A saída do labirinto
A vida era um enorme labirinto. Frio, escuro, e silenciosamente tenebroso.
Deus me fez nascer no centro e disse: 'Vai, anda, e procure a saída'.
Saí e caminhei em meio àquela gigante prisão de paredes mortas sem alegria ou sentido. Procurei, procurei, e quanto mais a saída eu procurava, mais labirinto eu encontrava. Cansei-me e disse: Não tem saída! E Deus respondeu-me: "Anda e procura!".Segui o caminho, mas já começava a achar que Deus não era algo real e que minha vida era andar perdido.
Encontrei outras pessoas, também perdidas. Mas elas não pareciam tão preocupadas quanto eu. Deus já havia falado com elas há muito tempo e tinham se esquecido de que viviam num labirinto. Eu lhas disse: A vida é um labirinto!Temos que achar a saída! - Elas me responderam: Do que você está falando? Não estou entendendo nada... - Tentei explicar mas redarguiram: Veja, eu não quero ficar andando por aí. Estou bem como estou! Tenho minhas ocupações, filhos, e sonhos por aqui. Não me encha mais com essa história. - Eu reparei bem e elas pareciam realmente felizes. Pareciam...
De fato no labirinto havia muitas coisas e pessoas. Ocupações, jogos, diversões, festas. Muitas eram as possibilidades, propósitos e objetivos ali dentro. Certo dia, cansado de andar e nada encontrar, vi uma festa acontecendo. Pensei: Por que não? ... Entreguei-me a farra a noite inteira e foi muito bom não se preocupar com quem eu era e onde eu estava.
Ao fim da festa, senti um amargo sabor de melancolia. Enquanto o lixo era recolhido e as coisas colocadas de volta no lugar, as paredes frias, escuras e silenciosas novamente se formaram à minha frente. Voltei a caminhar, lembrando da ordem que Deus havia me dado.
Mais alguns passos, e vi uma bela paisagem por uma janela. Não conseguia ver a paisagem com muita nitidez mas senti paz e plenitude emergindo do local. Imaginei que aquilo fosse o “lado de fora” do labirinto. Aquilo me deu forças e motivo para continuar...
Depois de muitos passos, achei uma proposta de emprego. Perguntei por que eu iria querer um emprego nesse lugar e responderam-me: Pra você conquistar um espaço mais confortável e seguro nesse local. - A principio não fazia sentido e isso não parecia ter nada relacionado com a ordem de Deus, mas eu via todos fazendo aquilo, e acreditando que era possível alcançar esse local “seguro e confortável”. Eles acreditavam nesse “lugar” muito mais do que eu acreditava na saída do labirinto. Não custa tentar.. - pensei.
Trabalhei por anos. Fiz amigos, me apaixonei, constitui família. Esqueci completamente da minha missão. Era como se ela não existisse mais e o labirinto na verdade fosse o palco de uma vida paralela.
Notei depois de muito tempo que a promessa que me fizeram não era lá aquelas coisas. Por mais sofisticada, confortável, bela e ornamentada que fosse determinada “classe” do labirinto que eu conquistava, continuava sendo nada mais que paredes mortas e tristes que me faziam ir e voltar às mesmas cenas todos os dias.
Certo dia, meus amigos se foram. Meu emprego não precisou mais de mim. Minha família morreu. Tudo perdeu o sentido. As paredes frias e tenebrosas novamente se formavam, trazendo de volta a cruel realidade. Eu estava num labirinto.
Chorei, sofri, e não quis encarar essa realidade. Pedi para Deus me ajudar e ele disse: Segue, anda, e procure a saída!”
Reparei que as outras pessoas também sofriam com a realidade e a verdade da vida. E para não encarar essa dor, elas se mantinham distraídas com as tarefas e propósitos do labirinto, que as mantinham paradas no mesmo lugar. Mas tentar ajuda-las a perceber o que estavam fazendo era inútil e até um pouco violento.
Esforçando-me para encarar a realidade, segui em frente. Mas havia muitas tentações. Eram projetos, pessoas, ideias, situações, indo e vindo. Esbarravam em mim. Seguravam-me pela mão. Confundiam meus olhos! E eu não conseguia seguir. A todo momento, requisitava um descanso, uma pausa, uma festa, uma ocupação. Mas nada era real. Tudo tinha um começo, um meio e fim. Os entes queridos morriam, os projetos eram erguidos e depois desmoronados, as festas uma hora acabavam, as diversões em algum momento se tornavam entediantes...E quando essas coisas chegavam ao fim, as paredes frias, escuras e silenciosas do labirinto se mostravam novamente e a realidade voltava à tona.
Cansado dessa “brincadeira de Deus”, decidi achar a saída a qualquer custo. Estudei a respeito do labirinto. Falei com pessoas, procurei os sinais. Deus havia me dito que os sinais estavam ao longo do caminho, e que se eu não me distraísse, eu os entenderia.
Vi alguns comerciantes vendendo mapas falsos. Esses mapas levavam as pessoas ao seu círculo de ideias, e acreditando que estavam no caminho certo, elas ficavam presas dentro do setor do labirinto que era dominado por essas pessoas.
Eu mesmo acreditei em alguns desses mapas e fiquei anos passeando em círculos por corredores que não levavam à saída alguma.
Fiquei estarrecido com as pessoas que discutiam, brigavam e faziam guerra sobre como era a melhor forma de “cuidar” ,“manter” ou “lotear” esse labirinto. Vi algumas passeatas e protestos de pessoas que acreditavam em uma “ideia de labirinto” mais justa, humana e correta e aquilo era só mais uma das muitas distrações que mantinham suas consciências adormecidas.
Em outras épocas, me mantive por anos a fio perdido, simplesmente por “acreditar” que esse labirinto tinha alguma lógica, e que raciocinando em cima dela eu acharia a saída.
No auge da minha busca, fui surpreendido com algo bizarro. Eu havia chegado a um local que era idêntico ao que eu comecei, como se eu não tivesse avançado absolutamente nada. Por um momento acreditei que eu estava preso em um labirinto sem saída.
O sofrimento de se sentir incapaz de achar a solução desse “desafio de Deus” era tão doloroso quanto à desilusão que eu sofria em me distrair com os falsos objetivos do caminho.
Assim era a vida e ela parecia não ter outra solução. A saída parecia impossível, e ficava mais difícil quando eu parava para descansar nas "distrações da vida" dentro do labirinto, e me esquecia de seguir a jornada.
Mas as novas ilusões já não tinham a mesma força. Quando eu parava para me distrair com alguma coisa, não importa se essa distração durasse dias, meses ou anos, eu já sabia que o resultado seria o mesmo. Não havia esperança de fugir da realidade. A vida era um labirinto no qual eu estava preso, e a ordem era procurar a saída. Essa convicção me tornou ao mesmo tempo mais resistente à força das ilusões, porém, mais triste por saber que a realidade nunca era o que parecia.
Até que um dia tomei uma importante decisão. Por que não seguir o caminho em frente sem alimentar qualquer expectativa ou sem sofrer preocupações? Oras, Deus disse que eu deveria encontrar a saída, mas não disse QUANDO eu encontraria, e muito menos O QUE eu encontraria. E talvez a saída também seja uma ilusão. Talvez o caminho seja infinito, com labirintos dentro de labirintos sem fim. Ou talvez tudo seja sonho e não haja labirinto algum. Eu só sabia de uma coisa: Que Deus havia colocado em mim a certeza íntima de seguir em frente e confiar. Pois havia um destino fora daquele espaço e que persegui-lo era a razão da minha vida. Mas a principal decisão foi a de seguir o caminho aceitando e se divertindo com as distrações. Eu aprendi que deveria me manter atento e vigilante, para não esquecer que eram distrações, e para não sofrer a desilusão.
Nem sempre consigo. Às vezes, a cena das paredes frias e tenebrosas acenam violentamente, depois que acordo dos sonos voluntários aos quais me permiti dormir. Mas nem as constantes desilusões já me afetam mais. Pois embora Deus tivesse dito que era para procurar a saída, na realidade eu percebo que no fundo é Ele quem me guia para ela. Eu apenas tomo as decisões do que sentir e de como experimento as situações, e aprendo com elas. Quando meus sentimentos são infelizes e confusos, O PRÓPRIO DEUS me confunde, fazendo-me entrar em saguões de corredores sem saída. Quando meus sentimentos são nobres e puros, ele me aponta a direção no sentido certo.
Há quem goste de pensar que Deus não se mete nesse processo e que as dificuldades do caminho ocorrem por falta de racionalidade. Ele apenas observa e não faz nada. O labirinto por si só, e as coisas que há dentro dele, são suficientes para achar a saída. Há quem pense que viver no labirinto é a melhor opção. Há quem não compreende esse texto e nem desconfia que vive num labirinto.
Eu não argumento nem tomo partido de nenhuma teoria. Minhas convicções foram formadas pela minha experiência, e a experiência de cada um deve mostrar o caminho que lhe é próprio.
Na minha convicção, Deus quer que eu faça essa experiência, pois ele quer me preparar para uma nova vida que existirá no futuro, fora do labirinto. Se eu tiver mais amor por essa promessa, do que pelo valor das coisas passageiras que encontro no caminho, a chegada será inevitável. É tudo uma questão de abrir os olhos e ver a realidade. Distinguir a diferença entre se esforçar no caminho, ou se esforçar nos projetos e distrações. E colocar as duas coisas na sua devida ordem de importância.O caminho certo é aquele que seu coração aponta, sua cabeça não entende, e seu ego se apavora.
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É um símbolo representado por uma serpente, ou um dragão, que morde a própria cauda. O nome vem do grego antigo: οὐρά (oura) significa “cauda” e βόρος (boros), que significa “devora”. Assim, a palavra designa “aquele que devora a própria cauda”. Sua representação simboliza a eternidade. Está relacionado com a alquimia, que é por vezes representado como dois animais míticos, mordendo o rabo um do outro. O ouroboros simboliza o ciclo da evolução voltando-se sobre si mesmo. O símbolo contém as ideias de movimento, continuidade, auto fecundação e, em consequência, eterno retorno. É o olhar para si como forma de evoluir espiritualmente, marcado pela ausência de início e fim. A auto evolução do ser, a dissolução do ego para nascimento de um novo ser mais próximo da fonte. O ouroboros costuma ser representado pelo círculo. O que parece indicar, além do perpétuo retorno, a espiral da evolução, a dança sagrada de morte e reconstrução. Registre-se ainda, na tentativa de avançar pistas para a raiz etimológica da palavra “ouroboros”, que em copta “ouro” significa “rei” e em hebraico “ob” significa “serpente”. Geralmente, nos livros antigos, o símbolo vem acompanhado da expressão “Hen to pan” (o um, o todo). Remete-se assim, mais uma vez, ao tema da ressurreição, que pode simbolizar o “novo” nascimento do iniciado. Em relação a certos ensinamentos do budismo tibetano (como dzogchen e mahamudra), pode-se esboçar uma maneira específica para vivenciar (em estado meditativo) este ato de “morder a própria cauda”. Por exemplo, ao perceber-se num estado mental atípico (além das formas habituais) procurar olhar a si mesmo. Para o gnosticismo hiperbóreo “as serpentes, representadas no CADUCEU DE MERCÚRIO (entrelaçadas em um bastão) e no OUROBOROS (devorando a própria cauda), simbolizam a alma elevada, extasiada no nirvana, luminosamente entelequiada”. . Namastê 🙏🕉️✨🔃☯️ . #ouroboro #ouroboros #evoluase #autoevolucao #despertarespiritual #desperteseupoder #consciênciaespiritual #sejaamor #namaste #buscaespiritual #despertardaconsciência #universotranscendental #hermetismo #dualidade #leishermeticas #cosmos #tudoestaconectado #vibracao (em Lagoa da Prata, Minas Gerais, Brazil) https://www.instagram.com/p/B3atnrxnKFk/?igshid=1pksoqowzxai8
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