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julysluma · 4 months
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A felicidade não é direito. É conquista. Privilegiados aqueles que podem apenas sentir alegria, coitados daqueles que estão fadados a sentir as dores do mundo. A empatia é virtude para quem assiste, para quem a possui é maldição. Só empatas sabem o que é ter a faísca da alegria roubada antes que se torne chama, assistir aos fracassos alheios enquanto furtam suas conquistas e alegrias pessoais. Antes mesmo que a centelha brilhe com fulgor, o breu do outro engole a luzinha fraca que teima em acender.
Em mais uma noite de insônia me pergunto como ser gentil com a dor do outro sem que as fincadas latejem em mim, como viver minhas alegrias sem desprezar as tristezas de outrem? Por fim percebo: a felicidade não é direito, é conquista. Talvez a conquiste quando curar as mazelas do mundo.
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julysluma · 6 months
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Amar é possuir e ser amado é pertencer. Quando nem mesmo a solidão me abraça, me pergunto qual é o sentido de tudo, se não há o pertencimento. Existe razão de ser se não se pertence a alguém? Pois eu digo que minha vida tem sido estar presente onde não se faz falta, comparecer e quiçá ser notado. Presa em um vazio, uma escuridão infinita, da qual é impossível escapar. Mesmo que pudesse correr, que minhas pernas não pesassem e minha força retornasse. Mesmo que as vozes silenciassem e me pusesse a correr sem parar, por anos a fio, jamais alcançaria a luz, pois ela jamais existiu. Sempre estive condenada ao breu, e todas as luzes que acendi eram somente lascas de velas em campo aberto. A imensidão pode ser calmaria, como também tormento. O infinito pode ser paz como também tortura. Um dia, quando não restarem mais forças para sequer se arrastar vagarosamente, quando não houver mais restos de velas para serem acesas e a escuridão e o cansaço forem completos, o que será de mim? A eternidade será de paz ou tormento, o infinito guarda descanso ou tortura?
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julysluma · 7 months
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Eu só queria dormir, mas o carrasco não deixa.
Já é madrugada, mas ainda está adicionando lembranças ao moedor. Algumas memórias, de tanto serem trituradas, compactaram-se em um bolo só. Mas ele ainda não está contente, recolhe o produto do seu trabalho, e remói mais uma vez.
Eu só queria dormir.
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julysluma · 7 months
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julysluma · 7 months
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bom era antes
No cair da noite de verão, quando vão chegando, com passos lentos de uma velha cansada, lembranças de infância, recordo dias mais fáceis, aqueles que costumamos chamar de "quando eu era feliz e não sabia". Será que dá pra ser feliz e saber? Será que é saudosismo ou quanto mais o tempo passa, e mais velhos ficamos, menos felicidade nos sobra? Sobra. Tá aí, acho que a felicidade que carrego é somente uma sobra, o que restou, o que não conseguiram me arrancar. Ainda. Será que tem como repor felicidade como arroz e feijão que se compra no mercado? Ou terei de poupar esse pouquinho para garantir que não morra totalmente infeliz? Será que felicidade gasta? E se gasta, será que recarrega? Às vezes parece que quanto mais velha fico, mais demora para recarregar minha felicidade. Bom mesmo era antes, quando eu andava de bicicleta em noites abafadas, com o ouvido espichado para ouvir a conversa dos adultos e as histórias da minha avó. Bom mesmo era antes, quando aos domingos a gente se enfeitava e ia à praça trocar olhares e risinhos com os meninos para os quais olhávamos a semana inteira. Bom mesmo era antes, quando eu mal esperava o amanhã, e sonhava com o que tenho hoje. Talvez amanhã o hoje seja bom.
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julysluma · 8 months
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Eu gosto de céu laranja e café preto
de abraço apertado e risada solta,
cama quente e travesseiro gelado,
decisões rápidas e conversas longas,
de falar sobre a vida,
e de pensar sobre a morte.
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julysluma · 8 months
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julysluma · 8 months
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às vezes me sinto
flutuando no espaço
sozinha
um cosmos inteiro
de pensamentos inquietos
a deriva
no vácuo dos silêncios
no vácuo do barulho
flutuo sem rumo
como alguém deixada no oceano
sem saber nadar
como alguém no fundo do mar
me afogo.
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julysluma · 9 months
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Como em uma viagem, em que se passa por diversas cidades desconhecidas até se chegar ao destino pretendido, assisti a diversas pessoas passando, momentaneamente, pelas janelas da minha vida.
Eram caminho,
trajeto,
não destino.
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julysluma · 11 months
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Em uma cidade cinza e vazia há uma menina sozinha, que se pergunta para onde foram as cores, e se desespera ao perceber que todos sumiram. Em uma cidade cinza há uma menina que se pergunta por que o céu não tem mais cor, e se desespera ao pensar que talvez o problema esteja nela e em seus olhos que não mais enxergam a beleza. Em uma cidade cinza há uma menina que depois de muito gritar, e se desesperar ao não ser socorrida, desistiu.
Em uma cidade não há mais ninguém.
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julysluma · 1 year
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hoje eu queria chorar as dores do mundo
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julysluma · 1 year
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julysluma · 1 year
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A vida às vezes precisa ser engolida, goela a baixo, como um pão velho e seco e só tendo café amargo para empurrar. Mas às vezes pode ser saboreada, como um bom vinho, que parece se acomodar na boca e deslizar para dentro com naturalidade.
Assim vou consumindo a vida, às vezes com café, outras vezes com vinho.
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julysluma · 1 year
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Às vezes eu queria ser uma criança encantada com um filhote de cachorro que acabou de adotar, ou um pássaro que canta sem motivo. Buscar por motivos faz com que percebamos que não existem, e o que é a vida sem motivos?
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julysluma · 1 year
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Às vezes quando estou aqui, impedida de sonhar, amarrada a uma realidade triste e melancólica, em que lamento o que ainda não vivi, sou obrigada a encarar o que vivi, mesmo aquilo que finjo não ter vivido. Todas as coisas que me aconteceram, todas as pessoas que me aconteceram, todas elas deixaram marcas.
Nem todas elas são bonitas.
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julysluma · 1 year
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julysluma · 2 years
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ainda posso ouvir tua voz, ver teu rosto, e até mesmo teu cheiro ainda posso sentir, como pode então não estar mais aqui?
te conto coisas em pensamento e às vezes até rio contigo, cuido do que deixastes como se fosse só um empréstimo, por hora, até que retornes, como pode então não mais retornar?
não posso tocar, mas posso sentir, porque sim, ainda estás aqui, dentro de mim e em cada riso, cheiro, imagem e lembrança.
não te amava, te amo, porque sim, ainda estás aqui: em cada parte de mim.
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