A Morte & o Ceifeiro
(Gomez e Morticia)
Não possuo cabelos longos e negros, minha pele não é tão alva quanto a neve do puro inverno, meus lábios não são rubros como o sangue que meu coração bombeia ao te ver, mas você é como meu fundamento, afinal, o que seria da Morte sem o Ceifeiro?
Era uma vez uma dama de preto, criada em meio ao cotidiano alheio, sua presença sombria destacava-se mesmo entre aqueles de sua família, esta preferia a noite do que o dia, inverno e outono do que á primavera e verão, amava felinos, e via na penumbra conforto e satisfação, seus gostos "exóticos" eram questionáveis, mas inteligência e elegância constatáveis.
O fundamento da vida após morte lhe intrigava, mas para aqueles ao seu arredor assustava... A dama de preto não se encaixava em lugar nenhum, as más bocas que lhe julgavam e a comparavam com a própria morte, afinal, sua presença sombria, embora não ameaçadora, parecia ir contra o que eles chamavam de boa moral, ou o que consideravam boa sorte.
Não se tratava apenas de sua sombria figura, eles sempre lhe diziam coisas duras: "Você é tão sem vida", diziam as outras meninas. "Você vai findar sozinha", diziam-lhe os rapazes.
Em contra partida havia sua irmã, cujo o Sol nascia junto de seu sorriso, cabelos loiros e trançados, com margaridas e vários laços, tal contraste reforçava-se à obscura irmã, que mesmo quando sorria, mantinha sóbria compostura, por causa de seu nome o apelido mórbido bem lhe caiu, Morte... Morticia, ela apenas aceitou e sorriu.
Tal como a morte esta sentia-se solitária, não importava de quem se aproximava, era sempre evitada... A culpa pouco á pouco a apossava, "Não sou como as outras, nem como minha irmã, queria não assusta-los pela minha natureza, do que adianta ser a número 1? Se meu cotidiano é pura tristeza?"
Enquanto o tempo passava, um jovem herdeiro excêntrico, porém agora deprimido, do mundo se afastava, ele costumava não ligar para oque fossem pensar á seu respeito, ele pouco ligava se o olhavam torto ou espalhassem falácias, sua mãe então tentou anima-lo, como? Um casamento arranjado!
Antes da reclusão o jovem nutria uma paixão, poesias obscuras e filmes de terror, vez ou outra via uma dama de preto em sua escola pelo corredor, mas ainda era jovem, como ela lhe daria bola? Apesar de audaz e habilidoso, seus colegas o consideravam meio louco, tudo em que tocava, desfazia-se ou quebrava, flores com vida não duravam com sua vinda, se havia sol, na presença dele, sumia!
Seu apelido foi dado, Ceifador, embora não lhe incomodasse com o passar do tempo o rapaz se isolou, não pelas fofocas, mas a falta que sentia conforme a maturidade batia-lhe a porta.
A mãe do jovem então se prontificou, nem o filho ela avisou: "Esta é Ophelia, sua noiva" disse ela ao receber a visita da mãe das... Duas meninas!
Sim, Ophelia era aquela que carregava o Sol em seu sorriso, margaridas e laços na cabeça e vestido, com seus cabelos dourados trançados, otimismo até exacerbado! O rapaz deprimido á fitou, franzindo as sobrancelhas cansado suspirou, logo atrás vinha Morticia, calada porém educada, o jovem cumprimentou.
Não tardou, os olhos do tal Ceifador brilharam, como se encontrasse o fim de sua misteriosa dor, após tocar a mão daquela que costumava olhar pelos corredores de sua escola, sua depressão logo o deixou.
Reciprocidade á parte, ambos nunca mais foram os mesmos.
A Morte encontra seu doce leito nos braços do Ceifador, e nela ele não tem o que ceifar, ele lhe ensina que ser ela mesma é uma dádiva mesmo após vida, ele sabe que com ela pode ser ele mesmo, afinal, o que seria do Ceifador sem a Morte? É óbvio que isso o anularia, mas não é apenas um vestido preto e lábios rubros, é um ciclo infinito de amor bruto. Ele não precisa mais ficar exausto em busca do que lhe é pleno, ela não precisa mais esconder o que há dentro, ele descansa nela e ela se aceita nele.
Gomez e Morticia.
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