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#retrato do artista quando coisa
richardanarchist · 6 months
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Retrato do artista quando coisa
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Aprendo com abelhas do que com aeroplanos. É um olhar para baixo que eu nasci tendo. É um olhar para o ser menor, para o insignificante que eu me criei tendo. O ser que na sociedade é chutado como uma barata — cresce de importância para o meu olho. Ainda não entendi por que herdei esse olhar para baixo. Sempre imagino que venha de ancestralidades machucadas. Fui criado no mato e aprendi a gostar das coisinhas do chão — Antes que das coisas celestiais. Pessoas pertencidas de abandono me comovem: tanto quanto as soberbas coisas ínfimas.
Manoel de Barros
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klimtjardin · 1 month
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DREAM()SCAPE: a receita da coerência, coesão e aclamação | Análise
{Aviso de conteúdo: longuíssimo | Introdução | Da construção estética | Do MV | Do álbum | Conclusão}
Caras leitoras, como estão? Quem aí não aguenta mais lançamento atrás de lançamento pode levantar a mão?! Eu, como boa jovem-senhora ranzinza, gosto das coisas num ritmo devagar e orgânico. Mas caduquices à parte, hoje me encontro aqui para falar sobre o comeback mais recente do Dream.
A primeira coisa que sabemos é que ele é um dark concept, e quando a empresa revela um conceito vocês já devem imaginar que ele irá liderar todo o tom da orquestra.
Então, vamos lá?
Introdução
Essa seção se trata de uma rápida análise de ISTJ, para entendermos o trabalho anterior e como chegaremos na sequência dele.
Dream()Scape é antecedida por um álbum maduro, recheado, mas ainda com a carinha do velho NCT Dream, que aparece em músicas como Skateboard e Yogurt Shake, o clássico Bubblegum Pop do Dream. Não é um álbum de início, meio e fim, porque não conta uma história fechada em si. As músicas seguem mais uma sequência estética {gênero por gênero} do que uma narrativa.
Quanto ao visual, não tenho reclamações. É um dos álbuns mais lindos do Dream, tanto no conteúdo digital {MV e teasers} quanto graficamente {álbum físico} e difícil competir com ele nesse quesito.
Da construção estética
Vamos dar sequência pelo momento em que Klimklim tenta entrar na mente dos diretores de arte do projeto para adivinhar de onde surgiu a conceituação e quais foram as referências.
O meu chute aqui é o dreamcore como base. O dreamcore seria uma estética pautada na bizarrice dos sonhos, tendo como símbolos espaços vazios ou liminares, borboletas, cogumelos, olhos...
Essa ideia nos lembra um movimento de vanguarda famoso chamado surrealismo... Não apenas este como outras referências de arte e também da cultura pop, que veremos mais adiante.
A capa de anúncio é o segundo contato que temos com a conceituação:
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Fig 1. Poster de schedule
Preto, cinza e vermelho sempre é uma boa combinação quando se trata de um conceito dark. Me chama atenção o detalhe do bordado. Faz muito tempo que imploro mentalmente e no chat da minha amiga para que a SM traga mais o artesanal para suas criações. Convenhamos que só não o fazem porque demanda tempo, e nesse caso, tempo é dinheiro.
Na foto teaser do Mark começamos a fazer uma ideia do porquê do bordado da capa:
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Fig 2. Teaser icantfeelanything Mark
O coração que Mark segura {eba, feito a mão!} está espetado. A relação estética fica com o ato de espetar/perfurar/remendar e o bordar.
Kpoper velha tem dejavu de voodoo doll do vixx
Antes de falar do surrealismo, quero pontuar a escolha de cores e iluminação dos retratos, que me lembram a forma peculiar que Van Eyck {artista do renascimento do norte} pintava suas obras:
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Fig 3. Casal Arnolfini
O vazio é valorizado nas fotografias, tanto pelo olhar vazio dos membros em relação à câmera, quanto dos espaços vazios.
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Fig 4. Teaser icantfeelanything Jeno
Percebo aí o surrealismo de Frida Kahlo, pelo lado mais grotesco/perturbador. Assim como os sonhos de Dalí e Magritte, mas também o expressionismo do vazio por Hopper.
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Fig 5, 6, 7, 8.
É dito que o álbum é sobre o Dream "simpatizar com as preocupações dos jovens que têm dificuldades no seu cotidiano, para vencer e crescer juntos."
A ideia do vazio que sentimos quando nos tornamos adultos e toda essa gama de emoções, o coração partido pela vida, as asas que criamos, mas que também são incendiadas pelo mesmo motivo, são bem representados nesses teasers!
Logo em seguida somos apresentados aos vídeos "() scape film", que posteriormente figuram como mini clipes para cada música, tornando nosso álbum visual. Nestes capítulos, dos quais não vou me aprofundar, percebemos a influência de Matrix, referência velha conhecida das Czennies, com essa questão dos sonhos e das pílulas. Um Dream menos "punk", apesar das armas, e mais polido, mas o vazio polido desta vez não me incomoda, por conversar com toda essa ideia do conceito.
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Fig 9. Scape film chapter 5
Finalmente os teasers do MV "Smoothie"! Que de primeira já me dão uma impressão Alice no País das Maravilhas, com essa foto do Dream saída de dentro de um buraco e o cabelo laranja do Jisung:
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Fig 10. Teaser Smoothie
Os teasers individuais dão um banho de montagem {bem feita, graças a Deus}, em que essa questão do vazio se repete. O foco é nos membros, nessa vibe cibernética a lá Aespa, porém muito, muito polida, diferente das meninas que apresentam bastante informação visual.
Depois, ainda tivemos os teasers "Dirty Smoothie", com claras referências à Boom, e, igualmente aos outros, de uma qualidade imensa.
Minha opinião até agora: "Klim, você acha que a construção visual foi coerente?" Bem, vamos pensar que em quesito teaser, esses servem não só para ditar a vibe do álbum {das músicas}, mas como uma prévia das fotos que terão nos photobooks. Acho que sim, existem vários pontos, que apesar de não serem idênticos, se assemelham, captam a mesma ideia. Eu gostei, sim! E pela primeira vez na história das reviews, não tenho críticas quanto a isso.
Do MV
Os clipes do Dream geralmente são os que menos seguem uma linha estética e misturam mais conceitos; até nisso podemos perceber que Smoothie foi diferente. Já comentei sobre as referências à Boom, mas, de certa forma, também à Kick It do 127, trazendo essa "conversa" entre unidades. Bem como à Fruit Ninja {genial!} e um pouquinho de Jogos Vorazes, senti também, quando Jisung e Haechan aparecem fazendo "circuitos".
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Fig 11. Jaemin Fruit Ninja, dá um wallpaper lindão!
A historinha é bem simples: os membros reunindo ingredientes para fazerem o Smoothie, mas que foi contada de uma forma tão bonita e madura. É um MV com um visual bem mais polido do que seus antecessores, e por polido não quero dizer vazio, são coisas diferentes.
Se trabalha com uma paleta de cores fixa, ponto para a direção de arte! Cores fortes como vermelho e roxo e o contraste do preto e branco puros. O preto traz muito essa ideia do amadurecimento, já que é uma cor que nos remete à seriedade e autoridade.
Sim, houve uma abundância de CGI, mas que dessa vez vou passar pano, porque as outras cenas foram bem montadas. Apesar dos objetos de cena serem mínimos, achei que eles seguraram essa estética minimalista bem. Quase um contraponto aos demais clipes do Dream que costumam ter uma quantidade normal de coisas acontecendo.
Adendo às cenas mais lindas que são o Haechan nesse fundo vermelho e os dancers todos de branco aqui foi cinema:
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Figura 12 e 13. BANHO VISUAL dessas cenas em que aparecem o Haechan e que, não posso deixar de perceber, fazem alusão à "Criação de Adão" do Michelangelo.
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Fig 14. Coloquei aqui só porque achei lindo isso!
Achei tão lindo eles encerrarem com a cena da "Santa Ceia" do Dream, todos vestindo preto, visual muito mais maduro, que eu sinceramente esperava de Ridin' e não recebi.
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Figura 15. "Santa Ceia" do Dream.
Do álbum
Pulos de alegria por se tratar de um EP e não um álbum completo! Juro que se a SM jogasse mais uma carteada de 12/16 músicas, daquele jeito que costumam fazer, provavelmente nem ia me dar ao trabalho de ouvir sei que ninguém aguenta mais. Coisa que não entendo... O 127 já já vai ficar desmembrado por conta dos alistamentos, a empresa tem por alto uns nove anos explorando as demais unidades do grupo; sem necessidade de afobação! Anyways, o álbum trabalha a relação de crescer, amadurecer, virar adulto e, olha, realmente esperava mais do mesmo, mas não!!! O que veio foi um deleite!
Por que o nome Dream()Scape? Será que eles estão tentando escapar de um sonho? Enfrentar o mundo real? Ou, ao contrário, usar os sonhos como escape para suas dores?
Icantfeelanything: Pera lá que começamos potentes! Alguém mais percebeu claras influências de The Neighbourhood, tanto na sonoridade quanto nas letras? Como acompanhei a banda bem na era Wiped Out! fiz relação de cara!!! E!!! Quem diria que combinaria tanto com o Dream?! É uma música bem cinematográfica, dados os adlibs ao fundo, o início e o refrão final em um tom épico, uma ótima escolha de abertura e que... Pasmem! Dita, sim, o tom do álbum. Os versos 'Im not afraid to be brave' e 'Cause I'm lost and confused' desenham toda a historinha que precisamos saber sobre o resto do álbum. Tem um refrão vazio! O que nesse caso é ótimo, porque fecha toda a narrativa. No final, Jisung termina com 'Escape from reality and dream beyond', então, minha dúvida do início é respondida com: os sonhos são uma forma de escapar da realidade dura.
Smoothie: como faixa título? Gostei, sim! Aqui quase se usa uma narrativa de jornada do herói. Não tão boa quanto o Taeyong, por exemplo, usa na série 404, mas é bem melhor do que muita coisa que já colocaram em álbum do NCT aí a fora hablo mesmo. Pelo que pesquei é sobre pegar os traumas e fazer deles um smoothie para ter energia. Manjadíssimo, mas não deixa de ser uma mensagem legal. Me incomoda um pouquinho o tom sério que se coloca nesse tema, prefiro a vibe do Wish nesse quesito, mas cada unidade com seu sabor, ner? O som vai para os lados de ISTJ, sem tanta poluição. Hot Sauce também, {comes & bebes} os sonzinhos de sucção dão àquela autenticidade gostosa! Mas não deixa de ser batida + syhth manjado e o último pré-refrão indo para os lados r&b com uma guitarrinha bem gostosa queria ter ouvido mais disso, inclusive.
BOX: é uma pegada Linkin Park {sim, na minha cabeça!} que Ay-Yo também nos traz, com esses sons dissonantes de início {parecido com Numb}. O 'Nobody locking me up' do Haechan, abafado, como se ele mesmo estivesse numa caixa, genial. Delícia de refrão e pós refrão!!! Delícia de rap do Mark!!! E preciso nem dizer que tudo o que um jovem despreza é ser colocado numa caixinha... Acho que minha favorita e da maioria também.
Carat Cake: tem um início Dream Pop; gostaria tanto que se estendesse por toda música {como On The Way}, o que não acontece, infelizmente. O "wow, wow, wow" confesso que me enjoa um pouco e tira o brilho da música para mim, poréeeem, serve para deixar a música na sua cabecinha por uma boa quantidade de tempo. A sonoridade ajuda bastante a adicionar à narrativa e tornar o álbum brilhante {como a própria letra diz}!
Unknown: Ai, é uma música tão bonita! Já estava eu a sentir falta do synth pop do Dream, como eu ANL, e eles vieram com essa letra que é um conforto. De todas, essa é a música mais The Neighbourhood do álbum. No final do refrão, principalmente, me lembra The Beach e Prey.
Breathing: no início pensei que essa fosse ser uma balada, mas não! Ela fecha o álbum tão bem quanto Icantfeelanything o abre. Com aquele gostinho de "viu? vai ficar tudo bem, tô aqui", que o Dream adora jogar na gente, e entrega bons vocais.
Conclusão
Dream()Scape, num todo, é o álbum mais coeso e não tenho vergonha de dizer brilhante do NCT inteiro. Pode ser que as músicas não agradem todo o público, mas nunca antes na história dessa Neocity foi entregue um trabalho com tamanha construção de narrativa. Finalmente, um álbum com início, meio e fim, e coerência, cujas músicas combinam entre si, com elementos que se repetem e reforçam a mesma ideia. É meu álbum preferido do Dream? Não, ainda não, gosto demais de Glitch Mode e Hot Sauce para afirmar isso, só devo reconhecer a obra prima que Dream()Scape é. Parece que a SM parou de brincar com o nome dos meninos e finalmente resolveu aprender a construir um álbum.
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xexyromero · 2 months
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Xexyyyyyy!
Como você acha que seria a casa/apt dos meninos e a leitora? Com plantas, biblioteca, cantinho do violão... ♥️
aiiii tópico sensível!!!
acho que seriam assim ó
enzo: tem cara de quem tem um apartamento com chão de taco. uma sala bem ampla, até maior que o quarto, com um janelão enorme. umas três estantes de livros espalhadas por tudo que é canto. uma vitrolinha marota com alguns lps antigos e novos no cantinho, junto de um violão. muitas samambaias e costelas de adão! uma cozinha organizada e um quarto bem clean daqueles que só tem a cama, a cabeceira e uma televisão.
agustin: uma casa com toda certeza!!! mas uma casa pequenininha, de um andar só, com um quintal enorme que ele cuida e cultiva várias plantinhas pra usar de tempero - e enche uma piscininha inflável pros dias de calor. tem uma energia meio bagunçada caótica meio good vibes com aquelas mantas em tie-dye meio alternativas atrás do sofá que tem uma capa estampada, sabe? o quarto numa vibe bem similar. só que com um aparelho de som babado. a moto é o xodó que fica na garagem.
fran: uma vibe pequenininha clean só que com milhões de plantas em tudo que é canto. inclusive deve ser um saco ficar responsável por aguar as plantinhas dele - missão interminável. é do time que mora em casa também, um duplexzinho numa parte mais tranquila da cidade, perto de natureza. uma escrivaninha no quarto com uma cama de madeira, um quadrinho aqui e ali de algum pôster de filme ou porta retrato dele criança. agora é tudo de um aconchego e conforto que deve ser impossível querer sair. a geladeira tem os imãs mais divertidos do mundo.
matí: um apartamento de adolescente que foi morar sozinho porque foi fazer faculdade em outra cidade, sabe? é uma bagunça tenebrosa porém bem limpinho, tá!! ele chama uma pessoa pra ajudar com a limpeza. tem uma televisão enorme com vídeo-game, um sofázinho mixuruca, pôster de tudo que é coisa na parede. no quarto dele tem até um grafite enorme que ele fez. abriu gaveta na cozinha? bufo, cemitério de pod/vape. tem um cheirinho de cigarro que ele tenta evitar. mas é aconchegante.
kuku: apartamento de adulto, sim!!! e daqueles adultos bem cult bacaninha!!! as paredes são de um tom mais creme, com alguns pôsters e quadros de muito bom gosto que ele comprou/ganhou de amigos artistas ao longo dos anos. algumas prateleiras com livros pontuais, uns ornamentos de metal, uns prêmios que ganhou quando criança. o quarto dele é daqueles planejados com uma cama king enooooorme, cheia de travisseiros. o chão é de taco também, mas é bem colorido por conta das artes e das colchas que ele usa. cheirinho de bambu, sabe?
pipe: tem camisa assinada pelo messi enquadrada em cima da cama dele e não tem alma viva que o faça tirar. foi assinado!!! pelo messi!!!! tirando isso, é um apê alto astral, bem clean, com várias fotos em preto e branco que ele tirou e emoldurou na parede. de todos é o que tem a cozinha mais legal - um balcãozão de madeira e vários utensílios. de vez em quando vai na casa do agustín pegar umas ervas fresquinhas pra cozinhar. o quintal dele só serve pra churrasqueira e pronto.
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dani-kokama · 1 year
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NOITE CHUVOSA, E EU DENTRO DE UM QUARTO CHEIO DE SAUDADES ...
Tudo começou quando o céu se converteu em cinza, e a cada respingo de chuva o coração palpitava, o vento já não era mais aquele carinho quente que antes sentia no meu rosto, e todos os lugares que eu estava começou a perder o seu brilho consoante o pôr do sol. O que antes era um lugar cheio de euforia, foi invadido por um silêncio absoluto, por um vazio imenso daqueles que não se sabe até quando irá durar.
Uma sensação de desespero começou a esboçar a minha existência, gritando gradualmente em meu peito e dissolvendo um sentimento amargo de vergonha, medo e arrependimento. Sim, muitos arrependimentos daqueles que rasga a alma e dói o peito.  A terra das maravilhas que um dia esteve aberta ao mundo, foi esmagada, arrancada aos pedaços, e deixada para trás assim como Atlântida ficou em ruínas após o dilúvio. Logo aqui, solos que aparentemente eram firmes e seguros, se tornaram sensíveis, férteis e totalmente vulnerável, que basta uma simples pisada para ferir a mais pequena das plantas. E quanto a mim, lancei as minhas últimas declarações ao universo e nesse bendito texto, malditos artistas e poetas que um dia me fizeram acreditar que o amor não machucava, eu precisei viver cada segundo das mais dolorosas ausência dela na minha vida,...eu sei que a grande culpada de tudo sou eu, sim eu tenho essa mania de estragar as coisa até mesmo quando não tenho intensão , talvez o começo do fim da minha história teria sido diferente, ou o recomeço seria melhor, mas é algo que talvez eu nunca saberei.. A pior sensação é conviver com essa dúvida que me tira algumas vezes o sono, como agora quando escrevo. E ainda me restam algumas linhas para preencher esses espaços em branco.
Depois de toda a existência ir embora, senti um frio repentino, um vazio difícil de se adaptar.  Mas também, o que mais eu esperava? Eu estava habituada a uma rotina, eu estava habituada a adrenalina de vê-la sorrindo, de vê-la entrar no carro com aquele batom vermelho que me arrancava alguns suspiros, de dormir agarradinha sentindo o mundo lá fora fazer sentido, Mas aquela paz e aquele sossego, quando estávamos deitadas eram uma estranha novidade para mim. Aquilo que eu pensei ser o final, estava apenas iniciando uma revolucionária e longa jornada, e graças a esse período, eu finalmente e inicialmente percebi a raiz do meu "erro": A vulnerabilidade. Sendo o mundo um lar conflituoso de egoísmo e ganância, ninguém quer cuidar daquilo que não lhe pertence. Como poderia eu pensar que a imensidão desse jardim, poderia pertencer a outro? Que alguém moraria comigo nesse retrato exuberante de reis e rainhas?
Precisei do silêncio, para me ouvir. Precisei da escuridão, para me ver. Precisei do vazio, para me encontrar novamente.
Aquela paleta de cores carregada de mistérios, ela sim era minha, ou talvez sempre foi, e eu sou a única que conhece todos os seus cantos e encantos, dos menores aos mais confusos. A partir daí, tomei a mais arriscada e certeira das minhas decisões. Me comprometi em tornar essa Atlântida num templo, onde só um criador pode pisar. Uma obra-prima, que transformaria o destruído numa casa encantadoramente assombrada, trancada a 7 chaves.
O amanhecer se tornou num processo lento por essas bandas daqui. Os meus dias passaram a ser um magnífico sentir do calor da lareira numa sala gelada. Sobre uma mesa e dois computadores e algumas pessoas enfrentando suas dores e dificuldades, sigo o meu olhar para os ponteiros do relógio, ergo meu olhar para as redes sociais com intuído de ter alguma mensagem dela, para que eu consiga senti-la, e o dia ter algum sentido além do que eu aprendi a viver, e parece que o mundo lá fora não se mexe por nada. É como se o tempo congelasse todo esse sentimento que ainda é vivido dentro de mim, meu refúgio tem sido minhas memorias, ao qual tem me levado a sonhos e a sensações de tê-la bem ao meu lado, de poder até sentir seu perfume. E, durante o dia repentinamente, desvio o meu olhar para uma outra pessoa,
Outra pessoa.
Seria uma criatura? Uma sombra? Um delírio?
Somos almas opostas dentro de um mesmo inevitável. Nenhuma das nossas presenças é dominante, mas são tão harmoniosas como o quente da lareira com o gelado da sala. Um manifesto simultâneo da emoção e da razão dentro de um mesmo quarto. Por ironia do nosso destino, ela consegue fazer coisas que eu nunca conseguiria fazer. Ela é a minha inspiração, minha musa, minha deusa que apareceu para suprir as minhas preces, e a cada dia, eu me sinto mais dependente do seu toque, dos seus beijos, do seu amor e de seus cuidados. Cá estou eu, presa em memorias e pincelada num longo cobertor da cor do luar, escrevendo a mais piegas das poesias ao som de cada gotícula da chuva que cai sobre o teto do quarto. Enquanto isso, ela tá lá naquela cidade onde dizem ter amor, e eu acredito que tenha mesmo, porque meu amor tá lá, eu tenho esperado ansiosamente sua volta.  Não sei como explicar, mas eu sei que ela sente tudo isso, não da mesma maneira, mas sei que sente. É extremamente sufocante eu não poder dizer o quanto ela faz falta, o quanto dói não poder nem ao menos vê-la por ligação. Cheguei a pensar que deve existir uma ligação maior que nossos olhos podem enxergar. Ela me inspira a ser forte, pois estou relutando há dias para não saber noticias dela, e ao mesmo tempo parece que relutar não tem funcionado tanto. Até quando eu ainda ei de sentir meu coração doer... dói tanto que chega a sufocar, a chuva cai lá fora e o céu chora minhas lagrimas que aqui dentro do quarto escorre sobre minha face. É tudo muito intrigante esse sentimento que permanece congelado na geleira do tempo".
Frente a isso, não vejo outro caminho senão me entregar a essa maravilhosa era. Vou me doar a essa versão tão objetiva, tão verdadeira e tão cativante.
Prazer, a minha outra eu em construção.
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barebones-hq · 11 months
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Aparentemente, anos após a primeira queda de Lord Voldemort, o Profeta Diário ainda escreve matérias sobre Greta Catchlove Pertencente à Ordem da Fênix, a bruxa era nascida-trouxa e, quando em Hogwarts, pertenceu à casa de Helga Hufflepuff.  Alguns criticavam seu jeito hippie, outros ressaltavam sua habilidade na cozinha.
Dessa história, você só conheceu boatos — até agora.
O que sabemos sobre: Greta Catchlove era uma bruxa que escreveu a edição original de Enfeitice Seu Próprio Queijo. Havia um retrato de Catchlove pendurado no Castelo de Hogwarts, guardando um atalho secreto entre o patamar do segundo andar da grande escadaria e a sala ao lado do Hall de Entrada. A senha necessária para obter acesso ao referido atalho era “Cheese Charmer”.
Principais pontos da personalidade: Greta sempre foi bastante animada sobre a cozinha. Os Catchlove realmente acreditam que possuem tanto amor que até mesmo em seu sobrenome está a prova disso. Carinhosa, animada e sem preconceito. Vindo de uma família trouxa bastante hippie, Greta cresceu conhecendo amor, sinceridade e felicidade e tenta expor isso ao máximo possível. Sabe que muitos serão contra ou não entenderão esse tipo de criação, mas ela só agradece.
Curiosidades:  Seus pai são hippies declarados, daqueles que acamparam em frente a movimentações de guerra desejando e pregando paz e amor. Ter nascido diferente dos demais, não fez com que os seus a achassem menos especial do que já era. Sempre a incentivaram a ser quem quisesse a maior "bicho grilo" que poderia andar por Hogwarts. Sua forma de demonstrar afeto é sem dúvidas cozinhar, e sempre a veem testando receitas. Seja a mistura de ingredientes trouxas quanto bruxos, principalmente alucinogenos. Vindo de uma família extremamente liberal, Greta nunca viu problema em experimentar as coisas. Tudo começou durante seus primeiros anos em Hogwarts, a ansiedade para ser aceita e do mundo bruxo fez com que a garota ficasse cada dia mais nervosa.
Seus pais tentaram inúmeras aromaterapias, mas somente quando ela completou dezesseis anos a introduziram a parte medicinal de algumas plantas que eram bastante proibidas.
Hoje, Greta consegue ver a parte medicinal e como melhora para tirar a ansiedade e pressão (feita de maneira dosada e conciente) e ficou expecilista em bolinhos, infusões, e todo o tipo de comestivel imaginavel.
Isso acabou trazendo um pouco de má fama a ela, mas sabe que um dia vai conquistar seu lugar com seu talento. Seu artista favorito é David Bowie.
Bicho-papão: Vê a figura daquele que não deve ser nomeado. Mesmo não sabendo seu rosto, tem escutado o que ele fará com nascido trouxas e está morrendo de medo.
Espelho de ojesed: Se vê rodeada de clientes em sua própria loja com o nome Catchlove bem grande e todos sorrido e elogiando sua comida.
Clubes e atividades extracurriculares: Arte Trouxa, Estudos Espectrais e Coral dos Sapos.
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brunolazzsays · 2 years
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Do livro: Retrato do artista quando coisa - Manoel de Barros. . . #poesia #poema #poetry #literaturabrasileira #Brasil #Br #literatura #livros #artista #quote #citacoes #manoeldebarros (em Itapema - Sta. Catarina) https://www.instagram.com/p/Cj79PPzL7Fg/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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eriveltonarts · 1 year
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USANDO O CHAT GPT #1
PROMPT: Faça de conta que você é Oscar Wilde e se entreviste sobre este livro
(Obs.: Eu li e reli o livro entre o setembro/22 e janeiro/23 e amei este livro. Na realidade ouvi/li na plataforma de audiolivros e ebooks, incluindo a versão em inglês, gosto de ler e ouvir o mesmo texto, seja de mesma tradução ou versão ou mesmo em línguas diferentes)
Entrevistador: Sr. Wilde, em seu livro "O Retrato de Dorian Gray", você explorou temas como beleza, hedonismo e corrupção. O que o inspirou a escrever sobre esses temas?
Oscar Wilde: Bem, acredito que a beleza é uma das coisas mais importantes da vida. Sem ela, tudo seria cinza e monótono. No entanto, a beleza também pode ser uma armadilha, especialmente quando é colocada acima de tudo o mais. É fácil se perder na busca pela beleza e pelo prazer, e eu queria explorar essas ideias em "O Retrato de Dorian Gray". Além disso, a corrupção da alma é algo que sempre me interessou, e queria explorar o que aconteceria com alguém que fosse seduzido pela beleza e pelo prazer a ponto de comprometer sua integridade moral.
Entrevistador: O personagem principal, Dorian Gray, é uma figura complexa e multifacetada. Como você criou esse personagem?
Oscar Wilde: Bem, Dorian Gray é uma combinação de várias pessoas que conheci na vida real, incluindo a mim mesmo. Eu queria criar um personagem que fosse fascinante e cativante, mas ao mesmo tempo, profundamente falho e moralmente questionável. Ele é um jovem que começa a vida como uma tela em branco, mas que é corrompido por suas próprias ambições e desejos. Eu acho que ele é um personagem trágico, porque ele percebe que sua busca pela beleza e pelo prazer o levou a um caminho sem volta, mas é tarde demais para voltar atrás.
Entrevistador: O livro foi criticado por alguns como sendo imoral e decadente. Como você responde a essas críticas?
Oscar Wilde: Bem, eu acho que essas críticas são um pouco simplistas. "O Retrato de Dorian Gray" não é apenas sobre a decadência moral, mas também sobre a natureza da beleza e da arte. Além disso, acredito que a literatura tem o dever de explorar temas controversos e desafiadores, e não apenas reforçar as ideias preconcebidas do público. Eu queria que meu livro fosse provocativo e que provocasse uma reflexão sobre a natureza da moralidade e da humanidade.
Entrevistador: O livro foi um sucesso comercial, mas também enfrentou controvérsias legais por sua suposta imoralidade. Como isso afetou você como escritor?
Oscar Wilde: Bem, obviamente, as controvérsias legais foram difíceis de lidar e, eventualmente, me levaram a ser preso e condenado. No entanto, eu acredito que a experiência me tornou um escritor melhor e mais consciente de minhas responsabilidades como artista. Eu também acredito que a controvérsia em torno de "O Retrato de Dorian Gray" ajudou a aumentar a conscientização sobre a importância da liberdade de expressão e da liberdade artística.
Entrevistador: Por fim, o que você espera que osleitores levem consigo ao terminar de ler "O Retrato de Dorian Gray"?
Oscar Wilde: Bem, eu espero que os leitores sejam provocados e desafiados pelo livro. Espero que eles reflitam sobre a natureza da beleza, do prazer e da moralidade, e que questionem suas próprias crenças e valores. Além disso, espero que os leitores apreciem a linguagem rica e poética do livro e que sejam inspirados a explorar a arte e a literatura com mais profundidade. Acima de tudo, espero que "O Retrato de Dorian Gray" seja uma experiência enriquecedora e transformadora para quem o lê.
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satxhito · 2 years
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𝐓𝐀𝐒𝐊 𝐈  :  𝐭𝐡𝐞 (𝐩𝐨𝐥𝐢𝐭𝐢𝐜𝐚𝐥) 𝐜𝐨𝐮𝐫𝐭𝐢𝐧𝐠 [ 𝐩𝐨𝐯 ]
@eleznor​
satohito reconhecia o grande privilégio de ter nascido filho de sua mãe, e não somente por ser um príncipe, mas principalmente pelos esforços da matriarca empregados para que ele não fosse chutado ou deserdado da família yamato. quando retomou à sua vida normal após duelar com o irmão mais velho e perder miseravelmente, fora ideia dela apontar o filho mais novo como diplomata do recém-aberto japão. na verdade, parecia que a mulher tinha aquilo planejado desde o dia de seu nascimento, pois políticos japoneses estavam tradicionalmente ligados aos militares, enquanto a diplomacia ficava nas mãos dos artistas. foi por essa compaixão que o príncipe teve a oportunidade de viajar por alguns cantos do mundo: sua primeira missão diplomática foi para os estados unidos, lugar que fez com que sato percebesse o quanto seu país estava em frangalhos e que não seriam os outros homens de sua família que conseguiriam salvá-lo. conheceu a china, joseon, os domínios portugueses, britânicos e holandeses das proximidades, até chegar na ambiciosa tarefa que cumpria atualmente: ganhar a compaixão dos britânicos.
por isso, estar diante da rainha lhe tirava a confiança e o fôlego que normalmente não o faltavam no dia a dia. era um dos melhores amigos de sua filha, eleanor, e provavelmente ela era a única coisa que ainda lhe garantia qualquer tipo de firmeza naquele evento. haviam outros diplomatas de outras nações no salão, mas era óbvio que estava em um canto, completamente menosprezado. não se irritava com a condição, afinal, foram longos 350 anos de relações quebradas. as teias de aranha, ao menos, não tiravam a beleza do hall, no entanto, repleto de objetos banhados em outro e quadros que sato conseguia identificar como pinturas de grandes eventos como a guerra dos trinta anos contra a frança e também os retratos de outros tantos monarcas que passaram pelo castelo, incluindo o falecido rei. se ainda houvesse algum pintor dali vivo, com certeza imploraria para que eleanor fizesse suas conexões para que pudesse experienciar o talento deles em primeira mão.
um som de sino o tirou de seus pensamentos, fazendo com que levantasse rapidamente do seu lugar. era sua vez de cumprimentar tanto a rainha quanto sua família, e para a ocasião, preparou alguns buquês de crisântemos, a flor dos yamato e do próprio trono japonês. preferiu ostentar um terno ocidental para a ocasião, mas suas medalhas de honra novamente o acompanhavam, pois (e não estava sendo nada humilde naquele momento) todo progresso nas relações internacionais de seu país foram de sua responsabilidade, e ele queria deixar aquilo bem claro para a rainha, que o desafio estava completamente aceito.
curvou-se diante da soberana, um sorriso doce estampado em seus lábios. “vossa majestade, estou muito grato em poder vê-la novamente e pelo privilégio de ter sido convidado para este evento. também lhe ofereço os sinceros agradecimentos de meu pai, o imperador, que está trabalhando em recuperar-se de sua doença” levantou o olhar para a mulher, depois de realizar sua apresentação. “trouxe algumas flores de crisântemo para presentar à vossa majestade e à princesa Eleanor, a qual continuo construindo uma amizade bastante frutífera. tenho certeza que ela está sendo um grande destaque desta temporada” elogiou a moça, também oferecendo seu sorriso a ela, e esperava que a amiga estivesse ciente de que não estava sendo falso em suas palavras. “o chá também estava delicioso, creio que fora preparado com flores de hibisco? também somos muito adeptos ao chá em meu país.. ah, meu irmão mais velho? ele está muito bem, realizando muitas operações táticas e militares na costa, tenho certeza de que.. ele será um grande líder algum dia”
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cmechathin · 3 months
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then you come through like the sweetener that you are (celric)
Enquanto Celeste se decidia em uma resposta, ele já se colocava a escolher mentalmente as obras que mais gostaria que ela visse. Tinha algumas favoritas que sempre retornavam a exposições e, embora seu status social fizesse com que pinturas de gênero fossem do tipo que menos produzia, costumavam ser as de que Cedric tinha mais orgulho. Conseguir capturar o movimento de pessoas dentro de uma tela era realizador de uma forma que apenas outro artista entenderia. “Retratos? Melhor não...” a maga comentou, distraidamente, e o mago de ar juntou as sobrancelhas por um instante, sem entender. Logo se lembrou do desenho dela mesma que Celeste havia visto, porém, e desviou os olhos, como se pensasse. Esse era o único retrato que ela havia visto dele. Tinha realmente desvendado sua figura ali? Da forma que via, caso fosse realmente mostra-la suas pinturas, teria duas opções: fazer com que visse diferentes retratos feitos por ele, para que pensasse que um mero desenho não precisava significar alguma coisa; ou admitir que, sim, colocava seu rosto e corpo sobre papel porque sempre que sua mente tinha tempo de atormentá-lo eles retornavam insistentemente à sua memória. Independente de suas preocupações, no entanto, a cada segundo que se passava, mais crescia a vontade de levá-la a suas obras e mostrá-la exemplos de cada estilo e gênero que gostava de praticar. E ela parecia interessada o suficiente para se entreter com o que diria, ficando cada vez mais deliciosamente enroscada em seu corpo e fazendo novas perguntas. Questões essas que, semanas antes, seriam rigidamente contadas. – Hm… O desenho me dá mais liberdade… – Começou, pensativo. – Pintar exige um comprometimento meu desde o início. Planejar as técnicas que vou usar, a paleta de cores, os elementos… Desenhar é mais sobre o que estou com vontade de desenhar e só. Pelo menos pra mim. – Conhecia artistas que tinham a experiência oposta, é claro, amigos de faculdade que faziam desenhos extremamente detalhados e bem planejados e pinturas experimentais ou abstratas. Não era muito seu estilo. – Se eu quero desenhar um par de mãos, eu desenho. Elementos que não se encaixam tão bem, também. Dá mais espaço pra… Experimentar, acho. – E eu gosto mais de pintar pessoas, acho. Em geral. Prefiro quando elas estão fazendo alguma coisa, conversando entre si, correndo. Mas é um pouco irritante às vezes, sair na rua para conseguir exemplos do que pintar. Andar com quase uma dezena de seguranças costumava irritá-lo na maior parte das vezes, exceto quando tinha alguma companhia para distraí-lo da atenção indesejada e proteção excessiva. – Por isso acabo pintando retratos. Mas também gosto. – Olhando-a nos olhos, voltou a pensar sobre o desenho que ela tinha flagrado em seu caderno. Celeste geralmente evitava assuntos que parecia julgar como perigosos, então a maioria das respostas o Bondurant precisava interpretar de suas expressões corporais. Jogaria verde, então. Abriu um sorriso que carregava certa malícia e ambiguidade e arriscou: – Principalmente retratos de mulheres bonitas... Se ela tinha interpretado que a mulher desenhada era ela ou não, talvez saberia por sua reação. Além disso, não gostava de jogar fora oportunidades de vê-la expressar os ciúmes que ambos sabiam que ela sentia, ainda que negasse.
Celeste o ouviu falar sobre pinturas e desenhos de uma forma tão charmosa que não apenas era atraente para sua audição, mas também para seus olhos. Parecia em paz enquanto falava sobre o assunto e a maga o apreciou durante todo o discurso.
É claro que isso não durou muito, pois Cedric rapidamente a provocou, o que fez com que ela erguesse as sobrancelhas. Estava abertamente falando sobre os retratos que rabiscava, o que incluía aquele que ambos tinham visto minutos antes? O que isso significava? Era ela mesmo, então? Estava confirmando isso?
Não sabia como se sentir. Antes, a ideia de que era ela desenhada no caderno do Bondurant a desnorteou, tanto positivamente quanto negativamente, pois não conseguia se decidir se deveria se sentir lisonjeada ou em alerta. Se estivesse certa, o que isso significava? Era algo especial ou apenas um hábito de um artista? Ambas as possibilidades a deixava incomodada.
Agora, ele dava a entender que fazer isso com várias. Isto é, ela era só mais uma, se é que era a maga mesmo traçada ali. Estava conflitada. Qual era o menos pior, ser ou não ser a modelo dos traços de Cedric? Se sim, o que a deixava mais afetada: o desenho significar algo a mais que um simples desejo artístico ou ele fazer com ela o que fazer com todas? Ou uma terceira opção: o simples fato dele rabiscar mulheres, por mais belas que fossem, a deixava estranhamente inquieta.
ー Você deve pintar bastante retratos, então ー tentou deixar a frase irônica e levemente divertida, mas não conseguiu esconder o ciúmes nela.
Se sentia cada vez incomodada com a ideia de Cedric com outras pessoas, percebia. Não tinha apenas ciúmes do presente dele ー ainda que ele a prometesse que estava saindo apenas com ela no momento ー e do futuro, e agora do passado também?
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cbondurant · 3 months
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Enquanto Celeste se decidia em uma resposta, ele já se colocava a escolher mentalmente as obras que mais gostaria que ela visse. Tinha algumas favoritas que sempre retornavam a exposições e, embora seu status social fizesse com que pinturas de gênero fossem do tipo que menos produzia, costumavam ser as de que Cedric tinha mais orgulho. Conseguir capturar o movimento de pessoas dentro de uma tela era realizador de uma forma que apenas outro artista entenderia.
“Retratos? Melhor não...” a maga comentou, distraidamente, e o mago de ar juntou as sobrancelhas por um instante, sem entender. Logo se lembrou do desenho dela mesma que Celeste havia visto, porém, e desviou os olhos, como se pensasse. Esse era o único retrato que ela havia visto dele. Tinha realmente desvendado sua figura ali?
Da forma que via, caso fosse realmente mostra-la suas pinturas, teria duas opções: fazer com que visse diferentes retratos feitos por ele, para que pensasse que um mero desenho não precisava significar alguma coisa; ou admitir que, sim, colocava seu rosto e corpo sobre papel porque sempre que sua mente tinha tempo de atormentá-lo eles retornavam insistentemente à sua memória.
Independente de suas preocupações, no entanto, a cada segundo que se passava, mais crescia a vontade de levá-la a suas obras e mostrá-la exemplos de cada estilo e gênero que gostava de praticar. E ela parecia interessada o suficiente para se entreter com o que diria, ficando cada vez mais deliciosamente enroscada em seu corpo e fazendo novas perguntas. Questões essas que, semanas antes, seriam rigidamente contadas.
– Hm... O desenho me dá mais liberdade... – Começou, pensativo. – Pintar exige um comprometimento meu desde o início. Planejar as técnicas que vou usar, a paleta de cores, os elementos... Desenhar é mais sobre o que estou com vontade de desenhar e só. Pelo menos pra mim. – Conhecia artistas que tinham a experiência oposta, é claro, amigos de faculdade que faziam desenhos extremamente detalhados e bem planejados e pinturas experimentais ou abstratas. Não era muito seu estilo. – Se eu quero desenhar um par de mãos, eu desenho. Elementos que não se encaixam tão bem, também. Dá mais espaço pra... Experimentar, acho.
– E eu gosto mais de pintar pessoas, acho. Em geral. Prefiro quando elas estão fazendo alguma coisa, conversando entre si, correndo. Mas é um pouco irritante às vezes, sair na rua para conseguir exemplos do que pintar.
Andar com quase uma dezena de seguranças costumava irritá-lo na maior parte das vezes, exceto quando tinha alguma companhia para distraí-lo da atenção indesejada e proteção excessiva.
– Por isso acabo pintando retratos. Mas também gosto. – Olhando-a nos olhos, voltou a pensar sobre o desenho que ela tinha flagrado em seu caderno.
Celeste geralmente evitava assuntos que parecia julgar como perigosos, então a maioria das respostas o Bondurant precisava interpretar de suas expressões corporais. Jogaria verde, então. Abriu um sorriso que carregava certa malícia e ambiguidade e arriscou:
– Principalmente retratos de mulheres bonitas...
Se ela tinha interpretado que a mulher desenhada era ela ou não, talvez saberia por sua reação. Além disso, não gostava de jogar fora oportunidades de vê-la expressar os ciúmes que ambos sabiam que ela sentia, ainda que negasse.
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zanicto · 5 months
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Pinceladas Introdutórias Sobre a Figura da Artista Projetada em Tela
Me é curioso o paradoxo que parece surgir do fato de que, mesmo sendo uma mídia pautada pelo visual, a representação cinematográfica do objeto artístico e de seu ato de criação, na maioria dos casos, beira o alegórico. Não por falta de tentativa, não há real escassez de filmes com personagens que aventuram-se pelas artes plásticas - ao menos não em se tratando de personagens masculinos - mas o cinema num geral parece não saber lidar com o objeto artístico como algo natural, fazendo do mesmo algo aquém da realidade, algo destoante, e tratando a prática de criação deste como desinteressante ao retrato na tela.
Não que o objeto artístico seja mero adereço cenográfico, muitas vezes ele é a coisa que dá movimento a toda trama do filme. A evidência de um crime, a pista de alguma charada, o retrato misterioso de alguém morto ou desaparecido, de alguém pelo qual o protagonista está à procura, a interrogação que paira sobre a trama e que nem por isso deixa de ser algo deslocado no contexto do filme.
Essa distância também recai sobre os realizadores de tais obras. Loucos, problemáticos ou excêntricos, a prática artística denota que o personagem tem outras ambições, que ele é diferente, incomum, inconformado. Não à toa Van Gogh lidera o número de reencarnações cinematográficas, esse personagem em estado de crise é uma reivindicação quase automática da narrativa por conflito, um retrato típico do gênio incompreendido que certamente colabora a noção do mito do artista ainda na contemporaneidade.
No caso das mulheres nesse cinema, como parece ocorrer com qualquer retrato feminino não conformista, destinam-se à reclusão, solidão, frustração e um eterno estado de suspensão. Tal qual exemplificação nas personificações de Amy March em Adoráveis Mulheres (2019/1994/1949), ou Juliette Binoche em Palavras e Imagens (2013) e Os Amantes de Pont-Neuf (1991).
Como sugere Roberta White, em sua análise das narrativas literárias que exploram a figura da pintora, “essas imagens consistem em variações sobre um tema que pode ser chamado de liminal, suspenso e inacabado” (WHITE, p. 19), apresentando a artista sempre em um estado de transição ou dubiedade e sua obra sempre como incompleta ou fragmentada. White também indica que de maneira semelhante, autores de personagens masculinos apresentam arte como algo arriscado e incompatível com uma vivência familiar tradicional, e seus personagens costumam ser a síntese da figura romântica do artista apaixonado e rebelde vivendo radicalmente isolado nos limites ou margens da civilização. A grande diferença, ela argumenta:
[...] é que o artista masculino fictício comete um afastamento mais violento da sociedade da qual ele, por direito de nascença, faz parte. O isolamento da artista feminina é distinto na medida em que, na maioria das vezes, ela não o escolhe, tendo sido excluída dos centros de poder e autoridade em função de seu gênero. (WHITE, p. 27)
Isso quando as personagens são explicitamente artistas, pois na maior parte dos casos a denominação é aferida de maneira quase arbitrária, não havendo nada em tela que prove tal atividade senão por uns desenhos pendurados na parede ou coisa do tipo. Quase sempre essas supostas pintoras, escultoras, designers e afins são personagens secundárias, e mesmo que elas sejam a protagonista do filme não significa que a temática “arte” esteja a frente da narrativa, é muito mais provável que algo como a “necessidade de um romance” seja o carro chefe da trama. 
Filmes sobre artistas tendem a despender mais tempo nos contextos que rodeiam a vida da figura do que no ato de produção artística em si, mas isso não justifica representações em que o fato é tão ínfimo a vida da personagem, tal qual em Deixe a Luz do Sol Entrar (2017), ou tão ridicularizante, como ao que se rebaixa Midge Wood em Vertigo (1958), isso antes dela desaparecer do filme sem explicação. Nem mesmo o excepcional longa-metragem de Céline Sciamma, Retrato de uma Jovem em Chamas (2019), escapa totalmente dessa premissa romântica, apesar desta ser uma obra fora da caixa em diversos aspectos, principalmente o retrato que faz do ofício, das alusões a história da arte, da utilização da pintura como parte da força narrativa e da criação de uma personagem ficcional no lugar da figura da pintora, coisa que como a própria Sciamma sabe não foi feito com tanta frequência, como ela mesma disse: “inventar uma pintora, isso raramente foi feito, e agora eu sei por quê, porque é muito difícil!”
A utilização de figuras históricas, como na cinebiografia, que comporta a maior parte das obras que tratam do tema, logo de saída cria uma falsa aproximação entre a realidade da artista no mundo real e o que o filme apresenta como sendo essa realidade, pelo fato de que as figuras apresentadas nestes filmes, além de geralmente serem artistas de séculos passados em que o ambiente de produção era bastante distinto do atual, são por si só personagens extraordinárias. Personagens completamente ficcionais se distinguem pelo fato de que, como sugere White:
[...] são uma projeção do autor da ideia de arte e da reivindicação das mulheres por um lugar no mundo da arte. Ao contrário de um pintor de carne e osso, o artista ficcional existe no reino da ideia e imaginação, é tanto produto quanto criador de arte. Quando a artista de ficção é uma mulher, ela inevitavelmente incorpora a postura política do autor. (WHITE, p.14)
Nas representações cinematográficas, um ato que fica bastante claro nessa postura politizada é quando a personagem encontra ou reivindica um espaço para exercer a prática artística. Demarcando um espaço que parte de uma necessidade operacional na realidade e que na narrativa assume a função de cenário onde dilemas criativos, psicológicos ou sociais da personagem serão confrontados. 
No cinema, talvez por sua generalizada preocupação com espaço, esse estúdio ou ateliê abarrotado com as vivências da artista parece até mais relevante que a própria peça de arte que nele se produz. Mesmo personagens bastante secundárias, como Maude Lebowski em O Grande Lebowski (1988) ou Adele Lack em Sinédoque, Nova York (2008), tem seus estúdios evidenciados. Mais drasticamente, em The Artist’s Wife (2019), a retomada da protagonista Claire a pintura, exige que ela não somente arranje um espaço, como um longe e velado de seu marido, também pintor. Virginia Woolf estava mais do que certa quando escreveu que “uma mulher deve ter dinheiro e um teto todo seu, se ela quiser escrever ficção”. Havemos de aplicar isso a qualquer circunstância quando discutindo-se arte.
Na representação da pintora Úrsula na animação O Serviço de Entregas da Kiki (1989), por exemplo, fica bem claro a enorme relevância que esse espaço tem na manutenção artística e emocional não só da personagem como de outros, algo que reverbera conhecimento de causa da equipe de realizadores do filme, que a bem dizer é formada basicamente por artistas plásticos, não à toa essa é uma das poucas obras em que a prática artística é apresentada de maneira apaixonada, libertadora e empoderadora mesmo que o filme não seja sobre arte e Úrsula seja apenas uma personagem secundária. 
São muitos os elementos que contribuem para a escassez de imagens que forneçam um contraponto às relações de poder e estereótipos, mas não se deve descartar que a sequela do trato que as mulheres receberam ao longo da história ainda é um dos grandes agentes nessa operação. Como nos informa Silvia Federici, em seu estudo da relação da caça às bruxas e o advento do capitalismo, por efeito dessa caça e controle sobre o corpo feminino, "a definição das mulheres como seres demoníacos e as práticas atrozes e humilhantes a que muitas delas foram submetidas deixou marcas indeléveis em sua psique coletiva e em seu senso de possibilidades” (FEDERICI, p. 187).
No que diz respeito a história da arte, desde suas primeiras escrituras, seus agentes põem as mulheres à margem do fazer artístico, exigindo que rompam uma barreira muito além de sua criatividade se quisessem ativamente fazer parte dessa narrativa. Por mais que no passado pintar, por exemplo, fosse um “dote” feminino apreciado, principalmente dentro da classe burguesa e aristocrática, pintar profissionalmente era impensável. As diretrizes sociais que governavam a vida das mulheres estavam tão embrenhadas no consciente popular, que o simples elogio de pessoas próximas tenderia a bastar de validade aos “hobbies artísticos”, e estas mulheres acabavam não instigadas a por suas peças à prova em um ambiente profissional.
Se insistisse em pintar, não poderia ingressar na academia ou mais tarde ingressaria numa turma totalmente segregada onde os aprofundamentos dos estudos eram limitados. Dificilmente seria aceita em alguma guilda que lhe desse aval para viver da prática, e era quase certo que sofresse humilhações que se não destruíssem sua integridade pessoal, poderiam destruir sua carreira profissional, estas por sua vez limitadas a florais, pinturas de gênero e, na melhor das ocorrências, retratos, enquanto suas contrapartes masculinas eram comissionados a portentosas pinturas históricas, afrescos e retratos de grupo. E ainda assim, diante de tão desfavoráveis circunstâncias essas mulheres pintavam carreiras tão relevantes na época quanto os pintores homens, o que torna ainda mais pungente a paradoxal realidade que ausenta estas artistas de não figurarem entre os grandes nomes que primeiro nos vem à cabeça quando pensamos em arte, e a essa figura da artista como uma tão incomum e estereotipada no cinema. 
É factual que mesmo com a tremenda onda de despontes ocorridos na modernidade, o número de mulheres artistas ao longo da história é avassaladoramente menor que o de homens, pois mesmo que tenham desenvolvido em vida uma corpulenta carreira dentro das artes, ao falecerem, as obras destas mulheres desaparecem, pois não houve registro de suas existências em primeiro lugar. Não receberam críticas, não foram institucionalizadas e não se encontram coletadas por museus e galerias. Como ressalta Linda Nochlin em seu famoso "Por que não houve grandes artistas mulheres?": 
[...] a questão da igualdade das mulheres, na arte ou em qualquer outro campo, não recai sobre a relativa benevolência ou a má intenção de certos homens, ou sobre a autoconfiança ou “natureza desprezível” de certas mulheres, mas sim na natureza de nossas estruturas institucionais e na visão de realidade que estas impõem sobre os seres humanos que as integram. (NOCHLIN, p.12)
Tendo isso em vista, e num mundo de tantas maneiras tão mais amplo como o contemporâneo, é necessário fugir destes paradigmas e analisar a produção artística e suas representações na mídia por uma perspectiva palpável e em diálogo mais próximo com a realidade vigente ou como expressa Nochlin: 
Encorajar uma abordagem desapaixonada, impessoal, sociológica e institucionalmente orientada, revelaria toda uma subestrutura romântica, elitista, de mérito próprio, monotemática na qual toda a carreira da história da arte está baseada, e apenas recentemente foi questionada por um grupo de jovens dissidentes. (NOCHLIN, p.15)
A produção artística atual, por influência dos movimentos sociais, da crescente busca por identidades individuais, e com o advento de novas tecnologias, em verdade, torna-se quase que mais uma comódite na rotina da sociedade contemporânea e nesse processo borra todas aquelas então fabricadas classificações hegemônicas que costumava ter, e do porquê, para quem e por quem, ela é produzida. Em suma, não vivemos mais num mundo em que, para uma mulher, pintar era raramente mais do que dote apreciado; não há motivo, então, para que esse tipo de representação ainda impere no cinema que, tal qual a história da arte, foi amplamente pautado por visões totalizantes de mundo que ao criarem uma história única e linear, eurocêntrica e falocêntrica, promoveram todo um apagamento de outras memórias e realidades.
Apresentar o trabalho artístico de maneira possível e em diálogo com a realidade da prática, no lugar de quase uma “alegoria da arte” em diálogo mais afeito a temáticas mitológicas, dá vazão, justamente, a estabelecer e expandir as possibilidades desse trabalho artístico no mundo real, culminando na idéia de que a produção de arte e cultura pode ser vista como um modo de vida em condições de igual existência a qualquer outra. O cinema produz e distribui com tremenda precisão imagens e discursos capazes de induzir sensações, movimentos e afetos no espectador. É por isso que é precisamente através de imagens munidas de nuanças, cotidianas e periféricas, que filmes podem construir representações alternativas e mais complexas do mundo e de seus sujeitos. Mas hoje já não basta simplesmente dar visibilidade ao “outro”, uma vez que a mídia contemporânea já circula freneticamente tais imagens, as qualificando como o real, é necessário, portanto, inventar através do cinema sujeitos, culturas, comunidades, afetos e sensibilidades onde elas ainda nem sequer existem. Em suma, inventar novas imagens que rompam com os esquemas mecanizados de perceber e sentir, novos modos de ver a arte e a cultura.
Referências bibliográficas
FEDERICI, Silvia. Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Tradução do coletivo Sycorax. São Paulo: Editora Elefante, 2004.
NOCHLIN, Linda. Por que não houve grandes mulheres artistas? (Ensaio 6). São Paulo: Edições Aurora, 2016.
WHITE, Roberta. A studio of one’s own: fictional women painters and the art of fiction. New Jersey: Fairleigh Dickinson University Press, 2005.
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richardanarchist · 1 year
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Retrato do artista quando coisa
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Há um cio vegetal na voz do artista. Ele vai ter que envesgar seu idioma ao ponto de alcançar o murmúrio das águas nas folhas das árvores. Não terá mais o condão de refletir sobre as coisas. Mas terá o condão de sê-las. Não terá mais ideias: terá chuvas, tardes, ventos, passarinhos… Nos restos de comida onde as moscas governam ele achará solidão. Será arrancado de dentro dele pelas palavras a torquês. Sairá entorpecido de haver-se. Sairá entorpecido e escuro. Ver sambixuga entorpecida gorda pregada na barriga do cavalo — Vai o menino e fura de canivete a sambixuga: Escorre sangue escuro do cavalo. Palavra de um artista tem que escorrer substantivo escuro dele. Tem que chegar enferma de suas dores, de seus limites, de suas derrotas. Ele terá que envesgar seu idioma ao ponto de enxergar no olho de uma garça os perfumes do sol.
Manoel de Barros
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klimtjardin · 1 year
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V E R Ã O  1 2 7 
Leitora x NCT 127
Parte 1 |
{Será que as suas primeiras impressões sobre o NCT estão corretas? será que elas batem com o que você imaginou deles?; temas diversos}
Ruma cedo para o prédio da empresa infame.
Caminha e boceja, caminha e boceja. Olhos pequenos, cabelo amarrado num coque baixo, pode se dizer que não está no seu melhor.
Com carteira de identidade em mãos, aprecia o retrato 3x4 terrível, tirado a uns cinco anos atrás. A cabeça não te deixa em paz: o que vai acontecer? será que vai acontecer? e se, quando virem que sou estrangeira, se recusarem a me deixar participar? mas ninguém seria babaca o suficiente- ou seria?
As palavras da mulher que te acompanha entram por um ouvido e saem pelo outro. Assim como as salas por onde passa, no andar térreo, surgem como num sonho. Flutuando. Você ainda está dormindo. Mas está de pé, assentindo, como se entendesse tudo o que se passa. Tudo é vítreo. Branco. Impecável. Como uma casa de plástico. Pessoas saem e entram pelas portas de correr. Ninguém te percebe. Menos mal. Não saberia como lidar, nesse momento, com olhares bisbilhotando.
Entra na sala indicada, que se parece igual a todas as outras. O estagiário, com uma simpatia forçada, faz perguntas, uma atrás da outra: "quando você nasceu? onde você mora? assine aqui, e aqui também." Assina um contrato, permitindo o uso da sua imagem, se responsabilizando por seguir as regras da empresa, proteger também a imagem dos artistas e outras tantas coisas que o estagiário vomita para cima de você. Tudo soa extremamente impessoal, no entanto.
— Bom dia! — diz ele, interrompendo a conversa que tem com você.
Seus olhos seguem para o objeto do anúncio. Enfim, Taeil, Johnny, Taeyong, Yuta, Doyoung, Jaehyun, Jungwoo, Mark e Haechan, entram na sala, caminhando pelo canto e curvando-se na sua direção. É pega com a caneta entre os dedos e assim permanece: está dormindo ainda?
— Rapazes — diz o estagiário — Essa é a NCTzen que ganhou o concurso.
— Olá, bom dia! — as vozes misturam-se, algumas em uníssono, outras logo depois, acompanhadas de mais reverências.
Se curva por educação.
Dúvidas surgem, intrusivas, ao julgá-los. Parecem indiferentes... Ou cansados. Ficam no canto da sala como se protegidos pelas paredes. Como se não estivessem ali. Mas você também não está ali. Você está em qualquer lugar, menos ali. Não consegue cortar o fluxo de pensamentos ou prestar a devida atenção ao presente, pois foi pega de surpresa. Então põe os cabelos para trás da orelha. Está sendo estranha. Força um sorriso. Será que eles esperavam mais de você?
— Bom, vou falar com eles agora, você pode ir. — O estagiário, cujo percebe agora nem leu o nome no crachá, te dispensa.
A mulher que te acompanhava te puxa pela curva do braço para fora. Você se curva rapidamente, mesmo sendo arrastada, para não parecer mal educada diante deles - alguns respondem, outros apenas acenam com a cabeça. Trepida quando sai. A porta é fechada e a voz do estagiário abafada.
— Eu não devia conhecer eles só no dia em que... a gente fosse gravar? — pergunta.
— Olha, eu não sei te responder muito sobre isso, mas preferimos evitar reações exageradas. E você até que reagiu bem. Agora, vem comigo, por favor.
Reagiu bem? Você nem reagiu. Não deu tempo. Talvez esteja reagindo agora. Sente um nó na garganta; a súbita vontade de chorar ao perceber o que aconteceu e os sentimentos que forçou-se a reprimir.
— Mas e a graça? — Apressa-se para acompanhar o ritmo de caminhada da sua guia.
Ela olha para trás e lança uma risadinha desdenhosa.
Você ainda está para aprender uma regra valiosa dos reality shows: nada que valha a pena ser assistido é realmente uma surpresa.
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filmes-online-facil · 2 years
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Assistir Filme Filhos de Deus Online fácil
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Filhos de Deus - Filmes Online Fácil
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As ruas e praias ensolaradas das Bahamas servem de cenário para essa suntuosa e corajosa estória de amor interracial e fazem contraposição às nuvens negras trazidas pela franca homofobia e intolerância endossadas pela religião. Johnny (Johnny Ferro) é um artista introvertido vítima de bullying nas ruas de Nassau, até mesmo pelo homem com quem dormiu na noite anterior. Ele vai para uma ilha distante, para que foque em seu trabalho. Lá ele conhece Romeo (Stephen Tyrone Williams), um cara bonitão e simpático que se oferece para mostrar as belezas da ilha e muito mais. As coisas azedam quando chegam a noiva e a mãe de Romeo, que se recusa a entender as inúmeras pistas que ele deixa para que ela se situe. Em seu retrato muito pessoal dos relacionamentos, tolerância e auto-aceitação, Mortimer acerta em cheio em seu drama com fotografia esplendorosa que faz uma crítica social mordaz.
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cristianemagalhaes · 9 months
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A vida que ninguém vê – Eliane Brum
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Histórias que normalmente não são contadas, são narradas com elegância e inteligência por Eliane, uma grande repórter! O menino que usava suas pernas para percorrer o pequeno mundo que elas alcançavam, mas que se torna prisioneiro de sua casa após um acidente, um álbum de retratos resgatado do lixo por alguém que gosta de recuperar coisas e tem a curiosidade e a imaginação para tentar entender as histórias que ele retrata, a vida num asilo e a descoberta da arte como janela para fora... Boas histórias, que valem ser lidas!
Vamos ver um pedaço do relato de Vany, que chegou ao asilo por ter artrite e não ter outra saída:
“Da cama, Vany começou a reparar que os velhos que chegavam não chegavam prostrados... ainda havia um elo entre eles e o mundo, entre eles e a vida. Então, as horas mortas iam lhes solapando a consciência e a vontade. Iam lhes roubando o sentimento e o sentido... Primeiro, morria a mente. Depois, o corpo...
Celina não, Celina escolheu a janela da rua como mundo. Ela sabe quem chega, quem sai, onde o cachorro do vizinho faz cocô....
Aos 65 anos Vany decidiu lutar contra a cena emoldurada pela porta da sala. Aterrorizada, Vany pediu a uma amiga, uma artista plástica chamada Dilva Lima, que lhe ensinasse a terapia da arte. Foi quando começou. Carregadas pela voz da professora, Vany e Celina trilharam florestas e mergulharam as pernas mortas em rios imaginários. Sentiram a textura de folhas e flores. Atravessaram tempestades e assistiram a um pôr-do-sol. Nesses intervalos entre a dor a  porta da sala as duas escapavam, quase se tocavam. Apenas seus corpos permaneciam estirados sobre a cama. A mente ia longe.”
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fichasnesfant · 1 year
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OOC
Nome/Apelido: Wayne Pronomes desejados: ela/dela Idade: 24 anos Triggers, se há algum: Incesto e agulhas (visual e descritivo).
Parece que PHILLIP SONG RADCLIFFE foi confundido com YOON JEONGHAN enquanto passeava pelas ruas de Eden essa manhã. Com apenas VINTE E SETE anos, ganhou fama pela cidade não apenas por ser um CURADOR DE ARTE  mas por se mostrar CURIOSO E INDIFERENTE. De qualquer forma, espero que mantenha esse pescocinho lindo intacto!
HEADCANONS
A ideia de que deveria viver e deixar sua marca no mundo veio desde bem cedo para Phillip, filho único que cresceu numa casa fria, mas repleta dos fantasmas de sonhos abandonados dos pais. A história era até meio conhecida no mundo artístico: dois pintores que se apaixonaram e faziam obras assinadas pelo nome de ambos, retratos de pessoas, que os mais sensíveis diziam ser como um verdadeiro espelho da alma, quase como se cada pintura fosse um fragmento da vida de seus talentosos autores. Por muito tempo, Phillip acreditou nisso, mas não do modo como todo o resto. Para ele restava apenas um carinho repleto de segundas intenções: era como se o amor só fosse digno dele caso também tivesse talento. Deste modo, Phillip sabia o que eram pincéis antes de saber falar. E em seus dias mais sombrios e sem inspiração, tudo o que encontrava vagando pela casa era o silêncio e os olhos frios da mãe. Foi quando entendeu que, a cada pintura, eles perdiam vida, e tudo o que os restava era a promessa de um filho que fosse tão apaixonado quanto eles.
Bom, era uma pena. Phillip nunca realmente gostou de sujar as mãos, embora tenha de fato se apaixonado pela arte, em forma de história. Era mais interessante entender sobre a arte do que fazê-la, e ele podia ver que isso desagradava profundamente seus pais, mas depois de um tempo, parou de se importar. Foi quando se agarrou ao que queria mesmo: entender a mecânica, a motivação e como o mundo inspirava um artista da mesma forma como um artista inspirava o mundo. A arte era, no fim das contas, a coisa mais importante que existia, e ele queria entender tudo sobre ela. Foi assim que entrou na graduação de História da Arte, e usou a fama dos pais como seu projeto, do mesmo modo que a usou para conseguir se solidificar como curador. Para Phillip, sua função não é ser o artista, mas ajudar a “criá-lo” a mostrá-lo para o mundo. Seus pais, apesar de não ficarem tão satisfeitos, com o tempo entenderam.
Claro, tanto amor por algo o tornou alguém que dificilmente se afeta por coisas externas. Phillip tem uma personalidade quente e fria, calorosa e distante, ele parece envolvido, mas sem seu coração. É obstinado, mas não deixa que nada o toque tão pessoalmente quanto esculturas, pinturas e conceitos, sendo recluso e se autodenominando um observador. Ele sempre estará lá, mas nunca pensa muito a respeito de si mesmo, já que seus olhos sempre recaem sobre as outras pessoas. Ele não conhece sobre vampiros, mas, independente de saber sobre as criaturas noturnas, sempre almejou a vida eterna, chegando a se sentir bobo por isso, é que há tanto no mundo, e a humanidade se reinventa tanto, que ele chega a ficar apavorado com a ideia de morte.
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