There is something new in the past: the state of the art of archaeological research in the Amazon – Eduardo Neves
Conference: The President of FAPESP, Marco Antonio Zago, invites Eduardo Neves, director of the Museum of Archeology and Ethnology of the University of São Paulo (MAE-USP) to the conference March 22, 2024 - from 10am to 11:30am
Amazonian archeology has changed a lot in the last twenty years. At the end of the 1990s the main topic of discussion was whether the Amazon was densely populated in the past. Today it is accepted that the ancient occupations of indigenous peoples played an important role in the transformation of nature over the millennia and in the formation of the Amazon as we know it.
It is currently established that the Amazon was an independent center of plant domestication and cultivation, in the same way that research carried out in Bolivia, Brazil and Ecuador provides evidence of urbanism on a scale that still needs to be better understood. However, as archaeological knowledge has grown exponentially, so have the threats facing the Amazon and its people. In Brazil alone, almost 20% of forest cover has been lost in the last 40 years. The conference will review the results of recent studies and present the initiatives of the Brazilian archaeological community to face these threats.
Eduardo Neves is a renowned Brazilian archaeologist, known for his significant contributions to the field of pre-Columbian archaeology, especially in the Amazon region. He is internationally recognized for his pioneering work and innovative approach to understanding the history and culture of ancient Amazonian societies.
Neves is a professor at the Museum of Archeology and Ethnology at the University of São Paulo (MAE-USP) and has a long history of research in the area. His studies focus on topics such as the emergence of complex societies in the pre-Columbian Amazon, the relationship between human occupation and the natural environment, and cultural and commercial interactions between different indigenous groups in the region.
Throughout his career, Eduardo Neves carried out excavations at several archaeological sites in the Amazon, making important discoveries that have contributed to a more complete understanding of the region's ancient history. He is also the author of numerous academic articles and books, in which he shares his research and analyzes on Amazonian archeology.
In addition to his fieldwork and research, Neves also plays an active role in training new archaeologists, mentoring postgraduate students and promoting the development of archeology in Brazil.
In the context of Brazilian and Latin American archaeology, Eduardo Neves is a prominent and respected figure, whose work continues to influence and inspire future generations of researchers in the field.
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Há algo de novo no passado: o estado da arte da pesquisa arqueológica na Amazônia – Eduardo Neves
Conferência: O Presidente da FAPESP, Marco Antonio Zago, convida para a conferência de Eduardo Neves, diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de S~]ap Paulo ( MAE-USP) 22 Março de 2024 - das 10h às 11h:30
A arqueologia amazônica mudou muito nos últimos vinte anos. Ao final da década de 1990 o principal tema de discussão era se a Amazônia era densamente povoada no passado. Hoje é aceito que as ocupações antigas dos povos indígenas tiveram um papel importante na transformação da natureza ao longo dos milênios e na formação da Amazônia que conhecemos.
Atualmente está estabelecido que a Amazônia foi um centro independente de domesticação e cultivo de plantas, da mesma forma que pesquisas feitas na Bolívia, no Brasil e no Equador trazem evidências de urbanismo em uma escala que ainda precisa ser melhor compreendida. No entanto, à medida que o conhecimento arqueológico cresceu exponencialmente, também cresceram as ameaças que a Amazônia e seus povos enfrentam. Só no Brasil, quase 20% da cobertura florestal foi perdida nos últimos 40 anos. A conferência trará um balanço de resultados de estudos recentes e apresentará as iniciativas da comunidade arqueológica brasileira para fazer frente a essas ameaças.
Eduardo Neves é um renomado arqueólogo brasileiro, conhecido por suas contribuições significativas para o campo da arqueologia pré-colombiana, especialmente na região amazônica. Ele é reconhecido internacionalmente por seu trabalho pioneiro e sua abordagem inovadora para entender a história e a cultura das sociedades antigas da Amazônia.
Neves é professor titular do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP) e tem uma longa trajetória de pesquisa na área. Seus estudos têm foco em temas como o surgimento de sociedades complexas na Amazônia pré-colombiana, a relação entre a ocupação humana e o ambiente natural, e as interações culturais e comerciais entre diferentes grupos indígenas na região.
Ao longo de sua carreira, Eduardo Neves realizou escavações em diversos sítios arqueológicos na Amazônia, fazendo descobertas importantes que têm contribuído para uma compreensão mais completa da história antiga da região. Ele também é autor de numerosos artigos e livros acadêmicos, nos quais compartilha suas pesquisas e análises sobre a arqueologia amazônica.
Além de seu trabalho de campo e pesquisa, Neves também desempenha um papel ativo na formação de novos arqueólogos, orientando estudantes de pós-graduação e promovendo o desenvolvimento da arqueologia no Brasil.
No contexto da arqueologia brasileira e latino-americana, Eduardo Neves é uma figura proeminente e respeitada, cujo trabalho continua a influenciar e inspirar gerações futuras de pesquisadores na área.
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O meu primeiro livro.
INTRO / AMBIENTALIZAR O ESCRITÓRIO DO GAROTO NO FUTURO
Onde ele está no tempo atual?
Qual país?
Quantos anos?
Obs: não precisa ser descrito logo no início, e desenrolar no meio da narrativa, as caracteristicas donde ele escreve
Já dizia Ernest Hemingway: antes de escrever deve-se viver. Não poderia estar mais certo. Ainda que os bebés nascessem com a habilidade da escrita, ainda não poderiam escrever nada, pois não aprendeu língua alguma.
Assim, anos mais tarde, após atravessar: o jardim de infância, a própria infância ate chegar a puberdade, faculdade, introdução forcada a vida adulta. Ca estou, sem saber onde me encontro agora.
Entretanto apetece-me escrever. Contar uma historia, minha historia. Até suspeito se não seria um pouco de narcisismo da minha parte escrever meu primeiro livro baseado na minha vida. Será?
Conte-me voce que decidiu ler ate aqui. Este livro e uma espécie de diário. Os relatos citados foram vividos por mim, e compreendidos na minha perspectiva, muitas vezes infantil.
Porém, olhando de uma certa distancia parece uma obra de arte. Nada melhor do que tomar a distancia do tempo, para se admirar a beleza da vida.
A parte da minha historia que quero contar aqui, diz respeito a minha infância, ao final dela, nas portas da puberdade. E nada parecia mais assustador naquela época do que enfrentar essa fase complicada da vida num lugar completamente novo. Para ser mais exato: Em outro pais. Isso já era motivo suficiente para um jovem se sentir inseguro. Mas o destino quis que para mim fosse duas vezes pior. Quanto tempo podemos levar ate entender que o destino nao compreende o peso das tragédias em nossa vida? Ele apenas deixa os fatos acontecerem para que o destino seja traçado. Como se o destino fosse agulhas de croché, e a linha, todos os acontecimentos de nossa vida. Ao fim da vida pode ser um belo cachecol, que mesmo tao belo, pode ser esquecido facilmente por ai. Tudo isso para dizer que perdi meu pai durante a puberdade. E isso foi o que mais assustou neste período. A ausência dele em minha vida.
Quando meu pai faleceu fui viver com a minha mãe. Tínhamos uma relação peculiar. Não nos falávamos muito, mas não duvidávamos do amor um do outro nem por um instante. Minha mãe nao foi presente na minha infância, porque decidiu morar em Portugal. Meu pai e eu ficamos em São Paulo. Muitos acham estranho o fato de eu ter ficado com meu pai e nao com a minha mae. Bom, eu não faço ideia de qual foi o meu critérios, eu apenas nao conseguia ficar muito tempo longe do meu pai. Com ele, tudo parecia possível, seguro, ele me deixava fazer tudo, em retribuição, estabeleci limites consideráveis que sempre agradecem os dois. As vezes me passava. Qual criança nao o faria, tendo por natureza a imaginação maior que o mundo. Que se sentindo pequeno, nos poda por inteiro, ate ser ao contrario: o mundo maior que nossa imaginação. Era facil manter a relação a distancia com a minha mãe, mas o meu pai, eu precisava dele. Tudo me parecia possivel quando o tinha comigo. Sua morte virou a mesa da vida pra mim. Sem que eu percebesse, comecei a perder de lavada. O mundo parecia vazio e ainda assim, me pareceu que pela primeira vez ouvia os batimentos da cidade. Tic Tac Boom, a buzina de um carro acabara de me lembrar com um grito, de que eu continuava vivo.
Com toda a ingenuidade me imaginei no nosso apartamento sozinho, cuidando das coisas que meu pai deixara para trás. Como que se fosse apenas repetir os mesmo gestos e comportamentos a vida continuaria igual, mas sem ele por perto.
Ter que ir viver em Lisboa, foi como uma segunda morte para mim. No dia em que parti, ele morreu pela segunda vez. Ao menos tive tempo de me despedir dessa vez. Fui ao nosso parque, vi nossas estatuas pela cidade, comi o prato preferido dele, e no final pedi um cafe, intrigando os atendentes por ser ainda uma criança, mas como uma atitude tao adulta. Café sem açúcar. Doce para quem já provou o amargo da vida. Meu pai dizia sempre, quando eu insistia em dar goladas da sua caneca preta preferida e fazia carestias. Ele ria, dizendo para que eu aproveitasse. O dia em que aprendesse a gostar de café sem açúcar, sentira falta dessa época. Porém, o cafe e magico, ele te faz estar no presente, deixando as memorias onde devem ficar, no passado.
Depois que me despedi da cidade com a ajuda do meu tio o mais difícil ainda estava por vir. Ao ouvir a porta de nosso apartamento se fechar pela ultima vez, foi como ver de novo o caixão sendo lacrado. Olhei cada cómodo com uma calma infinita, olhar para a casa vazia, pensar na historia em que se encerrava, nas prateleiras que seriam esvaziadas, quantas vezes uma pessoa morre em nossas vidas? Só o meu pai morria duas vezes para mim. E quando fui morar em Lisboa descobri que ele poderia morrer pela terceira vez. E como eu poderia impedir isso? Só mesmo com a coragem de uma criança, para se querer desvendar o que nem a ciência e capaz de fazer. Descobri cedo que: acreditar que pra sempre nos lembraremos de alguém e mentira. Não esta isso em nosso controle. Mais uma vez o mundo real me mostrava que era tao assustador, que comecei a perceber que ate alguns adultos ainda preferem acreditar em papai noel, para nao terem que olha a realidade nos olhos. E foi assim que comecei uma jornada investigativa dentro do meu próprio mundo. Pois nao havia autoridades para impedir esta morte, apenas a mim, com uma promessa descabida. Se um dia o destino decidir que devo esquecer meu pai, hoje eu entendo, que assim sera. Podemos nao gostar de todas as cores de uma obra de arte, porém todas elas juntas ainda pode ser bonito de se admirar.
Como tomei ciência de que havia este risco de uma terceira morte. Quando conheci meu avo. Sabia que era um velho que já nao dizia nada com nada. De tao grave que era seu estado de loucura, que foi obrigado a viver com a alguém que pudesse cuidar dele. Minha mãe foi a escolhida, e a relação dos dois era como a minha e a dela, o amor era muito grande para nos afastar emocionalmente. Ainda que fisicamente possa parecer um desconhecido.
Só pessoalmente que pude entender de fato o que a loucura dele significava. Ou so agora pareceu que me dizia a respeito. Alzheimer, uma doença mental que nos faz esquecer de nos mesmo, de nossa historia, das pessoas, mesmo da mais amada, a que mais nos esforçamos para talhar no lobo frontal e no coração. Essas também podem ser esquecidas.
Quando o vi pela primeira vez, seu cabelo estava emaranhado, com as barbas ultrapassando os limites da maioria dos pelos, sentado no meio do quarto vestindo uma capa que iria ate as canelas, ate parecia que estava nu por debaixo dela. Olhava para o chão como se fosse a pessoa mais triste do mundo. Tive a curiosidade de saber o que se passava naquela cabeça. Se ele estivesse presente, provavelmente se sentia derrotado, mas se estivesse perdido em suas memórias, estaria na sua fantasia, onde as tragedias compõem a obra.
Tudo me assustava um pouco, exceto a minha mãe. As coisas ficaram menos pesadas quando me senti em casa perto dela, e de uma forma estranha também me sentia perto do meu pai quando estava com ela.
A nova escola era um saco, a cidade era um saco, o pais era um saco. Muitas pessoas se disseram com inveja de mim por estar indo viver em Lisboa, mal elas sabiam que se eu pudesse daria essa oportunidade a elas, sem o menor custo.
Sem ter outra saída, aprendi a lidar com a nova vida, e percebi com o tempo que poderiamos nos acostumar logo com as mudanças, era uma forma de aceitar melhor o que o destino tem pra nos contar. Tentei algumas vezes me aproximar do meu avo com a intenção de descobrir em que momento da vida ele perdeu a memória. Quis descobrir onde ele errou e colocou em risco a coisa mais preciosas e intima do ser humano, as memórias. Eu sabia que o que mantinha o diálogo impossível entre nos, era a forma direta como eu abordava o assunto, tao direta que era quase um estupro mental. Eu sabia, mas nao tinha paciência para as doidices e palavras sem sentindo, sua mente era o verdadeiro caos.
Certo vez passou o dia inteiro a dizer Phileas Fogg. O nome fixou na minha mente pois naquele dia eu estava atrasado para pegar o onibus da escola, enquanto corria pela casa procurando pelo objectos espalhadas ele repetia Phileas Fogg. Naquele dia o bendito nome ficou de tal maneira na minha mente, que senti a necessidade de dizê-lo em voz alta. Como se a loucura dele tivesse passado para mim, passei a responder a qualquer coisa com: Phileas Fogg, perguntavam se eu estava bem eu respondia: Phileas Fogg, me perguntavam as horas, qual lanche que iria comer, etc. A resposta era sempre a mesma, e meus amigos mesmo sem entender direito como aquilo começará riam-se.
Este dia foi tao marcante, que deve ter uma cor especial na la da vida. Acontece que semanas mais tarde uma nerd me disse enquanto esperávamos o onibus: Julio Verne também e seu autor favorito? Com certeza estava me confundindo. Pensei. Tanto que respondi: Autor? A minha desconexão com os livros era tanta que ate a palavra autor me pareceu desconhecida.
— Noutro dia repetias disparadamente o nome Phileas Fogg. Como se fosse um novo mantra para ti. E dai? Respondi. E dai que Phileas Fogg e o personagem principal da obra de Julio Verne. Volta ao mundo em 80 dias. Se nao sabes disso, porque então repetia o nome dele durante o dia inteiro? De repente descobri quem diacho era Phileas Fogg, o velho nao so estava perdido entre suas memórias de vida, como também nos romances que lera durante a vida. Como se todas as historias estivessem fundidas. Agora parecia quase impossível descobrir qualquer coisa. — meu avo, na manha enquanto eu me arrumava para apanhar o onibus da escola, ele repetia esse nome quando me via passar apressado cheio de agonia com o tempo. Talvez ele estivesse querendo te dizer algumas coisa. Respondeu a nerd. Ele me chamou deste personagem? Perguntei, querendo saber mais sobre ele, para que pudesse reconhecer alguma semelhança, mas a risada da nerd como resposta me fez sentir que estava completamente enganado. Que não tínhamos nada a ver. O que ele queria dizer então? Perguntei novamente. Talvez devesse ler o livro para encontrar essa resposta. Respondeu ela, com o rosto de como nao escondia suas intenções, ela queria converter-me em leito. A obra de Julio verne era a minha isca. Mas como sou um bicho da rua, que agora se impressionava com o mundo real, recusei a sugestão, desdenhando que nenhum autor poderia viver uma tragédia maior que a minha. Não corra contra o tempo! A nerd disse de repente. Por um instante achei que falar nada com nada era a nova moda. Não entendi! Disse com um sorriso irónico. — Acho que era isso que seu avo quis lhe dizer. Ao responder isso o onibus havia chegado, sentamos distantes um do outro e então pude refletir que o velho se comunicava comigo através da sua loucura. Quase como se fosse uma nova linguagem.
Algumas semanas mais tarde encontrei com a nerd nos corredores da escola, corri ate ela e perguntei se ela sabia quem era Tabea Maleh (sua avo). — Deixa eu adivinhar, este e nome da vez que seu avo diz?! Perguntou ela, como se estivesse se divertindo com isso. — Sim! Porém, fui pesquisar dessa vez, e nao encontro nenhum personagem ou autora com este nome. Disse quase que frustrado. — Talvez dessa vez seja alguem que ele conheceu. Disse ela. — Já pensei nisso, mas precisava de uma segunda opinião. — voce vai perguntar a ele quem e? Ela perguntou curiosa. — Nao, sempre que lhe pergunto algo ele se irrita, apenas minha mãe o compreende com muita paciência. E nem ela reconhece esses nomes. — Talvez voce esteja fazendo as perguntas erradas. Ela disse. — Temia que dissesse isso. Ele e um velho, nao um livro onde resolvemos enigmas. Respondi debochado. — O que são os livros? Perguntou-me. — Historias, respondi. Certo de que estava altura do jogo intelectual dela. Quem vivenciam essas historias para depois contá-las? — Os autores! Embora estivesse certo, senti meu nível de intelectualidade diminuir. — O que são os autores? Perguntou-me novamente, me guiando para o seu raciocínio. — São pessoas! Respondi sem muita firmeza, pois já imaginava para onde estávamos indo. — E seu avo e uma dela. A diferença e que algumas pessoas registram suas historias, alguns possuem dons que fazem essas historias serem um pedaço de nos também. Já outros nao possuem esse dom ou interesse, e levam preservado suas historias na memória. Fico imaginando, quantas histórias incríveis morreram antes de nascer. Seu avo e um livro vivo. Se quiser compreendê-lo tem que lê-lo, e a única saída. Cheque mate, me senti um idiota por nao gostar de livro. Era a primeira vez. Como uma nerd conseguiu me fazer sentir inferior a ela. Tudo isso porque reconhecia a razão na sua fala, mas era difícil admitir.
Certo dia, a nerd me viu passar pelos corredores e me disse: Tenho algo para ti. O que aquela garota poderia ter que a faca achar que me interessaria? — Ok, te vejo mais tarde. Respondi sem muita curiosidade. Mas pensei durante toda aula o que pudesse ser. Torcendo para que nao fosse um livro. Nao queria desaponta-la. Como fingir entusiasmo, mal me aproximei dela, e já percebi que no embrulho havia um livro. — Eu sei que nao nos falamos muito, mas a literatura espera por ti. Mesmo que nao leias logo, um dia pode chamar sua atenção. Há uma dedicatória dentro. — como poderia fazer uma dedicatória a mim sem me conhecer? — quando se presenteia alguém com um livro, já informação suficiente para se criar uma dedicatória. Espero que goste. Concluiu o assunto colocando os fones, sem ao menos esperar que eu respondesse.
(Criar uma dedicatória que o faca lembrar do pai. Assim ele cria estimulo para ler o livro)
Familiarizado com o e personagem da obra já era capaz de discutir o livro com sua nova amiga. Que entao expressou curiosidade uma inocente:
— Achas que seu avô teve a vida igual a de Mr. Fogg
—Não! Phileas Fogg viajou o mundo para provar sua teoria de viajar o mundo em 80 dias, o meu avô viajou o mundo como estilo de vida.
—Intrigante. Será que há fotos, ou algum registro dele viajando por ai?
—Por que tanto interesse em meu avô?
— você acabou de o torná-lo mais intrigante que Phileas Fogg. Que apaixonado por historia não se interessaria pela historias da vida de outra pessoa? Ainda mais as que viveram pelo mundo, livres, cheios de possibilidades.
— você não tem avô?
— tenho apenas um avô vivo. Este virou padre quando a esposa faleceu. Entregou-se ao celibato. O danado é um túmulo, nunca deixou escapar uma so fofoca que ouve nos confessionários.
— E o meu avô esta doente das memórias, quase louco. Seus pensamentos não estão em ordem.
— Podemos fazer disso algo excitante. Organizamos seus pensamentos. Faremos um scrap book do homem que viveu vagueando pelo mundo e de tanta beleza e loucura que viu por ai, enlouqueceu igual Dom quixote. E nos somos os historiadores que devemos registrar essa aventura, para que todos se lembrem do homem que foi livre como um pássaro, aproveitando dessa condição voou alto, voou baixo, voou em círculos. Voou longe, voo, porque descobriu que a beleza da vida era voar.
— Não vou negar que você faz parecer excitante. Mas por onde a historiadora pensa em começar se mal conseguimos conversar com ele, sem que este se irrite.
— Isso é com você, vais perguntar a tua mãe sobre a vida do seu avô. E buscar por fotos, ou qualquer outro registro dessa historia. Só você pode dar o primeiro passo, para avançarmos na historia.
— Parece fácil até agora. Falarei contigo quando descobrir algo.
— E o que vais ler agora?
— Como assim?
— Julio Verne não o instigou para conheceres outros autores?
— Vou aguardar uma segunda pista. Lerei o que ele leu. Assim posso me familiarizar melhor com os nomes aleatórios.
— boa sorte!
Eram muitos desencontros com minha mãe durante a semana que fui direto para exploracao territorial do velho. O quarto era pequeno o suficiente para que a presença dele ocupasse cada canto, ainda havia um banheiro próprio no quarto tão minúsculo quanto o quarto, cumpria bem sua função e servia perfeitamente a ele.
Enfeites, caixas, livros, lembranças e remédios, ficavam suspensos numa prateleira sobre a cama, a cabeceira ao lado da porta e próximo ao banheiro também , qualquer ruído desta, o velho acordava, isso se estivesse dormindo, mas me parecia que ele nunca dormia ou apenas o fazia quando não estávamos em casa.
Desde que havia chegado na casa nossa interação tem sido minima, minha mãe cuidava da parte mais pessoal, e Aline, uma brasileira jovem, que depois da morte do avô, descobriu a paixão pelos cuidados aos velhinhos. Se especializou na area e hoje tem o melhor preço do mercado. Sem ambições leva a vida leve, e é feliz no seu próprio mundo.
Muitas vezes percebia qual era a dela, apenas trabalhava de fato quando meu avô tinha que tomar os remédios, depois o trabalho tornava-se apenas em estar aqui para previnir qualquer loucura. Não me importava com a presença dela, e interagíamos apenas com os necessários, bom dia e boa tarde.
Aproveitei o momento em que Aline se distraia com seu telemóvel, e meu avô parecia estar tomando banho. Me aproximei da porta do seu quarto, analisei tudo que la havia. Sem saber bem o que eu estava buscando
Percorri os olhos pela prateleira e li alguns dos títulos dos livros e reconheci a obra de Julio Verne que tanto se falou nos últimos dias. Cem anos de solidão. Me perguntei se era assim que meu avô se sentia. A sombra do vento, por um instante questionei esse título, mas ignorei logo, metáforas nunca foram o meu forte. Eu procurava mesmo por diários, cadernos rabiscados, isso seria uma ótima pista. Ainda conseguia controlar a ansiedade pois o chuveiro jorrava, era possível ouvir o som da água que intercedido pelo corpo ate cair ao chão. Ainda tinha tempo.
Entre todos esses livros não havia nenhuma informação pertinente, mas memorizei os títulos, para ver se a garota os conheciam. Ao lado dos livros que eram sustentado em pé por dois calhamaços, um em cada ponta. O da ponta esquerda era Dom Quixote, me lembro de ter ouvido sobre este personagem em algum lugar, mas ignorei logo ao notar um porta retrato do velho, ainda jovem, boiando numa câmara de pneu de caminhão, porem, todo o resto da foto, era apenas um mar verde, como só se vê em filmes, nem outra pista, poderia ser qualquer lugar do mundo. Parecia feliz, estava completamente bronzeado, quase irreconhecível.
Quantos momentos incríveis deve ter tido na vida perguntei-me. E hoje, apenas alguns destes momentos se resumem em fotos, porque nem na memória existe mais. Não pude refletir na época, mas hoje percebo: não há passado, não há futuro, apenas a vida acontecendo neste instante. O primeiro pode esvanecer no tempo, e o outro, pode nem chegar.
Deixei o retrato onde estava, e no silêncio da minha reflexão notei que o chuveiro havia parado de trabalhar. Quando virei-me para porta do banheiro, perplexo o velho me encarava. Senti um calafrio, e balbuciei até encontrar as palavras corretas. Ele ainda me encarava como se quisesse entender como pude ir tão longe ao ponto de mexer nas suas coisas.
— O que você quer aqui? Perguntou ele confuso.
— Nad... nada! Estava apenas procurando por novos livros para ler, e notei que o senhor tem aqui alguns interessantes...
— E qual desses te interessou mais?
— A Sombra do vento pareceu-me um título curioso.
— Este foi o primeiro livro que li. Tornou-se o meu livro preferido, assim como o autor.
— Pensei que tivesse dificuldades em se lembrar do passado.
— Ainda sou capaz de me lembrar das coisas que me tocaram a alma.
Nem tive tempo de abrir a caixa misteriosa e sai do quarto, evergonhado por ter sido flagrado.
Cheguei quase sem folego no meu quarto, de tomanho susto que levei...
Antes disso,fui ao quarto do velho, era o quarto de serviço, era pequeno com um banheiro dentro, uma cama de viuvo e um armário já ocupara todo o quarto, o resto das coisas ficavam suspensas em prateleiras ao redor do minúsculo quarto. Haviam muitos livros velhos, algumas caixas que me faziam suspeitar do que guardavam. A cama sempre bagunçada, porem sempre com aspecto aconchegante, tive vontade de deitar ali quando a via vazia.
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