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#SEGUNDA TEMPORADA
arquivosmagnusbr · 1 month
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MAG063 — Fim do Túnel
Caso #0143103: Depoimento de Erin Gallagher-Nelson, a respeito de uma viagem de exploração urbana sob a Igreja de São Paulo, em West Hackney.
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Tradução: Lia
ARQUIVISTA
Depoimento de Erin Gallagher-Nelson, a respeito de uma viagem de exploração urbana sob a Igreja de São Paulo, em West Hackney. Depoimento original prestado em 31 de março de 2014. Gravação de áudio por Jonathan Sims, arquivista chefe do Instituto Magnus, Londres.
Início do depoimento.
ARQUIVISTA (DEPOIMENTO)
Imagino que você saiba o que é uma exploração urbana. Aposto que você já viu muitos amadores idiotas por aqui que dizem terem esbarrado num fantasma em alguma fábrica velha, então vou te poupar de explicar como funciona. E se você não sabe o que é, bom, a Internet existe. Pesquisa lá.
Eu sou o mais próximo do que você pode chamar de profissional nesse negócio, que é basicamente invadir lugares por esporte. Eu trabalho como fotógrafa, e se eu fizer tudo direitinho, consigo ganhar mais dinheiro com uma estação de bombeamento abandonada do que fotografando uma Barbie humana mimada pra "Revista Odeie-se" ou qualquer coisa assim. Sempre fomos eu e Luke Nelson. Ele era irmão da minha esposa e fazia toda a iluminação dos nossos ensaios. Pelo menos até ele ser... comido pela escuridão na semana passada.
É por isso que eu tô aqui: porque eu não sonhei com aquilo. Aconteceu. Eu não ligo pro que a Steph diz — eu não preciso falar com um psiquiatra, eu preciso falar com vocês.
Nós estávamos embaixo da Igreja de São Paulo, em West Hackney. Um edifício horrível e quadrado que realmente faz você pensar sobre os padrões dos templos de Deus. Quer dizer, só tô dizendo que se fosse minha casa eu ficaria bem irritada. Ainda assim, acho que se ele não quisesse aquilo, deveria ter protegido seu antecessor das bombas nazistas, porque a Igreja de São Paulo costumava ser de São Tiago antes de ser bombardeada até só sobrarem os escombros.
Todo mundo sempre esquece o quanto de Londres existe embaixo de Londres. Quer dizer, aqui não é tão ruim quanto em alguns outros lugares, tipo Edimburgo, onde literalmente enterraram metade da cidade e construíram uma nova em cima — mas alguns lugares não são tão diferentes disso. Eu andava fazendo várias pesquisas sobre a São Paulo que costumava ser a São Tiago, porque aparentemente poderia ser exatamente um desses lugares.
Os projetos de esgoto e subsolo do bairro pareciam indicar que havia uma grande área subterrânea diretamente abaixo da São Paulo que parecia ser evitada por todas as obras públicas — mas os projetos da igreja moderna não mostravam nada abaixo do nível do solo.
Isso queria dizer que a antiga Igreja de São Tiago provavelmente tinha uma presença considerável no subsolo que não tinha sido completamente destruída pelas bombas, e que sua herdeira não ocupou aquele espaço.
Abóbadas vitorianas de meados do século XIX, intactas por 70 anos? Era exatamente o tipo de coisa que tá na moda agora em certas revistas de arte, e eu tinha certeza de que poderia vender algumas para o Getty e vários outros sites de banco de imagens. E ei, não era como se eu já não tivesse invadido uma igreja antes.
Felizmente, a São Paulo de West Hackney era uma igreja anglicana, o que significa que eles não a trancavam tão bem quanto alguns outros lugares. As igrejas católicas podem ser uma verdadeira dor de cabeça, pois elas realmente têm alguns objetos de valor dentro que precisam ser protegidos. Mas essa, assim como a maioria das igrejas cristãs, era simples e sem adornos por dentro. Então, embora tomassem muito cuidado com os escritórios, eles não eram tão cuidadosos em trancar o prédio principal da igreja, porque, sinceramente, não tinha nada pra roubar lá — a menos que você gostasse de hinários.
Eu e o Luke levamos menos de um minuto pra conseguir entrar. Foi na última terça-feira, dia 25. Acho que tecnicamente era quarta-feira, dia 26, já que já tinha passado da meia-noite quando começamos a agir. Assim que entramos, mantivemos nossas lanternas baixas, guardamos nosso equipamento e fomos procurar qualquer coisa que pudesse nos levar pra mais baixo.
A princípio parecia que estávamos enganados e não tinha como descer. Mas aí o Luke avistou o que parecia ser um painel removível no chão, logo à direita do que parecia ser um pódio. Era mais pesado do que parecia, mas depois de um pouco de esforço com o pé de cabra, ele saiu.
Parecia que não era removido há décadas — talvez desde que a igreja nova foi construída. Mas o que me surpreendeu foi o ar que saiu lá de dentro quando abrimos. Ele sibilou, como um suspiro que estava preso há muito tempo, e o ar que subiu daquele buraco era gelado e úmido. Não foi inesperado, mas o que me surpreendeu foi como o cheiro era fresco. Como uma noite de outono depois da chuva.
Não tinha nenhuma escada pra baixo, mas trouxemos bastante corda, então descemos. A escuridão parecia nos engolir. Eu podia jurar que às vezes eu conseguia sentir ela se pressionando fisicamente contra o meu corpo.
No final das contas, faltavam só alguns metros até o chão do túnel subterrâneo, e nossas lanternas mostraram exatamente o que eu já esperava: uma antiga alvenaria vitoriana.
A passagem que se estendia à nossa frente em ambas as direções era absolutamente perfeita, e eu não perdi tempo pra tirar algumas fotos enquanto o Luke preparava os equipamentos de iluminação. Lá embaixo, os flashes eram ofuscantes, mas eu tinha certeza de que estava tirando umas fotos ótimas. Mas quando dei uma olhadinha rápida nelas pela tela da minha câmera, eu comecei a ficar irritada. O Luke estava claramente parado na frente da luz quando comecei a tirar as fotos.
Em cada foto onde a parede oposta estava iluminada pelas luzes fortes era possível ver a forma nítida da sombra de uma pessoa.
Tive uma baita discussão com o Luke sobre isso. Ele insistiu que nunca cometeria um erro tão amador. Eu respondi que ele até podia discutir comigo, mas não com a câmera. No fim, ele saiu furioso pra explorar mais adiante.
Tirei mais uma foto antes de começar a ir atrás dele. A sombra ainda tava lá e parecia estar um pouco mais perto.
Eu não sei por que ignorei aquilo. A mente humana é incrivelmente hábil em ignorar coisas que não fazem sentido — coisas que ela não quer ver. Eu convenci a mim mesma de que aquilo era uma peculiaridade dos ângulos daquele lugar. Eu nem me permiti pensar que poderia ser um problema com a minha câmera extremamente cara, então eu definitivamente não considerei a possibilidade de aquilo ter uma explicação sobrenatural.
Segui o Luke mais adiante até que, depois de mais ou menos uns 20 minutos, chegamos às ruínas de algum tipo de câmara. O telhado tinha desabada, provavelmente por causa do bombardeio que destruiu a Igreja de São Tiago, e os escombros bloqueavam a maior parte dela. Parecia que já tinha sido uma sala redonda, e de cada lado da entrada eu podia ver portas bloqueadas com pedras caídas.
Não tínhamos como mover os detritos suficientemente pra acessá-las, mas era estranho: enquanto as luzes das lanternas passavam por elas, mesmo com a maioria delas completamente cobertas pela alvenaria desmoronada, elas ainda não pareciam tão escuras quanto o corredor de onde nós viemos.
Eu tirei algumas fotos. A composição do lugar era excelente e as portas bloqueadas tinham um tipo estranho de grandeza absoluta. Elas com certeza seriam lindas se tivessem conseguido sobreviver ao que parecia ter sido um ataque direto de uma bomba alemã. Verifiquei as fotos e não tinha nenhuma sombra, o que foi um alívio.
Nós voltamos para o outro lado. Quando chegamos às cordas penduradas no buraco acima de nós, o Luke começou a ficar preocupado. Bom, com preocupado eu quero dizer: ele queria sair dali. Ele queria que guardássemos as coisas, subíssemos de volta e fossemos embora, me dizendo que estava sentindo umas vibes estranhas naquele lugar e tentava me convencer de que já tínhamos visto o suficiente. Olhando para aquele quadrado convidativamente iluminado pelo brilho da lua nas janelas da igreja, fiquei meio tentada a concordar com ele.
O problema era que, devido aos contratempos com as primeiras fotos, eu tinha uma, talvez duas fotos com uma qualidade que eu poderia usar, e isso não era o suficiente. Eu disse a ele sem rodeios que não tinha o suficiente e se eu não fosse paga, ele não seria pago. Eu vi o conflito estampado em seu rosto: ele queria sair de lá, claro, mas aparentemente não tanto quanto queria pagar o aluguel.
Então... continuamos, mais pra dentro do túnel. Não sei o quão longe fomos. Eu parava a cada 10 metros ou mais pra me preparar e tentar tirar uma foto boa, mas as sombras estavam de volta e piores do que antes. Agora apareciam duas ou três sombras em algumas fotos. Não parecia ser tão claramente uma silhueta humana, então eu consegui dizer a mim mesma que devia ser uma peculiaridade de como o túnel refletia a luz — mas, pensando agora, isso não fazia o menor sentido.
Mesmo assim, eu continuava — na esperança de encontrar algum lugar onde conseguisse tirar algumas fotos daquele túnel austero e sombrio, com tijolos tão pretos que quase pareciam carvão. Nós avançávamos, montávamos os equipamentos, tirávamos as fotos, verificávamos e aí eu xingava minha câmera. Não sei quantas vezes fizemos isso. Luke ficava cada vez mais nervoso o caminho todo.
Parecia que não estávamos muito mais do que 10 minutos fazendo aquilo, mas quando olhei meu relógio, estávamos lá embaixo há quase duas horas. A gente tinha finalmente chegado no fim do caminho, e era só isso: um fim. Uma parede de tijolos vazia indicando a parada do túnel que parecia passar por baixo de uma boa parte de Hackney.
Nesse ponto, eu finalmente decidi deixar tudo de lado e voltar. Quando virei pro Luke pra dizer isso, minha lanterna apagou. Ela não fez alarde, só piscou por um segundo e depois apagou com um leve estalo.  Olhei pro Luke prestes a pedir pra ele me passar as pilhas reservas... até ver seu rosto. Acho que nunca vi ninguém tão assustado quanto ele naquele momento. Aí a lanterna dele também apagou e não sobrou nada além da escuridão.
Eu podia ouvir ele tateando por alguma coisa que eu presumi ser as luzes da câmera, e um segundo depois ouvi o clique... clique... clique dele tentando ligá-las. Nada aconteceu. Ele continuou apertando os botões, de novo e de novo, e eu conseguia sentir o desespero dele, mas ainda estávamos presos na escuridão total.
Eventualmente, ele parou, e nós só ficamos lá. Eu queria dizer alguma coisa tranquilizadora, estender a mão e avisar que eu ainda tava lá, mas eu tava com medo de quebrar o silêncio. Eu ouvia só a respiração dele, pesada e assustada. Eu percebi a minha própria respiração: rápida e entregando o pânico que tentava fingir que não tava sentindo.
E aí eu ouvi: a terceira respiração. Era baixa no começo — longa e lenta e muito deliberada. Quanto mais eu ouvia, mais alta ela parecia ficar, como se quem quer que estivesse lá com a gente fizesse questão de que pudéssemos ouvi-la. E aí uma quarta respiração se juntou a ela, profunda e gutural. E uma quinta, uma sexta, e depois mais. Estávamos cercados por todos os lados pelos sons das respirações, ficando mais altas, mais próximas.
Luke soltou um pequeno gemido e, ao mesmo tempo, todas pararam. No lugar delas veio um barulho de raspagem, algo de metal que parecia estar sendo arrastado pelos tijolos bem atrás de nós, mas chegando mais perto, e rápido. Então, vieram passos pesados e fortes — passos vindo em nossa direção, rítmicos e sem pressa.
Quase pensei que poderiam ser as batidas do meu coração latejando nos meus ouvidos — mas o eco me garantiu que vinha do fundo do túnel. Aí o raspar começou de novo, agora vindo da outra direção, e eu caí no chão, apertando minha câmera contra o peito como uma espécie de talismã protetor.
Aí, o silêncio, mais uma vez.
O barulho que quebrou o silêncio dessa vez é o que ainda ressoa em meus ouvidos. Foi muito mais horrível do que os outros por conta do quão familiar era — embora eu nunca tivesse o ouvido daquele jeito antes. Era a voz do Luke, e ele gritava de agonia — um grito estridente e angustiante de dor e medo que varreu todos os meus pensamentos em um segundo e os substituiu por puro pânico. Eu queria correr, mas minhas pernas estavam paralisadas.
Em algum lugar da minha mente eu lembrei do flash da minha câmera e meus dedos instintivamente apertaram o botão.
Quando apertei o botão a gritaria parou com um estalo molhado, e no pior segundo da minha vida, uma explosão de luz atravessou a escuridão.
Eu vi o Luke pairando no ar. Não tinha ninguém ao redor dele, mas na parede, em contornos escuros e nítidos, vi duas sombras longas e finas paradas ao seu lado. Uma delas segurava, com braços esguios, a sombra dele pelos ombros, enquanto a outra segurava a sombra de sua cabeça decepada.
Na minha frente, a verdadeira cabeça pairava ali, suspensa como se estivesse pendurada por algum fio invisível, o sangue escorrendo pelo corpo abaixo dela. Os olhos dele me olhavam como se estivessem implorando para que o flash da minha câmera frágil o salvasse. Eu gritei.
A próxima coisa que eu me lembro foi da luz dolorosamente brilhante de uma dúzia de lanternas no meu rosto. Era o reitor da Igreja de São Paulo e um pequeno grupo do que presumi serem paroquianos. Ele não disse uma palavra enquanto gentilmente me levava de volta pra entrada. Olhei em volta para ver se o corpo do Luke tava lá, mas no fundo eu sabia que a escuridão tinha engolido ele. Ele se foi.
O reitor foi muito compreensivo, apesar de eu não estar falando nada com nada. Ele me tranquilizou com palavras suaves, me trouxe pro azul pálido do amanhecer e chamou uma ambulância pra me examinar. Eu não sei o nome dele, e foi só depois de chegar ao hospital que percebi que ele tinha levado minha câmera.
Desde então, estou sob observação do hospital. Ninguém ouve minha história e o Luke foi oficialmente dado como desaparecido. A Steph tem me apoiado muito, mas consigo ver a dor nos olhos dela. Ela sabe que eu fui a última pessoa a ver o irmão dela e isso tá consumindo ela. Eu realmente não sei o que fazer agora... além de deixar as luzes acesas.
ARQUIVISTA
Fim do depoimento.
Não deveria ser surpresa pra mim, nessa altura do campeonato, que a pedra fundamental da Igreja original de São Tiago, em West Hackney, foi colocada em 17 de novembro de 1821 por Sir Robert Smirke. Mesmo assim, eu esperava encontrar pelo menos uma esquisitice arquitetônica escondida sob as ruas de Londres que não carregasse a marca dele ou de seus alunos.
Esse encontro em particular não parece ter muito em comum com outras manifestações em prédios semelhantes. Nós vemos uma espécie de padrão dele e da laia dele: sepultamentos com teias de aranha, dificuldade de navegação e agora uma escuridão violenta e assassina. Meu primeiro pensamento foi a Igreja do Povo da Hóstia Divina, já que eles parecem ter uma afinidade com a escuridão, mas não consigo encontrar nenhuma conexão de qualquer tipo entre eles e a Igreja de West Hackney.
Não que algum dos funcionários de lá tenha sido muito útil. Cada um deles afirma não se lembrar de ter encontrado a senhorita Gallagher-Nelson, apesar dos registros de internação hospitalar mostrarem claramente que ela foi resgatada de lá na manhã de 26 de março de 2014. O Tim tem certeza de que pelo menos alguns deles estão mentindo, mas não tem muito que possamos fazer pra conseguir qualquer informação que eles não queiram nos dar voluntariamente.
Não conseguimos falar com a Srta. Gallagher-Nelson. Todas as tentativas de entrar em contato foram impedidas por sua esposa, Stephanie Gallagher-Nelson, que deixou bem claro que não somos bem-vindos e não devemos tentar mais nenhum contato.
Luke Nelson continua desaparecido.
Fim da gravação.
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ARQUIVISTA
Complemento.
Estou tentando acessar o laptop da Gertrude, mas até agora não tive sorte. Nenhuma das senhas óbvias que eu tentei deram certo e eu não sei quem consegue me ajudar e ser discreto. Pode ser que tenham mais pistas nas outras fitas, mas até agora não tive nenhuma notícia da Basira. Eu tô tão perto de encontrar alguma coisa, talvez eu devesse só ir até lá—
MELANIE
Com licença, você tem um minuto?
Arquivista: Srta. King, uh, como você entrou aqui...?
Melanie: A garota nova me deixou entrar. Você tá bem?
Arquivista: Hum? Como?
Melanie: Você tá horrível.
Arquivista: Tem sido meses difíceis. Olha, posso te ajudar? Porque se você só tá aqui atrás de outra discussão—
Melanie: Não! Eu, hum... eu realmente preciso da sua ajuda.
Arquivista: Hum. Interessante.
Melanie: Tá, será que você pode não ser um babaca sobre isso? Eu só preciso de acesso à sua biblioteca.
Arquivista: Então fale com a Diana, ela que administra o lugar.
Melanie: Sim, eu não tenho exatamente as credenciais acadêmicas que vocês exigem, então aparentemente eu preciso de alguém para atestar em meu nome e você é basicamente a coisa mais próxima que eu tenho de um amigo aqui.
Arquivista: Nós conversamos uma vez e acabamos gritando um com o outro.
Melanie: Sim. E isso é mais do que eu tenho com qualquer outra pessoa daqui. Além disso, a Georgie me falou algumas coisas boas sobre você. Isso foi uma surpresa. Você nem me disse que conhecia ela.
Arquivista: Eu... isso foi muito tempo atrás. Antes de ela começar a fazer o "What the Ghost". É uma surpresa pra mim também, pra ser sincero. Nós não terminamos exatamente nos melhores termos... Pra quê exatamente você precisa de nós, afinal? Seus amigos de espetáculo não podem te ajudar?
Melanie: Não, eu, hum... a maioria deles não fala mais comigo.
Arquivista: O que aconteceu? Correu a notícia de que você prestou um depoimento pra gente? Como era mesmo? “Idiotas ingênuos?”
Melanie: Não exatamente. Olha, no meu negócio, sua reputação é tudo o que você tem. A indústria é praticamente composta por céticos que fingem acreditar, que fingem ser céticos—
Arquivista: Acho que a palavra que você tá procurando é "charlatões".
Melanie: Dá pra você parar? Por favor? Eu tô tentando... olha, os Caça Fantasmas de UK se separaram. Quer dizer, não formalmente, mas bom, você sabe, o Pete sempre foi um idiota pra começar e os outros simplesmente se afastaram...
Arquivista: Sinto muito por isso. Eu percebi que vocês não estavam postando mais nada.
Melanie: Eu tentei arrumar uma equipe nova, mas foi difícil. Eu comecei a fazer expedições sozinha, mas eu realmente não tenho habilidade pra gravação. Eu vi umas coisas estranhas. Aí eu... aí eu fui presa.
Arquivista: Continue.
Melanie: Sim, eu... eu invadi o cemitério de trens perto de Rotherham. Fui pega pelos seguranças, e eu... eu não tava muito bem. Quando eu tava sendo expulsa, um cara passeando com o cachorro de noite gravou um vídeo meu gritando com eles sobre  fantasmas. Quando aquilo foi parar na internet...
Arquivista: Sua super importante reputação profissional foi junto.
Melanie: Sim. Olha, eu tenho pistas que realmente preciso seguir, mas, no que diz respeito aos meus colegas, hoje em dia o fantasma sou eu.
Arquivista: Bom, se serve de consolo, eu sinto muito. Eu sei o que é não ter o respeito dos seus colegas. Vou falar com a Diana, vejo se consigo te deixar entrar na biblioteca.
Melanie: Obrigada. De verdade. Enfim, como eu saio desse lugar?
Arquivista: Ah. A Sasha pode te mostrar a saída.
Melanie: A Sasha?
Arquivista: Sim. Ela deve estar em algum lugar por aqui.
Melanie: Ah. Certo... Bom, me avisa sobre a biblioteca, ok?
Arquivista: Pode deixar.
...Que mulher esquisita.
Fim do complemento.
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denizeheloiza · 1 year
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wilfrido06 · 3 days
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maikonotmichael · 1 year
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Galeraaa! They haven’t finished filming season 2 yet (((
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ikattunge · 1 year
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🎍Buda 🎍
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Holi, espero les guste, (no se que poner aqui perdon hahaja)
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nu-settled · 2 years
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Vamooohh ctm
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pibbyinvasionhs · 11 months
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"Ayúdanos."
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bragascreenshot · 1 year
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trekkersnews · 10 months
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Primeiras Imagens da Segunda Temporada de Star Trek: Prodigy
Primeiras Imagens da Segunda Temporada de Star Trek: Prodigy
Agora no Trekkers News Network. Engage!
https://tnn.com.br/primeiras-imagens-da-segunda-temporada-de-star-trek-prodigy/
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arquivosmagnusbr · 22 days
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MAG066 — Retido Na Alfândega
Caso #0002202: Depoimento de Vincent Yang a respeito de seu suposto aprisionamento por Mikaele Salesa.
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Tradução: Lia
ARQUIVISTA
Depoimento de Vincent Yang a respeito de quando foi supostamente aprisionado por Mikaele Salesa.
Depoimento original prestado em 22 de fevereiro de 2000. Gravação de áudio por Jonathan Sims, arquivista chefe do Instituto Magnus, Londres.
Início do depoimento.
ARQUIVISTA (DEPOIMENTO)
Ele me drogou. Ele obviamente me drogou, essa é a única explicação plausível. Era o único jeito de ele conseguir me colocar lá dentro, e as drogas podem afetar a forma como a gente enxerga as coisas, até mesmo o tempo.
É só que... pareceu tão real. Eu senti cada segundo daquilo, e eu olhava meu relógio e... mas eu já usei todo tipo de droga na minha vida, experimentei vários psicodélicos quando era jovem, e aquilo não foi como estar drogado. Parecia que eu tava sendo engolido. Não, não engolido... sepultado.
A culpa foi dele. Eu já trabalho na alfândega há bastante tempo e todo mundo lá sabe o que fazer — ele também deveria saber. Você barra os desleixados, barra aqueles que você acha que podem estar envolvidos com o que quer que os chefes estejam de olho naquele mês, mas a maioria dos contrabandistas são peixes pequenos. Se mantiver seus papéis em dia nós não vamos ficar no seu caminho, contanto que você também seja legal com a gente.
Eu sabia que Mikaele Salesa passava por Portsmouth o tempo todo. Eu nunca tratei com o cara diretamente, mas ele deveria ter deixado os documentos dele em ordem. Do jeito que tava, eu tive que barrar o carregamento dele. Não tínhamos motivos suficientes pra fazer uma revista completa na hora, deixei isso claro pra ele, mas se ele não colocasse os papéis em ordem logo, não teríamos outra opção.
Eu ainda lembro de como ele me encarou, parado naquele contêiner de carga cercado por maletas de transporte e caixas de metal lacradas. Aquele olhar intenso. Ele tava me avaliando como se eu fosse algum tipo de antiguidade. Como se ele estivesse curioso sobre qual seria o meu valor num leilão. Então seu rosto se contorceu numa expressão de irritação e ele gesticulou dramaticamente pra sua carga, me oferecendo a oportunidade de examiná-la, já que eu achava que ele era criminoso.
Sua voz era profunda, calma e contida, mas seus olhos carregavam uma raiva que me dava medo. Olhei em volta pro contêiner, não tanto para ver o que tinha lá, mas só pra desviar o olhar do dele.
Verdade seja dita, eu odiava meu trabalho. Você cansa de ser alguém que ninguém quer ver. Contrabandistas e traficantes me odeiam porque eu sou uma ameaça pros negócios, eu entendo isso — mas os operadores legítimos me olham exatamente do mesmo jeito porque sabem que um erro na lista de carga pode ser muito mais grave do que eles terem 2 quilos de heroína escondidos no porta-malas de um carro importado.
Comecei a andar por lá, examinando superficialmente a variedade de caixas diferentes ao redor de Salesa. Eu não abri nenhuma — eu não queria abrir. Eu só queria fazer uma pequena demonstração do fato de que eu poderia. Era 18 de janeiro, mais ou menos um mês atrás, e o contêiner tava congelando. Pra mexer com as fechaduras e travas eu precisaria tirar as luvas, e isso não aconteceria.
Salesa estava lá vestindo uma regata e uma camisa desabotoada, aparentemente alheio ao frio. Se ele tava tentando mostrar que era durão, então, pra ser sincero, tava funcionando. Eu não tinha interesse nenhum em entrar no caminho daquele homem.
Mas o mais importante ali era o fato de que antiguidades contrabandeadas estavam tão abaixo na lista de prioridades naquele momento que, do ponto de vista profissional, ficar me abaixando pra olhar uma mala de viagem cheia de cerâmicas incorretamente listadas era uma completa perda de tempo.
Suspirei, me levantei e, quando fiz isso, acabei me apoiando na borda de um caixote de madeira velho. Senti a tampa se mover ligeiramente com o puxão. Olhei um pouco mais de perto e não pude deixar de notar que ele não parecia ter parafusos ou travas e a tampa claramente não tinha sido pregada.
Eu me inclinei para tentar deslizá-la de volta pro lugar, mas minha mão enluvada escorregou e, quando tentei segurar, juro que eu mal toquei naquela coisa, mas a tampa de madeira deslizou mais, liberando uma nuvem de ar empoeirado que me fez ter uma crise de tosse. O ar era seco e quente de um jeito que parecia bem alarmante naquele contêiner gelado. O interior do caixote estava escuro, a luz da entrada não chegava até ali. Acendi minha lanterna e, pra minha surpresa, o caixote parecia estar completamente vazio. Não me lembrava de ele aparecer na lista de carga, mas se não levava nada dentro, não tinha necessariamente motivo pra estar lá.
Eu me virei pra encarar o Salesa e dei de ombros. Ele não parecia mais estar irritado. Em vez disso, seu rosto agora tinha um olhar de preocupação. Presumi que ele tivesse ficado preocupado de eu ter encontrado algo suspeito, mas balancei a cabeça e disse a ele que, se ele colocasse seus documentos em ordem até amanhã, poderia seguir caminho sem problemas. Caso contrário, ficaria mais complicado. A expressão no rosto dele não mudou.
Comecei a sair de lá, ainda tinha muito mais trabalho pra fazer naquele dia, quando ele agarrou meu braço. O aperto dele era tão forte quanto parecia e, por um segundo, de repente, fiquei com medo de que ele me matasse. Em vez disso, ele me olhou nos olhos por um longo momento antes de dizer baixinho: “não durma”.
Balancei a cabeça, assumindo que aquilo era pra ser algum tipo de ameaça, e lancei a ele um olhar tentando demonstrar que eu não tava com medo. Claro que eu tava, mas de qualquer forma ele não pareceu notar. Ele só olhou pra mim e repetiu o que tinha dito.
Eu fiquei compreensivelmente nervoso depois daquele pequeno encontro, mas moro num apartamento no térreo em uma área bem perigosa, então eu tenho várias fechaduras, uma porta resistente e grades na janela, todas as quais eu chequei três vezes antes de ir pra cama naquela noite. Tudo parecia estar em ordem, então tomei algumas doses de vodca pra acalmar os nervos e, bem, fui dormir.
Pensando nisso agora, a coisa que eu acho mais difícil de acreditar é o quão bem eu dormi. Foi uma noite de sono tranquila e eu não tive sonhos. A dor nas pernas foi o que me acordou. A cãibra me arrancou lentamente do sono e eu tentei colocar as pernas em uma posição mais confortável sob as cobertas.
Quando tentei, aos poucos percebi que não conseguia. Elas estavam pressionadas contra uma superfície dura. Meus olhos começaram a se abrir e percebi que, em vez do travesseiro, meu rosto estava pressionado contra algo áspero e rígido. Algo que, quando tentei me mexer, me cumprimentou com a rigidez de farpas pontiagudas.
Estava escuro. Abrir os olhos não fez muito pra mudar o que eu conseguia enxergar. Minhas mãos pressionaram a madeira sem verniz e senti o pânico crescer no fundo da minha mente. Acho que no fundo eu já sabia exatamente onde eu tava, mas eu ainda tentava — de forma constante, um de cada vez — mover cada membro do meu corpo, esperando desesperadamente que um deles encontrasse o ar livre e me tranquilizasse de que eu não tava preso dentro daquele pequeno cubo de madeira. Mas eu mal conseguia mover nenhum deles e logo ficou claro que minha prisão era, de fato, um caixote de madeira robusto.
Aí eu comecei a gritar por socorro. O som era desafinado, o eco abafado pelas paredes próximas, e meus gritos soavam incrivelmente altos pra mim. Eu gritei várias vezes, mas ninguém apareceu. Depois de alguns minutos, de repente me ocorreu o pensamento horrível de que talvez eu tivesse sido enterrado vivo e pudesse ter uma quantidade limitada de ar. Isso me fez calar a boca bem rápido e, em vez de gritar, comecei a ouvir atentamente, procurando qualquer som de movimento. Nada.
Sabe o que é estranho? Eu demorei bastante tempo pra fazer a conexão com o caixote que eu tinha mexido no contêiner do Salesa. Eu fiquei tão desorientado quando acordei que a ideia de que aquilo era obra dele levou um tempo surpreendentemente longo pra me ocorrer. Mas quando me toquei, comecei a sentir a raiva crescendo. Eu me lembrei da tampa que não tava bem fechada e, tirando um momento pra pensar direito, comecei a empurrar a madeira diretamente acima de mim.
Ela não se moveu nem um milímetro. Ou tinha sido pregada ou alguém tinha colocado alguma coisa pesada em cima dela, ou os dois. Comecei a me debater naquele momento, desesperado pra sair dali, mas isso só me rendeu mais farpas.
Acho que eu tive sorte por ser inverno. O pijama grosso que eu tinha usado pra dormir, que aparentemente eu ainda tava usando, me protegeu de muitas delas. Quando lembrei do inverno, comecei a notar o calor. Tava quente naquela cela minúscula, um calor abafado e asfixiante que fazia o suor escorrer suavemente pelo meu pescoço e minha garganta ficar gradualmente áspera e seca.
Eu não podia fazer nada além de ficar deitado ali, espremido e desesperado e sentindo aquele calor sufocante e opressivo ao meu redor.
Tudo naquilo era sufocante e opressivo. Eu nunca sofri de claustrofobia antes, mas não demorou muito pra ela tomar conta e, por um tempo, cedi ao pânico total, murmurando pra mim mesmo e hiperventilando com respirações curtas e entrecortadas naquele ar quente e pegajoso.
O que finalmente me tirou disso foi perceber que, se eu tava respirando com tanta dificuldade e por tanto tempo, mas ainda tava consciente, isso devia significar que havia um fluxo de ar e que eu não tava completamente enterrado vivo. Mas aquele súbito momento de alívio terminou abruptamente porque eu juro ter sentido a caixa ficar menor.
Foi um movimento leve, só um centímetro, mas eu senti com uma pontada de dor ao longo da minha perna. Como se o caixote quisesse me punir pelo meu momento de esperança. Depois de um tempo, as cãibras que no começo eram tão angustiantes começaram a desaparecer e reaparecer. Não é que tenha parado de doer, longe disso. Mas se tornou uma dor tão constante que eu conseguia ignorá-la por longos períodos de tempo antes que ela voltasse de repente, como se meus músculos estivessem gritando.
Foi em um desses momentos de clareza que eu percebi que conseguia ver meus braços. Tinha luz. Parecia estar se infiltrando através das pequenas frestas na madeira, mal o suficiente pra enxergar normalmente, mas meus olhos estavam muito acostumados com o escuro. Parecia a luz do sol. Eu devia estar do lado de fora, mas não fazia ideia de onde poderia estar.
Perto da minha cabeça, um espaço um pouco maior entre as ripas de madeira deixava entrar um fino feixe de luz solar. Eu me mexi, meu pescoço protestando contra o movimento, mas por um único momento eu senti ela no meu rosto. Aquela luz do sol, o sonho da liberdade. Então o caixote fechou a fresta com um tremor e me apertou um pouco mais por ousar fazer isso.
Ainda assim, eu sabia que estava do lado de fora e sabia que tinha ar, então tentei mais uma vez gritar por ajuda. Implorei, gritei, senti meus lábios secos se racharem com a força dos meus gritos. Continuei até que minha voz não passasse de um sussurro rouco e aí desabei de volta no desespero e terror.
Às 11:56 percebi que conseguia ver meu relógio. Eu não tinha o costume de tirá-lo quando ia me deitar, e a posição em que me colocaram o deixava quase visível na luz fraca. Era surpreendentemente pouco reconfortante, já que as horas que tinham passado num borrão de dor e medo agora passavam terrivelmente devagar.
Mesmo assim, ele me manteve ancorado, focado em algo real. Os minutos e horas passavam da mesma forma que passariam fora da caixa, e isso, mais do que qualquer outra coisa, me convenceu de que eu não tava sonhando ou ficando louco.
Às 9:45, a luz começou a desaparecer e eu fiquei na escuridão mais uma vez. Então eu dormi, agitado e com muita dor, e quando acordei e percebi que ainda tava preso lá, eu chorei. Mesmo enquanto chorava, no fundo da minha mente eu me odiava por desperdiçar toda a água que ainda tinha sobrado em mim.
Eu tava lá há quatro dias, pelo menos se a escuridão e a luz realmente significassem noite e dia. Eu costumava ser religioso e tentei rezar várias vezes, mas as palavras pareciam vazias em meus lábios secos e desesperados. Clamei a Deus, depois ao diabo e, finalmente, ao próprio Salesa. Nenhum deles respondeu.
Eu sabia que ia morrer ali, preso e sozinho. Fiquei me perguntando se algum dia me encontrariam. Será que eu estava em algum lugar onde o fedor da minha podridão poderia levar algum pobre coitado a investigar? Provavelmente não, já que meus gritos não podiam ser ouvidos, mas talvez alguém me encontrasse. Talvez ele se juntasse a mim, se a caixa ainda estivesse com fome.
Eram pensamentos como esses que passavam incessantemente pela minha cabeça, girando e girando como um carrossel febril e sedento. Então, de repente, tudo acabou. Acordei ouvindo os sons da madeira se mexendo acima de mim. Mal tive tempo de registrar o que tava acontecendo antes que o ar gelado tomasse conta de mim e a luz da lanterna brilhasse no meu rosto.
Pisquei com força começando a distinguir duas figuras acima de mim. Um era o Salesa, olhando pra mim com uma expressão de curiosidade. O outro eu não conhecia, embora o reconhecesse vagamente como um dos capitães que aportavam ali de vez em quando. Capitão Larell, talvez? Ou Lukas? Não lembro direito.
Ele olhou pra mim, depois pro Salesa, deu de ombros e entregou uma nota de 20 libras pra ele antes de se virar e sair do contêiner, onde eu vi que estava de novo.
Salesa me tirou delicadamente da caixa, e eu percebi que ele tomava cuidado pra não tocar nas laterais. Mover as pernas era como andar sobre facas, mas eu consegui sair cambaleando, eufórico com a minha liberdade. Senti o Salesa colocar alguns papéis nas minhas mãos. Uma lista de carga atualizada, ele disse, e me mandou embora.
Passei aquele dia tentando recuperar um pouco do sentido nos meus músculos torturados e atrofiados e bebendo água devagar. Ignorei completamente meu trabalho e terminei o dia entregando minha carta de demissão.
Você sabe qual era a data na minha carta de demissão? Dia 19 de janeiro — um dia depois de eu ter visto o Salesa pela primeira vez. Meu relógio não batia mais com o relógio da sala de descanso. Eu não sei por que a noite foi muito mais longa pra mim, ou por que o sol tinha me cozinhado no meio do inverno.
Eu devo ter sido drogado. O Salesa deve ter me drogado. É a única explicação racional. Mas eu sei que ele não fez isso.
ARQUIVISTA
Fim do depoimento.
Outra história do inacessível Mikaele Salesa lidando com todos os tipos de artefatos sem nenhuma medida de segurança decente. A menos que seja esse o ponto, é claro.
E, se eu não me engano, parece que ele pelo menos conhece o capitão Peter Lukas do Tundra. Seja qual for o esquema, o Salesa definitivamente tá envolvido. Eu só queria saber se ele é um participante ou um peão... ou algo completamente diferente.
Surpreendentemente, parece que os registros detalhados da remessa são mais difíceis pro Tim conseguir flertando do que os relatórios policiais, e a Sasha também teve problemas ao tentar acessar os registros eletrônicos. Se existir alguma documentação oficial dessa remessa em particular que possa confirmar a história do Sr. Yang, não conseguiremos obtê-la.
O Martin encontrou um problema diferente ao rastrear o próprio Sr. Yang. Aparentemente, ele tá aposentado agora e morando com os filhos, que foram surpreendentemente cooperativos ao permitir que o Martin falasse com ele. Ele também está nos estágios finais da doença de Alzheimer de início precoce. Ele não conseguiu dar nenhuma informação nova e útil, e o Martin foi embora depois que o Sr. Yang ficou muito angustiado com a menção de caixas.
Resumindo, um beco sem saída. Se essa fosse a primeira vez que Mikaele Salesa aparecesse nos nossos arquivos, eu definitivamente concordaria com a própria avaliação do Sr. Yang, mas agora tem muitos casos pra serem atribuídos a drogas.
Qualquer que seja o negócio do Salesa, eu suspeito que é infinitamente mais perigoso.
Fim da gravação.
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ARQUIVISTA
Complemento.
O notebook da Gertrude tem sido bastante... interessante. Infelizmente, nada parecido com "Meu Assassino.avi". Ela não tinha nenhum tipo de diário, pelo que eu posso ver. Na verdade, parece que ela não guardava muitos documentos. Algumas planilhas de orçamento e formulários de trabalho, mas tenho a sensação de que ela não era muito de anotar coisas.
O que chamou atenção na planilha de orçamento foi a quantia bem alta que ela solicitou pra viajar. O que é ainda mais estranho é que parece que o orçamento foi aprovado.
O histórico de internet e e-mails dela revelaram mais algumas informações pertinentes. Parece que ela viajou muito, pelo mundo todo, muito além do porão onde se esperaria que um arquivista ficasse. E nesses casos, ela pelo menos guardava os recibos e as informações de reservas. Nairobi, Wichita, Budapeste, Xangai – a lista continua. Não tem nenhum registro desde 1998, claro, mas dado o padrão, não acho que uma viagem a Alexandria tenha sido tão impossível.
Tem também a questão dos produtos que ela tava encomendando. Existem vários pedidos online de gasolina, fluido de isqueiro, pesticidas e lanternas de alta potência. Eles eram esporádicos mas notáveis, já que ela não dirigia, fumava ou trabalhava no controle de pragas. As lanternas fariam sentido se não fosse pelas quantidades que ela encomendou. Ela também fez pedidos de uma variedade impressionante de pastas de arquivamento, etiquetas e marcadores de índice de diferentes marcas, formatos e sistemas, a maioria dos quais encontrei de vários jeitos nos arquivos.
Já que a ideia de uma senhorinha caduca agora foi totalmente pro ralo, não posso deixar de pensar se existe uma razão pra ela ter mantido os arquivos em desordem. Acho que ela não aprovaria meus esforços pra organizá-los.
Parte de mim tá tentada a seguir o exemplo dela e suspender as minhas explorações, mas quanto mais eu descubro sobre a Gertrude, menos inclinado estou a confiar nela, e não acho que imitá-la seja a decisão mais sábia. Especialmente considerando as três compras mais preocupantes que encontrei no histórico dela.
Gertrude Robinson estava tentando comprar Leitners. Ver o nome da conta "gratadebiblioteca1818" me tirou uma risada particularmente sem humor. Fica óbvio quando você já tá procurando, eu acho.
Parece que ela conseguiu arranjar três livros: uma impressão especial de As Sete Lâmpadas da Arquitetura, de John Ruskin; aquela cópia bem duvidosa de A Chave de Salomão; e um panfleto de 1910 simplesmente intitulado "Um Desaparecimento". Tenho quase certeza de que nenhum deles tá nos arquivos e também não estavam no apartamento dela. Espero que ela os tenha destruído, principalmente porque A Chave de Salomão é um tipo de almanaque sobre demonologia, mas eu não sou tão sortudo assim.
Resumindo, o notebook me deu muitos motivos pra me preocupar e poucas evidências concretas. Quanto mais eu descubro sobre a Gertrude, mais respeito tenho por ela e mais me preocupo com seus objetivos.
Talvez eu esteja focando na pergunta errada, e o mais importante não é quem a matou, mas por quê.
Fim do complemento.
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31 de marzo, 2013. El sacrificio de los últimos EGREGOROI, brujos al servicio de las entidades celestiales, permitió que, junto a la energía combinada de nefilim y brujos rúnicos, las PUERTAS DEL INFIERNO y la ENTRADA DE FEERA volvieran a cerrarse, dando por finalizada una pesadilla que ya atormentaba a muchos. Sin embargo, los nefilim sobrevivientes no tardarían en percatarse de que sus habilidades, lejos de desaparecer —tal y como preveían que sucediera una vez su misión quedase finalizada—, se mantuvieron simplemente intactas. Los nefilim sin los demonios no tenían sentido, ¿verdad? Entonces, ¿qué ha sucedido realmente? Dejadme presentaros a LOS REZAGADOS. La mayoría de demonios consiguieron escapar de vuelta al infierno, pero algunos pocos quedaron anclados a la Tierra, bajo el implacable hechizo de sumisión del AQUELARRE GRIGORI. Ahora, convertidos en su silenciosa arma, constituyen la potencial amenaza para todos los enemigos de tan desalmados brujos, mientras los nefilim, ignorantes de lo sucedido, tratan de encontrar respuestas. ¿De verdad ha acabado la guerra? Sin embargo, en medio del caos, una nueva CHISPA brilla al final de un arduo camino de investigación. La SOCIEDAD AUGUSTINE ha dado con la clave para su último y más importante experimento: criaturas antaño lobos, capaces de dominar la magia, y dominadas por su propia sed de sangre... las QUIMERAS parecen haberse convertido en el nuevo éxito de la compañía; un éxito que quizá, saboreen por poco tiempo. Y es que algunos de los prisioneros para llevar a cabo dichos experimentos no han sido otros que LOBOS LANVIK. La poderosa manada de licántropos, ya asentada en Mystic Falls desde hace años, no permanecerá callada ante el agravio. Fuerza bruta e intelecto volverán a batirse en duelo una vez más...
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geekpopnews · 2 months
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