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vitorsl · 7 years
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Inocência das Memórias
Innocence of Memories. Documentário. Reino Unido, 2015.
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O escritor Orham Pamuk, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2006, visitando os museus pelo mundo, sempre achou que os mais modestos seriam ideias para a criação de um romance. Assim nasceu o “Museu da Inocência”. O livro conta a história de um personagem que se apaixona perdidamente. Mesmo casado, não esquece o amor de outrora.
A paixão se torna obsessão e ele passa a colecionar todo e qualquer objeto que fora tocado pela tal mulher. Juntou tanta coisa que, ao final de tudo, criou um museu. O “Museu da Inocência” realmente existe em Istambul. Pamuk queria que os leitores tivessem essa experiência do próprio lugar relatado na ficção. Uma das imagens mais icônicas é uma coleção de guimbas de cigarro.
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No filme há o acréscimo de uma terceira camada de realidade, elevando o jogo à terceira potência. Ayla, uma das personagens do livro, é também uma das personagens do filme e relata em primeira pessoa os principais acontecimentos, como testemunha que foi da vida de Kemal, o protagonista.
A câmera, como um flanêur, percorre as ruas noturnas da cidade. A noite é, afinal território dos sonhos, das memórias que ganham vida. As vias estão quase sempre vazias, como se a própria cidade não passasse de um objeto a mais do Museu. As figuras humanas são esparsas, silhuetadas pela atmosfera noir. Como se fossem fotografias tiradas em tempo expandido. Apenas alguns cães alados habitam aquelas calçadas.
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Acompanhamos o filme como se estivéssemos lendo a própria obra do escritor, cuja voz narra trechos do livro (ou caminhamos pelas ruas como se virássemos páginas e vice versa). A própria imagem do livro, como objeto, costura a narrativa, iluminado por uma projeção onírica.
Uma entrevista do autor aparece vez ou outra em TVs, sintonizadas para ninguém: em uma vitrine de loja, em uma cabine de rua, na sala vazia de uma casa. O real habita a ficção da mesma forma que a ficção se torna presente na realidade. “O quanto de memória e ficção havia no livro? Tudo realmente aconteceu? O que foi inventado?”, se pergunta Ayla.
No decorrer da andança aparecem outros personagens da história: um taxista, um fotógrafo, um operário da barca, uma atriz, um catador de sucata. Todos discorrem sobre sua relação com a noite em Istambul.
“Inocência das Memórias”, dirigido por Grant Gee, é um intrigante documentário sobre uma ficção. E, portanto, se vale de elementos de ambos os gêneros para criar um palimpsesto de memórias — reais ou não.
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vitorsl · 7 years
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Notas sobre a cegueira
Notes on Blindness. Documentário. Reino Unido, França, 2016.
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Antigamente, antes de existir a captação de som direto no cinema, as cenas eram filmadas e a voz era acrescentada na pós-produção. Os filmes eram dublados pelos próprios atores. A premissa deste documentário inverte o jogo. A partir de gravações sonoras é que o filme foi concebido. As falas dos atores foram todas feitas em lip sync. As vozes originais são de John Hill e sua mulher, em sua maioria. Ele relata a experiência real de tornar-se cego, devido uma doença degenerativa que o cometeu desde muito novo.
Nesse sentido, é muito interessante que enquanto a banda sonora do filme é documental, as imagens são todas ficção. Todas as vozes são preexistentes à realização do documentário. Cada cena foi construída de maneira tão delicada quanto à voz do personagem. Alguns takes transpiram poesia. Os recursos visuais utilizados pelos diretores (Peter Middleton e James Spinney) estão em harmonia à condição de Hill. A fotografia, ora míope, ora hipermétrope, encadeia sombras e luzes.
Entre a janela de vidro e a cortina translúcida passeia seu filho, passando a mão pelo tecido, não deixando que ela se abra. Só vemos a sua sombra; A sombra de uma árvore dança sobre a parede de madeira; Os raios coloridos formados por um pendente de cristal toma conta da tela; O alto de uma cúpula nos lembra um olho. Essas são algumas das referências poético-visuais ao ver-não ver.
Mesmo sem enxergar, ele continuava usando óculos e um relógio no braço esquerdo. Ao ser defrontado com essa questão, ele mesmo não sabe explicar o porquê.
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O poder da audição é explorado em cenas como a que John observa a chuva. Os sons dos pingos caindo e batendo nas coisas cria uma espacialidade sonora até então desconhecida. Lamenta não haver chuva no interior da casa. Assim, reconheceria melhor a localização de cada objeto. Ou então quando ele vai deixar um dos filhos na escola. Após se despedirem, ambos vão dizendo “tchau” um ao outro até que a fala de um deles desapareça pela distância.
A memória, até então visual, também vai se perdendo. Já não sabe mais o que é/foi realidade e o que é nostalgia. Ao visitar sua casa antiga em Melbourne, John não se lembra mais dela. “Você estava desaparecendo em um mundo em que eu não podia seguir”, diz a sua esposa. “Devo arranhar meus olhos e me juntar a esse mundo?”.
O lirismo e a poesia do documentário ocultam qualquer angústia que o tema possa suscitar. Para ver e ouvir.
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vitorsl · 8 years
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vc vive pra quê? pra quem?
as bolhas estão por aí
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vitorsl · 10 years
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Aqueles momentos
Se você fica bem perto
Eu falo devagar
Se você me olha de longe
Eu tento gritar
Ah ah ah
Quando você me diz que não dá mais
Quando eu fico, você já não vem mais
Mas de nada importa
Tudo está melhor de ver
E de sentir
E de cantar
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vitorsl · 11 years
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A fotografia continua inspirando a pintura
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Not everybody finds anything special with blurry and out-of-focus shots, but Alexandra Pacula found it a perfect way to illustrate how cities are bustling with life and activity. The New York-based Polish artist has recently unveiled a new set of paintings for a solo show, some of which you can take a look at after the jump! - http://bit.ly/18PfatW
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vitorsl · 11 years
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Falaria
Falaria sobre pessoas que não param de falar. Falaria sobre quando canso de falar. Falaria sobre quando canso de ouvir.
Falaria sobre minhas recentes insônias tentando desvendar suas possíveis causas e consequências. Falaria sobre o prazer de não ter hora para dormir e a agonia de ver que acordei depois do meio-dia e sentir que perdi o dia. Falaria sobre a preguiça de dormir e a preguiça de acordar.
Falaria sobre o que realmente me motiva ao planejar documentários. Falaria sobre minha preguiça de ir ao cinema ou mesmo de assistir um filme na TV. Falaria sobre a fantástica maneira de ser de um documentário não-tradicional.
Falaria sobre minha calma forçada durante discussões inócuas. Falaria sobre as discussões gratuitas da vida de um casal. Falaria sobre as definições de “inócua” e “gratuitas”.
Falaria sobre aquele parente inconveniente que comentou na foto do Facebook. Falaria sobre o prazer de conversar com a minha mãe no chat do Facebook, através do perfil de uma amiga sua. Falaria sobre a tia que não vejo há um mês e que nem sinto tanta falta disso.
Falaria sobre saudades, lembranças e projetos. Falaria sobre tanta, tanta coisa, inclusive sobre o tempo que fiquei sem publicar por aqui. Mas vou ter que dormir.
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vitorsl · 11 years
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Saída fotográfica
Parecia um grande mercadão. Mistura de barracas e casas. Stands improvisados e quartos dividiam o mesmo espaço. Era dia, mas o seu interior deixava passar muito pouco da luz do sol. A maioria das poucas frestas eram coloridas - vermelho, amarelo e azul predominavam e criavam quase uma atmosfera de espetáculo, ajudadas pela leve poeira do lugar. Saímos para fotografar. Tínhamos só mais um dia lá e eu não queria perder essas imagens. Coloquei a tele na câmera e fui. Via situações dignas de um enquadramento, apontava, disparava e conferia no lcd. Após alguns cliques comecei a reparar que o que a câmera mostrava como registrado não era aquilo que eu tinha planejado. E não eram erros de luz ou de foco. O enquadramento era completamente diferente do que eu havia feito. O mais impressionante, porém, eram as pessoas: nenhuma delas estava realmente ali, naquele momento, naquela posição. Decidi então que as próximas fotos eu tiraria com o visualizador ligado - não mais utilizando o viewfinder, mas o próprio lcd. Quando apontei e liguei a telinha, para a minha surpresa, não era aquele cenário que estava aparecendo. Era outra coisa. Outra parede, outros rostos. Mas essas cenas eram fugazes e logo o lcd voltava a mostrar a imagem "real". Mas se o monitor foi criado justamente para mostrar o "visível" ao vivo, ali, do mesmo jeito que meus olhos estavam vendo, de onde estariam vindo aquelas imagens. Do além? Espíritos desencarnados estavam se manifestando ali, como se estivessem dizendo "não queremos que você fotografe este lugar"? Nã me acomodei e decidi continuar minha saga. Entrei num quarto com 4 ou 5 camas ocupadas por senhoras idosas, que pareciam estar bem doentes. Escuro, o ambiente era iluminado apenas por uma instalação em uma das paredes de ripas de madeira pintadas de azul claro. Centenas de papéis com imagens de santos - muitos deles repetidos - ocupavam uma parede inteira. Entrepassados por eles, uns jogos de luzes estilo pisca-pisca de cor branca formavam uma figura geométrica irregular. Haviam umas velas acesas também. As velhinhas rezavam segurando terços compridos nas mãos. Peguei as mãos de uma delas, que parecia a minha tia-avó, que sepre foi muito religiosa e muito querida. Liguei a câmera e o lcd, e novamente vieram imagens para as quais eu não tinha controle. A câmera, embora apontada para o chão e sem estar na função "play", mostrava imagens em movimento e rostos desconhecidos.nenhuma imagem "real" conseguia ser captada ali. Estava uma luz forte lá fora. A grama era muito verde. Após alguns passos em linha reta, dobramos à esquerda, circundando uma antiga taberna. Nas paredes, caixas de insetos mortos. Moscas, formigas e pequenas libélulas, nada demais. No balcão, um homem que aparentava uns 40 anos segurava um pincel, cuja ponta estava imersa em um pequeno recipiente contendo um líquido incolor. Ele tirava dali e passava levemente em um tecido branco. As curtas pinceladas resultavam em pontos e traços pretos, que lembravam as centenas de artrópodes que ali jaziam. Andamos mais um pouco e passamos por várias árvores. Quando estávamos prestes a sair por um portão de madeira mal-cuidado, uma névoa psicodélica tomou conta do lugar, como um filtro do Instagram natural, in locus. As tonalidades iam do verde, à esquerda ao ocre, à direita, com pequenas variações gradativas de rosa, roxo e amarelo. Comecei a clicar no disparador freneticamente. Jamais eu teria uma experiência como aquelas novamente. Parecia que haviam adicionado uma layer de transparência em Multiply onde tudo ganhava uma saturação incrível e surreal. Felicidade visual. Clicava sem nem olhar mais para o viewfinder ou para o lcd. E alguns pontos o sol incidia de uma forma que ocasionava um contraste perfeito entre as formas. Mas precisávamos ir embora.
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vitorsl · 11 years
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vitorsl · 11 years
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vitorsl · 11 years
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vitorsl · 11 years
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Quantas pessoas, neste momento, estão ouvindo a mesma música que você?
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vitorsl · 11 years
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vitorsl · 11 years
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Musiquinha pro findi
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vitorsl · 12 years
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O gosto depende muito do que você pensa que está comendo.
Paul Bloom, durante o TEDTalks - Bravo mundo neural
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vitorsl · 12 years
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Vida e morte de Marina Abramovic segundo Bob Wilson
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Marina Abramovic, Bob Wilson, William Dafoe e Antony Hegarty. Não é todo mundo que conhece o trabalho desses quatro, mas os que conhecem são capazes de armar uma sessão disputadíssima de um filme que tem os quatro no elenco. Muita gente do meio das artes visuais, é verdade, mas mesmo assim fiquei surpreso ao chegar no IMS e ver umas 20 pessoas brigando por um ingresso na porta - segundo boatos, haviam sobrado poucos.
O documentário trata dos bastidores do espetáculo "Vida e morte de Marina Abramovic", dirigido pelo cultuado Bob, a pedido da própria Marina. No início ela fala sobre a tensão que existe entre a performance e o teatro. "O performer é o maior inimigo do teatro", onde tudo é falso: as emoções, o sangue, a faca. E nesse sentido é interessante constatar que a decisão sobre uma peça teatral partiu dela própria. Obviamente que em se tratando de Abramovic e Wilson, não seria nada convencional.
O diretor é conhecido por sua limpeza física: os gestos medidos e controlados, o corpo como escultura. Sua estética é bem marcada, extravagante. Seu teatro, como ele mesmo afirma, não é de cunho naturalista e psicológico, é esteta, imagético, um teatro da imagem.
Antony Hegarty e William Dafoe são um espetáculo à parte. Hegarty, com suas canções intimistas, líricas e Dafoe com sua interpretação forte e mutante, compõem uma verdadeira ópera. Tudo assistido serenamente pela Abramovic, que também participa como uma personagem silenciosa - em determinado momento chega a fazer o papel da própria mãe, com quem viveu uma infância complicada.
Quem for assistir pensando que é um doc sobre Marina Abramovic vai se decepcionar; é sobre o espetáculo teatral que conta a sua vida. Óbvio que, por isso, todos vão falar sobre ela, mas o filme também perpassa o processo criativo de Bob, Antony e William. Ao final das contas é um doc que tem mais mérito pelo espetáculo que registra. As entrevistas preenchem boa parte, mas as cenas da peça ganham a maior parte do filme, para deleite dos fãs desse quarteto. 
Próximas exibições: SAB (6/10), 17h e 22h no Estação Sesc Rio 1 
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vitorsl · 12 years
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Moonrise Kingdom
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Wes Anderson não era muito fresco em minha memória, mas ele fez, entre outros, "O Fantástico Mr. Fox", "A Vida vida marinha com Steve Zissou" e "Os excêntricos Tenembaums", o único que eu já tinha visto. O trabalho de direção de arte é tão primoroso que nos primeiros segundos pensei estar diante de uma animação - a projeção no Estação Sesc Botafogo, no entanto, estava horrível, meio apagada.
A história é fantástica em todos os sentidos, e gira em torno da fuga de uma garota e um escoteiro - ela foge de casa, e ele, do acampamento. A primeira, porque se vê como uma menina problemática para os pais, e o segundo porque ninguém gosta dele, e quando foge, nem os pais adotivos o querem de volta. Uma melancolia cômica.
Cores fortes, fotografia simétrica, um narrador-personagem que aparece de vez em quando, como um apresentador de documentário. Vários elementos contribuem para uma forte semelhança com o cinema de Tim Burton, principalmente "O Peixe Grande". Em alguns momentos, porém, os efeitos especiais parecem forçados, como se não tivessem sido devidamente tratados na pós-produção (como na cena da enchente e na explosão da torre da igreja). Mas penso também que o "tosco" tenha sido proposital, devido o sarcasmo do roteiro, do início ao fim.
É daqueles filmes pra comprar, guardar, e ver sempre que puder!
Próximas sessões: TER (2/10), 14h e 19h, no Kinoplex Leblon 4 QUI (4/10), 15h e 21h40, no Estação Vivo Gávea 5 
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