LH! O inverno também é caloroso
@brargweek
Apenas alguns guardas e criadas, ocasionalmente, preenchiam o corredor bem-iluminado a ponto de não parecer ser tão cedo.
E, claro, o som dos passos curtos da dama de companhia também estavam lá, indo para as escadas que levavam-na aos aposentos da princesa. Elas combinaram de se encontrar antes mesmo que as criadas chegassem no quarto.
O guarda que ficava na porta, protegendo-a durante a noite, já conhecia Luciana apenas pelo som de seus passos no piso, e estava totalmente ciente da situação e de sua tarefa: Não deixar que ninguém entrasse até que Martina acordasse.
— Bom dia, Luzita — Cumprimentou informalmente, sorrindo apesar do cansaço.
— Bom dia, Pedro — Ela respondeu,sorrindo — Soube que ele estava no muro Oeste essa noite, caso queira encontrá-lo mais cedo.
Ao ouvir, o rosto do guarda se iluminou e logo abriu caminho para que Luciana entrasse sem bater na porta.
O “ele” citado era Manuel, um soldado que guardava os muros do castelo durante a noite e dormia com Pedro durante o dia, sempre escondidos. Foi justamente por saber dessa situação que a princesa pediu para que ele ficasse responsável pelo interior do castelo.
O quarto amplo ainda estava muito escuro, mas a dona dele praticamente brilhava em sua camisola de seda clara, penteando os cabelos com um olhar sonolento.
— Bom dia, Tina… Dormiu bem?
Martina mal teve tempo de responder antes de ser beijada com ternura, retribuindo o encontro com os lábios de Luciana.
— Dormi, sim, minha querida — A princesa afagou o rosto de sua dama, sentindo a pele dela gelada — Você está com frio?
— Muito. Eu gosto do inverno, mas realmente não sei como você aguenta.
Luciana nascera em um reino quente, e nunca se acostumou direito com os invernos escuros e envoltos por vento de sua nova morada. Martina não reprimiu uma risadinha antes de se levantar.
— Bom, nós ainda temos tempo. Quer se deitar?
A frase foi como uma ordem para que Luciana começasse a se despir das roupas pesadas, vagarosamente. Martina logo largou a escova de cabelo e sentou-se na cama, admirando a pele escura aparecendo com a queda dos tecidos, tules e luvas.
Martina deitou-se e deu tapinhas no colchão, chamando a outra para se deitar ao seu lado. Luciana aceitou, colando seu corpo ao dela e apoiando a cabeça no peito coberto pela camisola
— Agora, sim… — Suspirou, acariciando a cintura da princesa — Tu me esquenta mais que fogo, sabia?
Martina aconchegou-se ainda mais ao ouvir isso, olhando para Luciana com um brilho chamuscando seus olhos.
— Eu sei, querida — Respondeu, repousando uma mão entre os cachos dela — Eu já estava com saudade de me deitar contigo, assim, no escuro….
— O inverno tem suas vantagens — Luciana refletiu — Mas eu continuo com frio.
Martina, ao ouvir, desliza a mão pelo corpo de Luciana, quase num movimento inocente, chegando até a barra da roupa íntima da dama. Apesar da surpresa, Luciana logo se aproximou ainda mais, sabendo que seu corpo logo estaria devidamente aquecido.
…………………………
— Vai nevar, não é? — A criada perguntou, mesmo sabendo a resposta.
— Muito. Eu gostaria que vocês conhecessem o meu reino, lá, o inverno nunca nos castigou assim.
A criada logo olhou para Luciana com um olhar de esperança, pensando no tal reino que dava sementes e chuvas quando as temperaturas caiam.
Ambas as criadas arrumavam o quarto enquanto ela vestia Martina, mesmo que elas precisassem passar o dia todo no castelo por conta da neve intensa lá fora. A princesa olhava de relance para Luciana, sabendo que isso significava que elas teriam mais tempo juntas.
— Aqui, minha cara Idalina, o inverno não vai parar — A criada desvia seu olhar da colega e olha para Martina — E a Vossa Alteza, portanto, deverá estudar um pouco mais hoje, mas depois poderá ir até a torre do meio para buscar aquelas tintas e ervas que encomendou.
Martina não conseguiu disfarçar a felicidade genuína ao ouvir, olhando para Luciana, que disse que gostaria de pintar há muito tempo.
Desde criança, Luciana sabia que era uma peça para sua família de puxa-sacos utilizar. Eram ricos, sim, mas não tinham um nome forte o bastante, por isso mandaram-na para a corte do reino vizinho, cuja duquesa era conhecida de uma falecida tia. O reino comandado pelo pai de Martina tinha poder, sangue forte e boas reservas de prata, sendo cobiçado desde sua fundação.
Ela só foi enviada para lá fazem dois anos, após o envenenamento que quase causou a morte da Rainha e não teve seu autor capturado, fazendo com que o Rei substituísse todos os serviçais do castelo e reduzisse seu número, tornando Luciana a única dama lá dentro, e boa parte dos serviçais contratados vieram de lugares remotos.
A princesa passou todo o outono todo em um estado similar ao luto, sempre curvada e murmurando coisas pouco audíveis, mas Luciana a entendia, apenas seguindo-a de longe e mantendo sua saúde estável da forma que conseguia. Foi só depois do início do inverno que Martina começou a reerguer-se, voltando às suas atividades e conhecendo,verdadeiramente, Luciana.
Talvez seja por isso que elas se afeiçoaram ao inverno e sua escuridão privada.
As criadas não demoraram para organizar o quarto totalmente, e logo fizeram uma curta reverência para saírem, passando pela porta que Pedro já havia deixado e fechando-a.
Luciana logo deixou Martina solta, indo arrumar o próprio cabelo em um coque. Desde que estabeleceram seu “compromisso”, a princesa começou a fazer as coisas sozinha, mas apenas quando ninguém estava olhando. A dama também passou a estar sempre mais relaxada por saber que sua relação com Martina ia muito além da de uma nobre e sua aia.
Com uma pontada no fundo de seu peito, Luciana parou ao lado de Martina, que usava o grande espelho para se maquiar, e colocou as presilhas douradas em seu cabelo. Ela amava tanto aquela mulher que chegava a doer, o brilho em seus olhos cegava-a, e seu perfume suavemente doce inebriava-a.
— Luciana, a sua presilha está torta — Martina sorriu de lado ao dizer isso para a mulher que ocupava metade do espelho, mas não prestava atenção no próprio reflexo.
— E o seu batom está borrado, Tina — Retrucou.
A princesa logo verificou o tom rosa-avermelhado em seus lábios, e repreendeu a outra com o olhar ao notar que não havia nenhuma irregularidade na maquiagem. Luciana aproveitou a distração para beijar a mulher, borrando, de verdade, o batom.
Martina logo aceitou o beijo, satisfazendo-se com os lábios carnudos da dama perigosamente próxima ao seu corpo. Luciana esqueceu o mundo, fazendo-se de surda e cega, tornando aquele momento o seu único sentido.
— Minha filha… MINHA FILHA?!
A Rainha que chegou de surpresa, com o pescoço enfiado pela porta, ficou lívida ao ver as duas fazendo o que faziam no quarto.
…………………………………..
— Eu n-não posso… POR FAVOR!
A dama, que mais lembrava uma criatura selvagem, gritava e se debatia enquanto era mandada para a parte mais baixa do castelo, onde o frio úmido não tinha alívio algum, os guardas trocavam de turno sem uma única palavra e a água era escassa.
Assim que percebeu o que estava acontecendo nos aposentos da princesa (e já acontecia há muito tempo), a Rainha logo chamou os homens para agarrarem Luciana e mandarem-na para baixo, deixando Martina sozinha com sua mãe pálida e os soluços chorosos que preenchiam o corredor.
Claro, elas sabiam o que a realeza e a nobreza pensariam de sua situação, mas não imaginavam que teriam seu segredo descoberto, ou, pior ainda, pego num flagra.
— Por favor… Me deixem subir… — Murmurava, sem fôlego ou força alguma para defender-se.
Os guardas permaneceram em silêncio até que Luciana desistisse, aceitando ir sozinha para a cela que tinha um monte de palha, três baldes e uma trouxa de tecido puído. Assim que ficou só, a dama se jogou no palheiro, chorando copiosamente contra as fibras que espetavam seu rosto.
Luciana não sabe quanto tempo passou desse jeito, chorando e encolhendo-se. Ela entrou em um estado quase entorpecido, sem estar dormindo, mas também sem estar totalmente acordada.
A porta da cela se abriu com som alto, despertando Luciana. Uma figura grande foi chutada diretamente para o chão de pedra, emitindo um gemido de dor e fazendo os carcereiros rirem. A pessoa chutada era Pedro, usando uma roupa antiga e amarrotada, já que provavelmente estava dormindo quando foi chamado.
— Luzita! — Pedro chamou, assustado — Você se machucou?! Que porra é essa?
Luciana demorou para perceber que realmente era Pedro, o guarda gentil e corpulento que a tratava como uma velha amiga.
— A Rainha… E-ela me viu… Vi-iu eu e a Tina… — Ela não conseguiu completar a frase em meio aos seus soluços desesperados.
Pedro logo compreendeu a situação, aproximando-se do palheiro de Luciana e deixando que ela segurasse seu ombro. A dama manteve-se apoiada nele até conseguir respirar fundo e se acalmar um pouco.
Luciana endireitou a coluna, olhando bem para o rosto amassado de seu amigo.
— O que fizeram com o Manuel?
— Ele escutou os homens em nossa busca e acordou. Nós dormimos num daqueles antigos chalés fora dos muros, ele se escondeu, mas eu fiquei ali fingindo estar dormindo. Sei que esse pequeno sorrateiro está bem, já que eu fui preso por “omitir informações em um atentado contra a honra da princesa”.
— Eu tenho medo do que vai acontecer com ela — Luciana murmurou — Você sabe o motivo para terem te jogado na mesma cela que eu, certo?
Pedro, com os olhos verdes subitamente sombrios, assentiu com a cabeça. Ali dentro, mofando entre as pedras, tudo que poderiam fazer era aceitar e tentar dormir e aceitar a crueldade comandada lá de cima.
.......
Vai ter continuação, só não temos data 🤙
Espero que tenham gostado <3
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Já que muitos são adeptos da teoria de Sansa Stark como um diamante bruto sendo lapidado pra reinar no Norte, eu pergunto: o que ela sabe sobre o povo? Em nenhum momento ela reflete verdadeiramente sobre o martírio que o povo comum sofre. Ela não entende o porquê de o povo amar Margaery Tyrell e odiá-la, sendo que a campanha política dos Tyrell consistia em alimentar o povo para conquistar seu apoio. Ela foi vítima de motim durante uma revolta popular de cidadãos famélicos e ainda assim nunca refletiu sobre isso ou ligou os pontos na hora de organizar torneios extravagantes no Vale, e também não questionou nada disso quando Mindinho encomendou um bolo gigantesco que necessitou de todos os limões do Vale pra ser feito. Como uma personagem que ainda não compreende o significado de “O Inverno Está Chegando” teria competência pra governar uma região desolada no pós guerra? Ela já fez grandes negociações assim como Jon Snow fez com o Banco de Ferro? Ela sabe alguma coisa sobre os clãs das montanhas como Jon Snow sabia quando o próprio rei Stannis foi se aconselhar com ele? Ela reflete sobre os ensinamentos de Ned Stark da forma que os outros POV da família Stark refletem? Quando chegar a hora, ela vai brandir a espada após sentenciar um criminoso? Será que cantar com as mulheres para acalmar a atmosfera durante a Batalha da Baía da Água Negra, ordenar servos em um castelo e organizar torneios (coisa que não é tão apreciada no Norte) são feitos suficientes pra provar que ela é capacitada pra liderar um reino durante uma guerra contra os Vagantes Brancos? Mesmo após uma carta legitimando Jon Snow para que Sansa, ainda legalmente casada com Tyrion, não herdasse Winterfell? Cabe ressaltar que ela foi casada pelo Alto Septão, que nesse mundo equivale a ser casada pelo Papa. Jon Snow esteve no Norte esse tempo todo, seguiu as leis dos Stark de conduzir execuções, uniu o Povo Livre, se tornou comandante da Patrulha da Noite, organizou um casamento entre um Magnar e uma dama de Westeros, unindo duas culturas diferentes. Ele faz negociações, se importa com a escassez de grãos e estabelece planejamentos pra isso; ele tem um lobo vivo (e os lordes nortenhos respondem à força ao invés de palavras doces e cortesias, como Jon Umber só passou a respeitar Robb Stark após Grey Wind ter devorado dois de seus dedos), além de habilidades marciais e um destino messiânico de ressurreição. Se o governo deve ser por experiência e qualificação e não primogenitura masculina (nesse caso Bran e Rickon viriam antes de Sansa), então quem deveria governar o Norte é o Jon. O que Sansa Stark tem a oferecer que Jon (ou seus outros irmãos além de Rickon) não tenham? Varys disse: “Ele viveu com pescadores, trabalhou com as mãos, nadou em rios e consertou redes e aprendeu a lavar suas próprias roupas quando necessário. Ele sabe pescar, cozinhar e curar uma ferida, sabe o que é passar fome, ser caçado, sentir medo. Tommen foi ensinado que a realeza é seu direito. Aegon sabe que a realeza é seu dever, que >um rei deve colocar seu povo em primeiro lugar, viver e governar por eles.<” Ned Stark entendia isso, Jon Snow entende isso, Daenerys Targaryen entende isso, mas até agora esse tipo de reflexão sobre os deveres de um governante para com seu povo não fez parte da história da Sansa.
Obrigado pela pergunta, Anon! :)
Desculpe pela demora, estou de férias da Facul, mas ainda tenho meus cursos!
(E demorou escrever e reescrever esse texto, além de achar os links e trechos que eu queria, haha)
Obs.: Os textos linkados em português são traduções MINHAS, mas neles também contém a versão original dos textos. Eu os deixei os links, pois sempre gosto de mostrar textos que podem ser úteis para analisarmos a saga!
Bem, eu sou adepto da teoria dela ser a governante no final (embora antes já tenha pensado em Jon, e acho que ele ainda é um forte candidato); mas mesmo eu sei que ainda teremos de ver o restante de sua jornada para tal --e até agora, personagens como Bran e Jon parecem mais aptos para tal; mas acredito que eles não terminaram seus arcos dessa forma (sou adepto de que Bran será Rei de Westeros e Jon talvez morra ou, mais provavelmente, termine na muralha).
E eu também não creio que Sansa será uma personagem de grande importância durante a Longa Noite; seu papel é de um personagem político, estando ligada a tramas que vão acontecer antes e depois da Grande Ameaça. Mas acredito que justamente o momento em que ela acalmou as damas durante a batalha do Água Negra será algo parecido com o que veremos ela fazendo durante a grande batalha: tentando manter o controle acalmando as pessoas indefesas que não foram lutar.
"– Saia da minha frente – Cersei atirou a palma da mão aberta contra a ferida do primo. Sor Lancel gritou de dor, e quase desmaiou no momento em que a rainha saiu apressadamente da sala. A Sansa, não deu sequer um rápido olhar. Ela se esqueceu de mim. Sor Ilyn vai me matar, e ela nem pensará no assunto.
– Oh, deuses – lamuriou-se uma velha. – Estamos perdidos, a batalha está perdida, ela fugiu. Várias crianças choravam. Eles sentem o cheiro do medo. Sansa viu-se sozinha no estrado. Deveria ficar ali, ou seria melhor correr atrás da rainha e suplicar pela sua vida? Não saberia dizer por que motivo se Várias crianças choravam. Eles sentem o cheiro do medo . Sansa viu-se sozinha no estrado. Deveria ficar ali, ou seria melhor correr atrás da rainha e suplicar pela sua vida?
Não saberia dizer por que motivo se levantou, mas foi o que fez.
– Não tenham medo – disse-lhes em voz alta. – A rainha içou a ponte levadiça. Este é o local mais seguro da cidade. Tem as paredes espessas, o fosso, os espigões…
– O que aconteceu? – quis saber uma mulher que Sansa conhecia vagamente, esposa de um fidalgo menor. – O que foi que Osney disse? O rei está ferido, a cidade caiu?
– Conte-nos – alguém gritou. Uma mulher perguntou pelo pai e outra, pelo filho.
Sansa ergueu as mãos, pedindo silêncio.
– Joffrey voltou para o castelo. Não está ferido. Ainda estão lutando, é tudo o que sei, estão lutando com bravura. A rainha retornará em breve – a última parte era mentira, mas tinha de acalmá-los. Reparou nos bobos em pé sob a galeria. – Rapaz Lua, faça-nos rir."
Acredito também que Jon será escolhido (mesmo Rickon também estando lá ou não como uma opção) como rei (isto é, antes do fim da saga, como eu já disse), no lugar de Sansa, principalmente pelos motivos que você mesmo pontuou: O casamento dela não foi anulado (ou pelo menos ainda não, mas não sabemos sequer como vão anular ele dado sua atual situação), ela passou um bom tempo no Sul, e, é claro, é mais jovem do que seu meio-irmão… E, é claro, Winterfell e o Norte nunca foram governados por uma mulher até o momento, o que prejudicaria ainda mais sua reivindicação.
São esses fatores, e muitos outros (como ela não exercer uma figura de força como Robb e o próprio Jon), que devem prejudicar sua candidatura. Mas acredito que os próprios Stark não vão brigar tanto entre si, e sim suas possíveis facções.
Jon talvez encontre alguma oposição, pois talvez Rickon seja mencionado, ou porque alguns não gostem de um bastardo no poder, talvez pela sua aliança com selvagens e casar um nobre –Alys Karstark– com um selvagem na fé de r'llhor… Mas posso dar todas as minhas fichas que é ele será o escolhido –mesmo que a ressurreição provavelmente seja escondida ou desacreditada entre os nobres, afinal poucos talvez acreditassem além dos que viram com os olhos, e a carta de Robb já ajudaria a sair da muralha.
E quanto a Sansa não entender certas artimanhas políticas, faz parte, ela tem 13 anos e ainda está entendo certas coisas. O quanto cada um gosta dela por isso ou não, varia, afinal, é uma personagem imperfeita e, como vários na obra, tem seus erros. E, é claro, George não criou todos para serem gostados com unanimidade.
Um dos motivos de eu acreditar que Sansa será uma grande jogadora (e provável governadora) é que o próprio George R. R. Martin diz que ela tem esse potencial no futuro; dizendo que a personagem irá de peça para jogadora ao entender o jogo dos tronos:
“Até agora, Sansa foi uma peça que outras pessoas moveram no tabuleiro para atingir seus próprios objetivos. Usando-a, descartando-a, usando-a para um propósito diferente. Você sabe, você vai se casar com Joffrey. Você vai se casar com Loras. Você vai se casar com Tyrion. Ela está começando a entender como pode jogar o jogo dos tronos e não ser uma peça, mas uma jogadora com seus próprios objetivos e movimentando outras peças. Ela não é uma guerreira como Robb, Jon Snow. Ela nem é uma criança selvagem como Arya. Ela não pode lutar com espadas, machados. Ela não pode levantar exércitos. Mas ela tem seu juízo - assim como Mindinho.” ( fonte)
(É até importante ressaltar o quanto Sansa mudou desde a escrita original de Martin, onde ela foi criada apenas como uma garota com a qual Arya tinha que rivalizar e nem era listada entre os principais –Embora Martin parece ter mudado isso, visto que ele a menciona junto dos cinco protagonistas originais.)
Creio que esse diferencial de Sansa dos outros Stark será muito importante nos próximos livros. Acredito que muito do futuro de Sansa aprendendo a governar será visto em sua jornada no Vale de Arryn. Sendo um paralelo do próprio pai (e Rhaena, hihi), que cresceu no Vale e até podemos dizer que definiu muito de sua vida.
Sansa, ainda na figura de Alayne, embora não tenha total controle da política do Vale de Arryn, tem pelo menos alguma liberdade para cuidar de algumas coisas no Castelo: cuidar de Robert, dar certas ordens ao meistre e aos empregados, organizar certas coisas no torneio, usar as roupas de Lysa… Praticamente quase virando uma senhora do Vale.
Mas é claro, tudo isso ainda é pouco e teremos de ver mais no futuro (no caso quando TWOW sair, já que o sétimo livro é o que nos dará a resposta para quem fica no norte), pois Sansa está como Alayne, ainda muito dependente de Petyr.
Um exemplo de sua aprendizagem no Vale, é o quanto ela foi capaz de entender certas tramas políticas de Petyr:
"Sansa hesitou por um momento.
— Você deu ao Lorde Nestor os Portões da Lua para ter certeza do seu apoio.
— Certo — Petyr admitiu — Mas a nossa rocha é um Royce, o que quer dizer que ele é super orgulhoso e espinhoso. Se eu tivesse lhe perguntado o seu preço ele teria inchado como um sapo, zangado com a afronta que isso suporia a sua honra. Mas desta forma... o homem não é completamente estúpido, mas as mentiras que eu lhe servi eram mais doces que a verdade. Ele quer acreditar que Lysa o valorizava além dos outros vassalos. Um desses outros é Yohn Bronze, afinal de contas, e Lorde Nestor é muito consciente de que descende de um ramo menor da casa Royce. Ele quer mais para seu filho. Homens de honra fazem coisas por seus filhos que eles nunca considerariam fazer por si mesmos.
Ela assentiu.
— A assinatura... você poderia ter pedido a Lorde Robert que assinasse e selado para ele, mas ao invés disso...
—... Assinei eu mesmo, como Lorde Protetor. Por quê?
— Então... se você for removido, ou... ou morto...
— ...A reivindicação de Lorde Nestor sobre os Portões de repente torna-se questionável. Eu prometo a você, isto não está perdido a ele. Foi inteligente de sua parte perceber isso, embora eu não esperasse menos da minha própria filha.
(Sansa I, AFFC)
"Ele os seduziu [os lordes declarantes do Vale], pensou Alayne aquela noite, na cama, enquanto ouvia o rugido do vento pela janela. Não havia sabido dizer como surgiu a suspeita, mas quando passou pela sua cabeça, não houve maneira de conciliar o sono. Mexeu-se e rolou na cama durante um longo tempo. Por último, se levantou e se vestiu, deixando Gretchel dormindo.
Petyr seguia acordado, escrevendo uma carta.
–Alayne? Olá querida, que faz aqui tão tarde?
— Preciso saber? O que acontecerá dentro de um ano?
— Redfort e Waynwood são velhos. — Petyr deixou a pluma sobre a mesa. — Pode ser que morra um deles, ou os dois. Os irmãos de Gilwood Hunter o assassinarão. Provavelmente se encarregará o jovem Harlan, o mesmo que tratou da morte de Lorde Eon. E já que comecei, vamos até o final. Belmore é corrupto, posso comprá-lo. Templeton e eu nos tornaremos amigos. Temo que Yohn Bronze continue sendo hostil, mas enquanto seja somente ele não representará nenhuma ameaça.
— E Sor Lyn Corbray? A luz da vela dançava nos olhos de Petyr.
— Sor Lyn continuará sendo meu inimigo implacável. Falará de mim com desprezo e ódio a todo aquele que queira escutá-lo prestará sua espada a cada plano secreto para acabar comigo.
Foi então quando as suspeitas se converteram em certezas.
— E como lhe pagará os seus serviços?"
(Alayne I, AFFC)
E ela também conseguiu ver a possibilidade de que Corbray poderia não estar realmente agindo como Petyr imaginava:
Oh, essa é uma ferida aberta, pensou Alayne. A primeira esposa de Lyonel Corbray não lhe dera nada além de um frágil e doentio bebê que morreu na infância, e durante todos esses anos Sor Lyn permanecera herdeiro de seu irmão. Quando a pobre mulher finalmente morreu, no entanto, Petyr Baelish interviera e intermediara um novo casamento para Lorde Corbray. A segunda Senhora Corbray tinha dezesseis anos, filha de um rico comerciante de Vila Gaivota, mas viera com um imenso dote, e os homens diziam que ela era uma garota alta, robusta, saudável, com seios grandes e quadris bons e largos. E fértil também, ao que parece. “Estamos todos rezando para que a Mãe conceda à Senhora Corbray um parto fácil e uma criança saudável,” disse Myranda.
Alayne não conseguiu se conter. Sorriu e disse, “Meu pai está sempre satisfeito em servir a um um dos leais vassalos de Lorde Robert. Tenho certeza de que ele ficaria satisfeitíssimo em ajudar a intermediar um casamento para você também, Sor Lyn.”
“Que gentil da parte dele.” Os lábios de Corbray se retraíram em algo que poderia ter sido dado como um sorriso, embora tenha dado a Alayne um calafrio. “Mas que serventia teria eu para herdeiros, quando não tenho terras e provavelmente continuarei assim, graças ao nosso Senhor Protetor? Não. Diga ao senhor seu pai que não preciso de nenhuma de suas éguas de cria.”
O veneno em sua voz estava tão carregado que por um momento ela quase esqueceu que Lyn Corbray era na verdade um leão de chácara de seu pai, comprado e pago. Mas será mesmo? Talvez, ao invés de ser um homem de Petyr fingindo ser inimigo de Petyr, ele fosse na verdade seu inimigo fingindo ser seu homem fingindo ser seu inimigo.
(Alayne I, TWOW)
Mas claro, Sansa ainda não é uma grande jogadora, ela é boa em ler pessoas e saber o que falar e o que não falar (e isso vai lhe ajudar no futuro, tal qual a ajudou a ter certos aliados como Sandor ou salvar a vida de Dontos), e tem evoluído nisso… Mas ainda tem seus tropeços:
"Acontecera exatamente como Petyr disse que aconteceria, no dia em que os corvos voaram. 'Eles são jovens, ardentes, famintos por aventura e renome. Lysa não os deixaria ir para a guerra. Essa é a coisa mais próxima disso. A oportunidade de servir a seu senhor e provar sua valentia. Eles virão. Até Harry, o Herdeiro.' Ele alisara seu cabelo e beijara sua testa. 'Que filha inteligente você é.'
Fora mesmo inteligente. O torneio, os prêmios, os cavaleiros alados, tudo havia sido ideia dela. A mãe de Lorde Robert o enchera de medos, mas ele sempre ganhava coragem com os contos que ela lia para ele sobre Sor Artys Arryn, o Cavaleiro Alado das lendas, fundador de sua linhagem. Por que não cercá-lo de Cavaleiros Alados? Ela pensara uma noite, depois de Doce Robin finalmente adormecer. Sua própria Guarda Real, para mantê-lo seguro e fazê-lo corajoso. E assim que ela contou a Petyr sua ideia, ele fez acontecer.
(Alayne I, TWOW)
Sansa/Alayne foi capaz de ter uma ideia inteligente de unir os lordes em um torneio, sabendo da sede por aventura deles… Porém, a mesma não vê que Petyr provavelmente tem outros planos, como talvez cimentar alianças ou ter os vencedores (filhos de grande lordes) como reféns. (E, não vamos esquecer, ainda não pensou na possibilidade de Petyr envenenar Robert, já que ele deve estar botando doses escondidas em suas bebidas, assim, todos pensam que apenas o meistre lhe dá o "remédio" apenas quando o jovem precisa.)
Outro ponto mencionado e que vale a pena mencionar é a questão do povo plebeu.
Bem, de fato, a jornada de Arya é mais ligada ao povo comum do que Sansa, de fato, além da cena em que ela é atacada pelos plebeus, a única cena interagindo com o povo é pouco antes da batalha de Blackwater, com algumas pessoas comuns:
"Sansa conhecia a maior parte dos hinos, e acompanhou o melhor que pôde aqueles que não conhecia. Cantou com velhos criados grisalhos e jovens esposas ansiosas, com criadas e soldados, cozinheiros e falcoeiros, cavaleiros e tratantes, escudeiros, cozinheiros e amas de leite. Cantou com aqueles que se encontravam dentro das muralhas do castelo e com os de fora, cantou com toda a cidade. Cantou por misericórdia, tanto pelos vivos como pelos mortos, por Bran, Rickon e Robb, pela irmã Arya e pelo irmão bastardo Jon Snow, lá longe na Muralha. Cantou pela mãe e pelo pai, pelo avô, Lorde Hoster, e pelo tio, Edmure Tully, pela amiga Jeyne Poole, pelo velho e bêbado Rei Robert, pela Septã Mordane, por Sor Dontos, Jory Cassel e pelo Meistre Luwin, por todos os bravos cavaleiros e soldados que morreriam hoje, e pelas crianças e as viúvas que por eles chorariam, e, por fim, ao terminar, até cantou por Tyrion, o Duende, e pelo Cão de Caça. Ele não é um verdadeiro cavaleiro, mas mesmo assim salvou-me , disse à Mãe."
É um momento curto e nem de longe igual ao que vemos nos capítulos de Arya (mesmo antes dela se perder na guerra), mas ainda é possível que a mesma se encontre um pouco mais ligada a esse aspecto no futuro.
Principalmente pelo próprio pensamento da Sansa de querer ser amada:
"– Outra lição que devia aprender, se tem esperança de se sentar no trono ao lado de meu filho. Se for branda numa noite como esta, terá traição estourando por toda a sua volta, como cogumelos depois de uma chuva forte. A única maneira de manter seu povo leal é assegurando-se de que a temem mais do que ao inimigo.
– Vou me lembrar, Vossa Graça – Sansa respondeu, se bem que sempre tivesse ouvido dizer que o amor era um caminho mais seguro para a lealdade do povo do que o medo. Se chegar a ser uma rainha, farei com que me amem."
(Sansa, ACOK)
Sansa é bem diferente de Cersei nesse aspecto: ela quer ser amada, pois acredita que um verdadeiro governante deve ser amado (e para isso tem que se provar digno de merecer tal sentimento de seu povo). E os livros mostram que ela está certa: Joffrey era odiado, ninguém lamentou a morte dele, todo o império de Tywin caiu em frangalhos após a sua morte; Cersei, quem aconselhou Sansa a usar do medo para poder, simplesmente se provou uma rainha cruel e incompetente.
Em contrapartida, a Casa Stark ainda tem alguma esperança: mesmo com Ned, Robb e Catelyn mortos (e, para muitos, Bran e Rickon), muitos nortistas tentam libertar Arya de Ramsay (mesmo ela sendo apenas uma garota e a maioria nunca nem a tenha visto), e outros ainda conspiram para botar alguém cujo o sobrenome é Stark de volta ao poder.
Sansa acredita que o amor é o caminho, e também acredita que tem que merecer esse amor.
Eu acredito que ao mesmo tempo que trazer um exército Vale talvez prejudique a imagem de Sansa (pois podem ver ela como uma sulista que deixará a política do Norte tomada pelos cavaleiros do Vale), também vai lhe trazer uma série de vantagens: um exército imenso e pronto para a guerra veio com ela ajudar nas guerras do Norte, e esse exército não sofreu perdas em nenhuma guerra; outro benefício é a própria comida: o Vale está cheio de comida para dar, pois Petyr cuidou muito bem de que a comida fosse preservada e usada para quando sansa fosse "reivindicar o seu direito".
E sim, Sansa é bem classicista (principalmente no primeiro livro), dado seu padrão de vida Westerosi, mas não é verdade que ela não tenha apreço pela vida de plebeus, ela até mesmo tentou acalmar Joffrey para que ele não machucasse a pobre senhora no dia do motim, e tenta acalmar o povo irritado, lhes dizendo não ter comida a oferecer. Ela entende que eles estão desesperados e famintos, mas também entende que ela não fez nada igual a Joffrey para ser atacada.
Uma coisa que também pode ajudar um pouco nesse aspecto, é o quanto ela é vulnerável no Vale: ela é assediada pelos lordes do Vale de forma descarada, assediada pelo primo pequeno, é desrespeitada pelo seu prometido, e constantemente é lembrada do quanto deve ter que deixar o orgulho Stark de volta e aceitar que é inferior a todos ali, ou poderia ser descoberta.
(Não que os anos em Porto Real fossem melhores, visto que ela era constantemente abusada por Joffrey, forçada a se casar, e ainda alvo de olhares assediadores.)
Mas, para ser bem justo, a plebe em torno da jornada de Sansa não é muito explorado, principalmente porque ela permanece muito tempo confinada na Fortaleza Vermelha ou em alguns castelos do Vale; mesmo quando ela tem permissão para sair, ela ainda teme possíveis ataques, com medo do povo ainda odiá-la (afinal, ela era filha de um traidor e irmã de outro, e não tinha poder político como Margaery para melhorar sua imagem).
O próprio Jon no começo, mesmo sendo um bastardo, só percebeu que ainda detinha certos privilégios apenas depois de um tempo: percebendo que ele ainda tinha uma vida melhor que certos bastardos que não eram criados pelo pai (ou de pessoas que nem sequer eram ligadas a nobreza e estavam a mercê de pessoas com poder, muitos dos quais foram enviados para muralha após certos nobres se irritarem com eles, como Pyp), além dos próprios selvagens, com os quais ele foi criando uma afinidade após conviver com eles e tentando unir "os dois mundos" mesmo que isso lhe faça tomar decisões questionáveis aos olhos dos patrulheiros.
Acredito que o fato de Sansa acreditar que um governante deve ser amado por todos é um fator que vai fazer ela tentar conquistar o amor de todos. O outro, é a sua empatia; muitos podem não ver, mas apesar de vários momentos em que Sansa parece superficial, ela ainda foi uma das personagens que mais mostrou empatia:
Já no primeiro livro, onde é onde mais encontram defeitos em na personagem, ela já mostrou ser capaz de sentir empatia por Sandor quando muitos o desprezavam:
“Meu pai disse a todos que meus cobertores tinham pegado fogo, e o nosso meistre me deu unguentos. Unguentos! Gregor também recebeu seus unguentos. Quatro anos mais tarde, ungiram-no com os sete óleos, recitou seus votos de cavaleiro e Rhaegar Targaryen bateu em seu ombro e disse: ‘Erguei-vos, Sor Gregor’. ” A voz áspera extinguiu-se. Ficou acocorado em silêncio na frente dela, uma pesada silhueta negra envolta na noite, escondido de seus olhos. Sansa ouvia a respiração irregular do homem. Compreendeu que se sentia triste por ele. De algum modo, o medo tinha desaparecido.
O silêncio prolongou-se durante muito tempo, tanto que começou de novo a sentir medo, mas agora seu medo era por ele, não por si própria. Encontrou o massivo ombro dele com a mão. – Ele não era um verdadeiro cavaleiro – sussurrou-lhe.
(Sansa II, AGOT)
Inicialmente, Sandor parece ainda agressivo contra a jovem Stark, mas logo ele se prova um cão fiel e a ajuda em outro momento de empatia mais lembrados, quando ela salvou Dontos, mesmo quando ele não era ninguém importante:
"– Não, não pode.
Joffrey virou a cabeça.
– O que você disse?
Sansa não conseguia acreditar que havia falado. Estaria louca? Dizer-lhe não na frente de metade da corte? Não pretendera dizer nada, mas… Sor Dontos estava bêbado, bobo e incapaz, mas não tinha sido mal-intencionado.
– Você disse que não posso ? Disse?
– Por favor – disse Sansa. – Eu só quis dizer… seria má sorte, Vossa Graça… Matar um homem no dia do seu nome.
– Está mentindo – disse Joffrey. –Deveria afogá-la também, se você se preocupa tanto com ele.
– Eu não me preocupo com ele, Vossa Graça – as palavras saíram aos trancos, desesperadamente. – Afogue-o, ou mande cortar sua cabeça, mas… Mate-o amanhã, se quiser, mas, por favor… hoje não, não no dia do seu nome. Não poderia suportar que tivesse má sorte… Uma sorte terrível, mesmo para reis. Todos os cantores o dizem…
Joffrey franziu o cenho. Ele sabia que ela estava mentindo, percebeu. Faria Sansa sangrar por aquilo.
– A moça diz a verdade – Cão de Caça interveio. – O que um homem semeia no dia do seu nome, colhe ao longo do ano – a voz era monocórdica, como se não lhe importasse nem um pouco se o rei acreditava ou não."
(Sansa I, ACOK)
Lembrando que Dontos já havia ignorado no primeiro livro, mas isso não a impediu de ajudá-lo. O mesmo se veria com Lancel:
"– Ajudem-no – ordenou Sansa a dois dos criados. Um deles limitou-se a olhá-la e fugiu, com o jarro de vinho e tudo. Outros criados também saíam do salão, mas ela não podia impedi-lo. Juntos, Sansa e um criado puseram o cavaleiro ferido em pé. – Leve-o ao Meistre Frenken – Lancel era um deles , mas de algum modo ainda não conseguia desejar que morresse. Sou branda, fraca e burra, tal como Joffrey diz. Devia estar matando-o, não ajudando.
(Sansa VII, ACOK)
Pouco antes disso (como foi comentado anteriormente), Sansa acalma as mulheres assustadas na fortaleza após a saída de Cersei. Podemos até relembrar outros momentos de empatia com Sandor, sua compaixão com o irritante Robin, sua defesa por Tommen, ou até quando ela preferiu evitar que Margaery se casasse com Joffrey pois era sua "irmã"...
Bem, a lista é imensa, mas deu para entender que eu quis destacar a questão da empatia pois creio que ela é importante durante toda a jornada da personagem até o momento, e acredito que no futuro não será diferente.
Aproveitando que entramos nesse assunto dos plebeus, vamos falar de um dos pontos levantados na pergunta que envolvia o povo e Margaery.
Devo dizer que, em minhas releituras de ASOIAF, Sansa pareceu ter sim uma certa visão política das tramas de Margaery com o povo:
"Sansa observara das muralhas do castelo a chegada de Margaery Tyrell pela Colina de Aegon. Joffrey tinha recebido sua futura noiva no Portão do Rei, para lhe dar as boas-vindas à cidade, e seguiram a cavalo, lado a lado, através de multidões que os aclamavam, com Joff cintilando numa armadura dourada e a garota Tyrell magnificamente vestida de verde, com um manto de flores outonais florescendo em seus ombros. Tinha dezesseis anos, cabelos e olhos castanhos, era esbelta e bela. O povo gritava seu nome quando ela passava, erguia os filhos para que ela os abençoasse, e espalhava flores sob os cascos de seu cavalo. A mãe e a avó a seguiam de perto, numa alta casa rolante cujos flancos tinham uma centena de rosas entrelaçadas esculpidas, todas douradas e brilhantes. O povo também as aclamava.
O mesmo povo que me arrancou de cima do cavalo e que teria me matado se não fosse o Cão de Caça . Sansa nada tinha feito para a plebe a odiar, não mais do que Margaery Tyrell fizera para conquistar seu amor."
–Sansa I, ASOS.
Sansa sabe que não fez nada para ganhar ódio da plebe, afinal, ela nem saia das muralhas da fortaleza, muito menos era cruel como Joffrey, nem impediu a comida de chegar para alimentar o povo, isso foi fruto de ódio e desespero (e outras coisas, como os homens que provavelmente queria apenas abusar dela, como abusaram de Lollys). Assim como ela sabe que foram os Tyrell quem justamente impediram essa comida de chegar, deixando o povo morrendo de fome por meses. Margaery apenas mostrava ao povo a ilusão que ela precisa: ela é a futura boa rainha que traz comida aos necessitados quando todos os "nobres malvados" negam esse bom gesto.
A personagem também percebe que assim, Joffrey também cai no gosto do público: não é ele quem traz comida para o povo, na verdade, ele estava muito feliz em responder o apelo dos desesperados com flechas. Joff fez muito mais para ser odiado pelo povo do que Sansa jamais fez, mas a nova rainha conseguiu usar do desespero pela comida e o amor que eles tinham por ela para que a plebe "perdoasse" Joffrey.
Sansa justamente vendo essa imagem política, questiona as reais intenções de Margaery quando a mesma a convida para um simples jantar:
"O convite parecia bastante inocente , mas sempre que Sansa o lia, sua barriga dava um nó. Ela agora vai ser rainha, é bela e rica e todo mundo a adora, por que desejaria jantar com a filha de um traidor? Supunha que podia ser por curiosidade; talvez Margaery Tyrell quisesse avaliar a rival que havia afastado. Será que ela se ressente de mim? Será que pensa que tenho má vontade com ela…
[...]
"Sansa nada tinha feito para a plebe a odiar, não mais do que Margaery Tyrell fizera para conquistar seu amor. Será que ela quer que eu também a ame? Estudou o convite, que parecia ter sido escrito pela mão da própria Margaery. Será que ela deseja a minha bênção? Sansa perguntou a si mesma se Joffrey estaria ciente daquele jantar. Por tudo que ela sabia, aquilo podia bem ser obra dele. A ideia a encheu de medo. Se Joff estivesse por trás do convite, teria alguma artimanha cruel planejada para envergonhá-la aos olhos da garota mais velha. Iria ordenar à Guarda Real que a despisse de novo? Da última vez que fizera isso, o tio Tyrion o impediu, mas o Duende não podia salvá-la agora."
[...]
"Talvez estivesse cometendo uma injustiça para com Margaery Tyrell. O convite talvez não fosse mais do que uma simples consideração, um ato de cortesia. Pode ser só um jantar. Mas aquilo era a Fortaleza Vermelha, aquilo era Porto Real, aquilo era a corte do rei Joffrey Baratheon, o Primeiro de Seu Nome, e se havia alguma coisa que Sansa Stark aprendera ali era a desconfiança."
–Sansa I, ASOS.
O tempo em Porto Real deixou Sansa um tanto cética, ela acredita em mil e uma possibilidades para o convite de Margaery. Corretamente, ela acredita que sua substituta quer ter seu "amor", pois Olenna e sua neta querem seduzir Sansa para que ela se case com Willas.
Apesar do ceticismo inicial de Sansa, os Tyrell conseguem a convencer de que são aliados, não inimigos. Isso parece não ser um problema no futuro, mas logo a jovem Stark percebe que ela era realmente uma peça no tabuleiro deles que perdeu a validade antes do prazo.
Bom, eu mencionei essa parte dos Tyrell para mostrar que Sansa entende sim da manobra de ter o povo, mas também que já mostrava (pelo menos até certo ponto) algum entendimento de manobras políticas. Se você quiser uma análise um pouco melhor, clique aqui.
E, respondendo sua outra pergunta: Sim, Sansa provavelmente saberia sobre os Clãs (se ela vai se envolver com eles ou não, é questionável, mas não deve fazer como Stannis precisou, pois todos estarão reunidos em Winterfell quando ela chegar), pois ela foi uma garota criada no Norte e sabe sua história. Claro, ela está mais ligada a ouvir histórias do Sul, mas ela também aprendeu sobre o Reino onde vive, afinal, tem a ver com sua própria história. O conhecimento de canções e cortesias são um modo de aprender história e de demonstrar conhecimento e a capacidade de fazer alianças em pelo menos algum grau; assim, Sansa demonstra conhecimento em história e heráldica em vários momentos.
E eu também acredito que mesmo que não seja tão lembrado, Sansa ainda pensa muito em sua casa (mesmo que em alguns momentos ela acredite que tudo está perdido para Winterfell após sua queima), nos ensinamentos que teve, e em como sua força vem do norte (e o respeito pela fé de seu pai, não apenas de sua mãe).
Ela é filha de seu pai e de sua mãe, ela conhece a história da casa Stark. Ela sabe que seu pai era amado pois ele se importava com o povo, tal qual muitos Stark antes dele. Foi por isso que, como dito anteriormente, Sansa nega a ideia do medo dos Lannister.
"– Não, o que me alegra é matar gente – sua boca retorceu-se.
– Enrugue a cara quanto quiser, mas poupe-me dessa falsa piedade. É cria de um grande senhor. Não me diga que Lorde Eddard Stark de Winterfell nunca matou um homem.
– Era o seu dever. Nunca gostou de fazê-lo."
(Sansa IV, ACOK)
— Meu pai sempre disse a verdade. — Sansa falava em voz baixa, ainda assim era difícil forçar as palavras a sair.
(Sansa I, ASOS)
"— Faça o que lhe dizem, querida, não será assim tão mau. Espera-se que os lobos sejam bravos, não é?
Bravos. Sansa respirou fundo. Eu sou uma Stark, sim, posso ser brava."
(Sansa III, ASOS)
– Dizem que visita o bosque sagrado todos os dias. Por que reza, Sansa?
Rezo pela vitória de Robb e pela morte de Joffrey… e pelo meu lar. Por Winterfell.
(Sansa II, ACOK)
Bem, eu peguei poucos e exemplos, mas existem muitos no Vale, onde Sansa está cada vez mais lembrando de sua casa:
"Perguntou a si mesma de onde teria vindo a coragem, para lhe falar com tanta franqueza. De Winterfell, pensou. Sou mais forte dentro das muralhas de Winterfell."
(Sansa VII, ASOS)
Até vê as "cores justas" que Ned mencionou em um de seus capítulos, apesar de não acreditar pertencer a esse mundo, ela vai até ele mesmo assim:
"A neve caía e caía, tudo num silêncio fantasmagórico, e acumulava-se numa camada grossa e contínua no chão. Todas as cores tinham fugido do mundo exterior. Era um lugar de brancos, negros e cinza. Torres brancas, neve branca e estátuas brancas, sombras negras e árvores negras, tudo coberto pelo céu cinza-escuro.Um mundo puro , pensou Sansa. Este não é o meu lugar."
(Sansa VII, ASOS).
(Sansa VII, ASOS)
Inclusive, esse é um bom m
"Fizeram daquilo uma corrida, disparando impetuosamente pelo pátio e passando pelos estábulos, as saias se agitando, enquanto tanto cavaleiros quanto criados assistiam, e porcos e galinhas se espalhavam diante delas. Não era nada donzelesco, mas Alayne rapidamente se viu rindo. Por um breve momento, enquanto corria, ela se esqueceu de quem era, e onde estava, e se viu lembrando de dias claros e frios em Winterfell, quando corria pelo castelo com sua amiga Jeyne Poole, com Arya correndo atrás delas tentando acompanhá-las."
"Fizeram daquilo uma corrida, disparando impetuosamente pelo pátio e passando pelos estábulos, as saias se agitando, enquanto tanto cavaleiros quanto criados assistiam, e porcos e galinhas se espalhavam diante delas. Não era nada donzelesco, mas Alayne rapidamente se viu rindo. Por um breve momento, enquanto corria, ela se esqueceu de quem era, e onde estava, e se viu lembrando de dias claros e frios em Winterfell, quando corria pelo castelo com sua amiga Jeyne Poole, com Arya correndo atrás delas tentando acompanhá-las."
(Alayne I, TWOW)
"Sentiu a neve nas pálpebras, saboreou-a nos lábios. Era o sabor de Winterfell. O sabor da inocência. O sabor dos sonhos. Quando Sansa voltou a abrir os olhos, estava de joelhos. Não se lembrava de ter caído. Parecia-lhe que o céu tinha tomado um tom mais claro de cinza. A alvorada , pensou. Outro dia. Outro novo dia . Era dos dias antigos que tinha fome. Era por eles que rezava. Mas a quem podia rezar? Sabia que um dia o jardim se destinara a um bosque sagrado, mas o solo era raso e pedregoso demais para que um represeiro ganhasse raízes. Um bosque sagrado sem deuses, tão vazio quanto eu."
Inclusive, aproveitando a falta de um represeiro (mostrando o vazio de Sansa) acho que esse é um bom momento para dizer que discordo de que Sansa ficaria no Vale, pois, por mais que seja seu "local de aprendizado", nunca será Winterfell:
"Neve velha cobria o pátio, e pingentes pendiam das varandas e das torres como lanças de cristal. O Ninho da Águia fora construído com boa pedra branca, e o manto do Inverno tornava-o ainda mais branco. Tão belo, pensou Alayne, tão inexpugnável. Não conseguia amar aquele lugar, por mais que tentasse. Mesmo antes dos guardas e criados terem descido, o castelo parecera vazio como uma tumba, e ainda mais quando Petyr Baelish andava por longe. Ali em cima, desde Marillion que ninguém cantava."
(Alayne II, AFFC)
Bem, eu poderia me alongar nesses trechos (na realidade eu até tirei alguns, para não ficar repetitivo), mas acho que ficou claro que, enquanto a personagem continua no Vale como Alayne, mais seu Lado Stark volta; ela não pode fugir de quem ela é, e ela é Sansa Stark.
Quanto ao merecimento: eu concordo, Jon se provou mais e é quem está contra a ameaça no Norte. E é por isso que eu disse que concordo com que ele é quem pegará o trono no próximo livro.
Entretanto, também acredito que Jon não terminará como governante do Norte (e nem de Westeros como um todo), e sim sua irmã, Sansa Stark.
Eu posso estar errado? Totalmente! E aceito essa possibilidade. E claro, eu adoraria Sansa governante no final, mas sei que essa saga não é para meu agrado; ela pode morrer, pode governar o Vale, pode ser regente de Bran ou Rickon, etc…
Mas acredito que Jon e Sansa vão se reunir e reconstruir Winterfell juntos. Existem pessoas que analisam essa possibilidade melhor do que eu, mas creio que vá acontecer. Os Stark são acima de tudo uma matilha, eles precisam se unir.
Quero deixar claro que devemos ver mais de como Sansa vai lidar com o norte nos próximos livros, mesmo que ela não seja escolhida como Lady ou Rainha: ela ainda será uma importante agente política, deve descobrir coisas que não sabia (a maioria sobre Petyr) e mostrar suas habilidades políticas para o Norte. E, caso ela vire Lady ou rainha, veremos mais dela? Provável, visto que Martin já disse que não gostaria de terminar a história de um personagem no poder sem mostrar mostrar seu governo.
E, colocando um pouco mais a minha opinião aqui, acredito que Martin está deixando terreno para vermos figuras femininas ganhando mais agência no governo: é dito que muitas casas do Norte agora são governadas por mulheres, enquanto os maridos estão mortos e os filhos muito jovens (ou mortos também, deixando algumas casas sob o governo das filhas, como a Casa Cerwyn; o Vale já mostrou sua cota de mulheres tendo algum nível de poder (Myranda, Lady Anya, Mya, etc…); e acredito que devemos ver Asha governando as Ilhas de ferro no fim, provavelmente dando vida ao seu plano de comércio com o Norte; talvez vejamos algo parecido em outros reinos, como as Terras Fluviais.
(É muito interessante no caso das Ilhas de Ferro e o do Norte, pois ambos nunca foram governados por mulheres –Lorde Cregan, inclusive, preferiu tirar o direito de sua neta, Sansa Stark, e dar para seu filho Jonnel.)
Bom, foi isso! Mais uma vez, me desculpe pelo tamanho! Acredito que isso não mudará sua opinião, mas pelo menos mostrei alguns de meus pontos para acreditar que Sansa poderá governar o Norte no futuro!
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