dos delírios de uma traumada (e direto do baú dos documentos do word):
Eu vou ser pai – ele disse esperando uma reação dela.
- Eu soube – ela suspirou e o encarou.
- Você não vai nem fingir que está feliz por mim? – ele perguntou irônico. Ela olhou pra baixo, encarando a mesa gasta e suja do restaurante e voltou a olhar nos olhos dele com um sorriso de canto nos lábios.
- Eu estou feliz por você – ele virou os olhos descrente – Vamos lá, Poncho, eu não sou tão amargurada assim, você me conhece – ela riu de leve e segurou as mãos dele – Eu estou verdadeiramente feliz por você – reafirmou séria olhando dentro dos seus olhos.
Fez-se então um silêncio. Não pensem mal da Anahi. Ela era madura o suficiente pra poder saber separar as coisas. O coração dela de fato era uma bagunça, apenas um reflexo de como estava a vida dela nesse momento, mas ela amava aquele cara na frente dela, amava acima de qualquer suposta paixão ou briga e ele ia ser pai! De fato doía pensar que a mãe daquela criança seria outra mulher, mas ela mesmo queria ser mãe, sabia o quão grandiosa aquela notícia era, sabia que não podia ignorar aquele acontecimento.
- Obrigado - ele agradeceu depois de alguns segundos em silêncio - Significa muito pra mim ter o seu apoio - disse fazendo um carinho nas mãos deles ainda entrelaçadas.
- Você vai ser um pai incrível, Poncho - ela sorriu.
- Eu espero - ele entortou a boca fazendo uma careta - Eu destruí os sonhos das Traumadas - ele brincou, tentando amenizar um pouco a tensão que os envolvia.
- Oh, se destruiu! – ela riu tirando os cabelos do rosto e voltou a olhá-lo - Eu recebi inúmeras mensagens indignadas no dia, além de diversas montagens e vídeos nossos.
Novamente o silêncio. Quando foi que a relação deles tinha chegado àquele ponto?
- Você é feliz? - ele perguntou após alguns minutos, pegando ela de surpresa.
- Mas é claro! - ela afirmou rapidamente, notoriamente desconfortável - Que tipo de pergunta é essa? - Anahi questionou um pouco nervosa.
Poncho recostou na cadeira desentrelaçando suas mãos e passando os olhos pelo restaurante pensativo.
- Você não precisa atuar pra mim – voltou a encará-la, avaliando suas reações.
- Eu não estou atuando – ela disse agora com um pouco de irritação na voz.
Quem ele pensava que era, ela mentalmente se questionava.
- Eu apenas me importo, Any – ele continuou, calmo, vendo até aonde aquilo iria.
- Você se importa?! – ela riu amarga - Quem você pensa que é? – Anahi exclamou, externalizando o pensamento de alguns instantes antes.
- Você precisa mesmo que eu diga? – ele questionou rindo.
- Vamos lá, eu quero ouvir! – ela instigou raivosa –Vamos lá, Alfonso. Me diga!
- Eu sou o seu “felizes para sempre”, Anahi. – ele disse tranquilo – Assim como você é o meu. Elas sempre estiveram certas, afinal.
Isso a desarmou por completo. A garganta de Anahi estava seca, seu coração martelava estrondosamente em seu peito.
- Você não tem o direito – ela sussurrou o encarando, tentando conter as lágrimas – Você não tem o direito de me dizer isso agora.
- Sim, eu tenho. – ele se manteve firme sustentando seu olhar – Porque uma coisa sou eu ferrar a sua vida e você ferrar a minha, outra bem diferente é uma terceira pessoa fazer isso. E é isso que aquele filho da puta tá fazendo com você.
Não se enganem, Poncho também tentava conter suas emoções o máximo possível. Imaginem o quão custoso pra ele, o senhor todo orgulhoso, foi colocar em palavras que, assim como ela precisava dele, ele também precisava dela.
Duas lágrimas escaparam pelo rosto de Anahi.
- Nós somos tão fodidos – ela suspirou – Olhe só pra nós, em um restaurante qualquer, infelizes com as nossas vidas. Eu casada com um cara que não gosta nem de me abraçar – ela disse amarga – você namorando a mãe de um filho que você não planejava ter.
- Não planejava, mas vou ter e eu já o amo incondicionalmente – Poncho ressaltou.
- Eu sei – ela sorriu de canto o olhando – você vai ser um pai incrível, eu já te disse.
Eles voltaram a entrelaçar suas mãos e se encararam por um tempo em silêncio.
- É só que... – Any hesitou – Eu não consigo enxergar um felizes para sempre pra nós assim – ela confessou desacreditada.
Poncho levou as duas mãos da Anahi aos seus lábios e depositou alguns beijos ali. Ele não precisava responder isso, ela sabia que ele não tinha uma solução para as suas vidas naquele momento. Ela sabia que não era uma novela na qual tudo se resolveria nos capítulos seguintes. Aquilo era vida real e o futuro parecia pouco promissor para aquele casal.
- Nós devíamos ter escutado aquelas pentelhas desde o início – Poncho disse de forma descontraída fazendo Anahi rir.
- Eu gostaria de poder mandar uma mensagem pra elas agora dizendo como sempre estiveram certas.
- Manda! – ele incentivou, travesso.
- O que? – ela questionou, surpresa – Poncho, você tá maluco? – ela riu ainda descrente.
- Vamos inventar algo subliminar – ele sugeriu divertido – nós sempre fomos bons nisso e elas sempre foram boas em matar a maioria das charadas, e viajar em algumas outras nada a ver também – ele disse rindo.
- Eu não acredito que estou escutando isso de você!
De repente a conversa se tornou leve, gostosa, descontraída e eles ficaram minutos ali naquela mesa se divertindo e tentando criar mensagens subliminares para postarem em suas redes sociais.
- Que tal eu postar “Si dices que si” e você “Si digo que si”? – ela sugeriu e ele gargalhou.
- Aonde está a mensagem subliminar aí, Anahi? Seria o mesmo que você postar um “eu te amo” e eu postar um “eu também”. – continuou rindo e ela fechou a cara. Isso até eles perceberem o que havia sido dito ali. Não se engane, eles tinham consciência do que sentiam um pelo outro, mas aquelas palavras ditas em voz alta tornavam aquilo muito mais real. O coração de Anahi parecia querer sair pela boca e Poncho não conseguia parar de encará-la.
- Não seria mentira. – ele disse e ela confirmou com um aceno de cabeça, sorrindo triste. Anahi respirou fundo e prendeu o ar em seus pulmões até sentir a necessidade de respirar de novo, liberando tudo com uma golfada de ar.
- Ok, então, senhor das mensagens subliminares, faça melhor – o desafiou. Era isso. Eles se amavam, eles sabiam que se amavam, mas não havia muito a ser feito naquele momento. Nada bom sairia daquele amor enquanto ele fosse só amor. Poncho semicerrou os olhos a encarando e começou a pensar em algo que pudessem postar.
- Já sei!!! – Poncho exclamou animado após alguns instantes.
- O que? – Anahi perguntou emburrada sabendo que a ideia provavelmente era ótima e que ela tinha perdido essa. Ele riu do bico que ela fez e teve vontade de beija-la, como várias outras vezes ao longo daquela noite.
- Que tal se você postar “Gatitas, decribanse en una canción” e eu postar “Amolala”?
- Ok, a charada do que eu postaria eu já matei, Live In Holiwood em Así Soy Yo. Agora, “Amolala”, Poncho? – ela fez uma careta – De onde você tirou isso? – ele sorriu vitorioso.
- Parece que alguém precisa tomar umas aulinhas com algumas tramadas – ele a pirraçou.
- Diz logo! – ela revirou os olhos irritadiça.
- Você se lembra de um vídeo do RBD em que eu estou gravando todos se arrumando no camarim e você está de frente pro espelho passando lápis nos olhos? – tentou.
- Mas é claro... – ele sorriu - ...que não! – ela exclamou e foi vez dele revirar os olhos. – Poncho você fez isso inúmeras vezes! Vamos pensar em outra coisa – ela sugeriu sem paciência.
- Certo, mas eu tenho certeza que elas entenderiam – resmungou contrariado fazendo Anahi rir.
- Talvez a gente não precise postar nada – ela apaziguou, tranquila – talvez esse sempre tenha sido o diferencial das nossas fãs. Elas nunca precisaram de confirmação alguma, elas sempre souberam ver muito além do que os outros eram capazes. Elas sabem, Poncho.
- Eu queria poder te beijar agora – ele disse sorrindo encantado enquanto encarava ela.
Não, eles não se beijaram. A noite terminou tranquila, entre conversas e risadas leves. De pesado já bastava o coração dos dois.
História fictícia.
2016, Todos os direito reservados ©
0 notes