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#constelações entrelaçadas
sadistictalefactory · 2 years
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Constelações Entrelaçadas
O céu do interior está pintado de galáxias e estrelas, e cá estamos sentados no topo da colina. Longe de toda a luz forjada da cidade, podemos contemplar a chuva prateada que nunca cai.
Nós estamos lá, sabe... Nas estrelas. Distantes talvez, sou boreal e você austral, mas ao mesmo tempo unidos por corações que se chocam, se trançam e entrelaçam, se tornam uma bagunça perfeita.
Uma constelação.
Que imagem será que formamos? Cassiopeia, a mais bela das rainhas? Pegasus, Ursa? Ou algum Zodíaco que inspira milhões?
Espero que sim. Que nossa mensagem chegue a mais corações, que espalhe esse sentimento. Que nossa complexidade de sentimentos — que só pode ser vista de perto, senão somos não mais que pontos de luz — seja entendida.
E quando formos novas, nossa constelação brilhará mais do que nunca, e recorrentes, voltaremos ao nosso estado inicial: sentados na colina, contemplando o céu do interior.
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quimpedro · 1 year
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"Sinfonia"
Quando o sol se põe,
Luzes se apagam e a noite fica ébria,
Olho as estrelas no teto do quarto,
Vejo as constelações,
Toco-te em alma num dó,
Numa derme que insiste em ré,
Mãos percorrem corpos,
Numa sinfonia sugada de mi,
Lençóis revirados em arfos de fá,
Num sol que queima,
Sedentos de gemidos agudos,
Na noite fria,
Contorcionismos abstratos,
Num lá que é apenas um si,
Olhos cerrados num dó,
Cordas tocadas em salivas singelas,
Numa orquestra mordida de nua,
Almas coladas na sinfonia,
Mãos entrelaçadas,
Duas almas que dançam,
Tango sem fôlego,
Voltam a casa num teto estrelado,
Numa constelação agora una,
Suores...
Dermes arranhadas agora transformadas, como velas que se consomem,
Almas purificadas em uivos mudos de,
... Sinfonia.
Nuno Lança
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mariadorisarioribeiro · 7 months
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Sob o céu bordado de estrelas, meu coração tece um sentimento incontrolável, uma sinfonia de emoções que se desenha nos suspiros da noite. Não consigo evitar amar você, como se fosse uma predestinação esculpida nas constelações, um laço cósmico que une nossas almas. Em cada batida, em cada susurro do vento, descubro a irresistível beleza desse amor que transcende as fronteiras do tempo, uma poesia entrelaçada nos versos eternos do meu ser.
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tonyzcass-tt · 4 months
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Em sombras do passado, nosso amor despertou, Anos depois, memórias vivas ressurgiram, entrelaçadas. Um encontro adiado, como páginas de um livro, no coração, a chama antiga, por um dia que durou uma eternidade.
Emoções antigas ecoam, vibram no solo da nostalgia, coração acelerado, como dança de lembranças em melodia. Os lábios, silenciados, sentem a presença do passado, Pensamentos incessantes, como poesia que nunca foi declamada.
No céu noturno, nossos olhares refletem como estrelas, Lua testemunha silente, as constelações em sintonia, aquarelas. O toque breve, faísca que incendeia o horizonte, estrelas ansiosas, guardiãs de um destino que se apronte.
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ninguemmorredeamor · 6 months
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além do meu querer
Todas as noites, antes de dormir, eu peço pra que essa dor acabe. Como se fosse possível rancar isso do peito. Eu teria colocado aspas duplas no rancar, mas comprei um teclado novo. Essa minha eterna mania de colecionar coisas que não sei usar. Mas decidi entender como um recado de alguém. A gente não controla nem uma aspa fora do lugar. O que dirá a dor de quem termina. E de quem fica. Mas eu sigo pedindo pra que essa dor um dia cesse. Deixe de doer. De arranhar. Pause. Como se eu pudesse comandar galáxias, destinos, espaçonaves e algumas constelações. Por isso eu voltei a ter dezenove anos e sonhar com pedidos feitos a meia noite. E abri um tumblr. Pra declarar minha saudade. De quando éramos felizes. E evitar que você receba mensagens de meia em meia hora. Ou ouça meu soluçar feito bumbo tocando sozinho numa ladeira na quarta-feira de cinzas. Digito, digito, digito. Soluço, soluço, soluço. Pego um ar como se pudesse respirar por metade do mundo. Oxigeno o cérebo como aprendi na terapia infantil e expiro revendo fotos nossas. Sinto palpitações quando vejo tua bolinha numa moldura roxa dos stories. Vejo cinco pessoas parecidas com você sempre que saio. Ufa, ele não tem essa tatuagem. Ele não é calvo. Mas essa nuca eu reconheço há 100 metro de distância. Reconheci na fila da bebida. Na fatídica noite em que você estava acompanhado e de mãos entrelaçadas. Queria que um alçapão se abrisse e alguém me segurasse no colo correndo comigo e me enfiasse num táxi. Mesmo sem ar, apesar do verão. Foi um dos piores sábados do ano. Eu senti uma adrenalina e bebi todas garrafas de água que não bebi. Não queria sentir tanto. Mas vai além do meu querer.
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l-oveyou · 5 years
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Sentados lado a lado, pés descalços enterrados na areia, mãos entrelaçadas, minha cabeça repousando em seu ombro. Seus olhos focados no sol nascente e os meus focados em você. O tempo escorregando ao nosso redor. Sempre foi assim com você. Nada além de sorrisos. Encontro às 3 da manhã, você me esperando atrás dos arbustos no jardim na frente da janela dos meus pais. Corremos. Procurando por constelações, depois ficando até o céu estar dourado. Nós éramos errantes juntos.   Buscando encontrar significado para o mundo. Explorando um ao outro para encontrar um propósito. Havia algo especial entre nós. Nunca me senti assim antes. Nunca ri tanto assim. Nunca fui tão feliz com alguém. Não tive medo de te dizer o quanto meu coração é frágil, como eu fui tratada antes. Você sabia o que tenho de ruim e apreciava o que tenho de bom. Você olhou para mim com aqueles lindos olhos e disse que nunca me machucaria. Eu senti você. De verdade.  E então um dia eu nunca mais ouvi falar de você. Perdi o equilíbrio, a noção, onde errei? E as promessas? Não podia ser real. Desejei ter voltado mais tarde pra casa, na nossa última noite. Você arrancou meu coração, você desapareceu da minha vida. Não me deixou nada, além de confusão, mágoa e um buraco no peito que não para de perguntar sobre você; o que há de errado comigo?
 Sex Ops Love
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alway-secret · 5 years
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Andando com as mãos entrelaçadas
ela me dizia que gostaria de conquistar o mundo com o seu conhecimento
eu olhei para nossas mãos
e percebi
que já tinha conquistado
ele se encontrava na minha frente
e era tão lindo
com aqueles olhos transmitindo o poder das constelações
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inthosecloudswelive · 5 years
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Livro de páginas brancas
Naquela noite que ainda não aconteceu onde estavamos a ver os astros Levei comigo nada mais do que o meu cérebro, pele e toda a companhia Actividade de escudo natural à mente para os pensamentos sinistros Alí estavamos nós, a nossa alma radiação estrelar era o que ela colhia Memorizámos todas as ligações entre as constelações No fim poderiamos recitá-las de novo n'um livro de páginas brancas Com a parte de trás da retina fresca das visualizações Que processámos incompletamente para nao as perder, mais uma das nossas pancas
O frio levou-nos para dentro, a tenda nao era de inverno E o que deixamos de ver no céu substituiu-se com as nossas ancas Ali onde o tempo parou e entrou o desgoverno Entre mãos entrelaçadas e carícias francas Invariavelmente passou para actos que esquentavam o inferno Os lábios só desciam de cima para baixo na parte de trás do teu ser Pescoço, ombros, lombar e rabo, já não sabias o que fazer A loucura estava instalada, os rios nasciam do mar Era algo que realmente podia nunca mais acabar.
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brunocvitorino · 5 years
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todo lágrima
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História de uma história: o velho de oitenta e quatro anos contou tudo olhando para a janela, falando com o reflexo translúcido que dava para o mundo lá fora. As cuidadoras só o encontrariam quando fosse tarde demais, então escutou, sentada na cama, o que a voz doce do senhor emagreceu: as pálpebras pesadas Dela. As mãos entrelaçadas no colo. Memória irrecíproca de dizer que a conhecia de quatro ocasiões que Ela não sabia quais eram: Os Indicadores do Apocalipse.
Sozinho, onde a vida encontra a Morte, eu silencio o som da água corrente
Nunca houve a Epidemia da Crona, mas ele disse:
– A primeira [das quatro] iminência[s] do Apocalipse foram meus dezoito anos de idade: espalhou-se pelo Brasil uma doença contagiosa cujo vírus infectava somente rapazes: poupava as crianças e os homens; causava, no organismo, os efeitos atribuídos popularmente à Lepra: pedaços do corpo caíam e nós tínhamos que botá-los de volta no lugar, como se fossemos bonecos de massinha. Extremamente mortal: o coração desgrudava das veias e artérias. Fui contaminado no Carnaval e mandado para um dos centros de tratamento na semana seguinte: construções distantes da cidade cujas enfermeiras eram todas mulheres, mas não poderia ser pior: como não queriam que as garotas morressem (na possibilidade do vírus evoluir feminista), deixaram somente as feias conosco. Não importavam seus corações altruístas: na idade emocional em que eu e meus companheiros de doença estávamos, queríamos as mulheres mais bonitas.
– O lugar onde eu estava: Retiro Hospitalar 32. Ficava numa clareira a dois quilômetros de um riacho de onde coletávamos água; a setenta quilômetros de Belo Horizonte. Desinteressante: não tinham colinas para subir ou florestas para se perder. Só o céu que nos cercava e as nuvens que nos entretinham (imaginárias, porque não saíamos das camas). Ao invés de tentarmos fazer a nuvem inteira ser alguma coisa, nós procurávamos, nos diferentes tons de branco e cinza, uma pintura com alguma cena das nossas vidas: eu e meus vizinhos de leito: Guilherme e Felipe, que eram as únicas pessoas que escutavam minha voz: para evitar que as partes dos nossos corpos caíssem repetidamente, as enfermeiras nos transformavam em múmias enroladas em grossas camadas de esparadrapo. Era difícil falar e difícil ser entendido, mas nós acbamos dando um jeito de conviver na total ausência de diálogo compreensível. Gritávamos tudo: ouviámos nada E coincidíamos nossas imagens numa experiência universal: as nuvens nos remetiam aos mesmos acontecimentos: meus amigos partindo, meus pais envelhecendo, minha casa de infância, perto da grama que eu já vi muitas vezes, que eu vejo agora, que eu não vejo mais. 
– A última: uma menina linda, mais bonita que Você, que eu não conhecia ainda. Não conheço ninguém: os nomes “Guilherme” e “Felipe” eram invenções da minha falta do que pensar. Enfermeiras que abriam os curativos preventivos, juntavam as partes do meu corpo e iam embora. De noite, conseguia ouvir as consoantes das suas conversas, que não me levavam a lugar nenhum senão para sonhos intranquilos que eu reconfortava com estrelas (sem sair da cama): imaginava estrelas e constelações fantásticas onde viviam homens bons, guerreiros fantásticos. Índios. Sabe-se lá porque: índios. Habitantes cósmicos descansando no calor ameno de gigantescas bolas de fusão atômica. Na medida que meus olhos se acostumavam com o escuro, eu conseguia ver, nas imperfeições do teto, meu futuro: uma gigantesca linha curva que nem eram curvas, mas retas que não conseguiam serem retas por muito tempo: em breve, a cura de Crona apareceria e eu poderia correr atrás de mulheres bonitas. Como eu tinha dezoito anos de idade e poucos sonhos ambiciosos (fazer faculdade, encontrar emprego, casar, reproduzir, morrer), o otimismo surge na velocidade acelerada da correnteza do riacho, Mas eu continuava doente: o otismismo se dissipa em ventos fortes que seca a correnteza das minhas veias, que também soltavam.
– Ninguém nunca disse isso, mas Felipe dizia: “Imaginar quem eram as duas pessoas do meu lado virou a única coisa que me mantinha vivo, até o momento em que a incapacidade de decifrá-los definiu as expectativas da minha morte: gritar ao meu coração: ‘Pare de bater’, mas eles enfaixavam meu queixo para a mandíbula não abrir/descolar. Comida Porcaria que vinha em líquidos (anos e anos de esquecer o que exatamente era comida sólida e nunca mais reaprender): cuspes de morte por fome voluntária: imaginar suicídios da carne que eu não consigo controlar, porque ele está constantemente se soltando, virou a única coisa que me mantinha vivo, até o momento em que a incapacidade de realizá-los definiu as expectativas da minha sorte: gritar às pessoas do meu lado: ‘Durante os dias de nuvens que se passam, eu penso Quem vocês são?’, mas eles enfaixavam meu queixo para a mandíbula não abrir/descolar” E o silêncio:
(
Tudo dói. O velho e Ela doem,  um ao outro,  coisas que já doeram muito tempo atrás. Versões diferentes da mesma coisa,  porque todo mundo passa por isso:  responder interrogações inexistentes, passados e presentes gregos
).
– Nunca me ouviram. Nunca ouvi O que eles diriam? As formas do corpo: Felipe era alto e magro, Guilherme era só magro, mas era comum até os números da balança caírem junto dos braços, pernas, dedos e orelhas. Não colocavam o sobrepeso de volta. Tinham pessoas gordas no Retiro Hospitalar 32: morreram magras = morreram doentes.  A Crona afetava especialmente meu nariz, que tinha que ser colocado no lugar todos os dias, mas saía quando os preventivos, novamente, cobriam todo o meu rosto exceto pelos olhos, que eu só conseguia movimentar cento e poucos graus: quando tentava cento e oitenta, o travesseiro duro tapava minha visão. 
– E(, no começo!, e)u conseguia movimentar os braços e as pernas. Depois de seis meses, toda tentativa era um desgrude e a espera das enfermeiras para me consertarem. Feias, claro, mas se não fossem as enfermeiras… 
– Não lembro o nome de nenhuma delas, mas posso inventar o nome da que cuidou de mim: um monstro bichopaponesco de proporções inumanas, sorriso doce dos lábios de mel de Iracema era a enfermeira que cuidava de mim. Cuida até hoje: essas coisas se estendem numa vastidão cron(o/a)lógica, mas foram outras as doenças que desligaram os órgãos as colmeias de Iracema: alergia a picada de abelhas africanas, que estavam passando pelo seu próprio apocalipse: diferente do meu 1/4 de apocalipse pessoal.
O velho pede um tempo para descansar e os espectadores começam a discutir os significados ocultos das narrativas: como Ela está sozinha, ouve as conversas das pernas da cadeira do contador de histórias memórias.
Perna traseira esquerda diz: “O velho sofreu não de Crona, mas de Solidão. Intransmissível, porque senão ele não estaria realmente sozinho: os dias vão Passam numa velocidade uniforme e sem aspecto que desfragmenta as verdadeiras aparências da realidade. Os vizinhos de leito e as enfermeiras não lhe comunicam, não lhe tocam: não lhe curam. É assim que as coisas eram e a decodificação é, além de impossível, inexata: todas as tentativas de entender as pessoas são, na verdade, tentativas de entender a si mesmo.”
Perna dianteira direita diz: “O jovem beirava a Loucura: um precipício daqueles que a borda é um curto declive que dá para um paredão vertical até o fundo. Permanecer em pé nestes limites é escorregar lentamente, em pequenas inclinações, para a queda: as nuvens são o [único] resgate, veículos de fuga onde podemos jogar ganchos e nos salvarmos: o vento vai nos voar pelo precipício até o outro lado, Mas a Corda de Babel não tem extensão para fincar as nuvens. O movimento de lançá-las faria meu corpo escorregar pelo declive e cair. Na medida que caio, a corda cai também: é isso o que o velho pensa. O precipício é o que o velho cai.”
Perna traseira direita diz: “Adianta de qualquer banalidade estar solitário ou louco? O velho é qualquer definição filosófica pensada ou ainda não do Ser Em Si: contido no próprio corpo e na própria estática corporal: se fechasse os olhos e não os abrisse mais (voluntariamente, não por morte), seria uma consciência consequência flutuando na escuridão, mas lhe deixam os olhos abertos para manter qualquer fantasia de estar ainda no mundo, mas não está: sua cabeça e suas palavras, que agora são memórias, mas já foram presente, são tudo o que existe no mundo, com os personagens secundários servindo somente de in(ter)venção [para condizer com esta realidade falsa que a vista desvelada e a insistência de abrir os olhos exibe].”
Perna dianteira esquerda diz: “Prefiro acreditar que Felipe, Guilherme e Iracema (mesmo que este não seja seu verdadeiro nome) realmente existiram, que as únicas impossibilidades do processo de conhecê-los era a doença. Que o velho seria amigo deles se não fosse a Crona. Sem grandes análises: um pouco de esperança de saber[, mas fingir] que [não] estou errado.”
Deixa as interrupções morrerem no silêncio do quarto. Tudo é o silêncio do quarto: o espírito do velho move o pescoço e a encara: lágrimas nos olhos e canções de outros tempos nas paredes: flores de tempos mais antigos ainda (imemoriais) nos quadros que caíram no chão e ele não botou de volta ao lugar. Volta o pescoço para a posição original, alinhando espírito e carne, porque, na verdade, o velho nunca se moveu: fica olhando Sabe-se lá grama, sabe-se lá nuvem, sabe-se lá Si. Sua alma, que não vai existir por muito mais, olhando Ela.
– Pode parecer chato e repetitivo ficar chato e repetitivo, meio vegetal, em camas confortáveis, múmico, durante dias chatos e repetitivos, porque, cá entre nós, todos os dias são iguais senão pela mudança inversamente proporcional da duração da manhã e da noite, Mas! A insistência em acreditar que as coisas mudariam, o que parece fácil agora, mas era impossível antes, e a necessidade de fazer valer, coletivamente, um momento tão difícil… Incompleto porque eu não sabia como resolver aquilo, entender isso, falar isto: A Certeza Do Fim, no teto, definiu Seu rosto como uma pintura hiperrealista cuja aproximação eu esperava. A pintura de trincos do cimento se tornaria Sua face e eu teria certeza que tinha acabado. Mas Você nunca veio para mim porque estava muito ocupada com os outros.
Ela não entende: “Eu estou sempre ocupada com todo mundo.”
– Mas, nesse dia… Mas, nessa noite, ocupada demais. Não sei se lembra, mas eu lembro bem: abro os olhos e movo a cabeça, as sombras costumeiras de Felipe e Guilherme desapareceram. Morreram, eu penso, mas as enfermeiras [competentes] não deixariam as camas bagunçadas. Eles fugiram, mas onde estão as partes dos seus corpos, que deveriam ter caído?
“Eu não sei.”, Ela sorri. “Como poderia saber?”
– Nem eu, como eu poderia saber? Então pensei (porque pensar era tudo o que se podia fazer): a doença tinha um prazo de validade até o organismo aprender a vencê-lo e tinha acontecido com Felipe e Guilherme. Estavam lá fazia menos tempo que eu, Então tentei me erguer e consegui, mas a um custo: senti minha coluna e meus órgãos se soltando, caindo dentro de mim mesmo, nos meus pés, que continuaram grudados (graças ao esparadrapo). Movi-me como Múmia Invertebrada. Busquei Guilherme e Felipe, que só tinham um lugar para ir: o riacho. E, assim como Felipe e Guilherme me fizeram acordar, eu fiz acordar Os outros começaram a me seguir, doloridos, enquanto éramos perseguidos por ágeis enfermeiras dorminhocas: caçavam-nos em sonhos de serem mais bonitas. Ao invés de correrem atrás de homens, eram caçadas por eles. Me seguiam, sem pressa, porque só tínhamos um lugar para onde ir.
– Ao riacho! E encontramos Fugitivo 1 usando a perna de muleta, Dois arrastando um braço com a mão direita: na mão do braço esquerdo: as duas orelhas. Em fluxo constante, a água do riacho seguia para baixo pela leve inclinação da planície até desaguar num rio que desaguava no mar. Eu não conheço todas as pessoas no mundo, nem os riachos, nem Felipe ou Guilherme: as projeções que eu inventei se confundiam nas suas posturas (porque estava escuro demais para elas se confundirem nos seus olhos: caíram, mas eles botam de volta no lugar). Vejo, atrás de mim, todas as possibilidades de pessoas que deixaram braços e pernas caírem. 
– Olhei para frente: na margem distante, Você, Na margem próxima, os líderes voluntários que sabiam o que estava acontecendo, porque nós: não. Disseram: “Esta é a revelação: o riacho é o Fluxo, abundante em vida, movimento constante que não para nunca. O caminho para a imortalidade e a vitória da destruição. A fonte está a apenas algumas centenas de metros daqui: o começo das coisas. Nós também estamos somente no começo: aqueles que mergulharem nestas águas frias terão suas doenças curadas, prontos para dar continuidade à vida que esta praga interrompeu. Serei o primeiro, e vocês serão os próximos.” Ele foi (Guilherme ou Felipe, não conhecia nenhum dos dois para dizer quem era) e pôs o pé no curso d’água. Aproximamo-nos todos para ver o que aconteceria: Guilherme ou Felipe andou até uma grande pedra no meio do riacho e sentou-se lá: ergueu seu pé para nós e o pé não existia mais, como se tivesse sido apagado com borracha ou removedor de tinta. Submergiu as mãos, depois ergueu-as para nós, e também tinham se apagado. “Venerem.”:
– Mergulhou por completo, desaparecendo na água como dissolução. Os outros seguiram seu caminho: Guilherme Restante ou Felipe Restante, depois um milhar de fulanos que eu não reconhecia porque eu nunca os tinha visto antes: fascinação suficiente para me fazer pensar mais na realidade do número de contaminados por Crona do que no milagre do desvanecimento que eu presenciava: Milagre Comunal: arrancavam os preventivos e pulavam, divertidos, no riacho: desapareciam para não serem vistos nunca mais. Fui contando de um até mil e onze, Eu 1012. Olhei para trás: ao longe, conseguia ouvir que as enfermeiras, acordadas, gritavam. Quem me caçava eram os sentinelas do complexo: homens feios. Acenei e mergulhei os pés. Tirei-os da água e lá eles estavam. Desesperei: mergulhei as mãos: nada, joguei água na minha cabeça: nada. Fiquei pulando como uma criança que não conseguia se divertir nem desaparecer. Tive que aceitar os fatos: a água mística não queria me levar embora, então eu parei de insistir As Vontades Irrecíprocas do Riacho. Na margem distante: Você não estava mais lá.
Pausa: o velho respira bem fundo, expira durante sessenta e seis anos de silêncio.
– Os seguranças chegaram, me viram desdesesperado e me prenderam. Começaram a buscar os outros até notarem que não tinha meio físico no Universo para terem simplesmente desaparecido, então acreditaram na minha história. Rodaram alguns exames médicos de sangue e falar Aaaah, tossir quando colocassem o estetoscópio no meu peito. Sorriram sem felicidade, disseram que eu estava curado, que todos os infectados tinham desaparecido: 
“Não existe mais Crona no mundo” Ela diz. “E o vírus desapareceu do seu organismo. Você pode voltar a viver a vida que já esqueceu qual é: estudante saindo do Ensino Médio.”
– Sobraram os homens, as mulheres, as garotas e as crianças pós-Crona: eu era O Último Rapaz do Mundo, mas soava tão mal que ninguém em Hollywood quis fazer um filme com isso. Fui para a faculdade fazer História.
Pássaro que transforma suspiro em tornado: eu esmigalho os pilares do Tempo
Nunca houve Guerra Civil Brasileira, mas ele disse:
– Prática demais, como todas as guerras devem ser. Em vez de complicados motivos políticos amontoados até gotas d’água explodirem os estopins dinamitantes, tínhamos nossa própria Helena de Troia Anticomplexidade: brigamos pelo significado das cores da bandeira nacional. Diferenciações desnecessárias: se você entrava para o lado amarelo, a sensação de união bastava para fazer detestar todos os malditos verdes: o lado pelo qual optei lutar. Ocupado demais matando todo mundo (exceto quem não se devia matar: os camaradas verdes e a geração pós-Crona, proibida de participar da brincadeira), eu aproveitei cinco dos meus vinte e nove a trinta e três anos de idade ajudando bombardeiros a explodirem quatro cidades mineiras: Caxambu, São Lourenço, Poços de Caldas e Uberlândia. Protetores escassos, porque os aviões eram poucos, todas as minhas missões aconteceram acompanhadas de um casal: Júlio e Mônica, sexagenários amigáveis com seus belos aviões: a Roca, de largas asas prateadas; e o Munina, preto para se camuflar na noite, mas só operamos de manhã, Como sempre, apareciam forças oponentes: dezenas de sentinelas que nós acabamos matando porque eles eram amarelos. Contra uniformidade, meu avião era vermelho e preto: daí o apelido de FLAMENGO. Meu avião era o Faisão Flamengo e...
(Ela ri. Rola na cama, acalma-se, ajeita-se e se senta com um sorriso no rosto. O velho está sorrindo também, mas só do lado de dentro.)
… Estas foram suas cinco batalhas:
Jornada em silêncio porque todo mundo já falou demais
História de uma história de uma história: o velho soa como eu: 
Houve certa vez que Júlio entrou dentro de uma nuvem e desapareceu, mas acabou voltando para narrar história de uma história de uma história: em meio aos vapores nébulos, o Paraíso.
– Pousei num lago sem pressa e fui esticar as pernas: caminhei por pedras concretas quadradas que me levaram a templos místicos de deuses cujos compostos divinos eram fontes de água gasosa. Para me comunicar com eles, tive que bebê-las, mas em vez de me darem o conhecimento por completo, disseram tudo numa Profecia Picotada que colhi uma por uma, e que não revelo agora porque contá-las em migalhas os obrigaria a coletarem todas e revelá-las para eu mesmo juntá-las seria repetição. Suspendam:
– As fontes eram várias e em cada uma vivia um deus diferente de alguma coisa que já perdeu o significado desde que a guerra começou: deus do amor, deus da força, deus da inteligência e deus da amizade. Todos me criticaram: antes das mensagens, disseram que eu era muito burro, muito bruto, muito chato. Que eu deveria me esforçar mais para conseguir as coisas que queria, senão morreria como Homem, e não como Guerreiro.
– Palavra por palavra, eles disseram: “Esta é a revelação: brota uma flor no teto que faz as pessoas caírem no chão. A flor é o FIM e você deve segui-lo para descobrir a Verdade, que lhe será revelada enquanto flutua como balão de Deus Solar: nem antes e nem depois, porque o depois não existe. Não haverá mais guerra e não haverá mais cansaço: toda a energia do cosmos será preservada e o Universo estará salvo de ti.” Então a água apodreceu no meu organismo e eu vomitei sangue, que transformou-se em luz ofuscante. Eu fechei os olhos. Abri os olhos: Estava voando em direção ao Sol a seguras alturas aeronáuticas.
– Lembro do mapa paradisíaco e as formas das construções: estilo eclético em vias mais próximas da mata úmida, mais próximas da mata seca, depois uma longa volta ateia (em torno do lago), um labirinto sem solução, o teleférico ao Olimpo Inacessível e um pontão.
Perdeu a graça: o velho e a esposa foram dormir: era uma descrição do Parque das Águas de Caxambu, a primeira coisa que as bombas destruíram. Mônica dominou a cama de casal e Júlio ficou com o sofá inexplicado. 
– O que eu disse de errado? – Mas ninguém o respondeu.
É por causa de Júlio que eu conto histórias.
Escorregadores para mundos tristes mais felizes do que
As coisas trágicas da vida são mandarem, Mandaram Mônica lançar folhetos terroristas pelos ares da cidade: Olha o passarinho e imagens passadas da destruição iminente das cidades opositoras, Mas não tinha graça: enquanto velho e Júlio estavam tensos pela aproximação das defesas da cidade (que nunca apareceram), Mônica chorava lágrimas mais devastadoras que toda aquela dinamite na barriga do B-52, mas não poderia ser de verdade: se no máximo as lágrimas da sexagenária serviram para devastar a sujeira da parte interna do vidro da cabine, as dezenas de bombas arrasaram toda a tridimensionalidade do lugar, preservando somente as fronteiras estranhas das paredes, dos muros e das ruas de asfalto.
– Querida, tudo bem? – perguntou mesmo sabendo que não estava. Mônica pegou quarenta folhas de papel em branco, canetas pretas e lápis: foi para dentro do seu quarto e se trancou.
Os outros ficaram sentados numa mesa, calados, jogando conversas no lixo como bolas de papel amassado, porque não tinham muita coisa a se dizer. Ela, fora de molduras narrativas, sorri.
– Da próxima vez que a gente fizer uma coisa dessas a gente não leva ela.
– Ou a gente simplesmente não faz mais isso. – O que Mônica fez: sua própria Guernica São-Lourenciana: o desenho se perdeu e a memória do velho descreve assim:
Huesca (17 de setembro de 1963), por Mônica Valéria da Costa
– Depois todos aqueles animais felizes viravam os animais bizonhos de Picasso e a lâmpada do Sol desligava, as coisas adquiriam um aspecto penumbrio: eu pintei o mundo de cinza e depois eu apaguei o cinza até só sobrarem os tons de preto e de branco que são as palavras no papel…  Você está copiando isso ou deixando as palavras se escreverem sozinhas?
“Verba volant,,,”
– … Por isso eu atirei flechas nas palavras e elas caíram do céu nas minhas mãos, mas eu não sabia mais o que fazer com elas, então recuperei as flechas e deixei o tempo engolir as vítimas: uma frase. Você sabe qual era a frase?
“Não, como eu poderia saber?”
– Essa mesma. – Ela sorri. – Mônica foi quem me listou e ensinou os sentimentos. É por sua causa que eu choro.
Esforço cansado de nunca parar de doer
Os órfãos não aproveitaram os dramas bélicos: Mônica teve que matar a própria mãe: mulher habilidosa no manche, de sorriso calmo, que conversava, pelo rádio, coisas positivas. Atirava no velho e em Júlio, mas ainda assim conseguia fugir das rajadas da filha caçadora com potenciais assasinos: as primeiras linhas de Anna Karenina.
De literatura russa para filmes de ação: a mãe vai para trás da filha e uma raja de tiros destrói a asa esquerda do Munina. Mônica sobe, gira o avião noventa graus no própio eixo e ejeta. As asas do avião aceleradíssimo não aguentaram a resistência do ar e se soltaram do tronco, indo em direções imprevisíveis e acertando o inimigo: a hélice direita destruída. Caindo de paraquedas, Mônica, com sua pistola, atira dez vezes contra O avião decadente, num ato heroico, choca-se com as bombas bombardeadas, que explodiram numa coluna de fogo e pouparam a cidade-alvo.
Quando alcançaram Mônica, ela estava na estrada de acesso a Poços de Caldas, coberta pelo paraquedas, sentada. Como estava muito cansada, deitou-se.
Barro moldado e amassado pela saliva das bocas cansadas
Os três aviões invasores, X aviões defensores. Tiros de É melhor ir embora senão vamos matar vocês de Podem tentar, mas essa cidade vai ser destruída, de tentar matar uns aos outros. Depois as mesmas repetições de filmes de Primeira[, Porco Rosso] e Segunda Guerra Mundial, mas é mais divertido do que os helicópteros vietnamitas ou aquelas guerras de mais forte contra mais fraco que todo mundo torcia pro Coiote. Na guerra civil brasileira: todo mundo era ruim.
Resolução rápida: o trio vence.
Sinal positivo: a barriga abre, as bombas caem. Têm uma aparência destrutiva que não tinham dentro do B-52. Uberlândia ia virar pó:
Onomatopeia Nº1: Fffffffffffffffffffffffiiiiiiiiiiiiiiuuuuuuu
e
Onomatopeia Nº2: BoOoOoOoOoOoOoMmMmMm
Não aconteceu: as bombas acertaram o solo, mas a cidade continuou intacta.
– Faisão, desce comigo.
Alcançaram a região do impacto. Era um pedaço de quarteirão: dava para ver restos de telhas e vidro, equipamentos eletrônicos em pedacinhos de placas mães. O resto de uma enorme árvore. Mas como quer que fosse a construção não tinha sobrado nada. Senão os indícios de Humano e de terra, o velho não conseguiu decifrar muito mais do que Isso era uma casa com um jardim.
– É. – disse Júlio. – A árvore era uma mangueira.
Intervalo
– Como seria seu avião?
“Monomotor clássico. Amarelo. Com flores desenhadas na asa superior e vasos no espaço entre as asas: regaria elas com a água que está nas nuvens, se é que isso funcione, e talvez não funcione, mas é o que Eu faria se o mundo fosse, mesmo que não seja, Fantasia.”
– E qual seria o nome?
“Girassol, mas teriam todos os tipos de flores nos vasos. E não teria metralhadoras, Eu derrubaria todos por confusão: movimentos tão rápidos que eles perderiam os controles dos aviões, caindo no chão ou na água salgada: funerais da grama que cresce e das ondas do mar.”
Fim de tudo que se Era para Ecos de tudo que se há de Ser: Destruição número 9.101.112
A essa altura, dos soldados só restavam seis pessoas: três inimigos amarelos e dois aliados verdes. Todas as bombas tinham sido lançadas e todos os bombardeiros tinham sido derrubados: “Vamos nos encontrar para resolver tudo de uma vez”: A cidade de Itabirito porque… 
… Tudo que é ruim acaba alguma hora, embora essas coisas ruins tendam a se prolongar: o que aconteceu naquele dia dura até hoje, Acaba hoje, senão Você não estaria aqui: era um dia azul da cor do céu e sem nuvens para onde fugir, porque as nuvens eram do tipo das que não dá para se esconder: as hélices espantam o vapor e você deixa de ser Faisão Flamengo e vira um Revelador de Sol mais do que um Pássaro Furtivo, mas tanto o Revelador de Sol quanto o Pássaro Furtivo já tinham sido abatidos dos céus de batalha: sobraram, além dos três conhecidos, o Comodoro Estrela, o Gavião Maltês e a Lira.
Os dois trios tinham, na sua composição, dois homens e uma mulher que pilotava melhor que esses dois homens: Mônica começou disparos e fugiu de rajadas de maneira tão ábil que os oponentes masculinos ficaram boquiabertos, mas a feminina se pôs a enfrentá-la. Par contra par: o velho foi contra o Verde Jovem, de cinquenta e um anos; e Júlio foi contra o Verde Idoso, de oitenta e dois. As mesmas imagens cinematográficas típicas de filmes de Primeira[, Porco Rosso] e Segunda Guerra Mundial, mas mais divertido: os aviões entraram numa roda de dar tiros que não atiravam ninguém com verde atirando em amarelo que atirava em verde que atirava em amarelo: um circuito fechado que duraria até as balas acabarem…
Mas não acabaram ainda não porque eu tenho que definir exatamente como eram os aviões oponentes: o Comodoro Estrela era um avião cruzeirense de piloto flamenguista: o justo inverso do velho: as asas eram azuis e o corpo era branco, com o Cruzeiro do Sul pintado na asa esquerda.
O Gavião Maltês era uma cópia descarada do falcão. E nem vascaíno era: copiado de filmes noir num preto-branco-cinza sem graça e, desenhado no corpo, o rosto de um monte de atores e atrizes: Humphrey Bogart. Toda vez que eu via o avião, o velho lembrava do pianista Sam tocando As times goes by para Ilsa.
“Play it, Sam.” Ela pedia. E o velho dizia que Não para, depois, murmurar uma canção que viram notas de piano que contagiam Ela, os pés da cadeira, o quarto, os corredores, as cuidadoras, a grama lá fora e as nuvens. Só não contagiam a janela e o reflexo da janela, que também não contagiavam o velho: morreria de imunidades às infecções da vida. 
O Lira era o avião mais bonito do mundo, foi feito por uma daquelas deusas da Guerra de Troia. Voava como se fosse o pássaro mais surreal do mundo: um que tocasse harpa enquanto escorrega em qualquer partícula suspensa no ar celeste.
“As balas acabaram?”
– Não: Você apareceu antes num pequeno avião cheio de flores chamado Girassol. Os amarelos celebraram a vitória, mas perceberam que sua cor era mais vibrante ao tom pálido das bandeiras, então era mais provável que Você fosse pirata: guerreira nula independente sem nação. Eles Te odiavam. E se lançaram como kamikazes em Você Despatriada. Começou, então, a se desviar dos aviões que apareciam, como a jogadora de futebol superprofissional: um feitiço bem simples de inverter a gravidade e fazer o céu virar chão e o chão virar céu.
Os seis aviões começaram a cair para cima e Ela, que nunca encostou num manche de avião na vida, pergunta “O que aconteceu?”
Do mesmo jeito que um avião não consegue alcançar o espaço, os aviões agora não conseguiam encostar no chão. Pela fraqueza dos motores, começaram a amaldiçoar o Girassol, tentando tacar-lhe coisas, embora essas coisas acabassem caindo também para cima. Você Desgraçada seria a irresolução do conflito: todos perderem significava ninguém ganhar.
Num ato desesperado, o piloto do Gavião Maltês ejetou somente para subir junto com seu avião cheio de atores e atrizes de filmes noir. “Eu puxei o rádio e chamei meus aliados.”
– Roca e Munina, respondam.
Não responderam.
– Roca e Munina, respondam.
Não responderam. Procurou os dois no céu e não conseguia ver nada dentro das cabines. Estava sozinho e teria que pensar em soluções sozinho. O avião caía muito rápido e logo ele estaria longe demais do planeta para ter qualquer salvação.
Verificou se estava de paraquedas e percebeu que estava fazendo uma força muito grande para simplesmente botar a mão nas costas. Olhou mais de perto: era como se seu uniforme, e não ele, estivessem sendo puxados por essa gravidade invertida.
– Roca e Munina, respondam.
Puxou o canivete e começou a rasgar seu uniforme: braços, pernas, tronco e costas.
– Roca e Munina, respondam.
Tiras de uniforme: começou a puxá-las para ficar de cueca, regata branca, dog tags e o paraquedas, mais o capacete de piloto, que ele soltou para vê-lo cair no teto.
– Roca e Munina, respondam.
Não responderam. Esperou mais um pouco. Deu dois tapinhas de despedida no painel delirante do Faisão Flamengo.
Apertou o botão de ejetar e deixou-se cair livremente por alguns segundos, em direção ao solo, para olhar para o avião de largas asas prateadas e para o avião preto que caíam rumo ao céu. Puxou a trava do paraquedas. A velocidade da queda reduziu: sua visão de gravidade invertida foi bloqueada pela enorme forma laranja que lhe descia carinhosamente pelos ares. O vento fresco no seu rosto porque a noite se aproximava trazendo o frio: tons celestes crepusculares que há alguns segundos atrás eram de plena manhã. O encontro do céu com a terra era de um tom rosa e o azul restante era pálido, sem tons vibrantes. Da mesma forma, entre a resplandecência das cores e a escuridão da noite, o mundo tinha um aspecto acinzentado que puxava o velho para si.
Ao longe, o Girassol ia embora, tranquilo. “Eu apontei meu dedo como se fosse uma arma e disparei, mas não aconteceu nada.”
Pousou no cume de um morro, o paraquedas caiu por cima dele: em vez de escurecer as coisas, como faria a tampa de um caixão, o mundo ficou laranja.
Tirou a venda e viu aqueles pontinhos coloridos desaparecendo, indo para sabe-se lá onde, porque Infinito parecia uma resposta vaga demais.
Olhou a grama espetada (anormal) do morro. Puxou um tanto e o segurou bem forte, até sentir as próprias unhas cortando a pele da palma. Respirou fundo. Abriu a mão.
Esse tanto esverdeado subiu, vagarosamente, em direção ao céu.
Filho da Terra Seca, senhor dos desertos, eu vago por impérios de ampulhetas
A Amazônia [Desmatada] ainda existe, mas o velho disse:
– Causa e efeito, finalmente, porque até então tudo parecia desconexão de juventude para adultidade: tacamos tantas bombas uns nas cabeças dos outros e erramos tanto as cabeças dos outros que, na maioria das vezes, só acertamos o chão: Roma salgou Cartago, mas conosco foi como se Cartago tivesse salgado a si mesma: era tão difícil de plantar comida que deixamos de reorganizar o governo vencedor da guerra civil para procurarmos as refeições do futuro, que eram as migalhas do passado. Enquanto alguns tentavam encontrar soluções para o solo sem vida, eu caminhava entre os lugares não bombardeados em busca de alimento: depois de todos os sertões brasileiros, sobrava somente a Floresta Amazônica, poupada do conflito porque os índios que viviam lá odiavam a gente por tudo que fizemos com eles. Achei estranho que, depois de uma semana caminhando pelo Império do Mato-Virgem, eu não encontrei um Suya sequer para me afugentar de volta aos restos de cidade Belo Horizonte, onde eu vivia: os Suya são os descendentes da tribo perdida de Macunaíma, por Mário de Andrade.
– Lá, também não encontrei comida para comer: animal ou vegetal. Vegetal tinha, claro, mas casca e folha de árvores não são alimentos.
Tantas casas e Folhas infinitas de árvores que ninguém conseguiria contar. Variavam de tamanho e de forma, de tipos biológicos que eu não sei descrever porque nunca aprendi porque passava muito tempo dormindo na escola, sonhando com florestas tropicais.
– Não tinham frutas nem animas para comer frutas nem animais para comer os animais que comem frutas. E assim por diante: em esperança cega, continuamos andando até o coração selvagem por sete dias até perceber que tanto os centros quanto as periferias estavam privados de alimento humano. As barrigas vazias roncavam tão alto que eu conseguia ouvi-las enquanto pisava nas saúvas imaginárias: minhas esperanças gastronômicas foram reduzidas aos insetos perversos mordedores de oito dedões do pé.
– Oito porque You’ll never walk alone, mesmo que eu venha andando sozinho pelos últimos dezoito anos: éramos um esquadrão de quatro homens: eu (49 anos de idade, marcas de velhice e os pés cansados, pensamentos traumatizados), adulto, rapaz e criança, mais adjetivos que iam te impedir de imaginá-los do seu jeito. Só digo isso: eram pessoas desabituadas à Desgraça, cujos corpos não sabem lidar com a fome: minha história começa com os três desistindo de continuarem andando pela floresta da geladeira e das dispensas vazias, como se o mundo fosse um supermercado esgotado, porque era mais ou menos isso que ele era naquela época: seus nomes eram, respectivamente, Bernardo, Ricardo e Ubaldo. Lembro o homem caindo no chão e escondendo suas lágrimas; do rapaz e menino inocentes dizendo que é melhor morrer do que viver morrendo. Geração sábia. Sabiá.
Diz ao pássaro imaginário que pousa na janela, depois se torna real: o peito branco, a barriga laranja, a cabeça e as costas marrons. O bico pontudo.
– Ouça, intrometido, porque parece meio óbvio dizer que eles morreriam agora, porque em todos os outros episódios as pessoas descritas morreram: Felipe e Guilherme de milagre, Iracema de alergia; Júlio e Mônica de arrebatamento. Bernardo, Ricardo e Ubiraldo morreram também, de fome, ou pelo menos eu acho que foi fome. Me explico, explico-me: encostaram-se nos troncos das árvores altas e sentaram-se no chão macio da Amazônia. Fecharam os olhos com sorrisos nos rostos dizendo que este seria The Big Sleep, de Raymond Chandler, mas sem o hardboiled: fechariam os olhos, sonhariam sem medo e morreriam, mas eu me recusei: a deixar isso acontecer.
“Algumas coisas são inevitáveis.” Ela repete.
– Mas nunca inevitáveis o suficiente: se eu corresse mais rápido ou tivesse recusado a missão de levá-los até a mata. Todos os “Se”s possíveis que eu posso inventar, mas não inventei. Conjugações verbais me condenam aos fardos piores: enquanto eles dormiam, eu tentava acordá-los encontrando comida, mas não: Encontrei um vasto labirinto de árvores construído pelos Dédalos Naturais e a sensação de ser perseguido pela Culpa Minotáurica: Bernardo tinha trinta anos de idade e um filho, Ricardo tinha vinte anos de idade e um futuro, Ubaldo tinha dez anos de idade e um sonho impossível de ser piloto de avião.
Entre as mágoas de saber que pai, potencial e sonho alado morreram; e as idades arredondadas de dez, vinte e trinta, Ela fica num misto poético de Comédia e Tragédia imprevisto nos manuais poéticos fictícios e reais de Aristóteles, teórico literário.
– Apoiados naqueles troncos, suas testas me exibiam, como bolas de cristal (ou pura telepatia) as imagens do bebê [desnutrido] de cinco meses de Bernardo, das estátuas erguidas em honra do legado humanista de Ricardo e do longo voo decadente dos aviões de papel de Ubaldo. Que criança faminta sonha com aviões de papel? O sonho de Ubaldo era das maiores belezas: os mesmos modelos aeroplanadores feitos com cem folhas de papel A4 que ele comprou na papelaria com o dinheiro que a mãe lhe deu para comprar pão. Subia uma longa colina, botava as folhas no chão e fazia um avião por folha, a mesma moda de Buldogue Flecha. Lançava-o reto e ele ia descendo a colina para pousar fora dela, numa lata de lixo para papel reciclável da rua. Sem pressa, em vez de lançá-lo e começar o outro, garantia que seu arremesso perfeito terminava no alvo escolhido, observando a descida com calma e cuidado. Quando errava, descia a colina toda, jogava a folha no lixo e subia tudo para continuar suas montagens. Como era sonho, não errava.
O sabiá vai embora para sonhos de garotos vivo, em vez de sonhos de garotos mortos. Eu arranco as folhas deste memorial e faço, com elas, aviões impressos e imperfeitos que voam alguns metros e deslizam pousos forçados no chão.
– Então eu corri pela mata para salvar a criança da morte e do trauma de ver outros dois dos seus companheiros de expedição morrerem. Qualquer coisa bastava, mas eu não encontrava nem mesmo os vermes asquerosos que ficavam em cascas de árvores ou dentro da terra. Subi sequoias, que nem amazônicas eram, e lá em cima não encontrei nada. Pulei dos topos e, toda vez, deixei-me cair para inventar desculpas que a queda me impossibilitou de salvá-los, mas em meia queda eu percebia covardia e fazia piruetas acrobáticas (que eu nem consigo descrever) para cair seguro em cima de uma da flora rasteira.
– Balanços, gangorras ou apenas Gramados de Formigueiros Vazios. Eu conhecia aquela floresta com a palma da minha mão porque fui eu quem estabeleceu os contornos dos castelos que eu atacava e defendia nas brincadeiras mais infantis possíveis. Como criança de imaginação fértil, eu corria atrás de coisas que não existiam: máquinas do tempo, porque uma hora ou outra, acabaria chegando em algum lugar.
O velho silencia-se botando encostando o indicador ereto na boca, olhando para o reflexo da janela. Ajeita sua postura e bota as mãos nas coxas. Depois mais nada.
“O que foi?”
– Preciso esperar a noite para te contar o resto.
“Desculpa, mas não temos tanto tempo. Se for uma necessidade, você não vai poder terminar de contar uma história. Não quero contrariá-lo, mas eu gostaria muito de ouvir o resto.”
– Bem, então imagine a noite. Primeiro a noite dentro da floresta, que era pura escuridão, mas na medida que eu ia caminhando, as coisas pareciam esclarecer, afrente, na forma de uma clareira. Alcancei-a e, pela primeira vez em horas, não tive que me preocupar com aquele labirinto de pilastras confusas. Agora.
– Imagine a noite aberta: o horizonte é uma espessa camada escura de árvores e eu vejo o céu como se fosse teto: estrelas enormes de Van Gogh que pareciam Sóis Próximos em vez de Sóis Distantes: além de espetáculo celeste noturno, um terrestre: o chão se agita como num pequeno terremoto e uma manada de monstros folclóricos, liderados por um velocista com cabelos de fogo e os pés virados para trás: Kurupira corre para fora da floresta. A uma centena de passos de mim, criam uma roda gigantesca e correm em círculos que vai se transformando numa acensão espiral até os céus: Boitatá, Mula sem cabeça, Charia e Cuca, [qualquer outro não-listado], sobem, velozes, em direção à Lua: povoam a mancha do dragão de São Jorge e a colorem de tons verdes escamosos e olhos vermelhos. Se fosse noite, conseguiria ver essa ilustração magnífica, mas tem pressa: o céu azul com nuvens e uma estrela só: as estrelas, tenho que falar das estrelas: essa é a história de como as estrelas desapareceram do céu e não voltaram nunca mais: eu...
– …Vi os índios Suya arremessando cipós nas estrelas e os escalando: caindo dentro dos astros como se eles fossem buracos. Ocuparam todas, com exceção da Beta Centauro, onde vive Ci, Mãe do Mato; e as estrelas da Ursa Maior, onde descansa, cheio de preguiça, Macunaíma Espaçoso. Antes dos “Tem mais não”, muita coisa: crianças, mulheres, homens e idosos foram da Terra para o céu da noite em movimentos cautelosos, mas precisos, de ginastas profissionais. Tomaram novas casas: as estrelas que Felipe e Guilherme se tornaram, quando morreram, foram ocupadas por dois meninos brincalhões que riram, em metros verticais, mais do que eu já ri em toda minha vida. As estrelas que Júlio e Mônica se tornaram, quando morreram, foram ocupadas por um índio sábio de longos cabelos negros e uma índia lindíssima de cabelos curtos. A estrela que seria minha, a Beta Câncer, foi ocupada por uma menina de bochechas magras e grandes olhos castanhos. Enquanto todos tomavam seus regadores, ela acenou para mim em despedida. Disse coisas que as distâncias de dezenas de Anos-luz não me permitiu entender.
– Regadores Retomados: como se fossem jardineiros do céu, cada índio tinha um na mão. Eram prateados e, refletindo a luz da Lua, pareciam irmãos das estrelas, mas não eram: tinham água dentro, em vez de hidrogênio e hélio. Inclinados, derramaram uma chuva sem nuvens (gelada) que me fez sentir frio, depois medo, depois nada. Insensível, minhas lágrimas, que não seriam mais usadas, escorreram dos meus olhos e caíram no barro, mas tudo era barro: A água dos regadores tinha propriedades místicas que decompuseram as árvores em lama. Muita lama: lama que me envolveu e me arrastou por quilômetros até eu não saber mais onde estava: e foi aos poucos solidificando assim que os regadores se esvaziaram. Os índios fecharam as escotilhas cósmicas como Você fecharia a porta da sua casa: a luz que vinha lá de fora (ou lá de dentro) apagou-se, e o céu ficou mais escuro, porque agora a única fonte de luz era a Lua Solitária. Foi graças a Você que pude ver isso tudo.
“Graças a mim?”
– Correto: estava com a cara enfiada nessa extensão de barro, perdendo as esperanças e morrendo asfixiado, quando Você apareceu e virou meu corpo de lado. Deu dois tapas no meu rosto e, quando abri os olhos, suspirou decepcionada. Caminhando pela lama concreta, em vez de movediça, disse “Adeus” pela terceira vez e desapareceu do meu campo de visão. Gritei por ajuda, mas Você parecia saber os resultados eminentes dos acontecimentos: em vez de, finalmente, ter a chance de morrer, eu fechei meus olhos e me preparei para meu último sono, pedindo sonhos utópicos que terminariam de repente com minhas funções vitais desistindo: interpretei que Voltaria mais tarde. Não aconteceu: quando fechei os olhos e pedi desculpas para Bernardo, Ricardo, Ubaldo (e desculpei a mim mesmo porque não tinha como eu achar comida e levá-la até eles). So it goes, mesmo que nem eu nem Nada estivéssemos indo para lugar nenhum. Dormi. 
– Sonhei.
– Estava numa oca indígena. Não sei se os Suya viviam em ocas, mas eu não sei muita coisa sobre os índios. Depois que eles foram embora, não via mais motivo em pesquisar onde eu estava: uma construção cônica sem móveis ou clichês de fogueira e rede. Tinham várias caixas de papelão lacradas com durex e identificações em azul: pratos, livros, filmes, coleção de Hot Wheels. Não era exatamente isso com o que eu queria sonhar, então tentei sair da oca, mas do lado de fora era tudo escuridão. Entrei de novo e, ao contrário da solidão de antes, agora tinha, sentado numa das caixas, um índio de cabelos flamejantes e pés virados para trás: Kurupira.
– Pensei que tinha subido aos céus.
– Subi, mas depois voltei. Não podia deixar minhas coisas para trás, elas tem um valor sentimental muito grande pra mim. Eu cresci aqui, nessa oca, antes de virar o que eu sou. Meus poderes são daqueles tipos dados para super heróis. Eu fiz uma coisa boa e ganhei uma recompensa por isso: a capacidade de mudar de forma e de enganar as pessoas. Força e velocidade descomunal para proteger a Amazônia dos caçadores e madeireiros.
– É uma sucessão recíproca de fracassos. Kurupira passou a mão pelos cabelos flamejantes e eles apagaram para ficarem ruivos, alaranjados. Escarrou nas mãos e as esfregou, pelo corpo, o catarro que empalideceu sua pele parda em tons caucasianos. Piscou e seus olhos ficaram azuis, depois tapou o nariz e fez força: como naqueles bonecos de massinha Play Doh, começou a crescer uma fina barba alaranjada nas bochecas e no queixo. A única coisa que preservou do rosto e da cabeça foram os dentes brancos. A lança desenrolou-se num tecido: uma cortina que ele ergueu entre eu e ele, deixando-a cair em seguida, estava coberto por um caro terno italiano branco. Tirou um chapéu de dentro do bolso do paletó e o botou na cabeça. Suspirou, triste, e cruzou as pernas botando seu tornozelo na coxa. Olhou para mim com ares vagos, depois para a parede da oca. Pegou seu pé e o girou cento e oitenta graus, como se fosse um parafuso. Da calça, puxou uma meia. E assim que pisquei essa meia virou um sapato de couro. Foi assim com o outro pé também.
– Kurupira era um mágico: Enfiou as mãos bem fundo no bolso e tirou lá de dentro um pedaço de carne quente e suculenta. Disse que É um pedaço da minha perna. Peguei o pedaço e comi, minha fome desapareceu e tudo deixou de parecer um sonho, porque não era. Ele disse:
– “Esta é a revelação: as cicatrizes da parede são incuráveis e vão cair uma por uma, levando o teto junto. Quando tudo for uma planície de concreto, perceberás a futilidade do material e se focará no espírito, mas também não terás recompensa: todas as pessoas que importavam foram embora, por vontade própria.” Kurupira/Homem Ruivo não me perguntou ou respondeu mais nada, porque eu mesmo não fiz mais perguntas ou dei respostas. Cumprimentamo-nos e eu acordei feliz, mas logo fiquei triste: em vez de leito de barro, eu me deitava na grama fresca de um vasto campo. Achei que era o Paraíso, mas as visões minhas não correspondiam às descrições de Júlio: eu estava talvez no Limbo, talvez no Inferno, então decidi andar por aquela vastidão solitária até descobrir o que era, nenhum nem outro: depois de dias, cheguei a Belo Horizonte, e fui recebido por uma comitiva de esposa de Bernardo, mãe de Ricardo e irmã de Ubaldo.
– Perguntei o que aconteceu enquanto eu estava fora? E me disseram que-
“Nada senão que os homens com família, futuro e sonhos morreram de fome, sobrando somente os solitários sem perspectiva ou ambição: você”
– Disse-lhes que a Amazônia tinha desaparecido, substituída por uma pampa nivelada, mas não deram importância: lamentavam a partida dos homens interessantes, porque só sobraram minhas rapsódias desatentas. Choraram tanto por Bernardo, Ricardo e Ubaldo que as lágrimas acabaram e tive que emprestar as minhas.
“Mas suas lágrimas não tinham ido embora?”
– Sim. Por causa disso, ninguém nunca mais chorou.
Prometeu do Fogo-fátuo, incendeio o Próprio Coração
As mulheres caminhavam pelos corredores do asilo, mas ele disse:
– Sem comida animal ou vegetal, tentamos sobeviver de grama, mas não deu certo: a opção que sobrou foi o canibalismo mais civilizado possível. Os altruístas alimentavam os egoístas em pares, casais femininos de um número ímpar de mulheres, foi assim que eu conheci… – O velho ergue os olhos para um pouco acima das nuvens. – Pandora. O nome dela era Pandora, mas as descrições não que cabem por que já não lembro: senão que tinha cinquenta anos, era bonita, inteligente e da alma mais poluída possível: devorou meus dedos, minha mão, meus braços e meu ombro no dia em que nos conhecemos. Pedi para que se contivesse, porque sua voracidade acabaria a matando, mas respondeu que Não tem problema, quando não sobrar mais nada comestível, vou procurar outra. Acabou, sabe-se lá por que, contendo suas vontades: dava-lhe, todos os dias, um pequeno pedaço de mim, que lhe sustentava por vinte e quatro horas. Foi assim durante os dezessete anos, até as egoístas devorarem as altruístas.
“E você?”
– Sim, eu, porque Pandora era econômica e se satisfazia com pouco, ou porque talvez meu gosto fosse tão desagradável que ela evitasse. As egoístas vieram até mim, para devorar as partes que faltavam, mas muito pouco: a carne da perna e os resto eram os ossos do qual ela chupava o tutano. Mais velha, ficou saudável e bonita, digna de poemas que eu escreveria, se as mãos do meu esqueleto não se desfizessem tão facilmente. Era como ter Crona, de novo, mas uma Crona feliz, (ao menos nas minhas memórias): fome de Pandora me impediu de ficar sozinho, como eu estou agora, dezoito anos depois do que aconteceu: vendo que restava muita pouca comida para muitas pessoas, decidiram entrar em guerra, mas eram todas egoístas, então todos os lados que aderiam eram pessoais: guerra total e quem sobrar fica com o banquete, mas ninguém queria ficar sozinho. Antes furiosas, preparando-se para a batalha extensa de fronts infinitos, ficaram tristes pela impossibilidade de resolver um problema tão simples quanto a fome canibal.
– Pandora não me abandonou um segundo só. Imaginei que por afeto, mas percebo que era por egoísmo também: queria preservar a comida que tinha economizado durante quase duas décadas. Eu, que agora era só o esqueleto (porque Pandora me comeu até o rosto e as orelhas e o nariz, lambeu o sangue que me manchava) olhava sem olhos para a imagem de Amazonas Canibais de uma civilização perdida com beicinhos no rosto e lágrimas de crocodilo nos olhos: para tentarem adquirir simpatia, pingavam gotas de água no canto das órbitas oculares e esperavam que o milagre do choro convencesse as outras a alimentarem-nas, mas não funcionava: embora as altruístas se dispusessem a arrancar pedaços do corpo pela felicidade das companheiras, as egoístas não davam nem unhas ou fios de cabelo, que viraram iguarias na antropofagia do fim dos tempos. Foi, posso dizer, dessa maneira que acabou o mundo: com as mulheres desistindo de viver.
– Foi Pandora, com seus olhos claros ou escuros, que já nem lembro, quem fez a proposta: se aqui é o mundo da mudança e das coisas que acabam, precisamos da Eternidade. Por que não vamos todas para o Céu? Mas eu disse, com minha boca que só abria e fechava, sem língua, porque Pandora a devorou, que o Céu estava ocupado pelos índios Suya. Desgraçados, disse uma. Então para o Inferno, disse outra. A maioria riu, a outra ficou séria, depois todas ficaram sérias e disseram que não era má ideia, perguntando para mim se eu sabia dos atuais ocupantes do lugar. Os demônios, talvez, respondi, e perguntaram Quantos? Não sei ao certo, mas uns sete, pelo menos. Então não é nada demais. Naquela época, dezoito anos atrás, tudo era mais simples.
Mas a verdade é que  tudo parece mais simples olhando para o passado. Passado recente: viajar até o asilo, perguntar onde ficava o quarto 1012, subir as escadas, andar pelos corredores, bater na porta e entrar no quarto. Se sentar na cama parecia tão complicado que a gravidade a fez deitar na cama, botar a cabeça no travesseiro e fechar os olhos. Sorrir de tão agradável que a ideia do sono parecia, mas não: tinha que escutar o velho, depois levá-lo embora. Tudo isso parecia mais difícil agora, sendo que era fácil antes. Elas foram procurar as entradas do Inferno. 
– Entraram em cavernas e gritaram para dentro de vulcões, mas não encontraram nada senão poeira, jazidas de pedras preciosas, lagos de água colorida e tóxica. Fiquei junto de Pandora, que continuava me devorando e me protegendo dos dentes cobiçosos. O pathos acumulado de anos sozinho, fazendo amigos para perdê-los, me fez sentir as falsidades do amor recíproco de Pandora porque a verdade é que eu amava Pandora. Enquanto ela arrancava pedaços do meu corpo, os espetava para cozinhá-los num fogão improvisado com a fogueira do nosso esconderijo, conversávamos sobre os livros que líamos, os filmes que assistíamos, as músicas que escutávamos e nossas experiências de vida. Senti a amargura do ciúme quando ela me contou que, mais nova, tinha se apaixonado por um dos homens levados pela lama: tinha cabelos loiros, olhos azuis, peitoral forte e braços firmes, sentimentos que eram ditos de um jeito tão sincero que ela se apaixonou por ele.
Silêncio de novo e das últimas vezes. Não faz mal: assim que ele se for, para lugares que Ela não pode saber quais são, as tábuas de madeira do assoalho e as molas do colchão vão se calar do jeito que se calam quando não tem os pés do velho para pisá-los ou corpo Dela para movê-lo de um lado para o outro, antes quando ela estava sentada e agora que ela estava deitada. Depois, quando estiver em pé, vai sobrar somente as janelas, que vão se agitar quando o vento soprá-las frio. A noite se aproxima na velocidade lenta das palavras calados do velho, mas ressurgem junto dos movimentos das nuvens, que pararam, também, por alguns segundos:
– Você já se apaixonou?
“Claro que não. Que pergunta idiota.”
– Eu me apaixonei algum bocado de vezes antes da Crona, duas vezes durante a guerra, nenhuma vez durante a fome e uma vez depois. Antes das mulheres encontrarem a entrada para o Inferno, eu estava apaixonado pela mulher mais egoísta de todas. Não tinha apenas comido meu cérebro, como se fosse um sorvete, mas também meu coração, como se fosse bala de gelatina. Você já comeu bala de gelatina?
“Sim. Eu gosto dos ursinhos vermelhos.”
– Eu gosto das dentaduras. Eu comprava um pacote para mim nos meus aniversários e ficava comendo sozinho. Você entende, não me entende? O que é passar um aniversário sozinho.
“Eu não faço aniversário.”
– Mas e se fizesse, Você me entenderia?
“Não. Eu sempre tenho companhia. A sua agora, a de outros seres do outro lado do universo. Eu nunca vou conhecer a solidão porque eu estou sempre trabalhando, andando de um lado para o outro e ouvindo histórias que ficam mais pesadas na medida que vocês as contam. Sua história é a mais pesada de todas porque pesa um mundo inteiro, em vez de fragmentos: me contam histórias que pesam uma pessoa, uma cassa, uma cidade, um país.”
– É o poder da verdade… 
Mesmo que fosse tudo mentira, mas ele disse:
– … Que me fez  gostar de Pandora, ela era sempre honesta: perguntei se gostava de mim, disse que Não, se Ficaria comigo se as mulheres encontrassem as portas do inferno? Disse que Não. Se tinha qualquer coisa que eu pudesse fazer para ela ficar comigo. Disse que Não e devou a batata da minha perna, então só me sobrava pé, calcanhar de Aquiles que seria disputado por Briseidas e Cassandras se não fosse a maldita da Pandora, que me tinha para si. Pela sensação áspera, jogou-o fora para as bactérias não-comestíveis devorarem-no. Foi para meus pés, arrancando a pele como se fosse uma embalagem contra a sujeira. Sustentei a sensação de ser esqueleto por alguns dias de silêncio, porque a mágoa de não ser desejado e a ausência de lágrimas me botaram em irresolução: só voltaria a fazer as coisas quando Pandora fosse embora. E acabou indo.
– Como era a pessoa que Você amava?
“Eu já- … Tinha longos cabelos vermelhos e olhos azuis. A pele era água corrente como se suas glândulas sudoríparas fossem fontes de água doce em que me banhei para hidratar esta pele seca. A felicidade. Foram os dias que me contiveram os passos até eles acumularem-se por obrigação. Parti, em silêncio, quando ela dormia: beijei seus cabelos verdes e na sua pele, com a ponta da foice, escrevi meu Nome, que não te revelo porque você não é tão especial. A água das suas cachoeiras, que eu bebi para me encher e transbordar, continua aqui, fluindo nas minhas veias e aderida ao meu corpo como DNA. Somos.”
– A minha era das coisas mais simples: olhos e cabelos castanhos, pele branca. O rosto nem dos mais bonitos, mas continuam o mais bonito na minha cabeça. De todas as lindas Amazonas Canibais, as mulheres mais egoístas de todas, Pandora é a que fica na minha cabeça: o som do seu mastigar constante, mesmo quando não me devorava, permanece ecoando, para sempre, na minha cabeça, e as palavras que saíam da boca dela sobre seu Adônis.
– De todas as pessoas que já viveram no mundo, quem fez Pandora gostar de alguém além de si mesma foi um homem mais bonito, mais forte e mais carinhoso que eu. Se eu pudesse falar dos meus sentimentos do jeito que falo agora-
“Não teria mudado nada, porque não é desse jeito que as coisas funcionam.”
Mais silêncio. É a penúltima vez que o silêncio vai acontecer antes de-
– As mulheres encontraram as portas do Inferno numa forma estranha e singular. Singular de 1 porque em vez de portas era uma só: tampa de escotilha com maçaneta de roda dos filmes de submarino. Porta do Inferno com clichê dantesco: em latim, inscrito em baixo relevo, no metal, Abandonai toda esperança vós que aqui entrais. Revirei os olhos inexistents, mas o resto achou magnífico. Em círculo, vocês se abraçaram de vitória. O sofrimento tinha acabado, mas não para mim. Puro osso, segurei Pandora pelo pulso e pedi que não fosse. Sorriu e perguntou Como, agora que não tinha mais carne, eu poderia satisfazê-la? No que meu triste sorriso esquelético não soube responder.
– Giraram a maçaneta até um estalo. Puxaram a tampa da escotilha e sabe-se lá o que viram, mas com certeza viram alguma coisa, porque gritaram. Não de medo, mas de aviso hostil: Ei, vocês, podem sair que nós vamos morar aí agora. E quem reclamar vai se ver comigo. E medo humano em horda de demônios foi o suficiente para uma voz divina responder Aspetta un po’. Cinque minuti doppo, carregados de malas, sete monstros enormes e um anjo saírem da tampa apertada como se fosse fácil: o camelo pela fenda da agulha. Lúcifer lançou-lhes as chaves do Inferno e elas foram entrando, uma por uma, sem olhar para trás.
– Você, impressionada pela beleza do antigo Rei das Profundezas, foi a última a entrar. Quando a tampa fechou, um demônio cego de vinte pernas, quarenta braços e órgãos expostos na pele vermelha (chamava-se Mamon), tomou a tampa em suas mãos enormes e a entortou sem dificuldades, jogando-a para longe em seguida. Foi quando um outro, de asas de mosca e cara de leão, braços atrofiados e pernas de elefante (chamava-se Belfegor) perguntou para mim Dov’è la birra? e respondi que, dada a falta de cevada, não tinha mais cerveja. E todos reclamaram, xingando Mamon por ter destruído o portal para o Inferno, onde parece que ainda tinha bastante cerveja estocada nos congeladores, agora das mulheres.
– Perché non sei entrato? Perguntou Lúficer, e respondi que Não sou egoísta, minha presença não era bem vinda. Aceitou e perguntou se sentia algo por alguma daquelas mulheres, o que eu respondi que Sim, por Pandora, a mais bonita de todas, mas também a mais egoísta, que me consumiu, mas não me deixou consumi-la. Perché? E eu, gastando meu italiano, respondi, esquelético: Boh, no lo só.
– Lúcifer e os outros sete demônios riram.
– Aproximou-se um demônio com cabeça de bode e corpo de homem, mas sem pele, como se tivesse sido esfolado. Nos braços, carregava dois braceletes dourados com inscrições latinas de Solve e Coagula. Suas pernas de sátiro tinham a mesma extensão de um pênis-cauda que arrastava no chão. Os chifres eram grossos galhos esculpidos em formas pontiagudas. Seu nome era Bafomé. Disse, no que eu não entendi em italiano e tive que pedi-lo para traduzir ao português: “Esta é a revelação: o coração pulsa sangue negro e azul, mas nunca vermelho. Bombeia mentiras pelas artérias e os músculos transformam em verdade, que corre pelas veias. Se a flecha perfurar somente os ventrículos, e nunca os átrios, a Terra se inundará de Felicidade Afogada, mas se for o contrário, os terremotos te engolirão numa queda tártara de um milhão de sofrimentos, porque o tempo não se contará mais até a ferida cicatrizar. Esta ferida existe para sempre: está nas juntas do corpo, nos laços do seu código genético, sobre e dentro da pele, mas sobretudo nos capilares. Os capilares são o segredo, o labirinto que vai levá-lo à certeza.” Enfiou as mãos no chão e cuspiu litros de saliva que transformaram a terra em barro. Ergueu o barro sobre minha cabeça e deixou que caísse até preencher meu corpo de ossos. Veio Azazel (o corpo humano, a pele preta de buraco negro, mas com feridas abertas das quais saía sangue), que deu dois fortes tapas no barro, que transformou-se em poeira, senão por uma camada grossa na forma de um corpo humano: velho, de sessenta e seis anos de idade. Cobria-me de cima a baixo, sem orifícios ou olhos. Foi Asmodeus (um gigantesco mastodonte poliédrico cuja cabeça era um icosaedro de vinte olhos, o corpo um octaedro e as pernas retas insectoides gigantescas: tinha nove metros de altura), que me tomou, cortou fendas no meu corpo e arrancou um dos seus dez pares de olhos para que eu pudesse enxergar de novo. Pôs-me no chão, como criatura recém-nascida, e sorriu.
– Andiamo da qualche altra parte. Vuoi venire? E disse que Não, porque aquele mundo, aquele universo, não tinha mais nenhum outro lugar para onde se ir.
– Capisco. Subiram no gigantesco Leviatã (que, ao contrário dos outros, era das exatas descrições de gigantesco monstro marinho) e o demônio bateu suas barbatanas para nadar no céu até o infinito, além das estrelas, onde viviam os índios Suya.
Silêncio pela última vez.
– Eu vaguei durante dezoito anos sozinho, vivi em cavernas e aproveitei os escombros da humanidade para passar o tempo. Meu corpo de barro não tinha fome ou cansaço, embora envelhecesse, por causa do Sol ressecante, e tive que conter meus movimentos ao começo do dia e ao final de tarde: o resto passava contemplando a passagem do Sol e a metamorfose do mundo; a chuva diminui a serra, o vento soprou as nuvens e a grama cresceu, mas eu não mudei nada porque não tinha mais nada e mais ninguém para me mudar.
Suspira de cansaço.
“E a Pandora? Ela não tinha nenhum jarro com a esperança, não?”
– Quem é Pandora?
Ela sorri. Levanta da cama, pega a foice e anda até o velho. Aproxima-se, ajoelha-se e olha para ele, irrecíproco. Espera que diga melhores últimas palavras que Quem, É e Pandora, mas parece satisfeito com isso: tem um pequeno sorriso no rosto. Ela segura-lhe mão, apertando, carinhosa, os nós cegos dos dedos enrugados. O brilho fraco dos olhos desaparece. A cabeça, lentamente, vai caindo até o queixo tocar o peito.
Duas lágrimas contidas escorrem dos olhos pelo rosto dele e pingam na camisa branca.
Silêncio para sempre.
#eu
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eusousali · 5 years
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E teus sinais me lembram constelações. O céu sou eu. Teu cheiro me lembra um lar onde nunca vivi, algo viciante. Quero morar em você. Nossas mãos entrelaçadas me puxam de um abismo que eu achei que não havia fim. Futuro? Era incerto. O medo? Permanece. E é assim que as pessoas agem quando amam, não é? Amor. Agora eu consigo sentir o que tanto escrevi nas minhas histórias. E eu que achei que estava enganando os leitores dando o que eles queriam ler. Mas hoje vi que, mesmo se eu juntasse todas as histórias de amor, nenhuma se compararia ao que sinto agora. Eu quero ser tudo pra você. Teu colo, sua moradia, sua melhor amiga e seu céu também. Quero pintar em mil retratos o reflexo do meu rosto sorridente nos seus olhos. E quero te fazer sorrir mesmo quando o dia esteja frio demais. Quero sentir você de todas as maneiras e passar meu batom pros seus lábios. Esteja comigo e eu estarei contigo. Sempre sendo mais. Sempre disposta a melhorar e te fazer feliz. Assim como você já me faz.
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momoringday · 5 years
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from your girl.
temia que ninguém nunca preenchesse o copo vazio e opaco que era o meu coração, até que você chegou, enchendo-o até a borda com o teu amor e transbordando-o com o teu carinho. de início, me afogava (e com gosto) naquela vastidão que me cercava/cerca. não aprendia a nadar naquilo que já era piscina e acabava por falhar a cada tentativa. aos poucos, e com a tua ajuda, fui aprendendo a me manter naquele local: já mergulhava no mar de sentimentos que você me proporcionava, fazendo proveito de cada gotícula presente.
minha epifania (há mais de 180 dias). entrou na minha vida de mansinho, mas sou por ti desde que tuas constelações abraçaram as minhas. certa vez te contei que me interessava pelo cosmos, mas digo aqui que o verdadeiro significado de imensidão tem o teu nome. você é o meu cosmos, desde a beleza e ordem até a sua harmonia. do micro ao macro. das estrelas até as partículas subatômicas.
e agora chegamos ao dia mais importante do ano, aquele em que o seu coração começou a bater, sem saber que daqui há uns anos daria vida a outro. você consegue imaginar a quem esse coração pertence e por quem ele bate?
chovendo ou fazendo sol, encolhidinha nos cobertores ou prestes a andar nua, eu estou agradecendo ao universo por ter lhe dado um espacinho aqui. também daria alguns sermões por não tê-lo colocado-a ao meu lado, mas não há problema: temos as almas entrelaçadas.
que o teu dia seja tão incrível quanto a pessoa que você é hoje. o céu está em comemoração e os anjos cantam em harmonia. os planetas se alinham e jamais o universo havia feito tanto sentido. sempre pensei que fôssemos menos que poeira cósmica, mas hoje enxergo o quanto estava errada. você é a estrela que mais brilha no meu céu.
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aluapareceomeumundo · 5 years
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Segredo
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Hoje lembrei do teu amor, da ligação que temos que está entrelaçadas como as constelações, lembrei do teu sabor, do gosto da sua boca, que saudade.
Lembrei das carícias, do calor do seu corpo, lembrei de cada segundo ao telefone, daquela ligação que ultrapassava uma ligação, lembrei de quando ao telefone ao suspirar ou uma simples respiração de um respingo de angústia o qual você de cara me dizia, o que aconteceu.
Não há nenhuma chance de te apagar de mim, lembrar de você é bom de mais, vivemos tanta coisa, apesar de doer de não está com você, mais isso “essa nossa química” vale uma vida inteira... Cada segundo ao seu lado, ou 2 mil km de distância, junto de você, valeu muito apena.
Os sms trocados, as preocupações, as declarações e até no “hoje” recorremos um ao outro, nossa ligação foi criada tão perfeitamente que quando olho para as estrelas, ainda lembro perfeitamente de você, na lua cheia quando fixo o olhar, a lua parece o meu mundo, porque sempre quando estávamos longe e a gente passava horas conversando via telefone, eu olhava para lua e via você, e você foi meu mundo.
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luizmchd · 7 years
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Seu jeito sério. Seu olhar provocativo. Suas mãos entrelaçadas. Seus sinais faciais. São constelações nessa poesia uni-versa.
@luizmchd
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fadaangustia · 4 years
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como todas as constelações, você brilhava. não era um tipo de brilho que era visto, mas sentido. estar com você era como ir no mercadinho da esquina e pedir um pacotinho de alegria pra viagem. eu sou tão feliz ao seu lado. a tua companhia é, e sempre será, o suficiente pra mim.
eles não entendem. você sabe, eu sei. estamos correndo riscos pelos quais talvez não consigamos ligar com as consequências, desses riscos/ atos. para mim, não importa. a tua mão entrelaçada na minha é tudo o que eu quero. teu carinho, teu abraço, teu colo, teu olhar, teu toque.
o mundo pode acabar, desde que estejamos juntos. a sensação de estar contigo é o suficiente para mim. você me transborda. me faz feliz, me dá motivos para continuar.
me faltam palavras. enquanto escrevo estes trechos, te observo. queria poder ter a sorte de te ter. sem pontos, sem mais, nem menos. sem medos, nem preocupações.
queria que tu pertencesse a mim, assim como eu pertenço a ti.
porém, por agora, apenas te observo.
esperando o presente de ter a tua presença pra mim.
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wvbgaldino-blog · 6 years
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E sob a luz das estrelas as horas passam devagar como nunca antes haviam o feito
As estrelas lembram-me o brilho dos teus olhos negros que são como olhos de anjo jamais comparado nem sequer a constelações de belíssimas estrelas
A saudade de os velos arde em meu peito
Sinto necessidade do teu abraço e em minha mente vagam as lembranças de tuas mãos ásperas entrelaçadas nas minhas
Amor em meu peito volta a crescer
Abrir mão de temer uma desilusão foi automático
Pois foi inevitável não conseguir esquecer o teu sorriso e jeito de andar
Tu és tão linda
Em meus últimos suspiros de vida teu sorriso me regenera
Me completa por inteiro
Tu é como se fosse o oxigênio que eu preciso pra viver
Te ver triste me dá vontade de até mesmo sacrificar minha vida para te ver sorrindo novamente.
Eu tinha até esquecido como é bom dar sorrisos pro vento
Imaginar um futuro antes de dormir
Sonhar com o abraço de alguém
Sentir raiva e fechar a cara de ciúmes até do vento
Escolher nome pra filhos
Lembrar de momentos quando ouvir uma música que chamamos de nossa
Simplesmente sentir
De alguma forma sentir você aqui dentro de mim
Sentir, mas sentir de uma forma tão linda e diferente
Obrigada por estar aqui
Obrigada por despertar essas energias tão boas dentro de mim que me estimulam a ser alguém melhor
Obrigada por ser o melhor de mim
Amo você meu nenêzin ❤
                                     WVBG
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recofka-blog · 6 years
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Tratado das/sobre as Nuvens ( primeira estrofe )
I A sua silhuet'esbanj'o sol qu'em ti luz bate, Delinei'azul, o frio-fim de tard'escarlate Ced'o tron’o sol par'a lua que já despont’ Entr'estrelas num véu, assim entrelaçadas, Singind'o firmament'estrelas vão d'escadas, Constelações a luzir, a moç'elas conta, Miríades; ascendend’a Via Laquete’, as Plêiades: Véias civilizações e mitos mortos vejo... N'alt’horizonte vem fogo, incendei’as paredes D'azul-celest’, apag’as chamas com um beijo O mar, contra Faetont’, audácia qu'aind’ecoa Pelos céus que cruzo’em tresloucados corcéis De seu progenitor, Apolo, qu'em lagoas Desflora virgens cálidas, sem nem broquéis Qu'as defenda dos olhos do belo-terrível. São deuses metamorfos, vítimas transformam, Como Calisto, Urs'imóvel no céu-bleu Encar'a própria cria, tornando-se seu'rmão Astr'ao seu lado brilha... Ovídio, basta, Ovídio! Poeta do coração, qu'eu li'ao pé do te'ouvido.
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