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#lilases
sabrinarismos · 1 month
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“Você tem que me amar nos azuis, lilases, vermelhos e cinzas. Precisa aprender a amar cada tom para compreender o que significam todas as imagens que se formam nessa aquarela que eu sou.”
—refeita
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refeita · 1 year
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burgundy
um domingo ébrio surgiu no horizonte, passado da meia-noite, ainda sem dormir. o som alto me confunde enquanto tento entender as palavras que tenta me dizer. teu hálito é puro vinho, os lábios são rosados pelas gotas que escaparam do último gole direto da garrafa. entre intervalos de música tenta me convencer das mais suaves loucuras e meu papel é fingir concordar. nossos lábios se tocam de novo já que duvidar da tua fala não é motivo suficiente para evitar tua boca, complementamo-nos mutualmente com alguma sintonia. não estamos num filme de romance, por isso sei que o que senti quando te vi cruzar a pista foi tesão, assim como quando nos beijamos sob luzes lilases. suas mãos nos meus cabelos castanhos, minha mordida no teu lábio inferior. aprendendo passos novos enquanto executamos, num entrelaçar de dedos e pernas. a parede em que encostei era fria, teu abdome prensado ao meu era quente. toco tua língua usando a minha, sinto tua mão alternando entre minha cintura e meu quadril, pedindo permissão para algo além. o gosto do vinho é viciante, doce, me causando dependência instantânea desse beijo recém-descoberto. se afasta para me olhar, olhos escuros mirando outros olhos escuros, enquanto sorrimos maliciosos um para o outro. tua garrafa na minha mão, suando de tão gelada enquanto suamos de tão quentes. o mundo reduz em volume e somos apenas nós e as oscilações sonoras das batidas que não reconheço. quando nossos lábios se tocam de novo, após um gole desajeitado que dei, tu bebes de mim o gosto embriagado de desejo engarrafado, manchando em vermelho nossas roupas que tanto queremos tirar. desse dia em diante reconhecerei seu gosto em qualquer taça que encontrar, enrubescendo pelo álcool e pela lembrança das suas mãos segurando as minhas sobre lençóis bagunçados.
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maryflorlovyblog · 1 year
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Quando o sol cansado vai se pondo,
Uma réstia de sol caminha tranquila
Sobre os montes da ilha.
Declina-se o dia e um vento vago
Traz o cheiro de jasmins.
Sopram versos das flores,
Como ondas em prece ao entardecer.
Sopros da terra que em flor palpitam,
Exalando a vida e seus perfumes.
Sombras lilases vagueiam no céu,
A tarde declina no silêncio,
Esmaecendo-se suave e melancólica.
Da janela onde me encontro,
Os olhos acompanham as sombras
Desenhando-se nos montes.
Que me importa estar aqui nesta sala,
Onde o trabalho me prende ao chão,
Se minha alma cria asas e se arrebata
Na beleza do cenário, agradecida
Pelo terno abraço desta tarde…
Sonia Schmorantz✍
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klimtjardin · 5 months
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Golden Age
NCT Fanfiction | Capítulo 12
{isso é ficção! atenção, esse capítulo tem: cena em hospital, doença | recapitulando: situações complicadas foram mexidas, talvez isso ajude nossos personagens a construírem intimidade.}
Sentada sobre as pernas com o vestido a rodeá-la, ondulando sobre o piso de madeira do sótão, percebe então a razão de seu incômodo na aparência de Taeyong naquele primeiro dia de trabalho. O tem em mãos, na verdade. É um anel.
Nesta manhã, dominada pelo ócio decide revirar bugigangas deixadas na casa de seus pais, desde quando fez as malas para seguir vida acadêmica. Flagra o anel comum, solitário, de um dourado fúlgido contra a luz. Poderia muito bem ser de uma noiva à espera do grande momento ao altar, mas é seu. Doyoung te presenteou com este quando você fez quinze anos. Ele mesmo usa uma cópia idêntica. E agora, Taeyong. Você não se lembrava disso, tanto que ali está a jóia esquecida em meio a um monte de outras coisas mais vãs. Mas no dedo de Taeyong o reconheceu: era o seu anel.
Mais uma vez, uma das suas partes não tão belas vem à tona. Mesmo que o anel não te diga muito agora. Ele não diz nada. É você quem insiste na narrativa, é quase uma perseguição.
Deixa em paz e recorre aos seus velhos métodos; escolhe uma tela para finalizar. É uma tela grande de 2m x 2m, já pincelada por exuberantes rosas e lilases. Pinceladas pequenas, imprecisas, imprevisíveis. Não tem noção de quanto tempo se dedica ao ofício, mas leva um susto quando a campainha toca. Espia pela janela da cozinha, por trás das cortinas de musselina branca. É Taeyong. Que dor de barriga vê-lo ali. Abre a porta e o detesta, nos seus trajes exageradamente grandes, na sua expressão exageradamente cínica, mas que hoje - e dá graças a isso - não está lá.
— Posso entrar? — Ele pede.
De verdade, sente agora uma curiosidade galopante a respeito do que o trouxe. 
Assim que Taeyong entra em sua casa, ele vê a grande tela na qual trabalhava com afinco minutos atrás.
— Você tava pintando?! — A pergunta é feita com olhos arregalados.
— Estava. O que aconteceu?
— Não, eu só quero saber porque você pediu demissão.
— Já expliquei.
— Mas eu não entendi...
Agarra com todas as forças a vontade de chamá-lo de burro.
— Acha que é certo um funcionário dormir na casa do patrão? Pergunto com sinceridade. Acha certo eu ter ficado bêbada diante do meu chefe? Ter ouvido e de certa forma participado de situações particulares suas?
— Olha, em caso normal, realmente, isso é estranho. Mas pensa só, você é a melhor amiga do meu melhor amigo. Nem tudo... Nem tudo precisa seguir uma cartelinha assim. Tem muita coisa… Tem muita coisa que na prática é diferente. Eu quero mesmo que você volte a trabalhar lá.
— Bom. — Faz uma pausa. — Não vejo as coisas deste modo e não posso voltar a trabalhar lá. Mas agradeço.
— Então tá. — Ao contrário do que imaginou, Taeyong não insiste. — Mas você vai me vender essa tela, eu quero ela. Quanto tempo leva pra terminar?
— Em torno de... Em torno de dois dias. — Surpreende-se.
Não passa pela sua cabeça que seus planos sejam mudados, no entanto.
Na madrugada seguinte é desperta por um telefonema. Com o pouco que Doyoung consegue passar de informações, conta estar no hospital com o Sr. Kim, que não passa bem.
Esta é uma daquelas situações das quais não nos imaginamos passando. Você tem medo de tantas outras coisas; medo de cair e ninguém ouvir, de ser assaltada na rua, de sofrer um acidente trágico de carro. Esquece completamente não ter qualquer controle sobre isso. Não controla ser acordada por um telefonema, algo que nunca se preocupou em imaginar.
Pede uma carona para seu pai, que sai para trabalhar nesse horário, para o hospital onde está Doyoung, confusa ainda pelo despertar abrupto. Seu amigo não te pede qualquer coisa, mas você sente que deve.
Com algumas informações na recepção consegue entrar e o encontra sentado em uma das cadeiras do corredor. Sem palavras, toma um lugar ao lado dele. Doyoung parece um menino tão pequeno... Olha para você com olhos grandes e aguados, o semblante de alguém que foi acordado por um pesadelo. Ele toma fôlego: 
— A mãe tá lá dentro com ele, vão fazer os exames. Acham que é câncer.
A dor é lenta fermentando no seu interno. O pai de Doyoung de alguma forma sempre esteve presente na sua vida. Se é doído para você, mal consegue imaginar como é para o seu amigo, que pela primeira vez em muito tempo se detém calado, sem qualquer suspiro para dar.
Esperam.
Esperam até a Sra. Kim sair de lá de dentro e contar a você a ordem dos fatos que os levaram até o instante. Até que os exames iniciem e que você vá buscar algo para Doyoung e a mãe dele beber. Ouve os telefonemas que ela precisa dar, os pedidos de oração, algumas lágrimas derramadas. Seu melhor amigo olha para o céu lá fora, da janela daquele tenebroso cenário. Daria um bom dinheiro para saber o que se passa em sua cabeça, para poder acudir de alguma forma.
A Sra. Kim sai e não muito depois Taeyong ocupa seu lugar.
É neste momento que você se sente como um peixe fora d'água. Doyoung enfim deixa um choro sofrido escapar e aceita o abraço de Taeyong. Mais do que isso, ele pede para você deixá-los a sós. Jamais ouviu tal pedido vindo de Doyoung em todos os seus anos de amizade. Porém, ali, você não apenas entende como compreende. Enquanto faz o caminho de volta, na promessa de retornar mais tarde.
Há dores que você não é capaz de sentir, por mais que se esforce, por maiores que sejam as centelhas de compaixão em seu espírito. Doyoung é agora um irmão de dor de Taeyong. E nenhum laço une duas pessoas mais do que a dor.
O final da tarde cai vagarosamente sobre Mer, a cidade banhada pela lagoa de mesmo nome. O céu fecha suas pestanas douradas e se abre para um estrondoso breu salpicado de estrelas. Olhando a paisagem pelo doloroso caminho de volta ao hospital, uma hora depois de deixar Doyoung e Taeyong a sós na sala de espera, imagina uma pintura gigante do brilho prateado que se agita sobre as águas tranquilas.
Sobre um ombro carrega a bolsa com uma garrafa térmica de café e outras besteirinhas para aplacar a fome de seu melhor amigo e não menos importante numa tentativa de animá-lo. Por mais que saiba de sua recusa, ainda sente que é seu dever.
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falangesdovento · 8 days
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Você tem que me amar nos azuis, lilases, vermelhos e cinzas. Precisa aprender a amar cada tom para compreender o que significam todas as imagens que se formam nessa aquarela que eu sou... Boa noite! Lucas Lima
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districttenpeterxx · 5 months
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who: peter lopez & @lilasings where: train ride of doom
the train moved too fast, but he barely felt it as peter wandered over to sit in the seat beside his district partner, the other tribute. he wouldn't call himself lila's best friend, or even friend at all was too strong a word, but peter was certain he had taken her some food before, maybe fixed a leak in the roof or adjusted a door that was just off the hinges. as he fell into the seat beside her and offered her a water he had snagged on the way over, his expression was impassive, but not cold.
"for the glory of ten, huh?" he tried to keep his tone light, maybe playful if there wasn't that crack under it, that fear that was bleeding through every single thing, his body screaming at him to just jump off this train and run. but where would he go? what would he do? and he couldn't leave lila to fend for herself. "feel free to laugh at me if you want, but... in it together? you and me?"
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notdiabolika · 4 months
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Feliz Ano Novo…
Uma viagem que deu errado.
| Estrelando: Irmãos Sakamaki, Karlheinz e Protagonista.
| Protagonista: Gênero neutro, sem nome.
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[ ! ] O prólogo a seguir contém violência, palavrões e morte de um ou mais personagens. Leia com cautela, e se precisar, pule para o próximo post.
O primeiro ano foi um inferno, o segundo, um purgatório. Apenas após o terceiro que o tempo parou de ter significado para mim.
As festas da virada de ano se encerraram, e mesmo que nenhum de nós tivéssemos comemorado – eles, pela ausência de emoção, e eu, pela falta de motivo – , saímos com a limousine em janeiro de 2015 para uma visita ao Makai, o Mundo Demoníaco. Tudo por conta de um misterioso bilhete que veio do próprio rei vampiro, pai dos irmãos e meio-irmãos que viajavam ao meu lado.
“Crianças da noite e sacrifício,
Neste período de boas novas, símbolo de renascimento do homem, existem questões a serem discutidas convosco que não poderão mais seguir postergadas.
Receberei-vos de braços abertos em meu castelo, quando estiverdes prontos para conversarmos.
— Karlheinz Sakamaki.”
Me disseram que o chefe da família era um homem de palavras difíceis, enquanto seus próprios filhos o descreviam de um modo bem simples:
“Um velho chato, problemático, que tornaria sua vida um inferno se assim desejasse.”
E mesmo sem conhecê-lo cara a cara, sabia que era verdade. Minha família sequer se comoveu no dia que a igreja me enviou como uma oferenda aos vampiros a mando dele.
Karlheinz era que nem o Diabo – você nem precisaria vê-lo de perto para saber que é mau.
– … Ei, o que há com você, sacrifício? – A voz mordaz indagou, seu dono sendo o único de cabelos ruivos que sentara do lado oposto da limousine preta, bem na minha frente. – Te fizemos uma pergunta.
Os questionamentos de Ayato sempre começavam por causa de alguma asneira que ninguém se importava e, de algum jeito, terminavam em briga. Suspeitava que fazia de propósito.
– Precisamente. – Quando Laito concordou, tive certeza da minha opinião: nada bom viria de um complô dos gêmeos. – É a segunda vez nesta semana que você fica no assento ao lado do Kanato e perto dessa janela, tão distante… por quê? Hmm?
A única coisa que me separava dele e de seu chapéu fedora era de fato o outro irmão gêmeo problemático, que decidiu se virar em minha direção com feição de desprezo. Como se não tivesse visto que estou ao seu lado no assento vermelho há quase trinta minutos.
– Por favor, se abstenha de tomar liberdades que não lhe pertencem. Sente em outro lugar da próxima vez. – O garoto de cabelos e olhos lilases abraçou seu ursinho de pelúcia como se fosse um crucifixo, me encarando com aborrecimento. – Você está ocupando o espaço de Teddy, que gosta de observar a vista!
Gostaria de me importar com qualquer coisa do jeito que Kanato cuida desse pedaço velho de tecido e espuma.
– Porra, quem liga, parem de fazer barulho. – Subaru, o mais novo de todos e com cabelo branco, fazia questão de esbravejar. Pelo menos umas cinco vezes a cada uma hora. – Tanto faz, onde você quiser sentar…
– Ah, faz diferença, sim. – Laito deu um sorrisinho de malícia.
O suspiro de decepção, notório de Reiji, interrompeu qualquer outro comentário inconveniente que pudesse ser proferido em seguida.
– Minha nossa, a habilidade que vocês têm de criar tempestade em um copo d’água me espanta. – Arrumou os óculos, fazendo questão de dar seus olhos de julgamento para cada um, até parar em mim. – No seu caso, evite ficar em silêncio quando o assunto diz respeito à sua pessoa.
Aproveitei a tocante oportunidade para ignorá-lo também, embora tenha assentido com a cabeça para fingir concordância. O segundo mais velho detestava ser contrariado.
– Falas hipócritas, vindo de você. – Shu Sakamaki, o primogênito de olhos azuis e mechas loiras, só encontrava forças para acordar quando queria alfinetar o quatro-olhos. Nada de novo.
A única resposta que conseguiu foi outro olhar perfurante dos olhos vermelhos. Depois, silêncio, seguido pelo chacoalhar do veículo. As rodas finas deslizavam na lama, enquanto a garoa começava a engrossar. O trajeto que prosseguíamos pela estradinha de terra era extenso.
Para nossa má sorte, o portal para o Castelo do Éden – que era bem escondido nos caminhos subterrâneos, debaixo de casa – havia sido selado sem explicação aparente, e nenhum dos outros soube explicar o porquê do estranho incidente.
Só nos restou ir de carro até um outro portal, que aparentava estar no fim do mundo, ou em algum lugar próximo dele para encontrarmos o homem que nenhum de nós queria ver.
– Parando para pensar, faz um tempo que o sacrifício não dá um pio. – Ayato fez questão de pontuar o óbvio, atrapalhando meus pensamentos.
– Às vezes é sono… – Shu ponderou com uma voz carregada de preguiça.
– Só você para ficar sonolento com esse barulho de merda. – Subaru resmungou, enquanto o chiado dos pneus fazendo fricção com o chão ficava mais agudo, na constante luta para o carro não atolar. – Ainda mais que ninguém sabe calar a boca nessa limousine.
Realmente. Concordei tanto com o mais novo que decidi justificar minhas ações a todos, em alto e bom som, para tirar esse peso do peito de uma vez por todas:
– Fico em silêncio mesmo, odeio falar com gente. Pior ainda quando é com vocês.
Brincadeira. Meus lábios permaneceram bem selados. Porém, dava para imaginar o que aconteceria se eu tivesse de fato dito isso.
Meu estômago teria dado um nó quando o peso de seus olhares caíssem sobre mim, enquanto o medo seria um sentimento distante. Um pouco de apatia, embora a frustração continuasse remoendo os meus órgãos por dentro.
Reiji seria o primeiro a se recuperar do choque. Franziria o cenho, se colocaria de queixo levemente erguido, e daria início a um longo sermão direcionado à mim. Duraria até o final da viagem.
Ao invés de causar tal confusão, fiz o de sempre. Deixei a inquietação e o ódio se alojarem na mente, me distraindo com a folhagem das árvores que se afastavam da janela.
“Algum dia, vou ser livre de novo.” Pensei, sabendo que o dia não seria hoje. “Vou despertar como uma dessas criaturas e ganhar minha liberdade”. Por essa razão que me chamavam de sacrifício desde o início, – quanto mais eles tomassem meu sangue, maior a probabilidade que o vampirismo se manifestaria. – uma vida humana em troca de uma existência imortal.
Mas será que era verdade? Se três anos já haviam passado, qual a chance de algo acontecer no próximo? E no ano seguinte?
Estes pensamentos eram desagradáveis, e o pior de tudo, distraíam demais. Os barulhos externos se abafaram em minha mente. O que me despertou foi um solavanco, e depois, o movimento do carro virando, seguido pelo baque do capotamento.
– Legal. – Subaru bufou. – Agora a gente vai demorar ainda mais.
Uma tontura imediata me atingiu por estar de cabeça para baixo, com o desconcertante aperto do cinto na barriga me mantendo rente ao assento. A vegetação lá fora continuava se movendo devagar, mesmo com o carro parado.
– Então. – Laito começou, olhando de longe a mesma janela que eu. – Não que eu queira alarmar ninguém, mas…
Só tinha uma resposta lógica para tal fenômeno. O carro não estava parado.
Com um barulho de arranhão, o teto deslizou pela terra molhada, galhos e arbustos baixos se debatendo contra as janelas em uma angustiante sinfonia de riscos nos vidros e na tintura. Girou uma, duas vezes, com o motorista fazendo esforço para recuperar o controle do veículo, mas não adiantava, nada adiantava.
Alguém gritou para todos saírem do carro. Os outros eram vampiros, mas e eu? Como me salvaria? Alguém teria que vir me salvar, senão–
A única coisa que senti foi a pancada por trás.
O impacto da dor, os pontos escuros na visão e o vácuo no meu peito nutriam a certeza de que eu não levantaria mais. Minha consciência ameaçava se esvair.
.
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Até que me levanto do que restara do assento, dou um passo, e me viro para encarar o que deixei para trás.
O metal retorcido havia se dobrado em curvas que encobriram meu corpo, como as pétalas de uma rosa prata sendo tingida em vermelho vivo. Sinto uma agonia distante de lutar para respirar, mover, sentir.
– Isso não foi o trabalho de um humano. – Algum deles disse, pouco me importa quem fosse.
Os seis sobreviventes (e o motorista) reuniram-se ao redor do que restara, feições manchadas por indiferença, que às vezes transpareciam algo mais. Sensações amenas de abatimento, languidez e surpresa.
– Parece que foi premeditado. O calor se esvai da ponta dos dedos e fios de cabelo, aos poucos.
Escuto comentários desconexos ao meu redor, sem absorver seus significados.
– Eu sinto cheiro de magia.
– Parece que estavam atrás de um único alvo…
– Mas por quê? Isso não faz o menor sentido.
Quando os últimos suspiros rastejam para fora das minhas narinas, um vazio me atinge. E então, a ira.
Sem um corpo para fazer tensionar, suar, gritar, ela se expande e espalha ao redor do meu ser, procurando algo.
As minhas memórias são seu combustível.
Gastei três anos da minha vida ao lado de quem não se importava comigo, e agora estou aqui. Sem corpo. Apenas existindo com toda a mágoa que guardei do mundo, deles, e principalmente, de mim – a única pessoa que poderia escutar as lamúrias e reclamações que suprimi.
Havia um tempo em que eu falava o que queria, com honestidade. Por que parei de ser assim? Me suprimiram tanto que calei a boca.
Mas e agora? E agora? O que eu faço agora? Eu sou inútil. Se um ser humano é inútil, ser um fantasma é pior ainda–
Shu olha para a chuva em silêncio. Reiji pega o celular e disca um número desconhecido. Kanato murmura e gargalha com Teddy. Ayato e Subaru tentam tirar os destroços de mim, por algum motivo. Laito é o único que olha pro corpo.
– Eu sei quem está por trás disso. – Com essa frase dele, o rancor some, e eu busco escutá-lo por um momento. Seu rosto cheio de convicção, prestes a apontar o culpado pela minha desgraça. Mas estou sem tempo. A visão embaça.
Não enxergo nada além de arrependimento por uma vida mal vivida.
O que veio a seguir foi pior do que a morte.
Primeiro, foram as cores. Depois, uma sensação congelante. E por último, a familiaridade. Eu já estive aqui antes.
Tons inimagináveis de vermelho, azul e amarelo se mesclando para formar algo maior. Um amontoado de pontos coloridos que constituem uma única silhueta. Aquela silhueta.
– O que houve com você? – sua figura se torna clara ao dar um passo para frente, assim como as outras dezenas de vezes que já o presenciei após encontrar meu fim.
O espaço ao meu redor é uma vastidão azul com flashes de luz vivídos, desconfortável de vislumbrar, embora seja melhor do que encarar aquele homem de frente, outra vez.
Seus numerosos cabelos brancos se estendem até os quadris, suas roupas de realeza escarlates são cheias de babados e os olhos têm cor de âmbar, embora a frieza emane de cada palavra dele.
O reconheço, mesmo que tivesse o esquecido há apenas alguns minutos atrás. Pois todas as vezes que volto a vê-lo, minhas memórias de outras vidas retornam.
– Karlheinz. – Falar seu nome é tão confortável quanto cuspir agulhas pelos lábios. – Foi você, não foi?
O convite súbito, junto com a conveniente falha do portal que ligava seu castelo à mansão dos Sakamakis. Agora eu via, era uma armadilha desde o começo.
– Fiz o que foi preciso. – Pouco se importava com a dor que me fez aguentar, até porque não foi a primeira, nem a última vez que me faria passar por isso. – Tu substituíste pureza por ganância ao almejares uma vida eterna acima da tua, que já era bela.
Quase rio perante os dois mil anos de experiência que essa carcaça velha carrega. Ele não enxerga que ao me transportar de uma linha temporal para outra, já me faz imortal? E ainda vem reclamar de ganância, como se o seu plano não fosse o mais presunçoso a existir.
– Apenas repliquei a arrogância dos seus filhos. – Retruquei secamente. – Ah, e me desculpe, eu deveria ter adivinhado que você queria outra coisa de mim! Não é como se eu tivesse me esquecido, por culpa sua.
O objetivo do Karlheinz era complexo. Ele queria que a presença de um humano específico, com características especiais como as minhas, fizesse com que seus filhos passassem a ter sentimentos. Amor, ódio, o que fosse. Queria ensinar aos seres “impuros” o único jeito “correto” de sentir – a maneira mortal de ver o mundo.
O problema é que, se tudo não saísse exatamente como queria, ele rebobinava o tempo e apagava as nossas memórias. Nunca me lembraria da finalidade de seus estúpidos experimentos sociais em vida, nem do papel que eu deveria exercer em sua história.
Cada vida nova não passava de um tiro no escuro da parte dele, que geralmente acaba sendo um tiro no meu pé.
– Sem ambições, sem sonhos, sem aliados. Está pior do que nas últimas vezes. – Sua expressão se contorce em desgosto. – Esqueça, criança.
Seu comando é absoluto. Mesmo que tenha vindo parar aqui tantas outras vezes, é terrível sentir a minha existência se desmantelar para ser recriada de novo, na época que ele bem entender. Retornar para a ignorância e rebeldia que, por alguma razão, conseguiram sobreviver até meus dezoito anos de vida era frustrante.
Mas tenho fé. Ele não pode continuar me torturando para sempre.
Um dia, esse ciclo vai quebrar de uma vez por todas e eu vou me lembrar de tudo que ele já fez. Até lá…
– Te vejo na próxima vida, velho.
━━━━━ .☆. • ☪ • .☆. ━━━━━
Eu demorei para postar esse texto em português BR porque tinha dúvidas se a comunidade ainda estava ativa. Mas acho que vou descobrir agora.
Esse trechinho que vocês leram é o prólogo de uma fanfic que eu estou trabalhando, provavelmente será postada no Wattpad e no AO3 quando terminar.
Obrigada por ter lido até aqui,
Se cuide <3
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fabien-euskadi · 1 year
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Poetas do silêncio, poetas em silêncio
Catorze versos ébrios de metonímia em sorvo e meio de sigilo: Quadras, duas, mais um duo de tercetos e sinónimos de estilo. O vazio pejado de mancheias de metáforas: olhares de papelão E laranjas lilases (ah!) como quem diz que sim dizendo que não, Pois tudo o mais que se diga é sempre algo menos qu’um zero. Dizem-se poetas, dizem-se tudo, dizem tudo, dizem que quero Mudar o Mundo com versos, quando o Mundo quer é ser igual. Silencio, eu digo. E digo: o teu silêncio é a antecâmara do mal. Fingem-se poetas, poetas de métricas errantes e horas d’ estio - Talvez sejam o que dizem, mas o que dizem é a poesia do vazio.
                                                                         Fabien Euskadi
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BEDA | Carrinho de pipocas...
Na porta da escola onde estudou, tinha um pipoqueiro?
Enquanto trabalhava o primeiro capítulo do meu romance, entre pequenos goles de uma bebida gelada, espiei a alameda com seus poucos movimentos matinais. A única árvore na calçada floresceu, em pleno verão, pintando o cenário com suas pequenas flores lilases… Uma farfalla passeava pelo cenário e outra e mais outra, de cores diferentes. Algumas pessoas em movimento de ida, com passos lentos e…
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peixotizando · 2 years
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Seeing Red - Capítulo 30 - Salvaguarda
Oh, boy
Hope yall like it!
(prev)
Blake odeia café, agora, mais do que nunca. Claro que isso não é totalmente verdade, já que a rotina maluca como assessora de imprensa das Corporações Schnee exigia que ela passasse mais tempo acordada do que descansando. Porém, agora que o líquido gruda na sua pele por causa da camisa molhada, ela realmente odeia café.
Aquela camisa social branca de algodão provavelmente teria que ir para o lixo e Blake realmente esperava que Weiss lhe desse outra, afinal, ela só estava em casa, em pleno horário de almoço em uma segunda-feira que prometia ser mais longa do que o normal por causa da falta de organização da herdeira Schnee. 
Ok, não era tudo culpa de Weiss, mas ela tinha a parcela e por mais que Blake amasse sua melhor amiga, não iria redimi-la disso. Não com uma camisa manchada para sempre e uma queimadura no abdômen. 
O alívio que sentiu ao chegar no apartamento que dividia com Yang era conhecido. Só que, naquele dia, ela também se sentiu melhor porque estava em casa (e segura) depois de uma manhã de estresse. Ela abriu a porta sem olhar para o corredor, já que a camisa morna pelo calor e pela temperatura do café voltou a grudar em sua pele e ela rosnou para isso. Porém, os passos pesados a fizeram erguer os olhos dourados e mesmo se ela não os tivesse escutado, a voz sorridente em seguida a teria feito ir para qualquer lugar:
— Bella …? Eu não te esperava hoje, mas que bom que…! O que aconteceu com você?!
— A sua ex, ela aconteceu! — Blake grunhiu irritada, colocando a bolsa na mesinha próxima à porta e fechando os punhos ao lado do corpo, sentindo-se corar por estar tão irritada a ponto de quase chorar. Os olhos lilases a observaram com um sorriso triste e foram imediatamente atraídos para as suas mãos, quando ela começou a desabotoar a camisa manchada. — Aliás, eu não sei se existe algo na minha vida ultimamente que não envolva a mimada da sua ex!
(+ on ao3)
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yaswmin-a · 2 years
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𝑩𝑳𝑶𝑶𝑫 𝑴𝑶𝑶𝑵 𝑊𝐴𝐿𝑇𝑍 .
Yasemin parou de dançar por meio segundo para admirar a lua; parecia magnífica, imponente, violenta. A animação, que apenas uma dose de endorfina pela movimentação física e a companhia benquista do melhor amigo faziam, foi substituída por um ódio profundo. James Hook merecia estar ali, ele precisava estar ali. Os sons foram abafados e mal conseguia enxergar um palmo à frente; podia ver Calle, tão atordoado quanto, e por uma fração de segundo sentiu arrepios pelo frio. Não saberia diferenciar os poderes de Quinn e Njord, se tentasse — e tentou. O empurrão do Le Fou, tão repentino quanto aquelas sensações, podia não ter sido a causa das vozes, mas foi, com certeza, o gatilho. O corpo atingiu o chão e teve uma visão ilusória de seu pai sendo açoitado: mais raiva. Viu, em seguida, David Charming e Phillip Briar; mais raiva. Merlin e Feiticeiro... raiva, raiva, raiva. Poderia matar todos eles.
Então mate. Você sabe que pode, você sente.
A voz no fundo da mente a fez levantar, recuperada da dor do impacto e da dispersão, como se não fosse nada. Tinha um foco em sua mente e ele não pertencia àquele lugar. A voz persistia em seu ouvido, como um zumbido irritante que, bem, havia se acostumado. Habituara-se a ela, aprendeu a ignorar, mas não agora. Estava sendo guiada para algum local, mas não sabia onde. Suas pernas serviam a um propósito maior, mas, conforme saía do salão, as coisas ficavam mais claras. Precisava vingar o pai, Ursula, seus amigos do Castigo. Uma vida inteira de punições por um crime que não cometeu. E para entrar numa guerra, precisava de soldados; viriam até ela.
Pense no quanto poderia ter mais, ser mais. Pense em Hook, ele gostaria que se vingasse.
Claro que era mentira, Hook era pacifista e jamais acreditaria num confronto tão direto com arthurianos. E em verdade, nem Yasemin quando lúcida. Hiccup deixava que ela entrasse nos jardins à noite, para que treinasse as habilidades, mas não era o caso ali. Não era um treinamento, não precisava de um.
“Apareçam, sei que estão aí.” A entonação imperativa se fez ouvida, ecoando pelo vento, e não demorou para que fosse obedecida. Três, cinco, sete, nove... dezessete víboras rastejaram pela grama e pararam na frente da Hook. Ela sorriu, ébria, e retirou os saltos caros emprestados por Charlotte. A grama fresca deu-lhe uma sensação de pertencimento e quis poder deslizar por ali. Ajoelhou-se na frente delas e ergueu o nariz, majestosa como o fenômeno da noite. “Vocês me pertencem.” Não era ela ali. Yasemin não acreditava em possessividade, especialmente entre ela e cobras. “Pertencemos.” Confirmou uma delas, sob sibilos. A sensação de ter servos era deliciosa em seu palato... talvez seu pai não precise estar no Conselho, talvez ela mereça mais.
As írises claras receberam uma coloração diferente, nova. Do azul, ficaram verdes e, depois, lilases. Olhou para cada animal a sua frente e, antes deitadas, as serpentes ergueram o corpo e ficaram em posição de ataque; muitas delas possuíam veneno e apenas com um pedido, matariam quem fosse. Eram conectadas — sentiam suas dores, suas raivas e amores. Sabiam quem era uma ameaça, e, graças à hipnose, se permitiriam ser usadas por um bem maior. “Merlin me separou de vocês, nós podemos acabar com eles.” A voz rouca pouco condizia com quem era, mas a revolta e ambição estavam tangenciando seu ser. Porra, ela queria destruir Arthurian. Murmúrios de confirmação entre os animais vieram de bom grado. “Eu tenho veneno e tenho vocês.” A constatação do veneno chegou ali, e colocou a mão na boca para averiguar que o líquido que escorria da boca não era baba. “Vamos trazer o Castigo para Arthurian.”
A raiva acumulada quase a cegou, ao ponto de não perceber sua melhor amiga atrás de si. Estava caída no chão, debatendo-se. Graças aos sentimentos acumulados e à conexão emocional entre elas, Pandora não aguentou as sensações de poder e parecia sentir dor. O seu poder foi distribuído para a píton, que agora gemia, e foi capaz de desfazer seu transe. No canto da pele rosada do animal, jazia uma gotícula de sangue. Seu corpo estava quente e seco, em contraste com a derme gelada e escorregadia. Percebeu que estava da mesma forma, fervendo. Precisava sair dali.
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altamontpt · 2 years
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Kings Of Convenience || Coliseu dos Recreios
O primeiro de dois concertos dos Kings Of Convenience em Lisboa foi uma celebração calma e sensível daquilo que a música pode ser em dias quentes de primavera ou longas jornadas de verão.
O primeiro de dois concertos dos Kings Of Convenience em Lisboa foi uma celebração calma e sensível daquilo que a música pode ser em dias quentes de primavera ou longas jornadas de verão. Os jacarandás de Lisboa anunciam a chegada iminente do verão. A cidade está pintada de tons roxos e lilases. No jardim D.Luís, no Cais do Sodré, a relva está preenchida por amigos que se encontram para pôr a…
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blogflores0 · 10 days
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As melhores flores para oferecer no Dia da Mãe
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Uma mulher muito especial merece um presente muito especial! Embora as flores possam parecer um presente vulgar, sabemos que quase todas as mães adoram receber flores no Dia das Mães. Oferecer flores é uma demonstração de amor e gratidão. Ao escolher flores para oferecer no Dia da Mãe, poderá ter em atenção a mensagem e simbolismo associado a cada flor. Dar flores e escolhê-las pelo seu significado é uma subtileza que não passará despercebida.
Orquídeas
Na China, acredita-se que as orquídeas dão muitas crianças a uma família. Simbolizam também a elegância e a beleza feminina. Um dos grandes apreciadores desta flor foi o filósofo Confúcio que se afirmava fascinado com a sua beleza e perfume. Assim, as orquídeas são sem dúvida uma escolha a ter em conta para o Dia da Mãe.
Rosas
As rosas são flores há muito associadas à maternidade. Portanto, são uma escolha muito popular para o Dia da Mãe. As rosas eram o símbolo floral da deusa Ísis, que era o modelo da maternidade no Antigo Egipto, e também simbolizam a Virgem Maria. Cada cor tem um simbolismo distinto e podemos fazer a nossa escolha com base nas mensagens que queremos transmitir.
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Lilases
Os Lilases são uma escolha igualmente elegante. Considera-se que os lilases simbolizam o início de um novo amor. É por isso que eles são muito populares nos casamentos. Claro que também podem ser uma escolha especial para o Dia da Mãe, retratando o amor entre mãe e filho.
Cravos
Conta-se que os cravos surgiram pela primeira vez no solo regado pelas lágrimas da Virgem Maria pela morte de Cristo. Precisamente por esta razão, muitos acreditam que os cravos são o símbolo do amor eterno de uma mãe pelo seu filho.
Margaridas
Um belo vaso de margaridas é também um belo presente para o Dia da Mãe. Na linguagem das flores, as margaridas simbolizam simplicidade de espírito, bondade, pureza e amor fiel.
Lírio
Os lírios-brancos estão associados à Virgem Maria e à pureza. Geralmente considerada uma flor de Páscoa, no entanto, são frequentemente utilizadas em ramos do Dia da Mãe.
Túlipas
As túlipas estão associadas à nova vida e também à primavera. Graças à sua elegância e beleza, estas flores são tradicionalmente uma escolha especial para o Dia das Mães.
Vasos
Claro que os bouquets não são a única sugestão para oferecer flores como presente para a nossa mãe. Um vaso de plantas para o interior da casa ou para o pátio ou varanda é também adequado. Além disso, é muito mais fácil de cuidar e tem uma duração de vida mais longa.
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As cores das flores
Claro, as cores das flores também têm o seu significado. - Flores brancas: pureza, perfeição, frescura e simplicidade. - Flores de laranjeira: otimismo, prazer e vitalidade. - Flores verdes: paz, prosperidade e esperança. - Flores vermelhas: paixão, amor e romance. - Flores cor de rosa: ternura, alegria e suavidade. - Flores roxas: dignidade e fidelidade. - Flores amarelas: força, alegria, energia e calor. Independentemente da sua escolha de flores do Dia da Mãe, o mais importante é oferecê-las à mulher mais importante da sua vida com amor e gratidão. Read the full article
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itinerarium23 · 2 months
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Contradição
Cápitulo 1
Sou mil caras, mil caras habitam em mim, mil facetas iluminadas pela luz, mil facetas seduzidas pelo pus que não estancam jamais.
Hannah seguiu sua jornada, voltando para Edimburgo, olho pela janela e distraio-me olhando para a Stortoget, a grande praça de Estocolmo, solto um pequeno riso, daqueles de erguer apenas um canto da boca e esconder os dentes, um senhor está coberto e rodeado por pombos alvoroçados, penso em um "ataque de amor", ou será de fome mesmo, enfim ele os alimenta e eles retribuem com seu alvoroço.
Bate as mãos em meus bolsos, procurando meu canivete, meu suiço que tenho a muitos anos, a Stortoget começa a receber mais visitantes, nessa manhã de março, são cerca de 10 graus, uma temperatura boa para suecos, um frio que me incomoda como um brasileiro nomade pelo mundo.
Sou mil caras e nao sei como seguir nesse momento, dez anos de minha vida se foram com Hannah, Hannah e seus olhos azuis, que me atravessavam lilases as vezes solares quando estava com raiva, Hannah misteriosa de poucas palavras como uma boa sueca, Hannah de sua pele branca e seus lisos cabelos dourados.
Dez anos construido nossa vida jogados fora e eu não sei o que fazer...
Batida na porta....toc toc toc...a cafeteira apita, meu café esta pronto, gritos de crianças vindos do Stortoget, crianças felizes....
-- Sr Tomas, algumas correspondencias para o senhor -- Melker era o zelador do condominio desde quando mudei-me para Estocolmo, sempre prestativo, eficiente, frio, como um bom sueco, alto, forte e lindos cabelos loiros.
-- Obrigado sr. Melker, lindo dia não? -- Esse tipo de conversa, repleto de futilidades é e sempre foi entediante para mim, mas as vezes não há como fugir, dia de igreja hoje? -- Ele percebeu que reparei suas vestes mais formais, seu belo casado de couro sintético, o perfume, seu banho fresco. -- Sim, estou de saída sr. Tomas, a Riddarholmen está aberta fora de época para a celebração do aniversario do Rei Carlos, quer me acompanhar senhor?
Olhei surpreso para ele, ele sabia que eu não era um grande fã de visitas a igrejas muito menos históricas, enfiei as mãos nos bolsos e agradecí sr. Melker que saiu andando rápidamente.
C
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nedsecondline · 3 months
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*Lilases – O Outro Lado
Source: *Lilases – O Outro Lado Ph; Tumblr Na cadência dos teus abraços Sou uma marionete dos Desejos E me perco — mais de uma vez — em teus Labirintos! Uma peregrina em tua pele branca  A boca repete em idioma estrangeiro o quero-te… enquanto me despe. Te encaro dentro da minha conjectura — ilusão provocada pela alta temperatura que vaporiza o teu corpo quando tento tocá-lo… Mariana…
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amor-barato · 6 months
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Casa Tomada – um conto de Julio Cortázar
Gostávamos da casa porque, além de ser espaçosa e antiga (as casas antigas de hoje sucumbem às mais vantajosas liquidações dos seus materiais), guardava as lembranças de nossos bisavós, do avô paterno, de nossos pais e de toda a nossa infância.
Acostumamo-nos Irene e eu a persistir sozinhos nela, o que era uma loucura, pois nessa casa poderiam viver oito pessoas sem se estorvarem. Fazíamos a limpeza pela manhã, levantando-nos às sete horas, e, por volta das onze horas, eu deixava para Irene os últimos quartos para repassar e ia para a cozinha. O almoço era ao meio-dia, sempre pontualmente; já que nada ficava por fazer, a não ser alguns pratos sujos. Gostávamos de almoçar pensando na casa profunda e silenciosa e em como conseguíamos mantê-la limpa. Às vezes chegávamos a pensar que fora ela a que não nos deixou casar. Irene dispensou dois pretendentes sem motivos maiores, eu perdi Maria Esther pouco antes do nosso noivado. Entramos na casa dos quarenta anos com a inexpressada idéia de que o nosso simples e silencioso casamento de irmãos era uma necessária clausura da genealogia assentada por nossos bisavós na nossa casa. Ali morreríamos algum dia, preguiçosos e toscos primos ficariam com a casa e a mandariam derrubar para enriquecer com o terreno e os tijolos; ou melhor, nós mesmos a derrubaríamos com toda justiça, antes que fosse tarde demais.
Irene era uma jovem nascida para não incomodar ninguém. Fora sua atividade matinal, ela passava o resto do dia tricotando no sofá do seu quarto. Não sei por que tricotava tanto, eu penso que as mulheres tricotam quando consideram que essa tarefa é um pretexto para não fazerem nada. Irene não era assim, tricotava coisas sempre necessárias, casacos para o inverno, meias para mim, xales e coletes para ela. Às vezes tricotava um colete e depois o desfazia num instante porque alguma coisa lhe desagradava; era engraçado ver na cestinha aquele monte de lã encrespada resistindo a perder sua forma anterior. Aos sábados eu ia ao centro para comprar lã; Irene confiava no meu bom gosto, sentia prazer com as cores e jamais tive que devolver as madeixas. Eu aproveitava essas saídas para dar uma volta pelas livrarias e perguntar em vão se havia novidades de literatura francesa. Desde 1939 não chegava nada valioso na Argentina. Mas é da casa que me interessa falar, da casa e de Irene, porque eu não tenho nenhuma importância. Pergunto-me o que teria feito Irene sem o tricô. A gente pode reler um livro, mas quando um casaco está terminado não se pode repetir sem escândalo. Certo dia encontrei numa gaveta da cômoda xales brancos, verdes, lilases, cobertos de naftalina, empilhados como num armarinho; não tive coragem de lhe perguntar o que pensava fazer com eles. Não precisávamos ganhar a vida, todos os meses chegava dinheiro dos campos que ia sempre aumentando. Mas era só o tricô que distraía Irene, ela mostrava uma destreza maravilhosa e eu passava horas olhando suas mãos como puas prateadas, agulhas indo e vindo, e uma ou duas cestinhas no chão onde se agitavam constantemente os novelos. Era muito bonito.
Como não me lembrar da distribuição da casa! A sala de jantar, uma sala com gobelins, a biblioteca e três quartos grandes ficavam na parte mais afastada, a que dá para a rua Rodríguez Pena. Somente um corredor com sua maciça porta de mogno isolava essa parte da ala dianteira onde havia um banheiro, a cozinha, nossos quartos e o salão central, com o qual se comunicavam os quartos e o corredor. Entrava-se na casa por um corredor de azulejos de Maiorca, e a porta cancela ficava na entrada do salão. De forma que as pessoas entravam pelo corredor, abriam a cancela e passavam para o salão; havia aos lados as portas dos nossos quartos, e na frente o corredor que levava para a parte mais afastada; avançando pelo corredor atravessava-se a porta de mogno e um pouco mais além começava o outro lado da casa, também se podia girar à esquerda justamente antes da porta e seguir pelo corredor mais estreito que levava para a cozinha e para o banheiro. Quando a porta estava aberta, as pessoas percebiam que a casa era muito grande; porque, do contrário, dava a impressão de ser um apartamento dos que agora estão construindo, mal dá para mexer-se; Irene e eu vivíamos sempre nessa parte da casa, quase nunca chegávamos além da porta de mogno, a não ser para fazer a limpeza, pois é incrível como se junta pó nos móveis. Buenos Aires pode ser uma cidade limpa; mas isso é graças aos seus habitantes e não a outra coisa. Há poeira demais no ar, mal sopra uma brisa e já se apalpa o pó nos mármores dos consoles e entre os losangos das toalhas de macramê; dá trabalho tirá-lo bem com o espanador, ele voa e fica suspenso no ar um momento e depois se deposita novamente nos móveis e nos pianos.
Lembrarei sempre com toda a clareza porque foi muito simples e sem circunstâncias inúteis. Irene estava tricotando no seu quarto, por volta das oito da noite, e de repente tive a idéia de colocar no fogo a chaleira para o chimarrão. Andei pelo corredor até ficar de frente à porta de mogno entreaberta, e fazia a curva que levava para a cozinha quando ouvi alguma coisa na sala de jantar ou na biblioteca. O som chegava impreciso e surdo, como uma cadeira caindo no tapete ou um abafado sussurro de conversa. Também o ouvi, ao mesmo tempo ou um segundo depois, no fundo do corredor que levava daqueles quartos até a porta. Joguei-me contra a parede antes que fosse tarde demais, fechei-a de um golpe, apoiando meu corpo; felizmente a chave estava colocada do nosso lado e também passei o grande fecho para mais segurança.
Entrei na cozinha, esquentei a chaleira e, quando voltei com a bandeja do chimarrão, falei para Irene:
— Tive que fechar a porta do corredor. Tomaram a parte dos fundos.
Ela deixou cair o tricô e olhou para mim com seus graves e cansados olhos.
— Tem certeza?
Assenti.
— Então — falou pegando as agulhas — teremos que viver deste lado.
Eu preparava o chimarrão com muito cuidado, mas ela demorou um instante para retornar à sua tarefa. Lembro-me de que ela estava tricotando um colete cinza; eu gostava desse colete.
Os primeiros dias pareceram-nos penosos, porque ambos havíamos deixado na parte tomada muitas coisas de que gostávamos. Meus livros de literatura francesa, por exemplo, estavam todos na biblioteca. Irene pensou numa garrafa de Hesperidina de muitos anos. Freqüentemente (mas isso aconteceu somente nos primeiros dias) fechávamos alguma gaveta das cômodas e nos olhávamos com tristeza.
— Não está aqui.
E era mais uma coisa que tínhamos perdido do outro lado da casa.
Porém também tivemos algumas vantagens. A limpeza simplificou-se tanto que, embora levantássemos bem mais tarde, às nove e meia por exemplo, antes das onze horas já estávamos de braços cruzados. Irene foi se acostumando a ir junto comigo à cozinha para me ajudar a preparar o almoço. Depois de pensar muito, decidimos isto: enquanto eu preparava o almoço, Irene cozinharia os pratos para comermos frios à noite. Ficamos felizes, pois era sempre incômodo ter que abandonar os quartos à tardinha para cozinhar. Agora bastava pôr a mesa no quarto de Irene e as travessas de comida fria.
Irene estava contente porque sobrava mais tempo para tricotar. Eu andava um pouco perdido por causa dos livros, mas, para não afligir minha irmã, resolvi rever a coleção de selos do papai, e isso me serviu para matar o tempo. Divertia-nos muito, cada um com suas coisas, quase sempre juntos no quarto de Irene que era o mais confortável. Às vezes Irene falava:
— Olha esse ponto que acabei de inventar. Parece um desenho de um trevo?
Um instante depois era eu que colocava na frente dos seus olhos um quadradinho de papel para que olhasse o mérito de algum selo de Eupen e Malmédy. Estávamos muito bem, e pouco a pouco começamos a não pensar. Pode-se viver sem pensar.
(Quando Irene sonhava em voz alta eu perdia o sono. Nunca pude me acostumar a essa voz de estátua ou papagaio, voz que vem dos sonhos e não da garganta. Irene falava que meus sonhos consistiam em grandes sacudidas que às vezes faziam cair o cobertor ao chão. Nossos quartos tinham o salão no meio, mas à noite ouvia-se qualquer coisa na casa. Ouvíamos nossa respiração, a tosse, pressentíamos os gestos que aproximavam a mão do interruptor da lâmpada, as mútuas e frequentes insônias.
Fora isso tudo estava calado na casa. Durante o dia eram os rumores domésticos, o roçar metálico das agulhas de tricô, um rangido ao passar as folhas do álbum filatélico. A porta de mogno, creio já tê-lo dito, era maciça. Na cozinha e no banheiro, que ficavam encostados na parte tomada, falávamos em voz mais alta ou Irene cantava canções de ninar. Numa cozinha há bastante barulho da louça e vidros para que outros sons irrompam nela. Muito poucas vezes permitia-se o silêncio, mas, quando voltávamos para os quartos e para o salão, a casa ficava calada e com pouca luz, até pisávamos devagar para não incomodar-nos. Creio que era por isso que, à noite, quando Irene começava a sonhar em voz alta, eu ficava logo sem sono.)
É quase repetir a mesma coisa menos as consequências. Pela noite sinto sede, e antes de ir para a cama eu disse a Irene que ia até a cozinha pegar um copo d'água. Da porta do quarto (ela tricotava) ouvi barulho na cozinha ou talvez no banheiro, porque a curva do corredor abafava o som. Chamou a atenção de Irene minha maneira brusca de deter-me, e veio ao meu lado sem falar nada. Ficamos ouvindo os ruídos, sentindo claramente que eram deste lado da porta de mogno, na cozinha e no banheiro, ou no corredor mesmo onde começava a curva, quase ao nosso lado.
Sequer nos olhamos. Apertei o braço de Irene e a fiz correr comigo até a porta cancela, sem olhar para trás. Os ruídos se ouviam cada vez mais fortes, porém surdos, nas nossas costas. Fechei de um golpe a cancela e ficamos no corredor. Agora não se ouvia nada.
— Tomaram esta parte — falou Irene. O tricô pendia das suas mãos e os fios chegavam até a cancela e se perdiam embaixo da porta. Quando viu que os novelos tinham ficado do outro lado, soltou o tricô sem olhar para ele.
— Você teve tempo para pegar alguma coisa? — perguntei-lhe inutilmente.
— Não, nada.
Estávamos com a roupa do corpo. Lembrei-me dos quinze mil pesos no armário do quarto. Agora já era tarde.
Como ainda ficara com o relógio de pulso, vi que eram onze da noite. Enlacei com meu braço a cintura de Irene (acho que ela estava chorando) e saímos assim à rua. Antes de partir senti pena, fechei bem a porta da entrada e joguei a chave no ralo da calçada. Não fosse algum pobre-diabo ter a idéia de roubar e entrar na casa, a essa hora e com a casa tomada.
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