Tumgik
osabordopetricor · 5 months
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eu acho que eu morri quando tinha 14 anos, sozinha no meu quarto, numa quinta-feira à noite, enquanto minhas amigas estavam em alguma festa ou apaixonadas pela ideia do amor.
então, no outro dia, eu acordei e fui à escola.
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osabordopetricor · 6 months
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me irrita saber que a vida continua, mesmo que não estejamos presentes um para outro.
me irrita saber que o mundo não acabou quando eu decidi que iria embora. me irrita lembrar que você não sangrou até a morte sentindo minha falta, que eu não chorei por um mês inteiro, que você continuou cortando o cabelo do mesmo jeito e que eu tive vontade de começar hábitos novos.
me irrita saber que não choveu todos os dias, que houveram momentos em que me senti muito feliz e que te vi rindo com seus amigos quando passei por você.
me irrita saber que adiei minha ida por tanto tempo porque jurava que a realidade despencaria sob meus pés e o futuro cairia sobre minha cabeça porque eu não deveria ser capaz de viver um momento no qual a memória recente do seu toque e gosto não existisse.
me irrita saber que não te escrevi nenhum poema quando estávamos juntos, que você não fez uma tatuagem com meu nome, que as pessoas não lamentaram o nosso afastamento e que fomos tão comuns que deixou óbvio: o extraordinário foi criado exclusivamente por mim.
me irrita saber que o sentido se conserva, que ainda há novos começos e que cada um viverá situações cujo o outro não terá acesso.
me irrita saber que existirá uma versão minha que você não irá conhecer e que você poderia se apaixonar muito por ela ao ponto de não deixá-la partir tão facilmente, como deixou a mim.
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osabordopetricor · 6 months
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Bonnie Burstow uma vez escreveu que "pai e filha desprezam a mãe juntos. Eles trocam olhares com significado quando ela não entende o ponto. Eles concordam que ela não é tão inteligente quanto eles e que não consegue raciocinar tão bem quanto eles. Mas, esse acordo silencioso não salva a filha do destino da mãe". Ela estava certa. Desde que me percebo, acho que uma das minhas maiores mazelas foi sempre ser a minha mãe. Acredito que seja por conta da minha condição de irmã mais velha, mas eu sempre senti ela. Muitas vezes via o mundo pelas frestas dos olhos dela.
Eu sempre olhei para minha mãe assustada, como quem encara um espelho por tempo o bastante para diassociar. Já sabia que não havia como escapar do meu destino, contudo, isto não me salvou de teme-lo. Provavelmente com ela também foi assim, e com minha avó. E sucessivamente com as mulheres de minha familia. Somos muito parecidas: muito mulheres em todos os esteriótipos e diacronismo de nossa identidade de gênero.
As mulheres sabem, em algum momento, que são a mãe. E sabem que todas as tentativas desesperadas que surgem na adolescência para fugir disto são em vão.
Há sempre um homem sendo nosso pai para nos fadar ao destino de sermos nossas mães.
Minha mãe, antes de ser minha mãe, tinha um nome. E sonhos, e uma personalidade, e era eu. Queria ter encontrado-a, quando ainda era eu e, logo, poderia me enxergar com seus olhos, e não pelos olhos de sua mãe. Queria ter segurado suas mãos e dito: não posso te salvar de ser mãe, mas, tenho sorte por, embora ter medo, nunca ter vergonha de me tornar você. Eu te entendo, fui e serei você. E, portanto, nunca compactuarei com meu pai. Não fiz e não farei trato algum, você sempre foi e será brilhante.
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osabordopetricor · 6 months
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olhe nos meus olhos e diga que tudo ficará bem.
que posso sair disso discretamente, como o toque da ponta
dos meus pés no chão em todas as madrugadas em que
eu não poderia ser vista e escutada.
me diga que eu não ficarei marcada, como todas as vezes
em que você me disse para não te segurar muito forte,
para não deixar vestígios onde ela poderia ver.
comprove que sua presença em mim passará despercebida,
como eu quando estamos em público.
me diga que todas as memórias sumirão repentinamente,
como você nas manhãs seguintes.
segure meus ombros e grite que posso apagar isso,
que posso parar de sentir a qualquer momento,
que tudo não passou de centenas primeiras e últimas vezes.
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osabordopetricor · 6 months
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se um dia eu me matar, vai ser por pura preguiça da perspectiva de viver minha vida, pois convivo muito bem com a minha tristeza, obrigada.
nao deixarei legado algum, apenas um monte de palavras que organizo e chamo de poemas para dar razão àqueles que me chamam de vagabunda.
lamentarão minha morte, será? se por acaso souberem de mim no futuro, irão comentar "o mundo muda, mas todos os poetas ainda são tristes"? quero ser reconhecida por ter sido real de um jeito que incomoda as pessoas. por ter sido errada e vivido ao contrário.
mas não fracassei, fiz sucesso em vida. consegui tudo o que eu realmente quis e todos que passaram por mim agora são um pouco eu também. 
não é possível amar outro plenamente após ter amado a mim. eu sempre estarei lá, um parametro de comparação como uma pedra no sapato.
minha existência é cruel. eu partirei seu coração e você ainda me agradecerá por isto. 
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osabordopetricor · 8 months
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às vezes, eu sinto que você é uma punição que eu mereço.
como se eu estivesse pagando, em longas prestações, por um pecado de outros mundos. quando estamos distantes, me pergunto se é isso mesmo o amor. parece tão diferente do que eu li, mas já se passou tanto tempo que eu nem sou mais capaz de distinguir. estou nisso para muito além do pescoço. a ideia de existir idependentemente de você me parece insuportável.
às vezes, tenho vontade de te abrir e morar dentro. me esconder dentre suas vísceras e me alimentar de quem você é até que eu não seja nada além de uma extensão sua. e então eu te olho de perto, bem no seu rosto, ou presto atenção no timbre da sua voz, percebo que você é só uma pessoa e isto me parece impossível. você é o universo e todas as suas partículas.
há coisas como o pulsar do seu coração na minha bochecha, ou como você parece natural no meu quarto, ou como o mundo acaba toda vez que você fecha a porta. sinto que te conheço a minha vida inteira, antes mesmo de conhecer a mim. sentir sua falta é como diassociar.
por que me transformou em você?
você só se encaixa no meu espaço, na minha cabeça, tudo o que eu vejo é você. coisas como nós foram feitas para perdurarem: este é o nosso castigo.
- devaneios de autoflagelação
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osabordopetricor · 8 months
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você se vai e eu escrevo poemas enquanto derrubo céus e estremeço a terra. você não tem ideia do que eu faria para ter te segurado de um jeito que te fizesse lembrar de mim para sempre.
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osabordopetricor · 9 months
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não me deixe acostumar-me com a tua ausência, não faça com que sua presença me cause ansiedade. não quero me reconhecer só quando estou sem você.
não permita que seu silêncio não me abale, que eu me esqueça do timbre da sua voz, que não te enxergar seja um hábito. não nos deixe morrer numa tarde qualquer quando eu perceber que já não sinto a força da sua existência.
eu quero reconhecer seu cheiro como reconheço o cheiro do meu quarto. quero sua permanência. quero que o calor do seu corpo seja o que me venha à mente quando minha alma ansiar por refúgio.
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osabordopetricor · 10 months
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nós nascemos humanos e nos tornamos mulheres. e, quando finalmente nos enxergamos assim, entendemos nossas mães e nossas mães nos reconhecem como semelhantes. não há mais ninho, somos mulheres. e, nesse momento, uma guerra calmamente se inicia, pois o passado e o futuro não se suportam. há a inveja do que poderia ter sido e o receio do que há de se tornar.
mãe e filha, quando se reconhecem como mulheres, se afastam em agressividade contida. não aquela agressividade de quem castiga, mas a agressividade de quem sofre. a agressividade de quem é cruel pelo prazer de também sentir dor.
mãe e filha, quando se reconhecem como mulheres, se olham com distância. se encaram como se olhassem através de um espelho, o qual destroem com ódio e utilizam os cacos para dilacerarem a própria carne.
mãe e filha, quando mulheres, sentem falta de quando eram mãe e filha quando aconchego, quando segurança. quando mãe e sua menina. quando menina e sua heroína, sua mulher mais linda do mundo.
mas, mãe e filha, quando mulheres, - não sei, felicidade não é o termo certo -, são inundadas por um sentimento que só mães e filhas como mulheres conhecem quando se veem vencendo. é um sentimento coletivo de mulheres que se reconhecem mulheres.
e então há uma tregua, antes de se lembrarem que são mãe e filha. como mulheres.
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osabordopetricor · 10 months
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foi só quando te odiei, quando senti aversão por quem
você era, quando não me reconheci ao te olhar, que te percebi.
e, só te percebendo como coisa em si, sem mim, que te amei.
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osabordopetricor · 10 months
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farpa sem ponta
recorrentemente venho acordando no meio da madrugada. não há razão especifica nem mesmo poética, só meu sono desregulado. e, anteriormente, eu apenas desbloquearia meu celular e encheria meu cérebro de dopamina, mas ultimamente venho tentando fazer as pazes comigo só, com quem briguei há tantas, perdi e tô tentando encontrar. pois é isto ou guerra, e eu perderia.
porém, no meio da madrugada ficar comigo só parece uma penitência sem fim! não aguento ouvir meus sussurros que parecem gritos no silêncio quando estou sozinha no mundo. não há a paz de clarice, há apenas desconforto e medo. sou tomada por tantas aflições que até penso que sou aquilo que escuto e me aperta o peito. e que aperto! parece que vou sufocar.
eu tenho medo de mim no meio da madrugada. provavelmente porque não sou tão bem só quanto gosto de pensar. me sinto como uma farpa, na verdade. uma farpa sem ponta que está tão enraizada que até inflamou. posso me distrair durante o dia, mas, no meio da madrugada, surgem as pontadas, que me impedem de contemplar a minha existência sem interferências. não sei ser sozinha, é fato, pois sou farpa sem ponta em mim mesma.
e, no meio dessas madrugadas de insonia, me pego desejando que sócrates e esses existencialistas todos estejam apodrecendo no inferno. veja só, conheça a ti mesmo, torna-te quem tu és... e se eu não for ninguém? e se eu for apenas isso aqui? e, sendo só isso aqui, o que eu faço se nunca fizer as pazes comigo só? e se a vida for só isso e, mesmo assim, eu não estiver aguentando viver? como que dorme assim?!
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osabordopetricor · 10 months
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você saiu e toda esperança do mundo caiu por terra.
o céu fechou, o ecossistema entrou em colapso.
todas as bençãos morreram, jesus voltou e novamente
foi apedrejado. não há mais razões, estamos (estou) perdidos!
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osabordopetricor · 10 months
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ansiar por querer ir fundo numa coisa tão rasa está sendo o meu maior vexame atualmente. acho que nada de fora nunca vai me bastar. na verdade, só eu tenho a alma e a carne das quais quero sentir o amargo. o meu olhar deve ser para dentro e minha solidão, portanto, eterna.
estou enlouquecendo ou ser gente é isso? que agonia!
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osabordopetricor · 10 months
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não há outra explicação. eu sou um domingo à noite,
uma tarde nublada, um vento gelado. sou as cores do
mundo às 18 horas, o silêncio, o passado, um livro
da clarice lispector. sou outubro, o outono e a lua cheia.
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osabordopetricor · 11 months
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eu não quero ser forte, não quero lidar com frustrações
com dureza, quero senti-las. quero sentir cada coisa
minimamente, pois meus sentimentos são as únicas coisas
que eu tenho que ninguém mais tocou. meus sentimentos são
todos frutos da carne, de mim mesma antes do eu social.
quero ser intensa. não da forma violenta, mas da forma mais
intima possível. quero ter a liberdade para ser e fazer
o que dói e me machuca. quero fragilidade para viver.
a beleza poética da existência e da liberdade está em
ser publicamente o que se é numa madrugada melancólica
na escuridão de um quarto.
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osabordopetricor · 11 months
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buscando sensibilidade, minuto a minuto,
em todas as coisas, em mim mesma, e na
apreciação do nada. romantizando as nuances,
texturas, formas e jeitos. buscando gentileza
na vida para construir gentileza em mim.
alimentando com a amor, próprio e a todas
as coisas, imateriais ou não, para que só
dele eu seja feita e reconhecida.
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osabordopetricor · 11 months
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eu, mesmo acabada, ainda nesse último minuto,
preciso te olhar descansando confortável
com todas essas suas certezas e fatos sobre
si mesmo, que nunca te permitiriam desviar
da presunção imutável de ser você: tão concreto,
frio e intransigente . incapaz de ceder, incapaz de
assimilar nada que venha de fora.
e, revirando o intimo das minhas emoções e desejos,
sempre "tão profundos, incontroláveis e inconsequentes",
lhe faço uma última sentença, com o que resta de
toda força emocional que depositei em você:
espero que toda essa sua verdade soterre seus
sentidos, até que você se torne incapaz de sentir
qualquer coisa além de si mesmo.
espero que seu ego te leve longe, muito alto,
e que você fique lá para sempre, sozinho.
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