Tumgik
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foolishmistakes · 7 years
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DarkTrip - cap IX
parei e minha única reação é caminhar. A exaustão não me faz derrubar a espada. Caminho vendo o lago à frente sentindo o sangue escorrer pelo corpo. Foram tantos golpes em tantos corpos ambulantes, tantas explosões frias, tantos murros enervados, meu corpo simplesmente não aguenta mais, contudo não posso parar. Caminho com um único pensamento. Contando os passos, um a um, sinto a água fria e escura tocarem minhas pernas, sinto meu corpo afundar na água numa descida lenta até o fundo. Na mente muitos ossos a se partirem diante de meus movimentos, muitas mandíbulas abertas vindo em minha direção, muita raiva que não me pertence. Sinto um empuxo me levar mais pra fundo e pra frente. Não consigo mover meu corpo em qualquer direção que eu queira, Vejo somente um brilho surgir vez ou outra. Começo a me sufocar lentamente, a frente um globo de luz enorme a se aproximar. Sinto uma pancada que gira meu corpo para todos os lados, minhas mãos cansadas soltam a espada que rodopia próxima a mim. Percebo que tenho poucos instantes antes de puxar água ao invés de ar. Percebo o brilho ao meu lado em cada giro que dou nesse turbilhão. Cansado de esperar vim ao teu encontro. Cansado de te soltar vim te segurar um último instante. Estico meu braço dolorido ainda girando sem direção. Sinto o calor do brilho arder na pele, sinto teus dedos a tocarem os meus, sinto a lâmina rapidamente penetrando meu peito, empunhada pelo fluxo agitado dessas águas violentas. Ainda sinto teus dedos, enquanto solto o resto de ar e tudo escurece enquanto ainda sinto teus dedos, enquanto tudo escurece, sinto teus dedos e tudo escurece. Sinto teus dedos, água invadindo, calor dolorido no peito… teus dedos…
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foolishmistakes · 7 years
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DarkTrip - cap VIII
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caindo sem noção do fim, sinto o impacto n’água. Sua imagem se perde na confusão. Um brilho surge impedindo meu afundar, jogando-me para fora. Sou lançado num banco de areia sentindo meu corpo desligar. Abro os olhos, aperto os dedos percebendo o solo. Escuto o agitar de águas. Levanto lentamente vendo o frenesi do lago à frente. O som grave da força do conflito entre energia e águas, teimando em te envolver. A queda jogou você em um estado de êxtase liberando qualquer carga disponível como um guarda irritado defendendo seu reino. Sua vida em perigo ativou estados de super consciência, impedindo-a de absorver a queda. Impedindo-me de te alcançar. Olho em volta tentando encontrar uma forma de te acordar, mas nesses estados a realidade se deforma. Tudo pode vir a ocorrer, inclusive ficar assim para sempre. Começo a escutar estalos de ossos, gemidos mortais por perto. Olho novamente e percebo brilhos telúricos no cabelo de um Crápula¹, emanando o seu espírito destrutivo como faíscas. Vejo alguns corpos por perto e percebo o brilho de uma espada. “Antes de alcançar você, eu preciso continuar vivo”. Meu corpo reclama, mas corro sem pensar. Pego a espada sentindo o peso de sua lâmina mantendo o movimento, arrancando-a do corpo e do chão impulsiono-a circularmente direto no Crápula. Seus ossos se partem, destruo seu tórax, coluna, crânio. O brilho apaga-se dos seus cabelos espetados. Respiro por todo o esforço ainda escutando as águas tentando te engolir atrás de mim. Levanto a cabeça para frente contando incessantemente, um após o outro, gerando faíscas, vários, muitos, um por um, apresentando os dentes ao invasor, se apresentando para mim. “Hoje não é meu dia de sorte”. Sinto a espada, aperto-a na mão. Sinto um furor surgindo dentro. A energia da manopla ativa alguma coisa na lâmina, um auxilio inesperado a criar um brilho frio, iluminando meu caminho, numa corrida sem fim, brandindo uma espada sem nome, esmagando ossos com socos, empurrando-os com chutes, seus dedos tocando meus braços ininterruptos. Derrubo um vendo três mais a avançar. Derrubo outro vendo mandíbulas tentarem me rasgar. Faíscas de seus cabelos me atordoam enquanto ainda destroço seus corpos. São muitos, não parece ter fim. São muitos. Sinto um impacto na cabeça e a dor me causa desequilíbrio. Meu corpo atordoado ajoelha-se e uso a espada como apoio com as duas mãos. Ao tocar o chão com a lâmina percebo o tempo parar. Uma explosão fria surge além do meu corpo congelando num círculo todos os Crápulas sobre mim. Sinto sangue escorrer do meu crânio. O mundo gira parado. As águas roncam nervosas. Percebo meu corpo sofrer com a insistente permanência da dor. Com a insistente permanência do terror. Ainda não acabou. Minhas manoplas brilham um pouco mais destruindo a montanha de Crápulas sobre mim, destroçando-os. Meu corpo treme, estou suando sangue do esforço sobre humano. Não posso ceder. Não posso parar. Não posso perde-la. E se só me for permitido perecer soterrado por esses ossos, que seja após o último maldito Crápula desse inferno que avança sobre nossas vidas. Contudo, isso é ainda melhor do que minha existência sob o vácuo da tua ausência. Ao menos se você acordasse, eu não cogitaria mais em deflagrar um último golpe em meu peito.
¹.: Espécie de morto vivo; tipo: “ossos caminhantes”. Tendem a surgir de batalhas sangrentas ou maldições. São incansáveis emitindo um brilho dos seus cabelos espetados quando possuem. São os mais antigos do tipo. O nome Crápula surgiu por eles emitirem algumas vezes sons que lembram o termo.
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foolishmistakes · 7 years
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DarkTrip - cap VII
Tem algo errado. Mais fácil um tapa e aquele ‘acorda’ no susto. Divertido, às vezes. Vejo-me meio roxo, onde consigo perceber. Na minha mente fico com a sensação de que só gritei. E brandi alguma arma, como palavras entumecidas por uma dor constante, vivida no tédio daqueles lugares. O rosto turvo ainda me assombra enquanto meu braço pende para um abismo. Começo também a cogitar que a aparição ainda deixou seu rastro, tamanho a cratera ao meu lado. Olho estarrecido da profundidade. Seu estouro¹ ocasionou algum abalo no terreno; uma caverna, um escuro, terror ao recriar o desabamento, como um aperto no peito pela possibilidade de sua queda, já que ao meu lado estava. Contudo teu corpo pende preso pelo braço à manopla, temo usar de mais força e jogá-la, soltá-la e meu braço está dormente, meus dedos inexistentes, congelados. O braço direito trava-se ao solo, as rochas, ao sangue. Estaria acordada se segurando a mim? A luz não foi uma quebra, foi o delírio do estouro. Giro o corpo no terreno sem pensar sentindo meu ombro querer soltar e na dor seguro a beira com minha mão livre, solta do terreno, da âncora. Meu braço acorda da câimbra, meus dedos abrem-se sem alternativa, solto-me do solo, esticando a manopla no escuro. A sensação da queda e vazio. Sucumbindo-me ao silêncio, acordo no susto, do tempo, no espaço. Vendo brotar luz azul de teu corpo, vejo teu olhar assustado.
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foolishmistakes · 7 years
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mural da entrada - DarkTrip
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foolishmistakes · 7 years
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DarkTrip - cap VI
trigésimo dia, já não levanto da cama de feno. Nem ao menos uma partícula deste está fora de lugar. Não abro os olhos, sei que não enxergarei o estranho. Sei que estou ao teu lado lutando, deflagrando o golpe de espada sem ver na tua direção e tantos dias estão dentro dos pedaços dos segundos, estes pedaços. Morna ainda vence me controlando enquanto estou deitado. Mas ver agora é diferente, antes sentindo o corpo doído por tolices minhas em cantos estranhos. Quantos golpes já não acertei em irmãos de guerra e quantos já não tentei acertar… em você. Na queda de seu corpo, seu olhar tenso pra mim, impacto no chão, meu cerrar os punhos no martelo de guerra que houvera perdido, já sinto sua dor e como dói. Abro minha mandíbula sentindo o empuxo de uma cachoeira contra minha vontade e me pego fazendo o simples, lançando-o no ar em direção a direção alguma. Sinto que meu grito perde o fôlego como um vento a se desassociar de mim, deitando sobre ela, obsediando-a reitero o simples lançando minhas mãos em Morna puxo-a de volta. Sentindo-me acordando no quarto de outrora, esperando tu destruí-la enquanto agora ela me sufoca. Vou caindo, novamente nisto em que acordo morrendo. E já sem força percebo teu rosto surgir turvo por um turbilhão a brotar de ti. Morna percebe-se encurralada, enquanto tuas fagulhas de um azul profundo rasgam sua carcaça etérea. Respiro novamente sem abrir os olhos sentindo tuas mãos. Estamos pois no fim da batalha e creio que vencemos, mas na guerra nunca se vence. Sinto teu abraço deitado sobre terra e pedaços de corpos. Sinto você me calar com os lábios, justo quando tentei me desculpar. Bem vindo de volta, escuto.
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foolishmistakes · 7 years
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DarkTrip - cap IV
vejo-me sentado numa colina verde, mas é noite. A lua por entre as nuvens e o ar gelado. Minha cota de malha está inteira, não sei bem como. Olho insistentemente para longe sem ver de fato nada. Será que morri e não senti o golpe? Por perto uma presença antiga querendo me dizer alguma coisa, mas só alcançando algumas palavras que não me confortam, não consigo repeti-las. Agoniado procuro mas nada encontro e escuto com clareza: “volte”! Abro os olhos, estou caído sentindo meu corpo doer mais. Escuto os ossos movendo-se estranhamente e o som da lâmina batendo nas paredes. Ele está de pé ainda com a face destruída, consegui somente incapacitá-lo de me ver. Aproveito sua condição e me lanço sobre sua carcaça fétida derrubando-o sem piedade. Aproveito o impulso e agarro sua coluna esperando desta vez retirar esse desejo eterno pela morte ironicamente matando. Ele se retorce e por minhas próprias forças esmago suas vértebras podres. Jogo-me para trás quando ele para e pelos dedos um musgo escuro escorre. Não sei como consigo ver, está mais escuro que antes, está escuro e silencioso como nunca.
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foolishmistakes · 7 years
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DarkTrip - cap III
não sei ao certo quanto tempo fiquei desacordado e nem quanto tempo estou caminhando por aqui. Esse labirinto tem inscrições estranhas pelas paredes que nunca vi outrora. Tudo escuro novamente e aquele que gemia sumiu. Sinto o vento gelado passando por mim e só. Temo estar obsediado por alguma entidade a disfarçar-se de temor constante. Em certo ponto paro, escuto alguma coisa vindo à frente, som estranho rígido a se movimentar, estalando vez ou outra. Já escutei isso antes num descampado lotado de corpos destroçados por uma batalha sangrenta. Tento ver os olhos que brilham e confirmarei minhas dúvidas. Entretanto ele me percebe antes erguendo sua espada enferrujada correndo em minha direção. Alguém um dia habitou este corpo que agora é só ossos a dilacerar os desavisados. Defendo seu golpe com a manopla decidido a golpeá-lo com toda a força no crânio, já sabendo de antemão que ficarei desacordado por mais algum tempo e se isso não for suficiente serei fatiado em seguida. Meus músculos já doloridos inflamam por um ódio crescente que brota por dentro. Meu punho cerrado pulveriza os ossos do demônio. Seu elmo voa para dentro da escuridão amassado com o golpe. Sinto alívio enquanto meu corpo vai novamente ao chão.
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foolishmistakes · 7 years
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around
I want to be touched by your sight. Without any reason, waiting for the little moment when you come, stand in front of me and give me a kiss or a hug. I want to be around when you have a bad dream, not to explain anything, just to look at you and surround you with my arms. I want to know about you when I least expect it, being taken by surprise at any moment of the day. Because my world breaks when I’m not knowing how you are. I want to have a single motion when I’m deep inside my drama, surounded by my ghosts, alone in my depression. Feeling you here even when I seem to want to be alone, surrounded by figures that will not let me out. I want you very close, speaking softly, because you also want to be around with me
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foolishmistakes · 7 years
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II
Lancei meu corpo para fora do carro. Beira da estrada, tudo bastante verde e muita luz. Caio no barranco, até parece que despenco. A porta do carro está aberta, mas não olho. Levanto com dificuldade pelos matos altos tenho de usar as mãos para continuar. Não tem cerca aqui, meu carro está longe agora, não olho, não o veria. Cinquenta passos quase contados, vento gelado e sol tocando intenso na pele. Já não estou num descampado. Agora sombras, brilhos e rastros. Já não sei mais quantos passos adiante sem recordar do carro até que paro vendo uma casa antiga cercada por árvores velhas. Cheiro difícil  ao redor causando náuseas. Meus passos estão mais lentos. A porta da entrada entreabre sem barulho. Lá dentro está escuro. Janelas sujas, alguns vidros quebrados. Vejo no primeiro andar uma silhueta a surgir do escuro da janela aberta , ou estaria quebrada? Subo dois degraus, dois passos na varanda, cadeira quebrada ao lado, grave dos ventos pelas frestas, madeira do piso úmida, escura, folhas podres, não recordo de ter estado aqui antes, não parece ter tido alguém aqui em algum momento, passo pela porta sem fechá-la, mas ela fecha. Silêncio.
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foolishmistakes · 7 years
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I
Eu poderia sair da chuva, pensei. Capote ensopado, chapéu, bica d’água na aba. Luz de poste piscando sem ritmo, meus sapatos afogados. Água tocando minhas pernas imóveis. Som constante no telhado de metal lá no alto.
Um passo somente para o lado, pensei. Olho sem mover o crânio. Escorre muita água pelos dedos.
Capote horrível, penso eu, agora. Pés ainda sumidos n’água. Gotas enormes acertando todos os cantos.
Não parece que vai parar, insisto. Luz apaga. Somente o som das gotas monstruosas. Olhos fechando lento.
Alguém vai notar... cogito. Insisto, fico.
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foolishmistakes · 7 years
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DarkTrip - cap I
“fica bem” repete-se na mente. A princípio como um acorda, um alerta. Em seguida como um desejo para além de mim. Mas estou agora num prado longe, inquieto. Apertando com força o cabo do martelo enegrecido do suor. Olho pra distância, na mente repete-se que isso: é só meu. E estranho como me calo. No ar uma brisa fantasmagórica suspende-me nos pensamentos. Sinto um gelo estranho, como um conforto seco a apagar minha insistência. Sendo consumido por essa interferência que estranhamente aceito. Penso que talvez enviada pra mim de algum outro lugar em resposta ao meu desejo de que “esteja bem, também”. Vendo que muitas vezes houvera eu negado que poderia não estar mais só. Tendo hoje que afrontar a distância ao encalço desse tempo denso no ar. Percebo-me encriptando minhas ideias, envergonhado silencio… guardo do olhar o que escrevo.
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