Tumgik
goldenlilies · 1 year
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São tempos incompreensíveis
A vida caminhou veloz nos últimos anos e cada vez entendo menos o que está acontecendo ao meu redor, dentro de mim e com as pessoas que seguem ao meu lado. Gosto de pensar que as mudanças são mais ligeiras que a mente da gente é capaz de se acostumar e por isso tanto estranhamento.
Só sei que tem horas que sinto que não conheço muito bem a ninguém, me assombro com o timbre da minha própria voz, com as palavras que se formam, tão amargas. Olho para antigos companheiros de estrada e fico assustada com seus defeitos reais e profundos. Questiono-me: "essa deslealdade e essa falta tão grande de princípios sempre estiveram aí e eu não ligava ou isso nasceu e cresceu bem debaixo dos meus olhos e eu estava cega"?
Então nada mais é familiar e eu não sei como agir. É estranho porque não tenho mais a juventude para me confortar e receber a culpa para quando a resposta não me vem. Eu deveria saber e deveria me posicionar. Deveria conseguir lutar com palavras, ações e símbolos. Sem a juventude, me resta agora acreditar no tempo. Esperar um pouco, refletir, torcer para que a sabedoria me seja soprada pelos ventos de outono.
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goldenlilies · 1 year
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Como quero sofrer
Existem poucas coisas nessa vida que sei com certeza. Certezas são tolas e desabam sobre nós mais vezes do que é possível contar. Mas dessas raras certezas que se pode ter, a que tem permanecido dentro de mim é que ando infeliz.
A infelicidade foi se ancorando no meu coração há tanto tempo que já nem sei. Foi antes da minha carreira implodir (e com ela minha identidade), antes do luto de perder meu pai e melhor amigo, muito, muito antes dessa maternidade complexa (aliás, foi ela que me deu um respiro e força pra continuar mesmo sentindo essa dor).
Talvez ela tenha começado silenciosa, arrastada por traumas não tratados, por violências que até hoje finjo que não me aconteceram e só mencionei uma única vez a uma amiga quando estava completamente alcoolizada, atitude da qual me arrependo muito. Essa história é minha, mas não quero dividir com ninguém. Poderia ser um exemplo de superação, mas as palavras que imprimo aqui hoje são justamente para dizer que esse foi meu mal, nunca ter superado.
Quando sofremos certas violências na vida, dependendo da nossa idade, do nosso contexto, permanece a culpa. A culpa de não ter dito nada, a culpa por ter dito alguma coisa. Essa culpa ao ser ignorada pode tornar-se, e no meu caso se tornou, uma necessidade absurda de agradar a todos, nunca mais errar, nunca mais se colocar numa posição em que o seu não te machuque.
Mas aí é que entra aquilo que ninguém te conta. O "sim" machuca mais que o "não" porque ele é uma agressão auto imposta, um esquema de autoflagelação em que se espera que o outro vá gentilmente perceber que está ultrapassando seus limites (aqueles intrínsecos ao normal funcionamento da sociedade mas que você nunca fez questão de explicitar que também se aplicam a você) e recuar.
Eu venho hoje te contar e contar pra mim também que ninguém vai recuar, ninguém vai te estender a mão, não vai surgir um melhor amigo, um companheiro para te salvar. É a gente que precisa se revirar por dentro e encontrar luta e coragem. É a gente que tem que escolher como sofrer. Sofrer com uma vida ridiculamente infeliz e subserviente ou sofrer com uma vida que vira e mexe alguém rejeita as suas escolhas, enquanto outros a respeitam?
Só peço a você e a mim que escolhamos rápido, porque o tempo passa sem nos dar opção de fazê-lo descansar.
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goldenlilies · 1 year
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Metas e pequenas mudanças
Gosto de metas de ano novo. Acho que ter uma lista de propósitos funciona como organização mental. Do contrário, parece que os pensamentos ficam boiando e se trombando numa barulhenta discussão que grita: "agora me prioriza aqui" e tudo se torna banal, até ser abandonado.
Enfim, tenho listinhas para esse ano. Ando circulando em torno da ideia de que felicidade é provocada e que a gente, frequentemente, se larga em situações infelizes por puro descuido.
Por isso comecei a fazer um exercício sempre que posso: "estou bem"? E mais do que deveria, percebo que estou com calor, com sede, sentada de forma incômoda, numa conversa ruim, preocupada com futilidades ou vestindo e calçando peças incômodas.
O efeito tem sido de buscar solução: alongar, buscar travesseiros melhores, chuveiro com pressão, guarda para os dentes contra bruxismo. Essas coisas que antes cediam espaço para coisas inúteis que não mudavam minha vida e não raro iam parar numa gaveta qualquer que eu não conseguia nem achar depois.
Dessas ideias que me apareceram, uma é parar de usar rede social da forma como costumo (que é a forma de todo mundo: fomentando meu próprio consumismo e sentindo aquele pequeno pico de prazer a cada like). Resolvi abrir mão dos filtros que tratam a pele, porque a gente vai se odiando um pouquinho mais cada vez que se vê naturalmente.
Continuo fazendo listinhas e mudanças para tentar uma vida que vale a pena pra mim. Depois disso, o próximo passo é estender a mão para quem quiser. Só quando a gente tá bem que conseguimos ajudar do jeito certo, né? E estar ajudar as pessoas que precisam é a resposta certa da felicidade
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goldenlilies · 1 year
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Começando a pensar sobre o fim de 22
Fim de ano e um ciclo se encerra na minha vida. Como quase todo final, esse vem agridoce. Meu filho fez 4 anos esse ano, alcançou marcos importantes e, embora ainda tenhamos uma longa jornada pela frente, estou me sentindo preparada para dar o próximo passo, que é o de mandá-lo para o ensino integral e começar a reconstruir minha individualidade.
Há aquele antigo dito popular que é preciso uma aldeia para criar um filho, mas nos tempos modernos, a aldeia debandou há muito tempo. Os parentes imediatos também, no meu caso, não quiseram compartilhar cuidados numa criação atípica. Segui até aqui sozinha e muitas vezes me negado a reconhecer a verdade: preciso de ajuda.
Acho que não me neguei, na verdade, mas busquei ajuda nos lugares errados. Hoje entendendo melhor meu lugar de mãe solo, posso me estruturar como tal, enxergar a vida sob a ótica do que é preciso para cuidar de uma criança TDAH totalmente sozinha.
Entendi que eu preciso de terapia, de ajuda com um constante sentimento de desânimo e cansaço que me impregnou de tal forma que me impediu de aproveitar a maternidade como estou aproveitando agora. Tenho percebido cada vez mais a importância de fincar o pé no presente, manter o pensamento fixo que, por hoje, tudo vai dar certo.
Esse novo ano, com mais tempo, vem para me tornar uma mãe melhor, mais bem disposta, mas vem, sobretudo, com a expectativa de me tornar uma mulher melhor aos meus próprios olhos, onde as minhas prioridades estão consideradas, onde minhas falhas são tratadas como deveriam: não como condenação, mas como possibilidades de transformação (clichê? Frequentemente a vida é clichê mesmo).
Tá tudo bem. Tá tudo bem.
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goldenlilies · 1 year
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Carta ao meu filho
Meu filho, mesmo nos dias difíceis, em que perco a paciência e faço a coisa errada, eu te amo. Nesses dias, a única pessoa que estou amando menos sou eu mesma. Nesses, a raiva que eu tô sentindo é de mim. Por isso, me desculpe se as vezes eu grito quando devia te acolher, quando eu desconfio dos meus métodos para aplicar outros, mais truculentos, porque a pressão social me consome. Não é e nunca será culpa sua, só minha.
Você é perfeito assim como é e eu não mudaria nada em você. Segue no seu tempo, no ritmo das canções que vc nunca para de cantar. Segue, meu filho, achando que tudo é festa, que tudo é brincadeira, porque quisera eu conseguir ver a vida como você a vê.
Meu coração vai ser pra sempre seu.
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goldenlilies · 1 year
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Sobre cansaço de ser alguém para alguém
Hoje eu chorei. Ainda estou chorando, na verdade e, sabe, raramente choro.
Passo meus dias tentando ser o melhor alguém para os outros e fracasso tanto. É difícil ser mãe, o que dizer, ser mãe ~atípica, como dizem. É difícil ser esposa.
A gente convive com todas essas demandas e se vê fracassando em ser a mãe perfeita que consegue fazer todas as terapias, dar muitos reforços positivos e ter as palavras certas na ponta da língua. Fracassa também em ser a esposa legal, sempre apoiadora e compreensiva, que nunca propõe DR's exaustivas e que tá sempre afim de transar.
E mesmo fracassando, a gente ultrapassa os próprios limites tentando ao máximo não errar jamais. A gente se abandona, se desama e vê só os defeitos, só as palavras cruéis, sente sempre que a gente mesmo não importa. O que importa é a felicidade da família,
Por mais que, em teoria, a gente entenda bem o que é o machismo estrutural que põe a mulher nesse lugar de subserviência e absoluta falta de autoestima, desconstruir os gatilhos que geram nossos maus hábitos e nossas dores, é muito, mas muito difícil.
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goldenlilies · 2 years
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Misantropia
A dificuldade do convívio social é real e, infelizmente, comum. Talvez seja uma tendência desse momento em que todos se expressam livremente, muitas vezes, ignorando a estrutura básica dos contratos sociais que fizeram a humanidade evoluir como grupo.
É um conjunto atual de pessoas apegadas aos seus pequenos problemas e na responsabilização de qualquer fator outro que não o indivíduo em questão. As pessoas com problemas reais, em grande parte, estão na base da pirâmide do status quo e, por isso, continuam a ser silenciadas pelo ruído dos privilegiados-vitimizados.
Certo momento da cultura local, descobriu-se a palavra "resiliência", mas a empregaram tão mal que ela perdeu força, valor e, por último, significado. Particularmente, tenho experimentado a vida consciente dos privilégios que me cercam, bem como das desigualdades. Mas vivi grandes eventos de dor, doença, falta, medo e violência. Eventos que me deixaram com a casca grossa e com abrangente preguiça de quem tenta levar os dias se alimentando de dó e piedade.
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goldenlilies · 2 years
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Sobre consciência de si
As vezes, a gente sabe o que quer, tá no caminho certo, mas dá tanto, tanto trabalho que dá vontade de procurar atalhos ou aceitar qualquer contraproposta que não valorize devidamente sua jornada. Respira... Espera
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goldenlilies · 2 years
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Quick fix
Aquele momento do dia que as coisas estão meio estranhas e a gente sai caçando uma distração aleatória pra cabeça
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goldenlilies · 2 years
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“I need to stop fantasizing about running away to some other life, and start figuring out the one I have.”
— Holly Black
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goldenlilies · 2 years
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A feeling
Of this liquid hotness inside me telling me life is about to change
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goldenlilies · 2 years
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Tempo
É tão comum terminar a semana com a sensação de que não deu tempo de realizar nada. Frequentemente, comento com marido sobre nossa agenda cheia. A maioria esmagadora dos meus compromissos são produzidos por ele e pelas terapias do nosso filho. Muitos são inevitáveis e compõem esse estruturado jogo chamado vida adulta, mas outros são sociais e que poderiam ser recusados e evitados, de vez em quando.
As pessoas enxergam o mundo dentro de uma perspectiva de comparação, afinal de contas o que mais há do que o seu próprio empirismo como base de compreensão da realidade que nos rodeia? E, talvez por isso, é tão difícil sentir a bendita da empatia em relação a algumas sensações como o cansaço. A gente tende a achar que estamos mais cansados por nossas próprias razões e desqualificamos o cansaço do outro. É tipo tolerância a dor, cada um tem a sua, de maneira que um corte no dedo vai doer diferente em cada pessoa e não é porque em você dói pouco que aquele que está chorando de dor seja um idiota.
De toda forma, espero em algum momento da vida dominar um pouco o tempo, ter aquela agenda preparada para imprevistos. Espero que a maternidade vá se tornando mais suave, a medida que mais pessoas chegam para ajudar. Trazendo mais uma analogia, é como fazer um trabalho que você ama 16 horas por dia. O seu amor não garante que você não vá ficar esgotado.
É isso. See you next time
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goldenlilies · 2 years
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Olá!
Estou chegando aqui em busca de um lugar para falar e quem sabe encontrar outras pessoas querendo conversar sobre os mesmos assuntos. Tentei um LiveJournal por um tempo e foi legal e inspirador, mas se esgotou. Minha relação com microblogs ficou estranha também. A internet é esse lugar que, ao mesmo tempo que seguimos em busca de nossos pares, e queremos ficar em nossa bolha, também precisamos de diversidade, porque sem ela é difícil pensar além.
Confesso que me questiono sempre se o melhor para a saúde mental de qualquer pessoa não seria largar isso aqui de vez. As fotos, as histórias, todo o enredo curado com tanto cuidado parecem uma lixa que vai tocar direto nos nossos pontos mais frágeis.
E como é rápido e fácil acreditar que só a gente não chegou lá. Como é natural ser cruel conosco e dar uma enorme dimensão para as mazelas da vida, enquanto ignoramos todos os momentos que as coisas funcioram.
Eu tenho me sentido assim todos os dias, como quem deveria ser grata, mas se fixa nas rasteiras que a vida dá porque não são poucas. E é sobre isso que quero falar, das dores e das cores que a vida real tem. Sem filtro, sem floreio, sem romantização e sem drama.
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