escolheria fazer um trabalho envolvendo esse livro. Os diferentes pontos de vista que a autora decidiu abordar, os elementos que unem todos os personagens através dos capítulos, o jeito que ela decidiu escrever a história (narrador, diálogos, passagem de tempo)... há muita coisa para analisar e discutir. 
Saí da leitura curiosa para saber mais sobre o processo de pesquisa e escrita da autora. Além disso, queria entender melhor o processo de democratização da Coreia do Sul e as revoltas envolvidas nele. O livro foca no massacre de 18 de maio, mas há breves menções à revolta Busan-Musan também.
Não é o propósito da narrativa ensinar o que foram esses eventos. A ideia é assumir o ponto de vista de indivíduos cujas vidas foram inevitavelmente alteradas por eles. Entretanto, devido à minha falta de referências históricas, a leitura foi ocasionalmente confusa. Talvez ela possa ser mais apreciada por alguém inteirado do assunto; eu tive de me virar com a Internet.
Por último, queria destacar a tradução do livro. A editora responsável contratou um tradutor que traduziu direto do coreano para o português. Foi muito sensato da parte deles. Queria que esse fosse o padrão do mercado editorial. Recentemente, fiquei chateada porque uma editora famosa (ao que tudo indica) publicou um best-seller sul-coreano traduzido da edição em inglês. É como se o texto fosse diluído duas vezes.
Decidi não dar estrelas, assim como na minha última resenha. Ao invés disso, vou dizer que recomendo esse livro com ressalvas. Não leia caso esteja com a mente ruim e pesquise possíveis gatilhos antes.
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amderlaine · 1 year
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Falta mais escritores brasileiros dispostos a inventar palavras novas. A linguagem atual já está necessitando de novas palavras e a gente acaba roubando elas do inglês. O que reforça essa visão imperialista e não combina com o resto do idioma. Precisamos de alguém que traga a nova "paquera" ou alguém que invente um novo verbo específico como o "defenestrar".
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didithefae · 3 months
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— nós mulheres meio gregor samsa 🪳
comprei essa edição de a metamorfose em um sebinho na minha viagem para pirenopolis, sabia que era um clássico indispensável e eu já queria ler a um bom tempo. quando finalmente deixei a leitura fluir, entendi rápido o motivo de ser um livro tão recomendado.
essa história me deixou por dias refletindo sobre suas inúmeras interpretações, por exemplo, a forma como colocamos nosso trabalho na frente das nossas necessidades, como o capitalismo nos desumaniza, como deixamos a vida acelerada nos consumir e o fato de nos sentirmos culpados quando decidimos desacelerar.
também me fez refletir bastante sobre disponibilidade e a linha tênue entre a vontade de ajudar e a total servidão em nome do amor e responsabilidade familiar. quando deixamos que as pessoas nos vejam apenas como uma fonte de apoio, corremos o risco de nos tornar descartáveis quando deixamos de ser úteis. para mim, acho que foi uma grande lição sobre os relacionamentos que cultivamos e como nos apresentamos dentro deles.
eu te entendo, gregor samsa. às vezes, tudo o que eu queria era ficar na minha cama ignorando as minhas responsabilidades até me metamorfosear um inseto monstruoso.
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itacoisa · 9 months
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19 de julho de 2023. Quarta-feira.
O Farol de Emma Stonex conta a história de três homens que desapareceram em um farol situado em uma formação rochosa de difícil acesso e sob condições bem suspeitas, já que os relógios do local estavam parados no mesmo horário, a mesa estava posta para apenas duas pessoas e a entrada estava trancada por dentro...
Por isso, após 20 anos, um escritor decide que seu próximo livro será sobre esses desaparecimentos.
Essa deve ser a quarta leitura para o >em busca do suspense do ano< e, por enquanto, está sendo a mais promissora.
O livro reveza entre os pontos de vistas dos faroleiros e das esposas de cada um deles lidando com o escritor (que para elas é um enxerido) e revisitando o passado. Além disso, há alguns capítulos que se tratam de cartas ou partes de diários.
Basicamente é isso, eu estou bem intrigado com a história, apesar de que tudo que foi revelado até agora está escondido nas entrelinhas, não tendo nada surpreendente.
Estou em 37% do livro e agora aquele dúvida, que quase todo suspense tem, se o que aconteceu foi algo sobrenatural ou não, já se dissipou, por isso a história urge por um grande acontecimento.
A escrita da autora consegue ser bonita quando quer e as esposas são bem intrigantes, já os maridos ainda não vi muito deles. Inclusive, os capítulos em que as esposas são entrevistas pelo escritor é basicamente só as respostas delas (e eu amei isso) — até porque, o escritor não possui nenhum fala, haha, pelo menos até agora.
E é isso.
O começo intrigante a autora entregou, agora quero respostas para o caos começar a acontecer.
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numeroscomplexos · 1 year
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1/1
dentro de mim capto a essência infame palavras não tão soltas assim apontam para a conclusão inevitável algo não está certo.
fora de mim tento obter a imagem de um quebra-cabeças incompleto meu corpo parcial e deformado me conduz  pelo único caminho que minha incompetência generalizada me permite trilhar.
no espaço entre nós duas desço espiralando até chegar    no fundo do poço, nos restos de mim, na constatação de que ainda é só o começo.
infelizmente
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