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#jardim patente
saopauloantiga · 1 year
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Ônibus CAIO Gabriela da E.A.V Taboão estacionado na rua Riskallah Jorge em 1984. Fazia a linha 4621 “Jardim Patente - Praça do Correio”.
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karmel-store · 4 months
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PREMIUM CHRISTMAS EDITION CARMEL FLOWER by KARMÉL
Descubra a magia do Natal com o CHRISTMAS CARMEL FLOWER by KARMÉL , onde cada pétala das rosas e flores preservadas é uma celebração da beleza duradoura. Este arranjo exala o espírito festivo, tornando-se mais do que uma flor; é uma expressão encantadora que ilumina a temporada com elegância e sofisticação.
Bouquet com 12 Rosas de Jardim Preservadas, cada caixa é uma expressão delicada e duradoura.
Medida da caixa - 18,5 cm
Diâmetro do Bouquet Floral - aproximadamente 55 cm Para enriquecer ainda mais este presente especial ou decoração, sugerimos que explore outros produtos KARMÉL, adicionando um toque adicional de sofisticação e beleza à sua surpresa.
Subscreva KARMÉL ADDICTED um serviço Membro Premium e usufrua de exclusivas vantagens, incluído nesta compra.
O que são Flores Preservadas?
Flores 100% Naturais
As flores preservadas são produtos completamente naturais que passaram por um processo de conservação para manter sua beleza e frescor sem a necessidade de água ou luz solar.
O processo das nossas flores preservadas envolve um cuidado excecional e aperfeiçoamento.
Processo de cultivo
A flor/planta é colhida no momento ideal em termos de beleza natural, saída dos 180.000m2 de campos de cultivo. A planta recém-colhida passa por um processo exclusivo para absorver uma mistura específica de fórmula de preservação 100% vegetal e biodegradável.
Processo de Preservação
O líquido conservante assume o lugar da seiva e da água da planta, criando eficazmente uma representação estática da natureza, resultando num produto exclusivo e 100% natural. As flores e plantas preservadas mantêm a sua beleza inalterada ao longo de meses, sem exigir rega, permanecendo leves e praticamente isentas de manutenção.
Combinação de Esforço e Tecnologia
O método básico de preservação de flores e plantas existe há muitos anos, o nosso fornecedor patenteou pela primeira vez como um processo industrial há mais de 25 anos. Através do esforço dedicado, a tecnologia foi otimizada e ampliada para a operação eficiente e em grande escala de hoje.
Cuidado e uso adequado de flores preservadas
Resistência e Longevidade Garantidas As plantas preservadas destacam-se pela sua extrema resistência e durabilidade. Com os cuidados adequados, é possível desfrutar destes produtos naturais por meses, ou até mesmo anos. Os produtos naturais KARMÉL dispensam a necessidade de poda ou rega. Para assegurar a longevidade das flores e plantas preservadas, é crucial adotar os devidos cuidados e práticas de uso: evitar exposição direta ao sol, humidade e água. As plantas conservadas KARMÉL destacam-se pela sua notável resistência e durabilidade.
Apenas precisam… Evite a exposição prolongada à luz solar direta. Com os cuidados certos, você poderá desfrutar do seu produto natural KARMÉL por meses ou até anos. O único cuidado que o produto requer é a remoção ocasional do pó, de preferência com spray de ar, soprador/secador de ar ou, alternativamente, espanar com um pano macio.
Vantagens de Flores Preservadas
Todos os produtos conservados vendidos na KARMÉL são flores e plantas genuínas e naturais, que foram tratadas com um líquido de preservação biodegradável e à base de plantas. Não são utilizados quaisquer ingredientes tóxicos
Que características faltam aos produtos naturais conservados vendidos na KARMÉL?
Não são artificiais
Produtos não são liofilizados ou desidratados
Não são tóxicos
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atletasudando · 8 months
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Dominio africano en el medio maratón de Rio de Janeiro
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Fuente: CBAT Los africanos dominaron la 25ª Media Maratón Internacional de Río de Janeiro, realizada en la mañana lluviosa de este domingo (20/8), con salida en Praia do Leblon y meta en Aterro do Flamengo. La carrera de 21.097 km contó con el Sello de Oro y el Permiso 14/2023 de la Confederación Brasileña de Atletismo (CBAt). El ugandés Moses Kibet y la keniana Viola Kosgei aseguraron la cima del podio. Moses completó el recorrido en 1:03:49, mientras que Viola consiguió 1:18:06. Los brasileños mejor colocados fueron Fábio Jesus Correia, que finalizó en segundo lugar tras una disputa muy reñida con el campeón, en un tiempo de 1:04:06, y Franciane Moura, que, en su debut en la carrera, finalizó en cuarto lugar. , con 1:19:45. Ni siquiera el tiempo cerrado y la lluvia en varios momentos de la carrera quitaron el ánimo a los corredores. En la disputa, Moses Kibet y Fábio Jesus hicieron carrera separada. Los dos se escapaban del pelotón nada más empezar y empezaban a alternarse en el liderato de la prueba. En la recta final, sin embargo, el ugandés confirmó su buen momento y se llevó a casa otro título: recientemente ganó la 2ª Media Maratón Internacional de Guarulhos. Fábio, campeón de la Copa Brasil Loterias Caixa de Cross Country 2023, destacó el recorrido y el hecho de correr junto a los destacados extranjeros. “La carrera es rápida y muy fresca, lo único que lamento fue la lluvia, que ralentizó un poco el ritmo. Pelear con estas bestias es muy bueno y solo puedo agradecer”, dijo el bahiano, que fue el mejor brasileño en la última Carrera Internacional São Silvestre, con el cuarto lugar. En la femenina, el pelotón caminó más compacto hasta poco más de la mitad de la carrera. A partir de ahí, las extranjeras lograron abrir, con destaque para Viola que logró superar a la favorita Emily Chebet, de Uganda, que venía de una victoria en la Meia de Guarulhos. El equilibrio y la buena disputa quedaron patentes con la confirmación de los tres primeros clasificados llegando en el mismo minuto. “Ha sido una carrera muy disputada y estoy muy contento de haber ganado a rivales muy fuertes. Me gustó el recorrido, bastante rápido, solo que la humedad era alta”, explicó la ganadora, de 24 años. Franciane dijo: “Fue gratificante para mí. Me enfermé en el quinto kilómetro y luego logré recuperarme. Estoy feliz por mi debut aquí, más aún con un podio” podios de competición: Masculino 1-Moses Kibet (UGA) – 1:03:49 2-Fábio Jesus Correia (BRA) – 1:04:06 3-Giovani dos Santos (BRA) – 1:05:39 4-Ederson Pereira (BRA) – 1:06:17 5- Robson de Lima (BRA) – 1:06:39 Femenino 1-Viola Kosgei (KEN) – 1:18:06 2-Emily Chebet (UGA) – 1:18:16 3-Felismina da Silva (ANG) – 1:18:44 4-Franciane Moura (BRA) – 1 :19:45 5-Kleidiane Jardim (BRA) – 1:20:55 Read the full article
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jaimendonsa · 8 months
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Pedro, o Coelho é um livro infantil escrito e ilustrado por Beatrix Potter que segue o jovem travesso e desobediente Pedro, o Coelho quando ele entra e é perseguido pelo jardim do Sr. Gregório. Ele foge e volta para a casa da mãe, que o coloca na cama após lhe oferecer chá de camomila.
O livro foi escrito para Noel Moore, de cinco anos, filho da governanta de Potter, Annie Carter Moore, em 1893. Foi revisado e impresso em particular por Potter em 1901 após várias rejeições dos editores, mas foi impresso em uma edição comercial, em 1902.
O livro foi um sucesso e várias reimpressões foram lançadas nos anos imediatamente seguintes à sua estreia. Foi traduzido para 36 idiomas e, com 45 milhões de cópias vendidas, é um dos livros mais vendidos da história.
Desde o seu lançamento, o livro gerou mercadorias consideráveis para crianças e adultos, incluindo brinquedos, pratos, alimentos, roupas e vídeos. Potter foi uma das primeiras a ser responsável por tais mercadorias quando patenteou um boneco de Pedro, o Coelho  em 1903 e o seguiu quase imediatamente com um jogo de tabuleiro de Pedro, o Coelho.
Pedro, o Coelho  permaneceu popular entre as crianças por mais de um século e continua a ser adaptado em novas edições de livros, programas de televisão e filmes.
______________para ouvir: https://youtu.be/KdEfGncUWm4
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rodadecuia · 2 years
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José Mário Imóveis - Imobiliária em Barão Geraldo | Campinas - José Mário Imóveis
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fundacaojerichohq · 2 years
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INFORMAÇÕES BÁSICAS
Nome: Wei Meiling.
Codinome: Hopps.
Aniversário: 20/05/2002.
Nacionalidade: Chinesa.
Espécie: Legado de fada.
Identidade de gênero e pronomes: Cisgênero feminino (ela/dela).
Moradia: 4º andar.
Ocupação: Youtuber & Streamer.
FC: Gui Chuchu (AKB48 Team SH), idol
Plots de interesse: Angst, fluffy, general, crack, squick.
Twitter: @FJ02WM
DESENVOLVIMENTO
QUALIDADES
Benevolente, Curiosa e Positiva
DEFEITOS
Desastrada, Perfeccionista e Sensível.
HEADCANONS
Entre tudo que era dito por Jericho, muitas coisas eram ditas sobre os Wei, a família que carregava um legado de grandes heróis e descendentes que rapidamente se aproximavam de altas patentes dentro da misteriosa fundação, muito se era questionado sobre os métodos da família Wei de forçar a abertura dos olhos para além do Véu, mas nada que fizesse mudá-los. Como caçula deste legado importante, Meiling sempre escutou desde muito nova que se quisesse dar orgulho aos pais, a mesma teria que seguir uma série de mandamentos tradicionais como a família era, isso incluía o ritual da família, o que não foi necessário, já que o enxergava desde o nascimento devido ao sangue mágico.
A sua infância fora como de uma criança praticamente comum graças à isso, frequentava as aulas humanas em casa com excelentes notas e um grande desempenho em sua educação extracurricular a qual que envolvia Pipa, Guzheng e cerimônias do chá, o qual tinha para preservar as raízes culturais, bem como encontrar em si uma forma de tornar o Véu mais compreensível, mas diferente de seus irmãos, o contato com isso era mais restrito de forma escondida dos olhos da menina, mas não era ingênua para perceber a diferença de tratamento que tinha com a mais alta proteção de sua família, mas após um incidente na escolinha a menina então percebeu o motivo de tanta atenção. Aquela acabou sendo a última vez que teve contato com outras pessoas, ou até que saiu da residência luxuosa dos Wei. De uma forma completamente dolorosa descobriu que não seria como uma criança normal, como as outras e se viu condenada aquela prisão pomposa.
Meiling não reclamava depois de tantas vezes escutar de forma enraivecida que isso era para o seu bem quando insistia em sair, mas queria sair, nem que fosse para o jardim colher flores para dar um pouco de cor a casa. Sua companhia sempre foram ursinhos de pelúcia, contos de fadas os quais foram de auxílio desde a infância para entender o véu, além de dispositivos eletrônicos as quais usava para descobrir suas paixões ocultas pelo audiovisual. Em uma tentativa de despistar seus familiares, Meiling numa rebeldia adolescente, decidiu atender o chamado e recebeu seu treinamento e no fim dele decidiu permanecer afiliada em Jericho, onde permanece até os dias atuais.   
ARQUIVO JERICHO
CLASSE E PODERES
Curandeira
Oração de Cura
Médico Espiritual
Feitiços do Curandeiro
RANKING
Vigilante
ARMA PREFERIDA
Quem vê Meiling consegue perceber em traços de sua personalidade, a imaginação fértil e entusiasmo ao falar de fantasia, estes trejeitos acabaram por refletir em sua arma de aparência mágica: Um cetro de cristal resistente de cor prateada, o qual em uma de suas extremidades possui uma moldura de mesmo material que circunda uma estrela amarela, esta moldura possui entre seu encontro com o cetro uma base com asas em tom branco e uma coroa dourada no topo. Apesar de grandes detalhes e a aparência, o cetro não possui exatamente propriedades mágicas, na verdade, o modo de combate usado com este bastão é semelhante ao bojutsu, com pequenas variações criadas por Meiling. Fora isso o cetro, não possui qualquer poder mágico a não ser sua forma de camuflagem o qual Meiling carrega como uma pulseira a qual possuí como pingente principal a estrela central com as asas em tamanho reduzido e varias outras pequenas estrelinhas e também o uso inusitado em que Meiling usa para soltar bolhas.
ATRIBUTOS
FÍSICO
Força: 0
Destreza: 2
Vigor: 1
SOCIAL
Carisma: 4
Manipulação: 1
Aparência: 4
MENTAL
Percepção: 1
Inteligência: 3
Raciocínio: 1
SINGULARIDADE
Entre todas as coisas existentes no mundo, a que mais aflige Meiling é uma maldição a qual carrega desde o nascimento, já desde o início foi desaprovado o relacionamento de sua progenitora de sangue mágico com um humano, especialmente por sua madrasta que  não querendo ter a responsabilidade de cuidar de uma criança que não carregava seu sangue consultou bruxas para amaldiçoar a garota desde os primeiros dias de vida. Desta forma Meiling possui a fragilidade de um vidro, além de sua facilidade para adquirir doenças e se machucar, todas elas e seus ferimentos duram o dobro do tempo natural para se curar, além disso são impossibilitados de ser curados de forma mágica, sendo obrigatório que a chinesa espere essa janela de tempo, para voltar ao normal, sendo assim os comprimidos que aumentariam seu fator regenerativo não fizeram efeito.
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helpmepleasehusband · 2 years
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Querido Marido.
🖤(te amo caral**)
🌼 flutuando
☘️ bom nem precisa dizer né kkk
💭 pensativa
🤡 tenho cara de palhaça
(sarcástico ok ✌🏻kk )
🤭 sem jeito kk (tímida)
☘️🙃 ( tava chapada)
💎 ( um espetáculo)
( vários emoji, "explosão de sentimento elevados)
🦁🖤 nem precisa dizer também né kkk
............... Agora vai fundo 👇🏻🖤🌼 ...............
Hoje dia 01/05 ... 13:56 Me entenda por favor!!!
Quando eu choro no seu peito e lhe digo que estou sentindo falta de seu carinho, não significa que você não me dá carinho, apenas estou sentindo falta de uma outra forma de carinho... Uma mais madura e romântica se é que você me entende kkk...🖤
Vejamos, vou tentar explicar isso de forma breve... Kkk
Você voltou de viagem, logo após quase 15 dias fora de casa... Antes de você chegar eu lhe perguntei quanto tempo você demoraria aproximadamente para chegar em casa e você me disse 3:00 horas... Ok? Ok!
Nesse tempo eu limpei toda a casa, chapei o melão forte, arrumei os guardas roupas, passei pano com desenfetante perfumado, para que a casa estivesse super cheirosa, começando pelo nosso quarto, aonde eu deixei a cama toda esticada, e ascendi o incenso 🌼, depois pelo corredor, no seu quartinho ao qual que tinha organizado todo pra você, de uma forma a ficar mais aconchegante, que inclusive (você chegou no dia seguinte ele já está zoneado 🤡🤡🤡 kkk)...
Banheiro, eu lavei o box, passei paninho de joelho de baixo da pia, esfreguei a patente, e coloquei desinfetante perfumado pra ficar cheirozinho 🌼 inclusive se você for olhar dentro do lixo do banheiro de baixo da sacola tem um algodão encharcado de desinfetante pra ficar cheirozinho 🤭🌼...
Passei pano no seu quartinho de novo antes de você chegar e bagunçar pra tirar os pelos das "fias" kkk, passei pano na cozinha, e fui levando o lixo todo pra sala e pra copa, (pensa no lixo 🤡, seu Alcides é prova que um pouco antes de você chegar eu desci com dois sacos de lixo, inclusive onde eu acho que acabei jogando a carteira de cigarro na hora da faxina☘️🙃).
Resumindo eu deixei esse app um 💎 pra quando você chegasse, prezando pelo seu conforto depois de 15 dias fora de casa aproximadamente...
Preparei um jantar diferente pra gente na mesa arrumada, com os pratos postos, talheres e copos, (pena que esquecemos da foto🤡), seria gostoso relembrar...
Aí você chegou, toda aquela bagunça e euforia do pós viagem, bagunça da tina, todos felizes e animados com o seu retorno, pois estávamos morrendo de saudades 🤭...
Pouco tempo depois houve um furacão no seu quartinho kkk...
Eu estava terminando o jantar e você deitado na cama, fumando e vendo tv...
Em minha mente eu imaginei todo um momento "romântico" pelo tempo que estivemos longe 🌼, aquele ditado né, " não se frustre com suas próprias expectativas, algumas pessoas não podem devolver aquilo que você lhes dá" ...
Não se chateie comigo pelas minha palavras, vc casou com uma mulher de 1998 que chora assistindo filme de desenho, e romance, consegue criar uma filosofia psicanalista sobre um desenho infantil na tentativa de expressar suas emoções, então tudo pra mim é de extrema a explosão de sentindo 😐😶🙃😔🤯🖤...
Tipo acreditar que a vida pode ser um conto de fadas, unicórnios e arco-íris kkk 🌼...
Eu queria dizer que eu te amo pra caralho, mas as vezes eu sinto falta de um colo, você não tá ligado na felicidades que vc fez transbordar no meu coração quando você me trouxe um brinco de penas 🌼 pq eles lhe faziam lembrar de mim 🤯🙁😭🥰😍🙂😉😱( papagaios dançante e tudo mais kkk)...
As vezes um perfume, uma flor de um jardim, ou uma flor qualquer de floricultura é extremamente gostoso de receber de você 😶🌼... Bom dia mãe gravou minha reação ao receber o girassol de aniversário, aquilo foi extremamente gostoso, somente aquela flor, aquele cartão, e um jantar posto a mesa, podia ser até pizza kk( não desmerecendo né kkk), mas feliz frango parmegiana, reciprocidade é o nome disso kkkk 🖤🌼
Algumas vezes eu lhe disse que temos percepção de vistas extremamente diferentes, aquilo que pra mim é extremamente gostoso, agradável, explosão sentimental e voltar kkk, pra você pode não ser tanto...
Mas entenda que as vezes esse borbulho no estômago que eu tentei lhe dizer que sinto falta, seu toque de vagar pelo meu corpo, eu escrevi isso aqui pra você... ☘️
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Eu pensei em um carinho a mim, de vagar, calmo, cuidadoso, não podemos negar que nosso 🦁🖤 de saudade foi sensacional, mas as vezes eu sinto falta desse carinho, desse toque, assim como eu faço com você quando passo a mão ou a boca pelo seu corpo lhe dando carinho... ☘️🤯🌼
Mais uma vez, não estou me desmerecendo do seu amor, apenas colocando aqui que temos forma de amor que não extremamente diferentes e isso acaba as vezes ocasionando esse tipo de desconforto como hoje...💭
Eu te amo 🖤
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cangacosa · 4 years
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O Turco Benjamin
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Benjamim Abrãao, Maria Bonita e Lampeão. (FOTO)
Benjamin Abraão terá post especial pelo fato de sua vida curiosa aqui no Brasil daquela época, pelo fato de ter filmado e fotografado o famigerado bandoleiro lampeão e por ter pago a aventura com sua vida.
Cronologia (1901 – 1938) Benjamin Abrahão Calil Botto
1901 – Segundo sua família, Benjamin Abrahão Calil Botto nasceu em Zahle (na época, cidade na Síria e, atualmente, do Líbano). Segundo o próprio, havia nascido em Belém, local de nascimento de Jesus Cristo.
 c. 1910 – Por volta desse ano, todo fim de mês ia para Damasco, na Síria, com um tio que armava caravanas para a venda de utensílios aos beduínos.
 1915 – Benjamin desembarcou no porto de Recife, fugindo ao alistamento militar obrigatório devido à Primeira Guerra Mundial. Aqui fez contato com parentes distantes, os Elihimas, que trabalhavam no comércio da cidade, no ramo de miudezas por atacado, das ferragens, de equipamentos de caça e da pesca, na Rua Visconde de Inhaúma, nº 83-91, com filiais em João Pessoa e em Campina Grande, Paraíba.
 c. 1915 – Fugiu do colégio onde os seus primos Elihimas o matricularam e foi para Rio Branco, atual Arcoverde. Devolvido aos parentes, passou a trabalhar como mascate.
1916 – Em São Bento do Una, ficou amigo do fazendeiro José Ferreira de Morais é foi acolhido na casa-grande.
 1916 / 1917 – Em Arcoverde, toma conhecimento da existência do Padre Cícero Romão Batista (1844 – 1834), o Padim Ciço, por romeiros que partiriam para Juazeiro do Norte, no Ceará, onde morava o sacerdote, considerado virtuoso e místico, que havia se ordenado no Seminário de Fortaleza, em 1870. O religioso obteve sua aura de santidade ao transformar a hóstia em sangue na boca da beata Maria de Araújo, em 6 de março de 1889. O fato teria se repetido diversas vezes durante cerca de dois anos.
Benjamin, soube que milhares de nordestinos iam a Juazeiro do Norte para receber a bênção do padre pelo menos uma vez por ano, o que tornara a cidade um excelente local para negócios. Decide então ir para Juazeiro do Norte.
Todos os dias, o Padim Ciço dava uma bênção, de sua casa, a seus fiéis. A mensagem costumeira era: Meus amiguinhos, quem matou, não mate mais! Quem roubou, não roube mais! Quem pecou, não peque mais! Os amancebados se casem! Um dia, Benjamin conseguiu ser avistado pelo sacerdote, que perguntou a ele sua origem. Benjamin identificou-se como natural de Belém, a terra de Jesus, e pediu para ficar na cidade, sob a proteção do religioso. O padre então respondeu: Fique meu filho. Seja bom e pode sentir-se aqui como se fosse a sua própria casa.
Benjamin foi morar na casa de Pelúsio Correia de Macedo (1867 – 1955), pessoa da inteira confiança do Padre Cícero. Pelúsio foi dono da primeira oficina mecânica da cidade e também fundou a primeira escola de música, onde surgiu a primeira banda de Juazeiro do Norte, que animava desfiles e festas sob sua regência. Foi também proprietário do Cine Iracema, primeiro telegrafista da Estação Telegráfica de Juazeiro do Norte, além de fabricante de quase todos os relógios públicos da região.
Padre Cícero mandou matricular Benjamin no Colégio São Miguel, do professor Manuel Pereira Diniz (1887 – 1949).
Foi incumbido de fotografar a primeira visita feita por um governador do Ceará, José Tomé de Sabóia e Silva (1870 – 1945), a Juazeiro do Norte.
Retomou o ofício de ourives, tentando aprimorar os rudimentos que havia trazido da casa de seus pais. Estudou no Crato com o mestre Teofisto Abath.
c. 1920 – Como ourives, viajou por Cajazeiras, Crato, Jardim e Barbalha. Teve a notícia da morte de sua mãe e recebeu uma herança, enviada por seus primos de Recife.
Abriu um armazém de artigos religiosos e fixou-se em Juazeiro do Norte, em 1920.
Benjamin tornou-se secretário particular do Padre Cícero e passou a morar na casa paroquial. Pouco tempo depois, recebeu as chaves da casa. Como assistente pessoal do sacerdote passou a ter muito poder e a exercer diversas atribuições públicas e privadas. Conheceu personalidades de destaque nacional, clérigos, políticos, militares e educadores.
Benjamin começou a prosperar com a venda aos romeiros de objetos supostamente abençoados pelo Padre Cícero.
Participou também de jogatinas e do desvio de valores doados à igreja, o que decepcionou Joana Tertulina de Jesus, a beata Mocinha, que mais prestígio tinha com o Padre Cícero.
1924 – Benjamin, que dizia-se jornalista, no periódico O Ideal, envolveu-se na denúncia feita pelo farmacêutico José Geraldo da Cruz com o auxílio de Manuel Diniz sobre o fuzilamento sumário de presos tirados da cadeia pública pelo médico e político baiano Floro Bartolomeu da Costa (1876 – 1926), velho amigo do Padre Cícero. Foi Floro que, em 1914, liderou o episódio que ficou conhecido como a Sedição de Juazeiro, um confronto entre as oligarquias cearenses e o governo federal, quando um exército de jagunços derrotou as forças do governo federal e Marcos Franco Rabelo (1851 – 1940) foi deposto do governo do Ceará. Além disso, Floro havia sido importante na ocasião da emancipação de Juazeiro do Norte, em 1911, quando o Padre Cícero tornou-se o primeiro prefeito da cidade.
1925 - Na festa de descerramento da estátua de bronze do Padre Cícero, em 11 de janeiro, ocasião em que a cidade atraiu cerca de 40 mil romeiros, no intervalo dos discursos, Benjamim tentou falar algumas palavras, mas foi interrompido por Floro Bartolomeu, que abriu seu paletó e gritou Desça daí! Seguiu-se a fala do Padre Cícero.
O padre Manuel Correia de Macedo, filho de Pelúsio de Macedo, acusou Floro Bartolomeu de déspota, de subjugador do Padre Cícero e de corrupto no livro Juazeiro em foco, publicado em Fortaleza pela Editora de Autores Católicos.
Em junho, José Landim, compadre de Floro e escrivão da Coletoria, agrediu Benjamin, durante os festejos de recepção ao padre Macedo, em Juazeiro.
Em agosto, Floro alegou ter sido alvejado à bala pelo turco Benjamin Abrahão quando participava de uma reunião na casa de Francisco Alencar. Benjamin foi preso. Segundo telegrama enviado por Floro ao advogado Raimundo Gomes de Matos, em Fortaleza: Não podendo ser provado que o turco Benjamin Abrahão realmente quisesse cometer um atentado, por isso que não chegeui a lançar mão da arma, e mais ainda porque escreveu carta, para ser publicada, declarando querer morar aqui e outreas coisas, foi solto completamente encabulado.
1926 - Nesse ano, Benjamin já vivia com Josefa Araújo Alves, com quem teve dois filhos: Atallah e Abdallah. O primeiro foi criado como filho por seu amigo, Gonçalo Mundó.
De 4 a 7 de março, Lampião e seu bando ficaram em Juazeiro do Norte em visita organizada por Floro Bartolomeu (1876 – 1926), que faleceu em 8 de março, no Rio de Janeiro. Foi na ocasião dessa visita que Benjamin provavelmente conheceu Lampião. Foram realizados saraus dançantes em homenagens a Lampião, que participou de conferências com autoridades públicas. Encontrou-se com o Padre Cícero e com o coronel Pedro Silvino, comandante do Batalhão Patriótico, uma milícia para combater a Coluna Prestes. Lampião e seu bando entraram para o citado batalhão e Lampião recebeu a patente de capitão honorário das Forças Legais de Combate aos Revoltosos, manuscrita por Pedro de Albuquerque Uchoa, ajudante de inspetor agrícola federal. Ele e seu bando receberam armamentos, munição e uniformes do Exército. Pouco tempo depois, o acordo foi desfeito. Em Juazeiro, os cangaceiros foram fotografados por Lauro Cabral de Oliveira Leite e por Pedro Maia (Jornal do Recife, 10 de abril de 1926).
Durante sua estada em Juazeiro do Norte, quando já estava hospedado no sobrado de João Mendes de Oliveira, Lampião foi visitado pelos ourives da região, levados por Benjamin Abrahão.
1927 – Benjamin prestava serviços a jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo.
1929 – Benjamin residia na casa do Padre Cícero (A Razão, 17 de outubro de 1929, na terceira coluna).
Benjamin despachou para todo o sertão emissários com a notícia, falsa, de que o Padre Cícero daria uma bênção de despedida aos romeiros. Juazeiro foi invadida por romeiros e Benjamin, que havia reforçado o estoque de sua loja, lucra muito.
Benjamim foi confirmado como colaborador especial do jornal O Globo, no Cariri. 
1930 – Em 4 de janeiro, Benjamin fundou o jornal O Cariri, dirigido pelo advogado do Padre Cícero, Antônio Alencar Araripe, e editado pelos professores Manuel Diniz e J. Rocha. Teve pelo menos doze edições até março de 1931, quando teve seu título arrematado por editores do Crato.
Benjamin foi recebido pelo presidente do estado do Ceará, Manuel Fernandes Távora (1877 – 1977) (A Razão, 18 de outubro de 1930, na terceira coluna).
1932 – Era uma das pessoas mais influentes do círculo do Padre Cícero (O Jornal, 19 de maio de 1932, na segunda coluna).
1933 – Após uma viagem a Juazeiro do Norte, Otacílio Alecrim publicou no Diário de Pernambuco o artigo “O desencanto de Macunaíma”, em que estranhou dois fatos quando visitou a casa paroquial do Padre Cícero: uma vitrola de corda e a onipresença de um secretário turco: Francamente, com um turco e uma vitrola, não há messias que possa ser levado a sério…(Diário de Pernambuco, 12 de fevereiro de 1933, na penúltima e última colunas).
Benjamin concluiu ao lado de dezessete rapazes de Juazeiro do Norte e de cidades ao redor, a primeira turma do Tiro de Guerra 48, implantado no Juazeiro em 1931.  A instrução havia sido suspensa, em 1932, devido ao movimento constitucionalista de São Paulo. Benjamin tornou-se, assim, reservista do Exército.
1934 - Falecimento do Padre Cícero, em 20 de julho. Segundo o escritor Otacílio Anselmo, em meio às dezenas de repórteres , um deles chama a atenção de todos, tanto pela mobilidade como pelo modo de manejar sua máquina, provida de pequena manivela…o tal cinegrafista era o sírio Benjamin Abrahão, antigo leão de chácara do sacerdote, aproveitando o acontecimento para concluir um filme sobre a vida do famoso líder sertanejo.
Benjamin fotografou o morto de diversos modos e cortou uma mecha de seu cabelo, que vendeu a diversos devotos até que um deles se seu conta que o padre não tinha tanto cabelo…
Fundação da Aba Film por Adhemar Bezerra de Albuquerque (1892 – 1975), funcionário do Bank of London & South America Limited em Fortaleza. A empresa era de material fotográfico e de produção de imagens, inclusive cinematográficas. Adhemar era pai do fotógrafo Chico Albuquerque (1917 – 2000) e de Antônio Albuquerque.
Adhemar foi para Juazeiro do Norte realizar o documentário Funerais de Padre Cícero. Provavelmente, nessa ocasião, conheceu Benjamin Abrahão.
1935 – Abrahão apresentou seu projeto de fotografar e filmar Lampião e seu bando à Aba Film. Adhemar forneceu a Benjamin equipamentos cinematográficos e fotográficos, além de filmes. Também passou a Benjamin noções básicas de como utilizá-los.
Benjamin meteu-se numa roupa de brim azulão, sacudiu a tiracolo sua máquina fotográfica e se internou nas caatingas. Ao longo de 18 meses, viajou pelo sertão de Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Sergipe, e encontrou-se mais duas vezes com Lampião (Diário de Pernambuco de 27 de dezembro de 1936).
Segundo anotações em sua caderneta de campo, esse foi o início de seu trajeto:
10 de maio – partiu de Fortaleza para a missão/ 12 de maio – está em Missão Velha / 13 de maio – Brejo Santo / 14 de maio – Jati / 15 de maio – Belmonte, e Fazenda Boqueirão, em Pernambuco / 16 a 21 de maio – Vila Bela, atual Serra Talhada / 22 e 23 de maio – Custódia e Rio Branco, atual Arcoverde / 24 de maio – Pedra de Buíque / dian25 de maio – de Negras a Jaburu, quando deixa Pernambuco e chega a Alagoas / dia 26 de maio – de Caititu a Mata Grande / 27 de maio – de Manuel Gomes ao Capiá / 28 de maio – Olho d´Água do Chicão/ 3 de junho – Maravilha.
Benjamin radicou-se na vila do Pau Ferro, município de Águas Belas, em Pernambuco, tomando o lugar como sua base de operações. Inaugurou a parte terrestre de sua busca em Maravilha, no estado de Alagoas. Assim começava a aventura de Benjamin em busca de Lampião e seu bando.
No segundo semestre, perambulou pelos sertões de Alagoas e de Pernambuco. Em Pau Ferro, hospedava-se na casa de Antônio Paranhos, motorista de Audálio Tenório de Albuquerque , chefe do lugar, e protetor de Lampião.
1936 - Em 20 de janeiro, Benjamin autorretratou-se contra uma cerca com seu equipamento trançado em xis sobre os ombros. Naquela altura, ainda não havia encontrado os cangaceiros.
Ao longo do ano, encontrou-se duas vezes com Lampião e seu bando.
O historiador Frederico Pernambucano de Mello estima que o primeiro encontro tenha acontecido em fins de março, nas caatingas alagoanas da ribeira do Capiá, soltas bravias do Canapi, então do município de Mata Grande, no limite entre as fazendas Lajeiro Alto e Poço do Boi. A localização do encontro foi revelada em entrevista por Aristeia, mulher do cangaceiro Catingueira, em depoimento de 2004. Benjamin foi levado até Lampião pelos cangaceiros Juriti e Marreca. Almoçaram bode assado com farinha de mandioca e beberam conhaque Macieira. Segundo matéria publicada no jornal O Povo, de 12 de janeiro de 1937, Benjamin ficou com o grupo central, o de Lampião, por cinco dias.
Benjamin viajou para Fortaleza, em 17 de maio para, na Aba Film, situada na rua Major Fecundo, iniciar a revelação dos negativos realizados de Lampião e seu bando.
Em meados de julho, voltou a encontrar Lampião, com quem passou três dias.
‘…Lampião estava pronto para confirmar sua presença na História através da linguagem moderna do cinema. Benjamin passava de solicitante a solicitado, revalando para a garupa do projeto, a ser tocado doravante pelo próprio cangaceiro. Pior seria ficar a pé…
Somente a ocorrência dessa troca de postos, soprada pelo sírio a Antônio Paranhos no segundo regresso ao Pau Ferro, explica o número de cenas que se irá obter nos cerca de quinze minutos de película e cerca de noventa fotografias que se salvaram para a história, a variedade das revelações desveladas a cada segundo – algumas pungentes, como a do bando a rezar, todos descobertos, momentaneamente desarmados, joelhos fincados na poeira – e a docilidade dos “atores”, a tudo se prestando diante das câmeras. Não somente da Ica, cinematográfica, mas da Universal, de fotografia, uma “caixão” de objetiva dupla, também da Zeiss, negativos de 6 x 6 cm’ (Frederico Pernambucano de Mello in Benjamin Abrahão – entre anjos e cangaceiros).
Em 28 de setembro, os cangaceiros atacaram a cidade de Piranhas, em Alagoas, para libertar Inhacinha, a mulher do cangaceiro Gato, que havia sido baleada e presa pela volante do tenente João Bezerra da Silva (1898 – 1970). Porém, ela estava presa na cadeia da Pedra de Delmiro Gouveia. Foram recebidos por uma resistência feita apenas por civis, homens e mulheres. Uma das mulheres era dona Cira de Brito Bezerra, mulher do tenente João Bezerra. Os cangaceiros espalharam que a prenderiam caso Inhacinha não fosse encontrada ou morresse durante a ação. Sobre o ocorrido, Benjamin comentou:
‘Atravessava o rio quando se travou o combate. Encontrava-me a uma distância de meia légua da cidade. Corrio ansioso para lá. Era uma oportunidade que não devia deixar escapar. Infelizmente, cheguei tarde. Os bandidos já se retiravam. Bem junto a mim, em um sofá, ferido, passou Gato, chefe do grupo. Quando entrava na cidade, tomaram-me por bandido e, por um triz, não me bateram‘.
Até outubro, Benjamin fez diversas incursões a cada um dos chefes de subgrupos de Lampião. Produziu mais fotografias e um filme.
No Recife, deu uma entrevista, publicada no Diário de Pernambuco de 27 de dezembro de 1936, quando anunciou a realização de um filme e a produção de diversas fotografias de Lampião e seu bando. Foi apresentado como sírio naturalizado brasileiro e como fundador do periódico Cariri, em Juazeiro.
Benjamin apresentou-se na Aba Film, em Fortaleza, no dia 28 de dezembro, mesma data em que João Jacques publicou no jornal O Povo, matéria intitulada Carta ao Leota, na qual questionava o fato de Lampião e seu bando ter sido filmado e fotografado e continuar solto. Leota é Leonardo Mota, autor do livro No tempo de Lampião, de 1930.
‘Que acha desse furo? Que me diz sobre o caso? Será possível, meu amigo, que se possa ainda, por esses tempos tão mudados, filmar um bandoleiro, um gangster, um assassino mil vezes assassino e não se tenha meios de apanhá-lo?‘
No dia seguinte, dia 29, foi publicada na primeira página do jornal O Povo a matéria intitulada Sensacional vitória da Aba Film: uma das mais importantes reportagens fotográficas dos últimos tempos, Lampião, sua mulher e seus sequazes filmados em pleno sertão, ilustrada por fotografias de Benjamin ao lado de Lampião, de Maria Bonita, e da guarda pessoal do cangaceiro. A tiragem do jornal foi duplicada e totalmente esgotada.
No dia 31 de dezembro, o jornal O Povo publicou uma fotografia inédita de Maria Bonita sentada com os cachorros Ligeiro e Guarani.
– No dia 10 de janeiro, Benjamin, que havia estado no sertão, retornou a Fortaleza.
No jornal O Povo, de 12 de janeiro de 1937, Benjamin revelou que Maria Bonita escolheu ser mulher de Lampião por livre e espontânea vontade, contrariando a versão de que ela havia sido raptada e estuprada pelo cangaceiro.
Foi publicada pelos Diários Associados, uma fotografia onde Benjamin aparecia ao lado do casal Lampião e Maria Bonita (Diário de Pernambuco, 16 de janeiro de 1937). Dias antes, o Diário da Noite, havia publicado uma notícia sobre o encontro de Benjamin com Lampião. Benjamin revelou que havia trazido também, além de imagens, a primeira entrevista escrita e assinada pelo bandido (Diário da Noite, 8 de janeiro de 1938, na última coluna). Outras fotografias de Lampião foram publicadas, uma delas mostrando o cangaceiro lendo um romance policial. Segundo Benjamin, Lampião gostava muito dos livros do belga Georges Simenon (1903 – 1989) e do inglês Edgard Wallace (1875 – 1932) (Diário de Pernambuco, 20 de janeiro de 1937, 12 de fevereiro de 1937, 14 de fevereiro de 1937, 17 de fevereiro, 19 de fevereiro, 20 de fevereiro de 1937, 21 de fevereiro,  30 de julho de 1938; Diário da Noite, 8 de fevereiro de 1937, 29 de julho de 1938 e  30 de julho de 1938). Foram também publicadas fotografias das volantes (Diário de Pernambuco, 27 de abril de 1937).
Segundo o comerciante Farid Aon, amigo de Benjamin, dias depois do carnaval, terminado em 10 de fevereiro, Benjamin foi ao quartel da Sétima Região Militar, no Recife, para tentar obter uma licença do general para exibir o filme sobre Lampião em cinemas públicos. A oficialidade exigiu o exame do filme e, ao assistir à projeção, achou que o documentário era vergonhoso para o Brasil, ficou irritada, rebentou o filme e o projetor, e Benjamin foi maltratado e detido por uma semana.
Lampião escreveu um bilhete atestando a autenticidade dos registros de Benjamin (Diário de Pernambuco, 18 de fevereiro de 1937).
Na revista O Cruzeiro, de 6 de março de 1937, publicação de uma página com cinco fotografias de Lampião, de autoria de Benjamin, com o título Filmando Lampeão! Na matéria, mais uma vez, foi questionado o fato do bando de cangaceiros ainda estar solto.
As fotografias dos cangaceiros em poses que transmitiam orgulho e segurança irritaram o presidente Getúlio Vargas, fato que impulsionou o definitivo esforço de repressão que exterminaria os bandoleiros do sertão. Além disso, o documentário sobre Lampião foi apreendido.
Não poderá ser exibido o filme de Lampião! Com essa manchete na primeira página do jornal O Povo, de 3 de abril de 1937, ilustrada com uma fotografia de Benjamin ladeando Lampião e Maria Bonita, era informado que o documentário sobre o cangaceiro deveria ser apreendido, por ordem do dr. Lourival Fontes (1899 – 1967), diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda, durante o governo de Getúlio Vargas (1882 – 1954). O filme não poderia ser exibido nos cinemas do país, por atentar contra os créditos da nacionalidade.
Foi publicada no Correio do Ceará, 7 de abril de 1937, a transcrição da ordem dada por Lourival Fontes, que por telegrama determinou a apreensão do filme Lampião, que se exibia em Fortaleza:
‘Secretário Segurança Pública Estado do Ceará – Fortaleza.
Tendo chegado ao conhecimento do Departamento Nacional de Propaganda, estar sendo annunciado ou exhibido na capital ou cidades desse Estado, um filme sobre Lampeão, de propriedade de “Aba Film”, com sede á rua Major Facundo, solicito vos digneis providenciar no sentido de ser apprehendido immediatamente o referido filme, com todas suas copias, e respectivo negativo, e remettel-os a esta repartição, devendo ser evitado seja o mesmo negociado com terceiros e enviado para fora do paiz.
Attenciosos cumprimentos. Lourival Fontes, director do Departamento Nacional de Propaganda do Ministério da Justiça.’
Em 10 de abril, houve uma exibição especial do filme, às 17h, no Cinema Moderno, em Fortaleza, para o chefe de Polícia, o capitão Manuel Cordeiro Neto (1901 – 1992), assistido também pelo secretário do Interior do Ceará, pelo juiz federal de Fortaleza,pelos delegados de polícia da capital, pelos comandantes do 23º Batalhão de Caçadores do Exército e da Força Pública do Estado, por representantes de jornais e de empresas telegráficas. Em 22 de junho de 1979, o então já reformado general do Exército Brasileiro, Cordeiro Guerra, declarou sobre o filme apreendido: Se nada do conteúdo do filme ficou na minha lembrança de maneira viva, é porque as cenas a que assisti, em exibição especial que solicitei, ao lado de um conjunto de autoridades, eram triviais, coisas domésticas.
Foi publicado o artigo O reduto do “Caldeirão” do beato José Lourenço, de autoria de Benjamin Abrahão (Diário de Pernambuco, 2 de junho de 1937). Fiel seguidor do Padre Cícero, José Lourenço (1872 – 1946) foi o líder da comunidade Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, localizada na zona rural do Crato, extinta em 9 de maio de 1937. Segundo revelou a seu sobrinho Aziz, escreveu o artigo para sobreviver publicamente e regressar à imprensa.
Na edição de 7 de agosto do Diário de Pernambuco, o poeta e folclorista Ascenso Ferreira (1895 – 1965) convidava para a vaquejada de Surubim, em Pernambuco, evento de maior destaque dos esportes regionais do estado. Benjamin, que estava hospedado, no Recife, na casa de dona Wadia, matriarca da família Elihimas, viu na convocação para as vaquejadas uma oportunidade de trabalho. Como uma das vaquejadas mais tradicionais acontecia na fazenda Barra Formosa, no Pau Ferro de Águas Belas, Benjamin foi para lá a tempo de se engajar nos preparativos da festa, que aconteceria em novembro. A fazenda era de propriedade do coronel Audálio Tenório de Albuquerque (1906 – ?), grande amigo de Lampião. O coronel Audálio deixou que Benjamin explorasse a jogatina durante o evento, além de instalar tendas de bebidas e aperitivos.
Chegou em Pau Ferro um carregamento da Aba Film, de Fortaleza, para Benjamin: centenas de fotografias em diferentes tamanhos, com predominância do formato de cartão-postal, de cangaceiros dos vários grupos de Lampião. Começaria, então, a distribuir seu produto, barato e muitíssimo vendável, pelas feiras livres e pelo comércio fixo de Pernambuco. Começaria, assim, a tentar recuperar parte do prejuízo causado pela apreensão do filme que repercutiu sobre o patrimônio da Aba Film e da Benjamin & Cia, do Juazeiro.
Em meados de outubro, as fotografias estavam espalhadas por todo o sertão. O major Lucena Maranhão, comandante da unidade sertaneja da polícia de Alagoas, homem temido em todo o nordeste e perseguidor ferrenho de Lampião, mandou recolher as imagens. Benjamin, então, tocou fogo nas fotografias estocadas. Benjamin foi a Recife obter do Diário de Pernambuco uma declaração de que está em Pau Ferro como colaborador do jornal.
Em 5 de novembro, foi aberta a vaquejada do Pau Ferro, com a presença do major Lucena Maranhão. Benjamin fotografou o evento e quatro imagens produzidas por ele foram publicadas no Diário de Pernambuco de 13 de novembro de 1937. Também realizou um filme documental do acontecimento, fazendo com que a vaquejada do Pau Ferro se tornasse a primeira a ser filmada em Pernambuco. Fotografou uma cena inédita: o coronel Audálio Tenório, maior amigo de Lampião em Pernambuco passeando de braços dados com Lucena Maranhão, maior inimigo do cangaceiro em Alagoas, ladeados pelos coronéis Gerson Maranhão e João Nunes.
Em 10 de novembro, foi estabelecido o Estado Novo, regime político fundado pelo presidente Getúlio Vargas (1882 – 1954). Vigorou até 31 de janeiro de 1946.
No Diário de Pernambuco, de 13 de novembro de 1937, foram publicadas quatro fotografias da vaquejada da fazenda Barra Formosa, em Águas Belas, produzidas por Benjamin Abrahão.
Em 23 de novembro, Benjamin filmou a vaquejada da fazenda Lagoa Queimada e, em 25 de novembro, a da fazenda Riachão, ambas no município de Quebrangulo, em Alagoas.
O tenente Luís Mariano da Cruz, sertanejo de São José de Belmonte, oficial a serviço da volante de Pernambuco revelou em entrevista dada ao Diário de Pernambuco, de 24 de novembro de 1937, que Lampião fazia uso de seus retratos com salvo-condutos autenticados com suas assinaturas. Esse retratos foram confeccionados pela Aba Film, em operação intermediada por Benjamin. Na entrevista, o tenente traçou os roteiros de Lampião, descreve o poderio bélico de seu bando e acusa alguns militares de omissão ou cumplicidade. Sobre a confecção dos cartões para Lampião, foi feito um relato por Chico Albuquerque, na Gazeta de Alagoas, de 2 de agosto de 1938.
1938 - O lucro das bancas de vaquejada foi desastroso. Benjamin discutiu com um de seus auxiliares, tendo chamado um deles de ladrão.
O coronel Audálio Tenório, com quem Benjamin tinha negócios, cobrou o que havia sido previsto na comercialização de tudo o que fornecera a Benjamin, que prometeu levantar a quantia com seus familiares no Recife. Emitiu promissórias que venceriam em 18 de fevereiro.
No Recife, hospedou-se com dona Wadia, a matriarca dos Elihimas, e com o primo Francisco, na casa nº 579, da avenida Rui Barbosa, no bairro das Graças. Solicitou a Francisco três contos de réis e teve seu pedido negado.
De 5 a 9 de fevereiro, brincou o carnaval e foi todas as noites aos bailes do Clube Internacional. Na Quarta-Feira de Cinzas, embriagado, quase foi atropelado por um bonde da rua Nova.
Em 18 de fevereiro, Benjamin nem resgatou as promissórias nem deu satisfações. Seguiu tentando conseguir empréstimos entre Recife e Juazeiro.
No início de maio, Benjamin voltou a Pau Ferro, município de Águas Belas, dizendo que pagaria tudo o que devia. Alguns atribuíram a ousadia de seu retorno ao fato de estar apaixonado por Alaíde Rodrigues de Siqueira. Ao amigo Antônio Paranhos, confessou não ter nem a metade do que devia e que estava pensando em vender seu silêncio, já que com seu convívio com Lampião e seu bando em 1936 teria tido acesso a várias informações que seriam incômodas para a elite sertaneja.
Segundo o ex-cangaceiro Manuel Dantas Loiola, conhecido como Candeeiro, em 6 de maio, véspera do assassinato de Benjamin, Lampião e seu bando estavam acampados perto do riacho do Mel, a menos de duas léguas do Pau Ferro.
Benjamin Abrahão foi assassinado com 42 facadas, em Águas Belas, hoje Itaíba, no interior de Pernambuco, em 7 de maio de 1938. Saiu do bar rumo à pensão onde se hospedava quando as ruas principais da cidade ficaram às escuras. Foi atacado, gritou por socorro e seu amigo Antônio Paranhos foi ao seu encontro, mas foi detido pela voz de um desconhecido que o avisou Arreda, cabra, que é encrenca. (Diário da Noite, 9 de maio de 1938, na quarta coluna,  Diário de Pernambuco, 10 de maio de 1938, na quarta coluna e Diário de Pernambuco, 19 de maio de 1938, na quinta coluna). Seu assassino confesso foi Zé da Rita, marido de Alaíde Rodrigues de Siqueira, por quem Benjamin estaria apaixonado. Mas o fato dele ser franzino e paralisado da cintura para baixo gerou dúvidas quanto a sua capacidade de dominar Benjamin, que era um homem corpulento. Sendo assim, os motivos de sua morte ainda são misteriosos. As hipóteses vão desde a possibilidade de um crime passional até a de queima de arquivo, já que ele sabia do envolvimento de autoridades com Lampião. Em sua missa de sétimo dia, só estava presente o padre celebrante, Nelson de Barros Carvalho.
Em 28 de julho, na grota de Angico, em Sergipe, o bando de Lampião foi cercado por uma força volante comandada pelo tenente João Bezerra da Silva (1898 – 1970), pelo aspirante Ferreira Mello e pelo sargento Aniceto da Silva. Além de Lampião, foram mortos sua mulher, Maria Gomes de Oliveira (c. 1911 – 1938), conhecida como Maria Bonita, e os cangaceiros Alecrim, Colchete, Elétrico, Enedina, Luiz Pedro, Macela, Mergulhão, Moeda e Quinta-feira. Foram todos decapitados.
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Prólogo: A SERVA LARANJA
Se viam os primeiros sinais do nascer do sol encoberto pelo cenário montanhoso em volta. A manhã estava limpa e gélida como haveria de estar no outono. Quando Myrella olhou para o céu, viu os desenhos e cores que os feixes de luz faziam no azul profundo de uma noite passada. Acompanhando com os olhos as nuances coloridas dos feixes luminosos, contemplou o enorme pé de laranja do jardim se destacar pelo astro que ainda se escondia entre as cordilheiras. Era a cena mais linda que já havia visto em toda a sua vida. Ao fundo o oceano era misterioso, convidativo e infinito como o céu com quem se fundia em um só no horizonte.
Conforme foi na direção da laranjeira o cheiro dela inundou suas narinas. Já havia se tornado um odor rotineiro no decorrer dos seus dias dentro do templo e agora era o cheiro de sua casa. Agraciada com aquelas sensações, ajeitou a cesta de palha que carregava em seu antebraço para alcançar com a mão livre uma das folhas. Aproximou-a do nariz e inalando profundamente ela fechou os olhos em deleite. O odor a fazia pensar em muitas coisas, mas principalmente em segurança. Como uma serva da deusa laranja, ela seria protegida para sempre. Seus serviços eram insignificantes perto do que aquilo significava para a menina. 
E o café-da-manhã da profetisa não seria colhido sozinho. Myrella soltou a folha no chão de grama para começar sua primeira tarefa do dia. Pegou a laranja mais próxima dela, fazendo alguma força para separá-la da árvore. Era uma fruta suculenta, maior do que a maioria das outras que já havia visto antes e de cor tão alaranjado quanto o próprio sol nascente. Na mesa da profetisa nunca faltava comida, então colheu tantas quanto pôde colocar na cesta. 
Enquanto percorria o jardim no caminho de volta para o templo ela finalmente conseguiu ver o sol que começava a se revelar de seu esconderijo no momento, o castelo real de Montanhalta. Acima da maior das montanhas da cordilheira, seguindo pela costa montanhosa, ele se erguia imponente como uma lança apontada para o céu. Era uma obra grandiosa demais para a compreensão de uma camponesa. Antes de se mudar para o templo, nunca havia visto o castelo tão de perto. Naquela época ele estava distante demais de sua casa, no cume da montanha, mas mesmo hoje tão perto ele continuava intocável. Nunca seria uma princesa porque era somente Myrella, a filha de um camponês e uma serva laranja. 
Era uma vida melhor que muitas. Nunca deixaria de agradecer à deusa por aquela benção. Antes de partir ela reverenciou a laranjeira uma última vez. 
Deixou o jardim do templo, adentrando-o por uma imensa porta de madeira trabalhada. Os corredores eram quase sempre escuros, sem janelas e com poucos pontos de luz, sempre apenas as velas de cera presas nas paredes. A escuridão aguçava os outros sentidos da profetiza para suas visões, Myrella aprendeu pelas outras servas, como também outras coisas que jamais imaginou. 
Todos os sete corredores davam para o grande salão, onde a profetiza rezava todo nascimento do sol. A menina seguiu seu caminho até o fim da escuridão, transpassando a passagem sem porta, e as luzes da manhã voltaram a aquecer seu rosto juvenil. Ali o templo era aberto, permitindo que o dia entrasse e iluminasse a enorme estátua da Mensageira. Agora Myrella poderia reconhecê-la com extrema facilidade pelos seus aspectos. Quase saindo para fora do templo pelo teto, com seus cinco metros de altura, a mulher esculpida na pedra vestia uma longa túnica, o capuz dela nublando seu rosto sem expressões e nas duas mãos unidas ela carregava uma vela de chama feita de pura espessartita, uma pedra cristalina alaranjada.
Aos pés da grandiosa escultura estava uma mulher de pele alva como a neve, coberta por uma longa túnica laranja adornada com jóias e sua cabeça enfeitada com uma linda tiara de ouro com a mesma pedra da qual a vela da Mensageira era feita no meio. Seus longos cabelos de mel caiam sobre o rosto cabisbaixo, encobrindo seus traços de maturidade da vista. De joelhos no chão a profetisa rezava em silêncio, acompanhada de Rhaena na mesma posição um passo de distância. A menina não quis se mover mais, receosa de atrapalhar a rotina da profetisa, então permaneceu apenas observando a imagem dela. Poucos eram os que conseguiam conhecer a mulher, muito menos aqueles que falavam com ela. Sentia-se honrada por ter sido acolhida no templo.
Mesmo que tivesse tentado não interromper, até mesmo o menor dos ruídos era uma orquestra no silêncio completo. Desperta pela chegada de Myrella, a outra serva se levantou cuidadosamente, ajeitando a túnica comum que vestia. Seu rosto era severo e de idade. Rhaena era a serva mais velha do templo, com seus cabelos escuros já clareando pelo tempo. Era a professora, amiga e mãe das meninas e embora suas linhas fossem marcadas pelas expressões, os lábios sempre desenhavam palavras de carinho. Se lembrava bem de seus olhos, escuros e afetuosos, principalmente no dia que ela apareceu para buscá-la. Foi sua salvadora antes, tornando-a serva e dando para ela um novo lar no templo.
Silenciosa, ela chamou a menina para que a acompanhasse com um gesto com a mão. Guiada pelo salão central, a menina contemplou uma última vez a estátua e fez sua própria prece rápida. Seguiu Rhaena até que alcançassem o corredor de entrada do templo, tão escuro quanto o dos fundos. A mais velha pegou a cesta com as frutas dos braços de Myrella, segurando ela consigo.
- Obrigada, querida. Irei servir a profetisa - falou sussurrando. - Hoje você vai colher os lírios para o banho. Idina te espera lá fora, ela a acompanhará dessa vez. 
Myrella concordou sem palavras. Quanto menos interrompesse o silêncio, melhor. 
Ela deixou a companheira para trás, se dirigiu para a porta de entrada do templo e a abriu com todo o cuidado que tinha. Idina estava lá, dispersa pela conversa que tinha com os dois soldados do reino que guardavam o templo naquele turno. Eles vestiam majestosas armaduras feitas de placas metálicas marcadas com o símbolo real do gavião no peitoral. Os capacetes em suas cabeças ostentavam longas penas de ave pintadas de preto e vermelho, as cores do Rei. Eram enormes perto de Idina, uma miúda serva com sua singela túnica e adereços nenhum, mas mesmo assim a mulher conversava com eles como se fossem iguais.
- O ladrão da meia noite continua solto - ela resmungava. - Eu nunca vi isso antes! O exército real não conseguir capturar um único homem.
- Senhorita Idina - o soldado mais alto parecia sem graça. - Esse assunto está além do que podemos chegar. Não é coisa da nossa patente. Nós não podemos…
- Vocês peões de lata nunca falam muita coisa, Udyr - desdenhou o soldado com a mão e se virou de costas para eles, abandonando sua intenção de tirar alguma notícia dos soldados. Se deparou com Myrella que se aproximava tímida.  - Graças aos deuses podemos finalmente ir.
Os dois soldados arrumaram suas posturas quando perceberam a chegada a serva mais nova, se posicionando um do lado do outro como geralmente ficavam. Ela os fitou, curiosa sobre o que conversavam.
- Anda, menina - Idina chamou.
Ela concordou e começaram a descer a colina onde ficava o templo juntas. Mesmo com sua sandália o terreno era arenoso por cima das rochas, o que dificultava a descida. Idina estava acostumada com o percurso, sendo uma serva quase tão antiga quanto Rhaena, o fazendo com tanta tranquilidade que mal parecia estar descendo Montanhalta. Buscando evitar ser chamada de novo, a serva acelerou os passos para acompanhar a outra, preferindo pisar sempre nas pedras que improvisavam degraus. Abaixo de todos eles estava a primeira parte da cidade, mas no percurso uma pequena comitiva de soldados reais percorria o mesmo caminho no sentido contrário delas. 
Três estavam na frente e mais três atrás, escoltando no meio deles uma jovem e bela mulher de cabelos mel e um homem adulto que tinha seu rosto coberto por uma máscara de madeira pintada de preto que cobria todo seu rosto, exceto as duas enormes orbes que eram seus olhos castanhos. Idina agarrou o braço da menina, puxando-a para fora dos degraus para abrir espaço para a comitiva passar sem ser interrompida. Ela quase tropeçou o chão, mas recuperou o equilíbrio a tempo de ver o homem mascarado olhar fixamente para ela. 
- A benção da Mensageira - a mulher jovem desejou por um breve momento enquanto passava por elas.
- Que a luz ilumine o seu caminho, lady Magrace - Idina respondeu imediatamente, curvando o tronco em respeito perante ela. 
Sem saber como reagir ou quem era a lady que estava na sua frente, Myrella repetiu a atitude da outra serva, desviando os olhos dos enigmáticos do homem que nada disse. Eles passaram por elas indo em direção ao templo e foi só quando já estavam longe o suficiente para não ouvirem que a menina disse.
- Quem são?
- Eu me esqueço que você veio do cume - Idina lamentou, colocando sua mão no ombro da mais nova. - Ela é a lady Omira, filha da profetisa. Fazia tempo que ela não visitava o templo pessoalmente. Que a luz guie seu caminho.
- Que a luz guie seu caminho - Myrella repetiu. - E o homem mascarado?
- Maege Baltazar - ela respondeu conforme voltava descer os degraus. - Um homem de muita sabedoria. Dizem que aconselha o Rei pessoalmente com seu conhecimento sobre as mais antigas histórias do mundo que adquiriu dos livros.
- Eu nunca vi um livro.
- Eu também não. De que adiantaria? Quase nenhum de nós sabe ler - Idina deu de ombros. - Mas vamos logo, o banho não pode atrasar.
O caminho se seguiu, declinado e turvo, cercado por paredes de rochas partidas pelos homens e montanhas inconstantes desenhadas pelos deuses. Depois da última curva a vista do terceiro pico ficou clara para elas. Continuava tão grandiosa quanto havia sido na primeira vez que havia visto aquela região, quando chegou no templo. Ela já podia ouvir os ecos de pessoas e seus barulhos por entre as rochas. Continuou seguindo Idina mesmo depois de terem passado pelo grande arco feito de tijolo de barro que sinalizava a entrada daquela parte da cidade. 
A cidade era viva ali em cima, diferente do cume. Sendo a sua primeira vez deixando o Templo Laranja para ir até a cidade colher as flores para o banho da profetisa, Myrella sorria de animação. Andava, absorta pelo cenário, admirada com as enormes casas que mais pareciam pequenos castelos, feitas de pedra e paredes de tijolos de tantas cores diferentes. Pertenciam à lordes de Montanhalta, todas protegidas por seus soldados. Sabia que aqueles que moravam ali faziam parte da corte real e eram lordes, como tantos outros que viviam em seus próprios castelos espalhados pelo reino, mas não sabia seus nomes, símbolos ou lemas.
O Templo Vermelho ficava na entrada do terceiro pico construído em cima de um pequeno cume próximo ao fim da região plana, ele se erguia dois metros do nível do chão. 
Elas subiram a escadaria de rochas até a grande porta. Ela era muito mais agressiva que a do Templo Laranja, com placas de ferro fundido acopladas para maior segurança. Dois homens de armadura guardavam a entrada, mas o símbolo que representavam não era o do Rei, era o do Carniceiro, um capacete pintado de sangue, como o que os próprios homens usavam. Ele deixava apenas boca, nariz e olhos à mostra. 
Idina se ajoelhou no último degrau antes da entrada, fechando os olhos em prece e respeito. A menina ainda pouco sabia sobre os modos, mas sempre soube que aos deuses devia respeito, por isso fez o mesmo. Quando fechou os olhos, entretanto, não pensou no Carniceiro, mas na Mensageira que era a sua própria patrona. 
Quem respondeu foi um homem, não um deus. 
- Bendito seja o Carniceiro que nos trouxe donzelas como o prometido! - disse um dos homens de guarda, o mais troncudo deles, de um olho bom, o outro perdido em uma cicatriz grotesca. - A de cabelos vermelhos é minha, a mais nova!
Findando seu contato com o divino para abrir os olhos, Myrella se deparou com o homem, daquele ângulo tão grande quanto o próprio templo. Sua cara era amarga, a boca escondida por uma espessa barba negra e um dos olho faltando, uma cicatriz grotesca no lugar. Horrorizada, a menina se levantou apressada. 
- Ela veste laranja, imbecil - o outro interveio, colocando o braço em seu caminho. - Eu sinto muito por isso, senhorita.
- Quem vocês andam aceitando aqui? - Idina perguntou furiosa. Ela se aproximou da mais nova. - Seu capacete pode proteger sua cabeça agora, mas se não usar ela direito, vai acabar perdendo. 
- Ser um servo vermelho é para a toda a vida, como ser uma laranja - o soldado mais educado continuou, empurrando o outro para trás que se retirou em um resmungo. - Têm sido difícil encontrar esses voluntários. O Rei nos manda alguns homens para darmos à eles uma função no reino. Nós os treinamos e ensinamos.
- Ótimo, reabilitação de bandidos no templo - a mulher se indignou. - Então trate de dar para aquele umas boas lições! 
- Ele aprenderá com seu erro, senhorita - o homem respondeu com firmeza. - O trabalho do Carniceiro é árduo e constante. Quanto mais ferramentas ele tiver, melhor vai trabalhar. Nossos serviços têm sido necessários em todo o reino e cada dia mais.
- Eu suponho que sim - Idina simplesmente ignorou impacientemente. - Viemos aqui para colher os lírios para o banho da profetisa e não podemos perder tempo.
- Que a luz guie seu caminho  - ele respondeu de imediato. - Faça alguma coisa de útil e abra a porta, seu traste.
Rapidamente o servo vermelho de um olho só foi até a grande porta do templo e empurrou-a para dentro. Ela se abriu no meio, as duas partes de madeira rangendo conforme eram empurradas. Myrella hesitou em passar na frente dos dois homens e entrar no lugar, mas Idina tomou a iniciativa. 
Quando os soldados puxaram a porta do lado de fora o som delas fechando ecoou por todo o corredor e a escuridão tomou conta da vista. Diferente do Templo Laranja, ali não havia nenhuma vela iluminando o caminho até o grande salão, mas Myrella conseguia enxergar uma claridade vinda de lá. O lugar era seco e empesteado de um forte cheiro de fumaça. A menina ainda receava, mas Idina a obrigou a andar quando foi na frente, dando uma pequena olhada para trás antes, nervosa com a possibilidade dos dois homens entrarem também. 
Chegando no grande salão, Myrella percebeu que o teto não era aberto e viu a imagem do Carniceiro. A estátua de pedra era imensa, larga como uma árvore, esculpida com uma perfeição inusitada. A armadura que o homem vestia era completa, com ombreiras redondas, mas o capacete se destacava, cintilando em vermelho sangue, feito de rubi cristalino, mas ainda assim tão escuro que o rosto do deus era uma incógnita de sombras e reflexos. De seus pés vinha a luz, uma grande lareira que defumava o templo. Da claridade gerada pelo fogo destacavam-se armaduras empilhadas com espadas, lanças e tantos outros espólios de guerra dados como oferenda.
Manuseando agachado a lareira estava um homem com uma longa toga vermelho sangue. Sua cabeça, desprovida de cabelo, também refletia na luz, sua palidez destacada ainda mais. Ele percebeu a chegada das duas e se levantou, ajeitando as roupas para se aproximar em passos lentos. 
- Sacerdote - a mais velha disse, abaixando a cabeça em respeito.
- Sacerdote - Myrella repetiu.
- Vieram colher os lírios de sangue, eu imagino. 
- Para o banho - concordou Idina, permanecendo com o corpo em reverência por mais tempo do que a mais nova manteve. - Mas também estou aqui por outro motivo. Quero pedir a benção do Carniceiro para o meu irmão. 
- Onde ele está? - o sacerdote perguntou.
- Partiu para o Reino do Meio - respondeu a mulher. - É um soldado.
- Um homem em campo de batalha - concordou enquanto se afastava da estátua, indicando com a mão estendida que ela se aproximasse. Ele baixou seus olhos em condolência - Faça sua oferenda.
Idina foi até a frente do deus de pedra e sua lareira. As chamas crepitavam lá dentro, iluminando o rosto da serva com lufadas de calor intensas. Ela se ajoelhou ali como já havia feito muitas vezes antes e ficou em silêncio. Na escuridão o tempo passava diferente e o pequeno instante se tornou uma eternidade. Quando terminou, ela se levantou, tirou do bolso de sua túnica um cordão de bronze trabalho e colocou-o sob os pés do deus.
- O que é? - ele perguntou, curioso.
Myrella também ficou. Servas não podiam se enfeitar ou ter bens.
- Foi da minha mãe, que dorme no colo da Matriarca - respondeu. - A última lembrança que tenho da minha família para salvar a única família que me resta.
-  A guerra é a escolha daqueles que realizam os desejos do Carniceiro - disse o sacerdote, sua voz imponente e forte. - Seu irmão é um homem de coragem e assim será recebido por todos, homens ou deuses.
- A batalha fará o seu destino - ela disse, sensibilizada.
- Como o de todos os homens - com a mesma mão que outrora havia indicado a estátua, o sacerdote apontou para o corredor atrás dela. - Devem seguir sua tarefa agora. Receberei uma visita importante hoje. 
- Sim, sacerdote - imediatamente a serva concordou com uma reverência.
Myrella fez o mesmo, como de costume. Elas seguiram contornando a estátua e as tantas outras coisas espalhadas pelo salão. A arquitetura era praticamente a mesma do Templo Laranja, portanto não havia dúvidas de que aquele corredor era o que as levaria para o fundo. Conforme os passos se sucediam, a escuridão voltava a ficar absoluta, mas com a amiga na frente, a menina não teve problemas em chegar no fim.
Quando a porta foi aberta, a claridade inundou sua vista, obrigando-a a colocar a mão na frente do rosto para proteger os olhos. Aos poucos ela se adaptou com a luminosidade, abaixando as mãos para ver o imenso jardim de lírios de sangue, uma bela espécie de flor de pétalas rubras. Já havia visto as flores do banho da profetisa antes, mas nunca o jardim. Eram muitas em um longo campo arenoso com terra lamacenta. Nasciam de forma aleatória e dispersa, mas transformavam o chão em um grande mar vermelho e verde que acabava em paredes montanhosas.
- Cuidado onde pisa - Idina alertou, indo na frente e entrando entre as folhas e flores, tomando cuidado para não esmagá-las com os pés. - É lindo, não é?
- É sim - a menina disse, seguindo a outra.
- Mas os lírios escondem uma terrível história - continuou, dando nuances na voz, olhando para a mais nova de esguelha para ver suas reações. - De muitos e muitos anos atrás, quando os deuses pisavam no mesmo chão que os homens.
- Os primórdios. 
- Nessa época, alguns pararam de seguir os deuses. Homens guerreavam pelo simples prazer, em caos, e davam risadas daqueles que seguiam o Carniceiro em sua batalha pela glória. Viveram aqui, nesta terra onde pisamos, duvidando do poder dos deuses - contava com amargor. - Então ele veio para puni-los. Os destruiu por completo, mas deixou que escorresse o sangue profano daqueles homens nesta terra para lembrar a todos os que viriam depois daquele dia - ela parou de repente, retirando do bolso duas fitas de tecido. - A terra arenosa ficou fértil e os lírios de sangue nasceram. São únicos em todo o continente. Pegue isso - e entregou para a menina uma delas. - Amarre com isso os ramos que colher. 
 A história a deixou boquiaberta. Tratou de pegar a fita logo, mas permaneceu mais tempo do que a companheira contemplando as flores vermelhas antes de começar a colhê-las. Pegou a primeira delas, receosa com a descoberta, e as pétalas eram de cor tão intensa que pareciam mesmo feitas de sangue agora.
- Por que os homens gostam tanto de sangue? - perguntou de repente, a voz baixa.
- Todo homem é um instrumento da morte - explicou com a voz calma e serena enquanto colhia. - Como as mulheres são da vida. Você é muito nova ainda, menina, mas um dia vai entender a balança.
Ela ouviu as palavras sábias da outra, mas pela primeira vez não concordou. 
- Homens são mais do que morte. Eles são cruéis.
Ela se lembrou de quando ainda vivia no cume, com sua mãe e o irmão dela, que representava para ela um pai. Mesmo sendo uma vida difícil, tinha sua família e era feliz, até o dia em que seu próprio tio a desonrou quando se tornou madura. Myrella tinha decidido esquecer daquele passado, mas era difícil apagar de sua memórias os terríveis momentos que se lembrava com todos os detalhes. 
- O mundo é cruel, mas é o nosso mundo - Idina disse. - Não há mais o que temer, está segura com a Mensageira. Em suas chamas você sempre verá a verdadeira justiça. 
Era verdade que aquele terrível homem havia sido executado e que ela agora era uma serva laranja. As palavras de Idina confortaram o coração de Myrella, fazendo-a voltar a tarefa e colher tantos lírios quanto pôde, só parando quando a outra também o fez. Juntando os ramos no chão e apertando-os, passou a fita dada nos caules e deu um nó. Trabalho feito, as duas voltaram pelo mesmo caminho que fizeram, percorrendo o jardim até alcançarem a porta do templo. No grande salão, a lareira continuava a crepitar, mas o sacerdote não estava mais lá. Deveria estar conversando com sua visita, mas o templo estava em um silêncio tão profundo que a garota duvidava que estivessem ali dentro. 
Idina deu uma batida na porta de madeira e se afastou dela para que os servos vermelhos pudessem abri-la. Quando saíram do templo, passaram direto pelos homens de guarda, ignorando-os, mas Myrella não conseguiu evitar sua vontade de olhar para trás quando ainda estava nos primeiros degraus para procurar pelo soldado de um olho só, mas não o achou entre os dois que estavam ali. 
As servas seguiram seu caminho, passando pelas casas nobres como fizeram antes. Quando passavam pela última delas seu grande portão foi içado para cima, permitindo a saída de um homem de cabelos grisalhos mas braços largos. Estava sujo de trabalho, suas roupas desgastadas pela rotina e tinha a expressão exausta, mas seu rosto se iluminou quando viu as duas vestidas de laranja. 
- Senhoritas! - ele exclamou e foi na direção delas.
Pega de surpresa, Myrella se afastou, indo parar atrás da mais velha. Idina pigarreou, mas sorriu para o homem com cordialidade. 
- A benção da Mensageira para um simples ferreiro do primeiro pico - ele pediu encarecidamente, colocando as mãos sobre o peito e abaixando o tronco em respeito, revelando cabelos ralos e imundos de ferrugem. 
- Que a luz guie seu caminho - Idina abençoou. 
- Que a luz guie seu caminho - ele repetiu, depois voltando sua postura. - Obrigado, obrigado - disse, enquanto se retirava lentamente no sentido do Templo Vermelho.
A mais velha buscou Myrella atrás de si mesma, tateando até alcançar a pequenina mão dela com a sua, segurando-a com carinho.
- Logo estaremos em casa - garantiu. 
Quando passaram novamente o arco do pico no caminho de volta, chegaram ao caminho tênue de areia. Subir era ainda mais difícil do que descer. O chão repleto de areia e pedregulhos escorregava ainda mais e alcançar os degraus de pedra exigia força. Mesmo no outono, o sol já alcançava altura no céu, estando tão forte naquela hora que as fazia suar de cansaço. Myrella fez menção de parar para descansar algumas vezes, mas Idina era impaciente para isso, mantendo seus passos sempre contínuos.
Foi um árduo caminho, mas quando acabou, a vista do templo iluminado pelo sol encantou os olhos das servas. Uma grande e alta estrutura em formato de domo, suas paredes possuíam desenhos e símbolos, histórias contadas por profetisas de outras épocas gravadas pelas mãos de artistas. Os raios solares projetavam sombras neles, pintando outros pontos com um amarelo vivo, fazendo os desenhos se mexerem pelos reflexos. Eram anos de história sendo contada pelo tempo e pelas mulheres escolhidas pela deusa. Alguns dos desenhos, entretanto, escondiam-se atrás das heras que se enraizavam no chão mas que subiam pelas paredes redondas na direção da luz do sol. 
Aquele era o lar de uma deusa e de sua representante entre os homens, mas também de suas fiéis servas. Estar ali de novo era um alívio para a menina que, assim que vislumbrou o templo, acelerou os passos para chegar mais rápido. Estava ansiosa por entregar os lírios de sangue para o banho da profetisa e seguir seu dia, talvez limpar o grande salão com sua amiga Jamasi e rezar pelo irmão de Idina para a estátua da deusa laranja.
Na porta, os soldados do reino a abriram rapidamente.
- Bem-vindas, senhoritas - disse o que conversava com Idina mais cedo.
Naquela altura de idas e vindas, a mudança abrupta de luz já não era mais desagradável como era antes. Ali, Myrella se sentia em casa e conhecia o caminho, então andou apressada e ultrapassou Idina. Quando chegou no grande salão, com a outra atrás de si, Rhaena estava lá. Ela terminava de limpar uma mesa que havia sido colocada ali, segurando na mão direita uma bandeja de prata redonda com laranjas e tantas outras frutas cortadas, enquanto que com a esquerda pegava os outros restos do café-da-manhã da profetisa. Vendo a chegada das duas, ela terminou de recolher o que estava na mesa e foi até as elas.
- Como foi, Idina? - perguntou.
- Trouxemos o suficiente - respondeu, mostrando o ramo para a outra. 
- Ótimo - a mais velha de todas elas concordou, estendendo a bandeja para Idina que a pegou imediatamente. - Leve até a cozinha, as demais já estão lá. Vamos começar a próxima refeição logo porque  hoje temos convidados especiais.
- Lady Omira e o maege - Myrella disse por impulso, se lembrando de tê-los visto quando elas saíram para pegar as flores.
Rhaena sorriu para a menina, estendendo as mão em um pedido pelos lírios de sangue. Ambas entregaram seus buquês.
- O conselheiro do Rei e a filha da profetisa - respondeu, polida, como se corrigisse a garota. - Cozinharemos para os três hoje um banquete. Já instrui as outras meninas a escolherem o que temos de melhor na dispensa. 
- Faremos isso - Idina disse com respeito. 
- Enquanto isso irei preparar o banho da profetisa.
Myrella abaixou a cabeça para Rhaena enquanto esta se retirava em direção a um dos corredores com porta onde ela ainda não havia entrado. Era ali que ficava o quarto privado da profetisa e também seu cômodo para o banho. Se perguntava quando poderia entrar lá, desbravar seus mistérios e sanar sua curiosidade, mas enquanto isso era pela porta oposta que ela entrava, a que a levaria para o corredor de serviços. 
Extenso e mais bem iluminado, o corredor era repleto de portas do lado direito. Cada uma delas levava para o quarto de uma das servas. Eram doze no total, mas apenas oito tinham moradoras. Seu quarto era o oitavo, o último ocupado. Passaram por todos eles até chegarem no fim do corredor, na única porta a esquerda, que dava para a cozinha. Mesmo do lado de fora a garota já conseguia ouvir as louças e talheres, quando Idina abriu a porta o barulho inundou o corredor.
- Que baderna é essa? - Idina perguntou, brava.
- Temos convidados hoje! - das quatro servas ali, uma de longos cabelos loiros e rosto tão jovial quanto o de Myrella se destacou. - Já ia fazer um ano que a lady Omira não nos visitava -ela estava visivelmente animada, segurando meia dúzia de pratos de porcelana. 
- Ela está visitando a mãe, não nós - Idina corrigiu. - Agora calem essas matracas e trabalhem - ela disse enquanto ia em passos largos até a grande mesa central da cozinha, onde se espalhavam inúmeros utensílios e colocou a bandeja. As meninas pareciam arrependidas por terem quebrado o silêncio do templo. - Não entenderam ainda? Serviremos três hoje, vamos! Myrella, pegue batatas na dispensa, e vocês quatro lavem tudo o que vamos usar, especialmente os pratos que estão guardados a muito tempo.
- Sim - respondeu Myrella de prontidão.
Contornando a grande mesa, a menina passou por todas as outras servas e foi até a dispensa, nos fundos da cozinha. Atolada de prateleiras e sacos, o estoque era bem grande, mas conhecendo os caminhos e os ingredientes que precisava, a menina achou depressa o saco de batatas. Precisaria de muitas delas, sabia, mas suas mãos eram pequenas demais para pegar mais do que duas em cada. Mesmo assim, tentou pegar mais, mas elas caíram no chão pelos seus dedos. A cena despertou o riso da serva loira que chegava na dispensa no mesmo momento.
- Esqueceu disso - disse, estendendo uma cesta de palha.
Com o rosto corado de vergonha ela colocou as batatas que tinha nas mãos na cesta e pegou-a para si.
- Obrigada, Jamasi. 
Ela era tão jovem quanto Myrella, seu rosto delicado e infantil, mas pelo que se sabia morava no templo desde que era apenas um bebê. De todas as servas laranjas, Jamasi era com quem a menina mais tinha intimidade. Suas idades eram próximas, ambas ainda jovens e com seus quatorze anos a outra era só um ano mais velha que Myrella. Ela tinha os olhos azuis arregalados de excitação. 
- Vamos cozinhar cordeiro com cogumelos e batata no vinho de amora. Aproveitei para vir pegar a garrafa - explicou, passando pelo sacos de vegetais procurando nas prateleiras a bebida. - Onde está… ?
- No final - respondeu enquanto continuava pegando as batatas.
- Exatamente aqui! - a outra respondeu quando achou. Ela voltou até a mais nova satisfeita. - Então me diz, como foi no Templo Vermelho? - perguntou, curiosa.
- Nossa casa é mais bonita - respondeu, sem dar muita atenção. - Mas o jardim de taças de sangue é lindo.
- Quem sabe não vamos juntas amanhã?
- A ideia é ótima - concordou, sorrindo com a possibilidade.
- Combinado. 
Juntas e felizes com o que tinham marcado para a manhã seguinte elas voltaram para a cozinha com os ingredientes, colocando-os sob a imensa bancada. Enquanto as outras três lavavam pratos e talheres insistentemente, Idina cortava algumas cebolas na grande mesa, separando-as em pétalas, cubos e pedaços grandes. Pincelava mel nelas com cuidado excessivo, separando-as uma por uma até estarem totalmente meladas para a caramelização. O prato era um clássico adorado pela profetisa. 
Rhaena estava lá também, observando o processo com olhos atentos e analíticos. Assim como era materna e carinhosa, era dedicada a sua condição como uma serva da deusa laranja. Sempre ao lado da profetisa, ela exercia seu trabalho com afinco e buscando sempre a perfeição. Era uma mulher rígida em suas crenças e em seu amor pela profetisa, por quem nutria um grande laço declarado de gratidão e companheirismo. Myrella não sabia dizer quantos anos Rhaena tinha, mas aquela era a segunda profetisa que ela servia, tendo estado ao lado também da antecessora.
Ela viu Myrella e chamou-a com a mão. Jamasi pegou as batatas da amiga, livrando-a do peso, e ela foi até a mais velha delas. 
- Queria te pedir um favor pessoal - disse a mulher.
- Claro, senhora - a menina respondeu.
- O banho está pronto, mas preciso supervisionar e ajudar aqui na cozinha devido aos nossos convidados inesperados - explicou. - Imaginei se não gostaria de acompanhar a profetisa hoje.
O pedido surpreendeu a menina. Finalmente estar a sós com a grande profetisa era um anseio realizado. Nunca tinha conversado com ela, embora tivesse estado em sua presença inúmeras vezes. Ainda assim, devido a sua condição, não poderia ter certeza que tinha sido notada. Auxiliá-la no banho era quase sempre uma responsabilidade de Rhaena, então ela sentiu o peso daquela tarefa. Aceitou de prontidão.
- Seria uma honra!
- Então se apresse antes que a água da banheira esfrie - deu um pequeno tapa no ombro da menina, apressando-a. - Sabe que porta entrar. Ela deva estar no quarto, no fim do corredor. A banheira fica na porta ao lado. Tudo o que precisa estará lá.
Sabia muito bem. Já havia passado uma tarde toda no grande salão, sentada perto da estátua da deusa, olhando para a porta sempre fechada e imaginando o que encontraria atrás dela. Poucas vezes as servas entravam ali, geralmente só Rhaena tinha a permissão e os segredos dos tantos cômodos do corredor pessoal da profetisa residiam em sua boca selada. Jamasi uma vez lhe disse que havia um quarto com várias plantas penduradas no teto que não podiam receber luz solar e que precisavam ser regadas só uma vez a cada trinta nasceres do sol. Necessitavam de um cuidado muito grande porque as folhas eram usadas pela profetisa para tentar entrar em comunhão com a deusa.
Animada com aquela nova oportunidade, se retirou da cozinha, passando sem parar nem mesmo para contar os quartos, uma coisa que geralmente fazia por hábito. Os passos foram apressados, mas diminuíram quando estava na frente da estátua da Mensageira. A menina ajeitou a túnica laranja e abaixou o tronco, reverenciando a imagem, sentindo que precisava agradecer pela nova vida que tinha recebido. Ela lembrou da mãe com saudades, a única coisa boa que restava do passado, mas substituiu a imagem maternal que faltava por Rhaena, pela profetisa e pela deusa. Também aflita, pediu por calma, respirando fundo enquanto olhava para o céu azul revelado pelo domo furado.
Ela cruzou o salão e abriu a porta, entrando no corredor. Ele era como todos os outros, extenso e iluminado pelas velas nas paredes, mas entre cada vela um grande estandarte feito de tecido preto estava pregado, no centro dele bordadas duas asas na cor laranja. No cume não haviam sobrenomes, por isso Myrella nunca havia parado para pensar na família da profetisa antes. Eles eram os Magrace, soube mais cedo por Idina, então aquele haveria de ser o símbolo que eles colocavam em suas cartas e bandeiras. 
Saber a qual casa a profetisa pertencia não era mais interessante do que as portas que a menina encontrou no corredor. A primeira estava fechada e ela não teve coragem de abrir, assim como a segunda, a terceira, até a sétima delas. Era surpreendente como o número sete sempre se repetia nas coisas, mas ela sabia que aquele era o número dos deuses. Após aqueles cômodos inalcançáveis, onde um deles deveria ser o das plantas de Idina, ela chegou no final do corredor, onde havia o quarto da profetisa que estava fechado e o banheiro que estava aberto.
Entrando no cômodo aberto, ela viu a banheira cheia, o vapor da água quente que a preenchia perfumando e nublando o ar. Era um móvel estonteante, percebeu a menina, uma enorme bacia de porcelana branca com longas barras de ouro em suas laterais e em sua pequena escada de concreto, como corrimões. Para ajudar a profetisa, percebeu Myrella, e encantou-se com a maravilhosa sensação que deveria ser tomar aquele banho. Sentindo o ar morno preencher seu corpo, tratou de se apressar em fechar a porta para evitar que a temperatura caísse para que o banho fosse perfeito.
Diante da porta do quarto pessoal da profetisa a menina se sentiu ansiosa. Engolindo em seco, encostou os dedos na madeira crua, hesitante, mas empurrou a porta em seguida e com cuidado o suficiente para abrir uma pequena fresta tímida. Bisbilhotou por lá, mas sem sucesso, então continuou abrindo para que conseguisse espreitar o corpo para dentro.  
Logo ao lado da porta dois turíbulos pendurados do teto exalavam uma densa fumaça cinza de forte odor. A menina franziu o nariz, perdendo-se na fumaça momentaneamente, mas segurou o fôlego para não tossir dentro do quarto. Nunca havia sentido aquele cheiro antes, era pesado e impregnava dentro nas narinas, mas quando passou pela área quadrada dos incensários e entrou efetivamente no quarto, se deparou com um imenso cômodo, maior do que o próprio grande salão, e pelo que via os ambientes eram divididos por estantes e cortinas. Não haviam janelas, mas velas estavam por todos os cantos, nas paredes, em candelabros e até mesmo no teto, de onde descia um grande lustre. Além dos divãs e sofás, ao centro do quarto, uma grande área circular era coberta por uma pesada cortina alaranjada.
Tentou ser o mais silenciosa possível, procurando a profetisa com os olhos ansiosos. Ela não parecia estar em nenhum lugar próximo, por isso a menina continuou, passando pelo imenso tapete de pelos que cobria a parte de entrada do quarto. Era em forma de funil, estreitando-se pelo amontoado de estantes que saiam da parede para fechar no meio do cômodo. O curioso era que as estantes não tinham livros, o que era de se esperar, mas objetivos de uma variedade tão grande que Myrella mal conseguia distinguir o que eram. Viu pedras de diversas cores e formatos, plantas e ervas com flores que ela nunca tinha visto na vida e ferramentas metálicas. Dentre tudo o que viu, o que mais a deixou perplexa foi um jarro de vidro com uma imensa cobra mergulhada em vinagre. Seu corpo estava enrolado em espiral, cumprido e gordo, sua cabeça fora do líquido e seus olhos ressecados pela morte. 
Sentiu calafrios e se afastou da coleção de objetos estranhos para ir até a área coberta pela cortina. Não havia visto a cama ainda, então considerou que ela estaria escondida ali para dar mais privacidade ainda no sono da profetisa. Lentamente ela se aproximou, tentando evitar fazer barulho. Se estivesse dormindo, não sabia como a acordaria. 
- Senhora? - ela sussurrou delicadamente, chamando. Sua voz estava trêmula pelo nervosismo.
Entretanto, tudo continuou em silêncio. Ninguém respondeu do outro lado.
- Sou a serva Myrella - insistiu, aumentando a voz. Ela esperou mais um pouco. - Rhaena me pediu que eu a ajudasse no seu banho matinal.
A cortina branca continuava muda. Se demorasse demais o banho esfriaria, então mesmo com medo de receber alguma bronca pela audácia, a menina pegou a cortina com a mão e empurrou-a com cuidado para o lado, decidida em tentar acordar a profetisa da melhor maneira possível. Abriu uma pequena fresta, apenas o suficiente para conseguir vislumbrar a mulher deitada na cama que deveria ter o triplo do tamanho da dela a um passo da cortina.
A confusão tomou conta da sua vista quando conseguiu ver bem o corpo da profetisa. Ela estava deitada de bruço e bem no canto da cama, trajando sua linda túnica bordada e com a tiara em sua cabeça, mas seus cabelos pareciam em desordem. Ela não se mexeu, então Myrella abriu melhor a cortina, conseguindo ver que  sua mão esquerda para fora da cama e jogada no ar. Ela parecia segurar um dos lírios do Templo Vermelho primeiro, mas depois a garota percebeu que sua mão estava encharcada e rubra, gotas de seu sangue pingando pelos dedos até o chão de madeira que já se tingia a um tempo ali embaixo. 
Myrella abriu a boca e tentou repetir o chamado, mas sua voz falhou antes que conseguisse, terminando em um ruído de medo.
Com força ela abriu toda cortina, indo até a cama e o corpo da profetisa. Sem pensar duas vezes a menina virou o corpo inerte da mulher na cama, revelando uma faca cravada em sua barriga até o cabo. Sua linda túnica laranja estava manchada de vermelho na região, o tecido ensopado e viscoso de sangue. Ela tinha a boca aberta em pedido de ajuda, o rosto de idade marcado por dor e os olhos brancos e leitosos estavam arregalados pela visão tenebrosa que teria tido de seu assassino cruel em seus últimos instantes de vida. 
Assustada a serva se afastou do corpo com um grito estridente de horror que ecoou pelo quarto e corredor, quebrando o silêncio do templo. Começou a suar frio, o desespero tomando conta do seu corpo. Ver o corpo morto da profetisa, uma mulher que tanto a inspirou, era horrível demais. Em estado de choque, deu as costas para a cama e saiu correndo do quarto, tropeçando em um divã no caminho. 
- Socorro! - ela gritou. - A profetisa! Socorro! Pelos sete deuses… alguém ajude!
Clamou enquanto seus olhos jorravam lágrimas de dor e tristeza. Ela sabia que não havia ajuda capaz de salvar a profetisa a não ser um milagre, mas os passos no corredor indicavam que as outras pessoas no templo ouviram o chamado. Ela viu quando Omira Magrace apareceu. Seus olhos estavam aflitos quando Myrella os viu, mas a filha da profetisa olhava para as mãos da serva, sujas de sangue de quando virou o corpo na cama. Catatônica ainda e enojada com sua própria mão, a menina simplesmente chorou. Com a cortina aberta, o corpo esfaqueado da profetisa ficou visível para a filha. 
- Mãe! - ela exclamou antes de correr até a cama.
 O maege Baltazar chegou depois, acompanhado de Rhaena. O homem continuava escondendo suas emoções na máscara, mas seus olhos contavam um julgamento em cima da serva. Ele foi ao encontro de Omira e do corpo sem dizer uma palavra, mas Rhaena estava paralisada perto da porta, os olhos vermelhos pela fumaça ou pelas lágrimas que começaram a despencar de seu rosto enquanto ela via a sua amada profetisa morta. Ela levou a mão enrugada até a boca, suprimindo os sons de tristeza do seu choro, e despencou sob os joelhos.
- Rhaena… - Myrella chamou entre soluços. - Rhaena… a profetisa… ela…
Mas a mulher sentia muita dor para responder. Ela fechou os olhos, em lamento, e começou a sussurrar preces rápidas e inaudíveis. 
Da cama o choro da filha era uma orquestra. Ela gritava e soluçava, seu rosto desfigurado pela tristeza da perda inusitada da mãe. Naquela orquestra fúnebre, o cheiro do incenso parecia ser cheiro de morte agora. 
- Garota! - a voz do maege ecoou pelo quarto, firme e decidida. Ele apontou para Myrella, seu dedo acusador e vergonhoso. - O que você fez?
Sem entender, ela negou com a cabeça, completamente desamparada.
- Eu não fiz nada! - desabou em soluçar, tremendo dos pés a cabeça. - Quando cheguei, ela estava morta assim.
- Mentirosa! - o maege gritou por cima da voz dela, indo em sua direção. Ele pegou o miúdo braço da serva e ergueu-a do chão com brutalidade e facilidade. - Assassina! Impura! 
- Eu juro! Eu juro pelos deuses que não fiz nada.
- A Mensageira chora pelo crime que cometeu! Sua escolhida morta a sangue frio por sua própria serva - ele dizia com desgosto nas palavras que saiam de sua boca. Ele se virou para Rhaena que ainda estava sem reação no chão do quarto. - Vá chamar os soldados, mulher, agora! Esta garota deve ser levada imediatamente à justiça.
Demorando para entender que estava sendo chamada, Rhaena olhou para a menina mais nova, a pequena serva que trouxera para o templo poucos dias atrás. Seu rosto estava inchado pelo choro.
- Por favor… Rhaena… eu não fiz isso… - Myrella implorou para a mais velha.
Quando seus olhos se cruzaram, os da outra serva eram duros de luto. Ela se levantou em silêncio com suas bochechas marcadas pelas lágrimas e saiu correndo pelo corredor para buscar os soldados conforme o maege havia pedido. 
Ele continuava segurando o pulso da menina com força, seus olhos naquela máscara tenebrosa fitando-a com intensidade e ódio. Tentou se desvincular dele, forçando o braço, e conseguiu sair do aperto. Gritaram atrás de si, mas não conseguia entender na adrenalina que sentia, então só correu assustada pela porta do quarto, passando pela fumaça e depois pelas sete portas do corredor. Encontrou no grande salão todas as outras servas, preocupadas e curiosas com a chegada dos dois soldados de guarda. Eles nunca podiam entrar no templo, muito menos armados, mas empunhavam suas espadas nas mãos.
Quando viram Myrella eles bloquearam o caminho, ambos indo na direção da menina. Não tendo como escapar, ela se entregou exausta quando o soldado que conhecera mais cedo a pegou, prendendo seus braços com força para trás. 
- Por favor… por favor… - ela continuava a pedir.
- Parem a serva! - a ordem do maege Baltazar ecoou por todo o templo. 
Ele vinha pelo corredor logo depois. Quando apareceu no salão os dois soldados se ajeitaram, recobrando a postura. O soldado que não tinha Myrella em mãos guardou a espada, mas o que a segurava ainda estava alerta. Ele mostrou a menina para o maege.
- Capturamos ela, senhor - o soldado disse. - O que devemos fazer agora?
- Levem para o castelo e a prendam no calabouço - o homem ordenou. - Falarei com o Rei pessoalmente sobre a execução desta assassina, o seu crime é imperdoável aos deuses - sentenciou. 
- Sim, senhor! - o soldado respondeu.
Sem forças para lutar mais e afogada em suas próprias lágrimas, a garota foi puxada para fora do Templo Laranja sem falar nada, mas chorava sem parar. Ela viu o rosto de Jamasi pálido e terror, confusa e imóvel, assim como Idina e as outras meninas. A única que não olhava para ela era Rhaena, afundada em sua perda, olhando para o chão com profundidade. Sabia que nunca mais veria sua casa de novo e queria rezar para a estátua da Mensageira uma última vez, mas só conseguia olhar para os terríveis e famintos olhos que aquele homem mostrava atrás da sua máscara de madeira. 
Depois que levada para fora do templo, já não demonstrava nenhuma força para tentar resistir. Foi carregada pelos homens, cada um segurando um de seus braços. No caminho o sol do dia castigou seu rosto sensível pela salgaria, e quando olhou para ele viu o fim da montanha, onde o castelo de Montanhalta subia do chão e alcançava o céu claro. Ela lembrou que sonhara um dia em ser uma princesa, viver em uma daquelas grandes fortalezas, mas sabia que aquilo era um só pesadelo de uma menina boba que logo teria um fim.
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renaultportugal · 4 years
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Renault Type AX, um descapotável pioneiro
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Apresentado em 1908, o Renault Type AX rompeu barreiras, inaugurou o conceito de descapotável e tornou-se símbolo de uma marca que renascia. Um automóvel inovador, mas fiável e acessível, como sempre foram os modelos da Renault ao longo da sua já longa história.
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No começo de 1908, cinco anos após a morte acidental e repentina de Marcel, um dos dois fundadores da Sociedade Irmãos Renault, o segundo fundador da companhia, Fernand, transmite ao irmão mais novo Louis o desejo de se afastar completamente da empresa. Assim, no dia 1 de outubro do mesmo ano (1908), Louis Renault torna-se o único liquidatário da Sociedade.
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Ao longo dos seus já dez anos de existência, a empresa sedeada em Billancourt já tinha registado progressos notáveis e estava muito além da pequena sociedade que tinha mostrado o seu primeiro “automóvel” construído artesanalmente no abrigo do jardim na Avenue du Cours.
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Em 1908, nas oficinas de 45 620m2 um pequeno exército de 1900 funcionários já constroem uma gama de pequenos automóveis de passageiros e comerciais que visavam satisfazer as necessidades de uma clientela bastante diversificada. Mas na recém-formada por Louis Renault “Sociedade de Automóveis Renault”, havia espaço para um novo modelo. Apresentado em agosto de 1908, foi “homologado” pelo Estado Francês no dia 23 de setembro do mesmo ano com a designação oficial de Type AX.
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No entanto, como a comercialização começou logo em agosto desse ano, na publicidade da altura este ainda surgia sob a alçada da “Sociedade Irmãos Renault” e adotava a designação de protótipo de “voiturette”, um utilitário dos tempos modernos.
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O primeiro folheto justifica a renovação do conceito de “utilitário” nestes termos: "O objetivo a que nos propusemos ao lançar este modelo foi o de apresentar uma proposta com um preço muito competitivo e uma manutenção muito económica. Para alcançar este resultado, a empresa concentrou os esforços na simplificação de todos os componentes e no recurso a materiais extremamente robustos que garantissem a extrema fiabilidade e resistência ao desgaste. A leveza do conjunto foi levada ao limite da compatibilidade com a resistência e a durabilidade que pretendíamos, o que permitiu utilizar um motor de baixa potência, muito económico no consumo de combustível, mas que, no entanto, permita obter uma velocidade suficientemente elevada e evitar as frequentes trocas de caixa.
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O motor que utilizámos é um 2 cilindros. E escolhemos esta solução depois de muito desenvolvimento e horas de testes que garantissem a suavidade, economia e fiabilidade do mesmo...”
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Convém relembrar que, desde 1902, a Renault dominava tecnicamente este tipo de motorizações de dois cilindros, a base perfeita para criar os quatro e seis cilindros do Type AR.
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A arquitetura do Type AX era semelhante à do Type AG e o exigente caderno de encargos era o mesmo, tendo sido alvo de um pedido de patente a 4 de maio de 1909, o objetivo passava por facilitar o acesso aos principais órgãos mecânicos e reduzir os tempos de manutenção e reparação.
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As caraterísticas do motor da primeira versão são as seguintes:
2 cilindros
Diâmetro: 75 mm – 80 mm
Curso: 120 mm
Potência Nominal: 8 cv
Potência: 6 cv na versão 75x120 mm e 7 cv na de 80x120 mm
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De acordo com o anúncio da época, “a carroçaria muito confortável inclui dois assentos envolventes e uma mala traseira para guardar ferramentas e os acessórios que pretender”.
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Apesar da aparência espartana, a verdade é que este tipo de elementos aplicados a um chassis automóvel aberto é uma herança direta das anteriores charretes. A Renault, inovadora como sempre, foi a precursora desta transposição entre os dois “mundos” sendo, por conseguinte, a pioneira do conceito de descapotável.
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No começo da comercialização, a Renault e alguns fabricantes ofereceram aos clientes elementos opcionais como o para-brisas, a capota e vários outros acessórios que permitiam tornar o utilitário Tipo AX um verdadeiro Cabriolet.
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Por encomenda especial, o construtor Driguet podia adaptar uma carroçaria fechada ao chassis do Tipo AX. Permitindo assim uma maior proteção dos ocupantes face aos elementos.
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Evolução do modelo
1910
Se, no final de 1909, as características técnicas do Tipo AX continuaram inalteradas, já as dimensões do chassis foram alteradas para a entrada do modelo no catálogo da gama Renault em 1910
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1911
No catálogo da marca, o TIPO AX não sofreu quaisquer modificações para esse ano. No entanto, a Renault e vários outros carroçadores da altura, como a Gallet, ofereciam algumas variantes de carroçaria.
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1912
Durante todo o ano de 1912, o modelo Tipo AX (Type AX) manteve-se em produção sem qualquer alteração, inclusive de preço, face à versão de 1911.
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1913
Em 1913, o Tipo AX passou a ter 9 cv de potência nominal e o chassis viu, novamente, as dimensões revistas.
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No final de dezembro de 1913, a Renault lançou um novo modelo, o Tipo EK, que tinha características similares às do Tipo AX. Esta nova proposta veio, progressivamente, a substituir o AX. O Tipo EK acabou por ser produzido até 1917. Este chegou a ser proposto numa versão de chassis longo (com 2,585 metros de distância entre-eixos) nas carroçarias Torpédo e Phaeton.
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E assim terminou a história do Type AX, o primeiro Renault de grande produção. Acessível a um grupo alargado de clientes, acabou por se tornar a imagem do célebre Táxi, um automóvel simples e fiável, simbólico para a Renault e símbolo da marca francesa.
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vozdodeserto · 5 years
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Algumas impressões sobre o debate Peterson/Žižek
Há uma tendência popular de apontar a internet como a besta do Apocalipse. Pessoalmente não posso assegurar que ela não seja. Mas vejo-me obrigado a reconhecer que há coisas fantásticas a acontecer-me na vida que dificilmente aconteceriam sem que a internet desempenhasse o seu papel. Por exemplo, o debate entre Jordan Peterson e Slavoj Žižek aqui há uns dias.
Antes de partilhar algumas impressões, num texto bem ziguezagueante, quero tentar situar-me em relação a estes dois homens. Slavoj Žižek é um louco de esquerda cujo charme me atinge. Já li uma meia-dúzia de livros dele, recenseei uns quantos (para a extinta revista Atlântico e para a revista Ler), e, apesar de estar longe ideologicamente, estou mais perto em alguns domínios do que me agradaria reconhecer. Isto quer dizer que, por um lado, gostaria de que a vida fosse simples ao ponto de, por não ser de esquerda, pouco ou nada tivesse para elogiar ao Žižek . Mas a vida não é assim tão simples.
Acerca do Jordan Peterson não precisarei de dizer muito porque basta encaminhar-vos para o texto que, no ano passado, escrevi acerca dele no Observador, e que é uma provinciana glória pessoal por ter sido o primeiro artigo sobre ele na imprensa nacional. O Peterson é um amor recente e o Zizek é um amor/ódio antigo.
A primeira observação que quero partilhar é admitir que, ao comentar o debate Jordan Peterson vs Slavoj Žižek, também estou a fazer algo irritante que é dizer que uma das melhores coisas é ter-se falado de um assunto acerca do qual já vos tinha falado mas que ninguém me ligou (vejam aqui).  Por isso, aceitem por uns instantes este momento de "eu sempre disse isso, eu sempre disse isso!" Esse assunto do qual vos falei e que ninguém me ligou é a rasura antropológica do marxismo: o comunismo desantropologiza o homem para antropologizar as chamadas estruturas sociais. Esta é uma fraqueza intelectual tão patente que até um pateta como eu lá chega. Sinto-me bregamente vindicado pelos primeiros vinte minutos do encontro deste par de star-intelectuais.
A segunda observação é acerca da imprevisibilidade de como os intervenientes encarnam as suas ideias. Como a vida não é assim tão simples, a rasura antropológica que correctamente Peterson aponta ao marxismo é, de certo modo, invertida para que num discurso global acerca de sistemas económicos, Peterson, de facto, pareça o optimista (e, nesses termos, o ideologicamente raso), e Zizek encarne o pessimista (e, nesses termos, o pessimista antropológico). Isto significa que, ao assistir a este debate, frequentemente me senti acreditando em Peterson  mas identificando-me com Žižek. Ou, se quisermos, não acreditando em Zizek mas não me identificando com Peterson. Ou sou eu que sou burro ou a vida pode mesmo ser complicada (há outras opções a considerar mas que agora não são assim tão importantes para este texto).
O problema de Peterson, de defender correctamente algo que não encarna eficazmente, é, obviamente, teológico. Como Peterson ainda não crê na ressurreição de Cristo, concebe uma existência em que a verdade pode ser independente daquilo que é carne e osso. Também é por isto que Peterson lê a Bíblia a partir de Jung, mas não consegue ler a Bíblia a partir da Bíblia. Peterson, como psicólogo que é, pode dar-se ao luxo de reciclar uns quantos gnosticismos arcaicos sem dar sinal de que compreende as suas consequências. Aliás, no pensamento de Peterson o homem precisa mais de uma terapêutica do que de uma salvação. O triunfo de Peterson é, numa época que tornou doentes em déspotas, reafirmar o valor da saúde. Mas aponto-lhe (eu e muitos outros) a insuficiência do tratamento sugerido. A insuficiência do doutor Peterson é, em ao registar as melhoras dos seus pacientes, perder algum respeito à doença deles. E por isso não é casual que no fim acabe por admitir que acredita que as pessoas são fundamentalmente capazes de ultrapassar o mal que enfrentam com o bem que podem produzir.
A isto não é estranho o movimento global de neo-tomismo-triunfalista dos nossos dias. O que quero dizer com neo-tomismo-triunfalista? Assim, para simplificar uma conversa que tem uma complexidade que naturalmente não domino, o neo-tomismo-triunfalista é, nas insónias da imanência pós-moderna, sonhar com a restauração de um reino milenar idealizado a partir de uma efabulação maniqueísta do passado. Como assim? O neo-tomismo-triunfalista é a crença de que o sarilho filosófico em que nos metemos é culpa dos pecados pretéritos dos outros. O neo-tomismo-triunfalista tem hoje uma força impressionante entre convertidos ao catolicismo e defensores reaccionários da cultura ocidental, um público extraordinariamente solícito a aceitar sistemas sacramentais que resolvem o mal do mundo a partir de penitências humanas (para entenderem mais acerca do neo-tomismo-triunfalista aconselho a leitura de "How (Not) To Be Secular", uma leitura do filósofo católico Charles Taylor a partir do calvinista James K. A. Smith).
Peterson, apesar de ainda não se ter convertido ao catolicismo (parece andar perto - e, neste sentido, não vale a pena distinguir a Igreja Ortodoxa da Igreja de Roma porque em termos filosóficos elas operam segundo o mesmo código não-hebraico), e, apesar de não vestir oficialmente o equipamento do neo-tomismo-triunfalista, joga-lhe mais facilmente a táctica, fintando pelo flanco esquerdo do campo para evitar o bloco defensivo e desconfortavelmente logocêntrico de uma fé cristã que depende inteiramente da centralidade da palavra, sem as fissuras entre universais e factos às quais o velho Frei Tomás era tão dado. Ou seja, apesar de tanto espaço que concede ao problema do sofrimento, creio que Peterson tende a apreciar o cristianismo como uma vitória sofrida do bem, à la Roma, por oposição a encarar o cristianismo como o sofrimento vitorioso do mal, à la Genebra (Roma afirma hoje Cristo a partir do exemplo moral, onde o protestantismo teima na sua morte expiatória). Não é por isso de espantar que Žižek mais rapidamente admire o cristianismo pela afirmação da treva do que pelo triunfo da luz (vejam mais à frente, ainda que o faça citando o católico preferido dos calvinistas, Chesterton).
Bem, este texto está numa digressão das antigas... Vou tentar retomar: é aqui que faz toda a diferença o amor de Žižek ao Kierkegaard (atenção que o meu querido Kierkegaard não era imune a algumas tentações tomistas). Porque Žižek ama Kierkegaard, que por sua vez amava Lutero, que por sua vez amava Paulo, que por sua vez amava Cristo, que por sua vez amava o Pai (talk about real sucessão apostólica!), sabe que o pecado não é o que fazemos, é o que somos. Žižek pode ser pessimista, como um bom protestante tem de ser, porque sabe que a vida é mais acerca dos problemas que estragam as soluções, do que acerca das soluções que resolvem os problemas. Getting to the point: a salvação de Cristo impõe-se porque existir é fracassar no melhor que conseguimos. Não há triunfalismo ou optmismo que nos valha. Somos salvos porque somos tomados crucialmente por aquilo que não é nosso - a redenção acontece em nós por aquilo que fora de nós aconteceu antes.    
Voltando ao debate, partilho ainda outras impressões. Peterson fala para ser entendido porque, ainda que não afirme a veracidade da ressurreição de Cristo, e, portanto, que o que é absoluto tem carne e osso para ser atestado por nós, crê que dar-se a entender é uma questão moral. Žižek, que não crê em qualquer absoluto moral, pelo menos na medida em que ele é entendido por um crente religioso, tem de falar de um modo que não se preocupe a dar-se a entender. Para o ateu, dar-se a entender é a persistência de um sintoma religioso. Žižek pode (e deve) ser confuso porque essa é uma consequência inevitável da sua visão sobre a realidade, de que Deus e o sentido não existem. Ponto para Peterson. Mas, calma. Porque isto da existência do sentido não significa uma vitória garantida daqueles que lhe reconhecem a necessidade.
As frases mais proféticas, as mais apocalípticas, aquelas que melhor revelam as incapacidades dos impérios supostamente omnipotentes deste século, são ditas por Zizek. Vou apontar três. “The main burden is freedom itself”. O neo-tomismo-triunfalista celebra a liberdade como se ela tivesse ficado acorrentada ao jardim do Éden; pois não ficou. Se a liberdade fosse a solução absoluta, Deus não teria feito um pacto com Abraão mas limitar-se-ia a espalhar urnas pela Palestina - como podem imaginar, não é essa a história das Escrituras.
Segunda: “never presume that your suffering is in itself a proof of your authenticity” - eis a racha do misticismo (romano e oriental) que, na idealização do sofrimento, e idealização essa que tenta Peterson, atribui ao ser humano a participação na reabilitação cósmica de todas as coisas. Valha-nos novamente Lutero: tudo o que de bom fazemos não é porque aqui estamos; é feito apesar de nós.
Terceira: “o mal é, de certo modo, mais espiritual do que o bem” (ou “a queda cria retroactivamente o lugar de onde caíste”). Estas frases são bebidas fortes; não dá para serem provadas por um miúdo qualquer. Mais tarde Žižek diz, com toda a razão, que o cristianismo é uma religião única porque não somos nós que vamos até Deus, mas Deus que abraça ele mesmo a distância que nos separa dele na cruz. Jesus é salvador porque ao pecado foi dada grande importância (e daí que não deixe de ser revelador que todos aqueles que se afastam da valorização do pecado, que tomam como um tique religioso primitivo, acabem como o pobre Padre Anselmo Borges, no outro dia na TV, a dizer que se Deus matou o seu Filho na cruz para nos salvar, então é porque Deus é pior que o Padre Anselmo - o Padre Anselmo pode dar-se ao luxo de considerar que a valorização do pecado desprestigia Deus porque o Padre Anselmo, graças a crer numa dialéctica espiritual assente em rituais que lhe aperfeiçoam a humanidade, considera que ser humano é, por natureza, tratar o divino como comum - é o oposto, padre pateta! - ser humano é fundamentalmente tratar o divino como outro - há certamente Génesis 1, em que somos criados à imagem de Deus, mas Génesis 3 muda tudo - o Génesis 3 pouco ou nada muda na Bíblia deste padre pateta).
Prossigamos que se não acabo louco a pensar em padres patetas do calibre do Padre Anselmo (que nem justiça faz ao nome que tem...). O debate Peterson/ Žižek foi também o que de mais parecido vi na vida entre o debate mundo velho versus mundo novo. A nossa tendência hoje, como Peterson demonstra competentemente, é tornar tudo político. Mas tornar tudo político é, por vezes, a maneira mais eficaz de não respeitar a largura do que também é político mas a político não se limita. Peterson vs  Žižek também é um embate continental, de uma Europa velha, demasiado antiga para poder entregar-se ao luxo da esperança, com uma América que ainda esperneia quando a alfinetam no rabo (ainda que seja a versão mais europeia da América, um canadiano).
Por outro lado, os eixos de debate não são lineares. Há ocasiões em que aquilo que está em causa é epistemológico (ou teleológico, para ser mais preciso), sabermos se a existência de uma pessoa pode ser pautada por um sentido que possa ser conhecido (Peterson diz sim, Žižek não pode dizer sim). Há ocasiões em que aquilo que está em causa é estético, aderirmos a formas (elegância, lógica do argumento, clareza, execução do método combinado previamente, etc. - a favor de Peterson e contra Žižek ). Há ocasiões em que aquilo que está em causa é ontológico, saber se somos sobretudo a partir do que fazemos ou do que contemplamos (com a primeira a ser encabeçada mais por Peterson e a segunda mais por Žižek , parece-me). Isto serve apenas para constatar que neste debate as linhas supostamente ideológicas não chegam para explicar todas as tensões que nele acontecem e que, volta e meia, o herói e o vilão trocam de lugares. Se, no geral, creio que Peterson ganhou? Certamente. Mas, no particular, quem foi que, no meio das trevas, traduziu mais eficazmente a nossa necessidade de salvação? Sem dúvidas que foi Žižek. Obrigado internet por demonstrares com grande estilo que vitórias importantes também podem passar por protestos dos derrotados.
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atletasudando · 8 months
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Dominio africano en el medio maratón de Rio de Janeiro
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Fuente: CBAT Los africanos dominaron la 25ª Media Maratón Internacional de Río de Janeiro, realizada en la mañana lluviosa de este domingo (20/8), con salida en Praia do Leblon y meta en Aterro do Flamengo. La carrera de 21.097 km contó con el Sello de Oro y el Permiso 14/2023 de la Confederación Brasileña de Atletismo (CBAt). El ugandés Moses Kibet y la keniana Viola Kosgei aseguraron la cima del podio. Moses completó el recorrido en 1:03:49, mientras que Viola consiguió 1:18:06. Los brasileños mejor colocados fueron Fábio Jesus Correia, que finalizó en segundo lugar tras una disputa muy reñida con el campeón, en un tiempo de 1:04:06, y Franciane Moura, que, en su debut en la carrera, finalizó en cuarto lugar. , con 1:19:45. Ni siquiera el tiempo cerrado y la lluvia en varios momentos de la carrera quitaron el ánimo a los corredores. En la disputa, Moses Kibet y Fábio Jesus hicieron carrera separada. Los dos se escapaban del pelotón nada más empezar y empezaban a alternarse en el liderato de la prueba. En la recta final, sin embargo, el ugandés confirmó su buen momento y se llevó a casa otro título: recientemente ganó la 2ª Media Maratón Internacional de Guarulhos. Fábio, campeón de la Copa Brasil Loterias Caixa de Cross Country 2023, destacó el recorrido y el hecho de correr junto a los destacados extranjeros. “La carrera es rápida y muy fresca, lo único que lamento fue la lluvia, que ralentizó un poco el ritmo. Pelear con estas bestias es muy bueno y solo puedo agradecer”, dijo el bahiano, que fue el mejor brasileño en la última Carrera Internacional São Silvestre, con el cuarto lugar. En la femenina, el pelotón caminó más compacto hasta poco más de la mitad de la carrera. A partir de ahí, las extranjeras lograron abrir, con destaque para Viola que logró superar a la favorita Emily Chebet, de Uganda, que venía de una victoria en la Meia de Guarulhos. El equilibrio y la buena disputa quedaron patentes con la confirmación de los tres primeros clasificados llegando en el mismo minuto. “Ha sido una carrera muy disputada y estoy muy contento de haber ganado a rivales muy fuertes. Me gustó el recorrido, bastante rápido, solo que la humedad era alta”, explicó la ganadora, de 24 años. Franciane dijo: “Fue gratificante para mí. Me enfermé en el quinto kilómetro y luego logré recuperarme. Estoy feliz por mi debut aquí, más aún con un podio” podios de competición: Masculino 1-Moses Kibet (UGA) – 1:03:49 2-Fábio Jesus Correia (BRA) – 1:04:06 3-Giovani dos Santos (BRA) – 1:05:39 4-Ederson Pereira (BRA) – 1:06:17 5- Robson de Lima (BRA) – 1:06:39 Femenino 1-Viola Kosgei (KEN) – 1:18:06 2-Emily Chebet (UGA) – 1:18:16 3-Felismina da Silva (ANG) – 1:18:44 4-Franciane Moura (BRA) – 1 :19:45 5-Kleidiane Jardim (BRA) – 1:20:55 Read the full article
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andreadiazalmeida · 2 years
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Dia 30 - Grandes Escritoras Marguerite Yourcenarb 📚 Marguerite Yourcenar, pseudônimo de Marguerite Cleenewerck de Crayencour (Yourcenar é um anagrama de Crayencour) (Bruxelas, 8 de junho de 1903 — Mount Desert Island, 17 de dezembro de 1987), foi uma escritora francesa. Seu livro mais consagrado é Mémoires d'Hadrien (Memórias de Adriano), fruto de quinze anos de trabalho, a sua obra maior que a tornou internacionalmente conhecida. Este sucesso seria confirmado com L'oeuvre au Noir (A Obra ao Negro), 1968, uma biografia imaginária de um herói do século XVI atraído pelo hermetismo e a ciência. Publicou ainda poemas, ensaios e memórias, manifestando uma atração pela Grécia e pelo misticismo oriental patente em trabalhos como Mishima ou la vision du vide (1981, Mishima ou a Visão do Vazio) e Comme l'eau qui coule (1982, Como a Água que Corre). Outras obras: O Jardim das Quimeras (1921); Alexis ou o tratado do vão combate (1929, O Labirinto do Mundo (1974-77); Arquivos do Norte (1977) e O Tempo, Esse Grande Escultor (1983). #marcodamulher #diadamulher #escritoras #amorporlivros #margueriteyourcenarb (em Santana, São Paulo, Brazil) https://www.instagram.com/p/CbuczGyLr3d/?utm_medium=tumblr
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lidadornoticias · 2 years
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weekendnd · 2 years
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Aventura 58 - Os Cofres da Perdição II
Diante dos aventureiros a arcana vermelha que deveria estar morta se ergue. Calmamente ela começa a conversar com eles, dizendo que atrás dessa imensa porta está seu objetivo.
Ao longo da conversa a maga que se chama Strabia revela que ela é uma das guardiãs do Cofre mas secretamente ela também pertence à resistência contra Ssaz Tam. Em sua posse está uma chave no formato de uma gema mágica que ela imediatamente entrega ao grupo. Ela logo adianta que duas outras chaves como essa são necessárias para abrir o grande pórtico. Cada uma das chaves está nas mãos de um guardião - um mago de alta patente.
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Como uma necromante, ela aparenta não tem medo da morte nem rancor por ter sido assassinada. Ela diz que tem meios de reviver e pretende voltar a se juntar à resistência. 
A maga conta que o cofre é uma invenção engenhosa de Ssaz Tam. Os Cofres da Perdição se constituem em duas partes distintas.
A primeira parte do cofre originalmente foi feita para através das suas riquezas atrair e matar aventureiros e transformá-los em poderosos mortos-vivos. Alguém que morre no Cofre logo volta a vida como Strabia bem demonstrou, mas sua consciência não dura muito. Logo o morto-vivo sucumbe ao poder necromante de Szass Tam e sua mente se perde para sempre. 
Antigamente haviam portais espalhados por todos os reinos que levavam diretamente aos cofres e à promessa de poderes e riquezas, mas por causa da guerra, os portais que levam até o cofre foram desativados e o único jeito de entrar é pela porta da frente ou pelo círculo mágico que fica dentro do laboratório.
A segunda parte do Cofre serve como uma base de experimentos mágicos além de guardar os verdadeiros tesouros de Thay. Atrás dessa imensa porta intransponível Ssaz Tam guarda os filactérios de seus generais liches mais poderosos, os Arcanos de Tam. Dessa maneira ele não só garante sua imortalidade mas mantém também controle total sobre seus súditos mais perigosos, eliminando qualquer possibilidade de um ato de rebeldia por parte deles. 
Strabia quer que os aventureiros sejam bem sucedidos. Seu objetivo também é a queda de Szass Tam e ela obviamente vê nos aventureiros uma oportunidade desferir um golpe certeiro no tirano.
Finalmente ela revela o maior segredo do cofre e o motivo pelo qual ela acredita que as chances de sucesso dessa empreitada podem ser muito pequenas. O cofre é patrulhado por um Demi-Lich chamado Zirar-Kadak. Que permanece adormecido e perdido em seus pesadelos a não ser que o alarme seja soado.
Um Demi-Lich é um lich que ao longo dos seus longos anos de vida perdeu completamente sua humanidade e até mesmo a necessidade de um corpo físico. Só uma caveira resta do que antes foi seu corpo. O tempo erodiu sua mente e sua razão e ele se esqueceu que um dia sequer foi uma criatura viva. Essa criatura é tão letal que apenas seu grito é capaz de trazer morte instantânea aos aventureiros que o escutam. O demi-lich é o motivo principal por esse ser o cofre mais bem protegido de Thay.
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Munidos dessas informações os aventureiros cautelosamente continuam sua jornada pelos Cofres. Logo eles encontram um vasto laboratório necromante onde experimentos horripilantes parecem ser realizados. Tubos de vidro com mutações cadavéricas grotescas e torturas inomináveis estão sendo realizadas por um grande grupo de 15 Arcanos Vermelhos acompanhados por guardiões escudo. Um dos arcanos que parece ser um dos guardiões do cofre veste uma das chaves, mas o grupo decide que atacar uma força tão grande seria suicídio e juntos eles seguem adiante procurando achar uma solução depois.
Os caminhos do cofre passam por uma espécie de horta subterrânea cultivada por esqueletos animados e levam até um jardim exuberante que assim como a horta é iluminado por uma esfera de luz mágica. No centro do jardim há um palanque com almofadas onde uma bela arcana vermelha prepara um chá de ervas. Em cada um de seus lados, presos por coleiras mágicas feito bichos de estimação, estão dois filhotes de dragão, um vermelho e um dourado.
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A maga recebe o grupo cordialmente e convida os aventureiros a se sentarem para um chá. Como Strabia antes dela, ela diz que não apoia os métodos brutais de Szass Tam. Alysaaria aceita o convite e experimenta o chá. 
Quase que imediatamente a elfa cai num estupor venenoso. Sem ar e espumando pela boca ela morre em questão de segundos para o horror dos seus companheiros. 
Zook, que estava invisível durante toda a conversa age rápido e usando suas ferramentas com habilidade exímia liberta o filhote de dragão dourado que imediatamente lança uma baforada contra sua captora. Glor e Caolho partem para cima da maga e depois de uma luta sangrenta emergem vitoriosos. 
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Depois que a arcana vermelha morre, Zook liberta também o dragão vermelho que revela ser filho de um dragão ancião chamado Firkraag. Ele diz que ele seu pai sempre serão gratos por isso. Em posse da maga vermelha os aventureiros encontram uma segunda chave.
Alysaaria volta a vida como um morto-vivo. Seu corpo dizimado pelo veneno é pálido e de aspecto cadavérico. Seu coração já não bate, seus pulmões não respiram e seu toque rapidamente se torna mais e mais gélido. Todos sabem que eles não tem tempo a perder porque é uma questão de tempo para que a maga perca sua mente para sempre.
Em busca da terceira e última chave o grupo se depara com uma oficina onde um escravo anão parece esculpir estátuas de pedra que posteriormente são trazidas à vida como golens pelos arcanos. No fundo da sala há uma estátua de uma mulher, uma belíssima criatura alada.
Zook abre as fechaduras da coleira mágica libertando o anão que antes de fugir divide com o grupo que a estátua no fundo da sala é na verdade o corpo petrificado de um Avatar de Mystra, a deusa da magia. Mystra enviou seu avatar como punição divina pela perversão da sua magia por Szass Tam e seus asseclas. No entanto, a astúcia de Szass Tam se revelou ser grande demais para o avatar. Sem poder destruí-la, o Lich a aprisionou para sempre em forma de pedra.
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Os aventureiros libertam o Avatar de Mystra que volta a vida num frenesi. Seus olhos atiram rajadas de energia capazes de desintegrar qualquer coisa e ela não distingue entre amigos e inimigos. Felizmente Glor consegue acalmá-la antes que uma tragédia possa acontecer.
Agora à par da situação e determinada a se vingar o avatar alado parte em direção ao laboratório da onde os aventureiros podem ouvir gritos agonizantes e os sons de destruição. Com os magos fora do caminho, o grupo entra nos escombros do laboratório para apanhar a última chave do corpo do último guardião que havia sido reduzido à uma poça de sangue e pedaços de carne.
Com as três chaves em mão, só resta aos aventureiros entrarem no cofre.
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