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lobamariane · 10 days
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a assimilação da sua cultura pelo sistema patricapitalista neoliberal não é liberdade!
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lobamariane · 13 days
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biblioteca pública do estado da bahia
Há 3 anos atrás a Guilda Anansi iniciava a primeira temporada da Rádio Café Antonina, espaço audiovirtual de programação diária onde partilhávamos rastros e aprofundamentos de nossas pesquisas continuadas, revolvendo nossa existência poética pra gerar nutrição e saúde em meio ao caos pandêmico.
Minha primeira transmissão como âncora no programa diário Fios do Imediato foi dedicado à Biblioteca Pública do Estado da Bahia, também conhecida como Biblioteca dos Barris ou Biblioteca Central, localizada no centro antigo de Salvador. Um lugar especial não apenas por se tratar da primeira biblioteca pública da América Latina mas por ser um lugar de memória que resiste ao longo do tempo aos avanços nefastos do sistema vigente que apaga histórias e produz consumismos. Para mim, trata-se de um templo onde tive o prazer de crescer e me apaixonar pelas letras.
A cada revisita me lembro que o caminho é mesmo de lembrar, de não deixar o papel mofar, de escrever pra enraizar.
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Ao mesmo tempo vejo dentro dessas salas muitas páginas carregando histórias escritas por mãos brancas que costuraram seus livros em cima da vida de quem estava aqui muito, mas muito antes da primeira folha de papel, antes da primeira carta do inferno colonizador. As encruzas, elas estão em todos os lugares.
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O caminho que busco traçar não me furta de rasgar quantas páginas forem necessárias fazendo o rasgo ecoar no silêncio úmido do quadrilátero da biblioteca central. Esses dias Amanda deu uma chave que talvez caiba aqui. "Voz é poder". Acho que é sobre isso que sonho quando penso na velha Salvador, quando revolvo o seu chão em busca da terra fértil para plantar meu caminho, chão onde antes só via grandes lacunas por não me saber filha dessa mesma terra.
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lobamariane · 16 days
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assimilação
vem do latim similis, que corresponde a “tal como, semelhante” somado ao prefixo ad, correspondente a proximidade. segundo o dicionário Michaelis: as·si·mi·lar vtd e vpr 1 Tornar(-se) semelhante ou igual; assemelhar(-se): Com a globalização, os povos assimilam as culturas. Os estilos desses autores assimilam-se. vtd 2 FISIOL Converter em energia ou substância própria os elementos nutritivos; produzir assimilação em: Assimilar os alimentos que ingeriu. vtd 3 Absorver ideias e sentimentos: “[…] Era […] muito feliz. Recostou-se para melhor assimilar essa verdade e chegou a sorrir com gosto […]” (JU). vtd 4 Absorver padrões culturais ou artísticos, em geral integrando-os à própria cultura ou ao próprio estilo de vida: Os paulistas assimilaram bem muitos padrões culturais dos italianos. vpr 5 Absorver algo; incorporar: Os imigrantes assimilaram-se com facilidade ao jeito de vida dos brasileiros. vtdi 6 Estabelecer comparação entre; confrontar, cotejar: Na sua palestra, assimilou o compasso do jazz ao da bossa nova.
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lobamariane · 20 days
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reconhecer o prazer.
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lobamariane · 20 days
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qual será o destino de todos os livros do mundo?
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lobamariane · 24 days
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03.04.2024 minguante em aquário quarta-feira de aprendizados no templo da alquimia à bruxaria
tirei a Nove na última segunda-feira. busco ver além de mim e nesse sentido a fotografia é sempre um meio de aguçar o olhar de exercitar a alteridade, ler o mundo.
nas imagens @maodevenus florindo e pluma de névoa cuidada pela @djinfurtacor
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lobamariane · 24 days
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não quero me "aldear".
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lobamariane · 1 month
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do caminho até aqui
A viagem ao sertão da raiz de minha família, o reencontro com meus avós e a visita ao território Payayá em dezembro do ano passado foi culminância de um primeiro momento da pesquisa na qual veio me envolvendo ao longo dos últimos tempos e que hoje entendo ser um estudo de ancestralidade como memória e raiz de uma existência poética em diálogo com os tempos do agora.
Nasci e cresci em contexto urbano, no centro antigo de Salvador, no entanto meus pais são do interior. Minha mãe é de Ibiaporã, distrito de Mundo Novo e meu pai, do Rio Sêco, povoado de Itatim. São apenas 3 horas de viagem entre um lugar e outro, no entanto só estou aqui hoje porque ambos, cada um por suas razões, resolveram migrar para construir a vida na “cidade da Bahia”. 
Sou de 95, portanto faço parte daquela geração atingida pela ascensão da esquerda no Brasil, muito marcada pela enorme abertura de possibilidades, a exemplo da entrada nas universidades, acesso à internet e aos cartões de crédito. Não foi difícil ser levada pela cultura pop, ser escravizada pelo padrão das garotas brancas e viciar no açúcar capitalista não só porque tive a possibilidade de enfiar revistas, fanfics e literatura europeia goela abaixo por anos, mas também porque, no fim das contas eu não sabia responder o que levou meu pai e minha mãe a deixarem seus territórios para viver na capital.
Demorou muito, mas muito mesmo para que eu visse os traços e raízes indígenas nesses lugares desde o nome. Sei que não sou a única e que isso não é uma coincidência. Crescendo em Salvador eu estava muito mais próxima das filhas e filhos da diáspora africana e morei toda vida na beira do Dique do Tororó que embora também tenha rastro indígena no nome é muito conhecido como lar dos orixás e terra sagrada para as diversas casas de candomblé nos arredores daquele corpo d'água. E quando me aproximei da literatura fiz visitas constantes a Castro Alves e tanto aprendi fazendo e desfazendo o caminho do Pelourinho até a Barra. No entanto, não havia nenhum espelho visível em beco algum da Avenida Sete, nada que eu lia ou ouvia parecia comigo, não reconhecia semelhantes na escola. Apenas na cara do meu pai e da minha mãe havia identificação e mesmo eles pareciam estranhos dentro da "cidade mais negra fora da África", e eu sempre pensei assim, somos pessoas estranhas. Isso porque havia um dado na mistura deles que nunca foi realmente identificado, compreendido, sequer visto. Por muitas vezes fui chamada de japinha por conta dos olhos pequenos e do cabelo muito preto. Eu mesma dizia que tinha a pele amarela, sabia que não era nem branca, nem preta. Ser filha dessa terra por herança era um pensamento inexistente porque eu "sabia" que todos foram mortos ou resistiam em povos isolados. Fora da aldeia, indígenas eram aparições alienígenas.
O primeiro abalo nessa construção de pensamento aconteceu em 2015, eu contava 20 anos e fazia parte do Núcleo Viansatã de Teatro Ritual, grupo que naquele ano viajava em turnê por diversas cidades da Bahia com espetáculo que se propunha a reler o clássico de Shakespeare Romeu e Julieta. Na época estávamos estudando sobre o Sagrado então durante as viagens além de apresentar o espetáculo, saíamos em busca de diferentes manifestações e egrégoras em cada lugar que passávamos. Visitamos prédios históricos, igrejas, terreiros, conversamos com suas lideranças. E no Extremo Sul da Bahia visitamos Cumuruxatiba, no Prado. Nesse dia meu rosto foi pintado com urucum por uma criança do povoado Pataxó da Aldeia Gurita. Eu tirei uma foto e publiquei no instagram. Na legenda eu dizia "virei índia". Nesse mesmo dia olhei para o cacique e pensei "nossa, ele é a cara do meu avô".
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A vida continuou, a foto se perdeu no tempo assim como esse lampejo de memória. No entanto, o incômodo de ser uma estranha nunca cessou. E se na infância não havia história alguma sobre as origens da minha família, tratei logo de preencher os vazios com os produtos ofertados pela colonização que nunca terminou.
E poderia ser assim pra sempre não fosse aquela pesquisa sobre sagrado que foi expandindo, expandindo até Amanda encontrar-se na encruza de povos e a partir disso, artista que é, dar conta de criar a própria realidade, a Bruxaria Mariposa. Vivi a sorte de caminhar ao seu lado ao longo de todo esse itinerário, continuo até hoje e é desse tempo vivido que veio o chamado de ir atrás do que fazia sentido pra mim. Minha ficha foi caindo aos poucos, até perceber que não me reconhecia como coisa alguma, até olhar no espelho e me ver coberta das marcas do apagamento da memória e ver também o desejo de estudar, investigar, limpar e cuidar das raízes que hoje me põem de pé.
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lobamariane · 1 year
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Serpente
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Se consultarmos o que existe de registro das histórias criadas pelos povos originários para explicar o início da vida na terra logo vamos dar de cara com uma serpente.
No primeiro episódio da série Flechas Selvagens chamado A Serpente e a Canoa, Ailton Krenak narra rapidamente algumas dessas histórias de forma que é impossível não estabelecer conexões, costuras entre ideias similares nascidas de povos de diferentes pontos geográficos do mundo. O entendimento sobre as serpentes é tão importante que a cristandade precisou vilipendiar esse símbolo para que seu plano de dominação e invasão de um deus sem nome pudesse ter algum sucesso.
Quem me falou sobre as serpentes foi Amanda, primeiro através do pensamento de Antonin Artaud, depois através da bruxaria .Só muito mais tarde compreendi que as duas vias-serpentes formavam uma só estrutura num entrelaçamento que lembra outro par de serpentes, o par que carrega e transporta nossas informações genéticas.
"Se a música age sobre as serpentes, não é pelas noções espirituais que ela lhes traz, mas porque as serpentes são compridas, porque se enrolam longamente sobre a terra, porque seu corpo toca a terra em sua quase totalidade; e as vibrações musicais que se comunicam à terra o atingem como uma sutil e demorada passagem; pois bem, proponho agir para com espectadores como para com as serpentes que se encantam e fazer com que retornem, através do organismo, até as noções mais sutis." Antonin Artaud
No lugar onde cresci mora uma serpente conhecida como Dique do Tororó. Ao longo dos anos aprendi a brincar de dar voltas no seu corpo cheio de curvas. Aprendi a olhar para as suas águas escuras e fazer perguntas.
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Até que um dia eu sonhei com ela, uma serpente verde esmeralda, escamas aveludadas, olhos vermelhos e brilhantes. Era dia estávamos na beira de um rio, havia uma cachoeira com uma gruta ao fundo. Eu estava dentro d'água quando a serpente subiu pelas minhas costas e soprou três perguntas no meu ouvido. Desde então, artista que sou, me dedico a respondê-las. E desse jeito ela nunca mais foi embora.
Hodie Mihi Cras Tibi Que saia pela boca O santo que habita em ti
Hodie Mihi Cras Tibi Serpentes nos abracem Noite nos revele
Oração da Roda Gigante, Amanda Maia
E ela continuou aparecendo em pensamentos, mensagens, sinais, flechas, até que costurei a canção que dediquei a 12ª edição do Sarau Boca Acesa, ação de movimento e provocação de artistas nesse agora, realizado pela Guilda Anansi como parte do ministério da Tradição da Mariposa. 
"Serpente,vem me perguntarsinto o seu rastejartoco a pele da Lua"trecho de Serpente, Mariane Lobo
Se, como diz Krenak, todos os seres são textos diferentes que compartilham a mesma Fonte, a Vida, quantos mistérios existem em cada degrau da escada espiral formada pelas serpentes que formam nosso DNA? Como não perguntar?
~ a primeira imagem é do lambe serpente mariposa que colei no ponto de ônibus da praça castro alves.
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lobamariane · 2 years
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Ariane Mnouchkine
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Há 58 anos, uma jovem mulher francesa de teatro fundava a trupe Theatre du Soleil. Ariane Mnouchkine contava então 25 anos de idade e ao seu redor explodiam os movimentos estudantis e tantas outras forças da chamada contracultura questionando o status estabelecido na época. A diretora, considerada uma das maiores do mundo teatral, nunca esteve distante de grandes turbilhões transformadores da sociedade: nasceu na França, filha de pai judeu russo que se desloca de sua terra natal por haver conflitos com o sistema vigente na então União Soviética e de mãe inglesa. Seus primeiros anos de vida são marcados diretamente pela II Guerra Mundial, tendo os avós paternos deportados para um campo de concentração e ela própria com a família fica refugiada em zona rural, retornando a Paris apenas em 1947, findada a guerra.
Uma década depois do retorno à capital francesa, Mnouchkine vai para a Inglaterra onde passa um ano estudando em Oxford. É lá que Ariane se apaixona pelo teatro e o escolhe como caminho de vida. No entanto ao retornar para casa, inicia o curso de Psicologia na Sorbonne, para acalmar os ânimos do pai, um produtor cinematográfico, que temia a filha enveredasse pela vida artística. Quando essa escolha se tornou insuportável e o desejo de fazer teatro se tornou maior, Ariane fundou a Associação de Teatro dos Estudantes de Paris. Ela atua como diretora apenas no segundo espetáculo da ATEP, Gengis Khan (de Henri Bauchau), que apesar de receber boas críticas acabou não atraindo público. Havia o interesse entre alguns dos integrantes da Associação de criar uma trupe de teatro profissional. Marcaram então uma data: dali a 2 anos, tempo suficiente para finalizar estudos e cumprir serviço militar, se encontrariam novamente para fundar o agrupamento que desejavam.
A temática de Gengis Khan evidenciava um desejo antigo de Mnouchkine, o de visitar a China. E para ela, os dois anos de prazo eram o momento de investir nessa aventura. No primeiro ano, buscando captar recursos para empreender sua viagem, ela escreveu o roteiro do filme L’homme de Rio, dirigido por Philipe Broca e produzido por seu pai. Pelo escrito, Ariane aos 23 anos é indicada ao Oscar de melhor roteiro de filme estrangeiro. No ano seguinte, ela não consegue o visto de entrada na China e parte para o Japão, e de lá passa pela Índia, Conboja, Hong Kong e Tailândia. O que ela buscava em terras orientais? “O berço do teatro”. Diz ela em entrevista a Josette Féral:
"As tradições orientais marcaram todas as pessoas de teatro. Impressionaram Artaud, Brecht e todos os outros, porque o Oriente é o berço do teatro. Então fomos lá buscar o teatro. Artaud dizia: “o teatro é oriental”. Essa reflexão vai mais além. Artaud não supõe que existam teorias orientais, ele afirma que “o teatro é oriental”. E eu acho que Artaud está certo. Portanto, eu diria que o ator vai procurar tudo no Oriente: ao mesmo tempo mito e realidade, interioridade e exteriorização, aquela famosa autópsia do coração por meio do corpo. Vamos lá buscar também o não realismo, a teatralidade" Ariane Mnouchkine
Falar de Ariane Mnouchkine é falar sobre o Theatre du Soleil, é falar sobre seu fazer artístico e político, sem fragmentações. A senhora que com sua Lua em Leão fez nascer o Teatro do Sol - nome escolhido por ser o mais bonito - tem por sua vez o Sol em Peixes, uma combinação de luminares que se mostra quando ela diz que “o primeiro termômetro pra mim, sou eu. São as minhas emoções. Foi então que entendi que a arte do ator é a arte do sintoma. Um ator deve achar em seu corpo os sintomas das emoções que ele terá que vivenciar”.
Assim como Artaud, Mnouchkine acredita que não há divisão entre arte e vida. O Theatre du Soleil é sua expressão desse uníssono em todos os níveis e por isso a diretora não participa de partidos políticos e tanto ela quanto as pessoas atuantes de cada espetáculo, além do palco e das traquitanas, assumem o trabalho de bilheteria e a oferta de alimento para quem vem assistir a magia do teatro na Cartoucherie, antigo depósito de armas do exército francês que se tornou a sede do Thetre du Soleil numa iniciativa de estratégia guerrilheira de Mnouchkine: ao saber que na devolução de bens feitas pelo exército francês à cidade de Paris estava incluída a fábrica de munições Cartoucherie, Ariane ficou esperando na saída até que os oficiais esvaziassem o local, ocupando-o em seguida com o grupo de teatro. Depois da ocupação, Ariane foi até uma vereadora parisiense a quem solicitou a autorização oficial de uso do lugar. A vereadora escreveu a autorização num pequeno pedaço de papel com a bandeira da França estampada e com esse papel Ariane evitou que a fábrica fosse destruída e fincou raízes definitivamente ao apresentar ali o espetáculo 1789, que aborda a Revolução Francesa. Desde o início da escalada do sonho que deu origem ao grupo, Ariane não se vê refém de imposições do Mercado. Junto com a sua trupe, faz apenas o que é de sua vontade, do mergulho no universo Shakespeariano às guerras que assolam o mundo, das coisas pequenas e efêmeras até gigantescas revoluções.
Ariane Mnouchkine também carrega em sua trajetória a relação com o cinema, pelo período da infância em que circulava nos sets de filmagem onde o pai trabalhava. Além de L’homme de Rio, foi diretora e cenógrafa do filme Moliére ou a vida de um homem honesto. Também realizou o filme 1789, um trabalho de edição a partir da filmagem de 13 das apresentações do espetáculo na Cartoucherie.
Ariane Mnouchkine é uma mulher de 83 anos, de alta juba prateada, mãos ágeis em articulações que completam suas falas, olhos profundos e corpo sempre presente.
“A arte serve a isso, a fazer de nós mulheres mais humanas e homens mais humanos. A cultura é um processo de educação, de humanização, de construção de cidadãos.” Ariane Mnouchkine
Imbricados às descobertas na grande fonte do teatro, os laços com países orientais também se fazem em seu posicionamento político, essencial a toda a poética do Theatre du Soleil. Em seu longo repertório de espetáculos realizados, o grupo expande pensamentos críticos à temas como radicalismo religioso, violência contra refugiados, invasões, desastres sanitários fatores comuns do grande adoecimento que conecta os dois lados do mundo.
Em 1979, Mnouchkine fundou a AIDA (Associação Internacional de Defesa de Artistas Vítimas da Repressão no Mundo) que nasceu em Paris e logo se conectou com diferentes partes do globo em que artistas são atacados de diversas formas por regimes autoritários. “Cem artistas argentinos desaparecidos” foi uma das manifestações que nasceram da AIDA e que expuseram muitos dos regimes ditatoriais em vigor nos países sul americanos. A Associação tinha como modus operandi a elaboração de ações criativas que denunciassem diversas violências a artistas. No caso de “Cem artistas argentinos desaparecidos”, as manifestações geraram um livro sobre a repressão cultural na Argentina e a passeata realizada em Paris foi filmada pelo cineasta argentino Fernando Solanas, membro da Associação. As filmagens foram matéria-prima e experiência para o seu filme El Exílio de Gardel (1985). Na história, um grupo de artistas argentinos se refugia em Paris, fugindo da ditadura militar no país. Em terras francesas enfrentam as dificuldades típicas que assolam as pessoas latino-americanas que se deslocam para a Europa e resistem juntos, montando o espetáculo “Tangos: o exílio de Gardel”.
No verão de 1995, Ariane fez uma greve de fome de 4 semanas em protesto contra a inação da Europa sobre o genocídio que acontecia na Bósnia, mais tarde acolheu 382 refugiados sem visto vindos de diversos países africanos nas dependências da Cartoucherie assim como, em 2002 acolheu um grupo de dança da Tchetchênia também refugiado de guerra composto por mães e suas crianças. Em 2006 foi a companhia Siah Bâzi que esteve abrigada na sede do Soleil, um agrupamento que foi expulso do teatro mais antigo do Teerã, fechado pelas autoridades iranianas. Na comunidade do Theatre du Soleil, esses e tantos outros agrupamentos receberam apoio e a possibilidade de trabalhar, arrecadando toda a bilheteria que conseguiam gerar. Nesse mesmo lugar, um grupo de vinte pessoas afegãs ficaram hospedadas à convite de Mnouchkine após criarem um grupo de teatro, o Theatreh Aftab ("Teatro do Sol" em Afegão), por ocasião de um estágio do Theatre du Soleil realizado tempos antes, em Cabul.
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Ariane Mnouchkine é uma artista que não se cansa de remar contra a maré, seja defendendo os artistas do poder esmagador das repressões, criando espetáculos que possam devolver pelo menos um pedaço do grande encantamento de viver o teatro, seja pela opção de não escrever sobre seus métodos por acreditar que tudo sobre teorias teatrais já foi escrito, o que nos resta e colocar a mão na massa e fazer.
“Não tenho a menor ideia de quanto tempo durará o Théâtre du Soleil. Mas sei que, para mim, fazer teatro fora de um grupo que compartilhe uma busca comum é absolutamente inconcebível. Não faria teatro de outro modo. Porque acho que é a única maneira de aprender e a que me dá vontade de aprender. Gostaria de escalar bem a montanha. E escalar a montanha não é simplesmente escalar a montanha de cada obra, é chegar a escalar a montanha do teatro, de sua vida. Há, então, o fato de que isso é um sonho e que esse sonho é um desafio, uma prova.” Ariane Mnouchkine
Honrarias
Prêmio Europeu de Teatro (1987) Medalha Kainz (1995) Medalha Picasso da UNESCO (2005) Hansischer Goethe-Preis (2005) - prêmio recusado por Ariane por ter sido fundado por um empresário em cuja história apresenta ligações com Terceiro Reich nazista Título de Doutor honoris causa pela Faculdade de Letras e Filosofia da Universidade de Roma Leão de Ouro da Bienal de Veneza pelo conjunto de sua obra (2007) Título de Doutor honoris causa pela Universidade de Oxford (2008) Prêmio Internacional Ibsen (2009) Medalha Goethe (2011) Prêmio Goethe da Cidade de Frankfurt am Main (2017) Prêmio Kyoto pelo trabalho de sua vida como trabalhadora de teatro (2019)
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lobamariane · 2 years
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Uma costura para a Elvira que me acompanha
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Lá vem a Diaba. Sempre, desde que nos encontramos pela primeira vez numa encruzilhada entre mundos e tempos, advento que me deu muito o que aprender sobre ver fios e tramas, sempre que o mês das profecias aparece, ela vem junto. Primeiro, em 2018, num evento literário tradicional ilheense, entre pesquisadoras e pessoas literatas ela se revelou e contou alguns de seus segredos. Em 2019 fui recebida pela própria em sua festa-velório urdida pela bruxa mariposa que me guia. Em 2020, num outro 15 de Agosto em que nos encontramos novamente, mergulhei na escrita de uma costura entre ela, a diaba Elvira Foeppel e Nossa Senhora da Vitória, ambas marcadas pelo número quinze, pela cidade de Ilhéus, por queimas e pela necessidade de descortinarmos o olhar para vermos no horizonte a liberdade de todas as mulheres. Então para me despedir desse tão fantástico último agosto de tantas profecias realizadas e para reforçar meu laço com a escritora que desejava derramar palavras que dessem conta de dizer como ela sentia tanto a alma do mundo, oferto essa costura em cinco pontos.
revérbero • 15.08.2020 • sábado de saturno • balsâmica em câncer • lunação leão-virgem
1. Nascida em 15 de Agosto de 1923, Elvira Schaun Foeppel foi a primeira filha de Frederico Foeppel e Eulina Schaun Foeppel. O nome da mais velha dos 5 filhos foi uma homenagem de Eulina à sua mãe.
Apesar de ter nascido em Canavieiras, Elvira cresceu no Pontal, em Ilhéus, cidade que logo ganhou lugar no seu coração. Aos 13 anos inicia o curso fundamental no Colégio do Convento Nossa Senhora da Piedade da Ordem Ursulina, na época um colégio recém-inaugurado e apenas para meninas. Ali Elvira iniciou seu envolvimento com as artes, participando das atividades culturais da escola.
Quando Elvira estreia, aos 15 anos, na peça teatral Divorciados (escrita por Orivaldo Viana Filho) em que ela vivia o papel da divorciada, um grande tabu para a época, o Brasil vivia um processo de intensas mudanças. Através de um golpe de estado Getúlio Vargas instaura o Estado Novo um ano antes, em 1937. Uma grande onda de censura surge daí: partidos políticos extintos, imprensa calada pelo DIP, a cabeça decepada de Lampião exibida como troféu da nação unificada, Pagu, divorciada como a personagem de Elvira, presa e torturada pelo regime.
Ao mesmo tempo o feminismo protagonizado por mulheres brancas consegue avançar nas capitais brasileiras. Em Ilhéus, Elvira avançava sozinha e pagaria o preço por essa ousadia, como saberia mais tarde.
2. Todo turista que pousa em Ilhéus procura uma Gabriela. A personagem de Jorge Amado é emblemática por muitas razões, uma das mais interessantes vem da forma como ela parece se sobrepor a todas as outras mulheres-personagens dessa antiga capitania, como se estivesse acima de todas as outras tramas pois não era nem a mulher submissa e servidora do pai ou marido, nem a vagabunda ou figura rebelde que devia ser punida ou morta. Gabriela era então uma mulher livre?
Audre Lorde diria que não. É impossível, diz a autora, ser mulher livre enquanto outras mulheres ainda estiverem presas. O modelo patriarcal de sociedade de Ilhéus mantinha suas mulheres em correntes fosse como boa esposa ou como transgressora. A liberdade de Gabriela, tem outro nome, se encaixa perfeitamente no mundo dos homens que sonham com a mulata brasileira, sensual, fogosa e ao mesmo tempo inocente, que sabe cozinhar e está completamente alienada assim como sempre está num estado de felicidade todo seu. O nome é fetiche. Elvira ocupava outro lugar nessa mesma história.
A escrita literária começou pouco depois da escola. Em 1944, já formada no magistério, Elvira começa a publicar poemas na página 3 do Diário da Tarde, jornal de Ilhéus, e também começa a circular no meio intelectual da cidade. Sua figura certamente se destacava entre os homens literatos da época: os cabelos pintados, olhos pretos bem marcados, batom além do contorno da boca para valorizar os lábios finos, eram características que despertavam quem vigiava as mulheres de bem. A sociedade ilheense, que mantinha sua postura puritana e paternalista em contraste com o progresso e modernização trazido pela ascensão do cacau não demorou para encontrar em Elvira um alvo, um mau exemplo para suas conterrâneas. Se destacava também no fazer literário. Enquanto a maioria dos autores da época se dedicavam a escrever sobre o cacau e assuntos da região Grapiúna, Elvira buscava dentro de si a matéria prima dos seus textos, primeiros sinais da escritora existencialista que se tornaria. Uma mulher inteligente, vaidosa e que buscava viver suas escolhas amorosas e sexuais livremente era demais para Ilhéus e por isso ela deveria ser punida. Assim, Elvira passa a ser cerceada de suas amizades, comentada em voz alta na rua, magoada pelos parceiros que não compreendiam ou não toleravam o seu anseio de liberdade.
Ilhéus venceu, enfim.
Em 1947 Elvira parte para o Rio de Janeiro, buscando novos horizontes.
A jornada da jovem escritora na cidade provinciana é eternizada por Jorge Amado, naquele tão conhecido livro, Gabriela Cravo e Canela, através da personagem de uma jovem professora questionadora que encontrou apenas nos livros eco para a vida que desejava, independente e livre de qualquer homem, pai, marido ou amante e que, depois de muitas humilhações deixa a cidade de Ilhéus rumo a São Paulo onde poderia conquistar tudo o que era seu por direito. O nome desta jovem é Malvina.
3. 15 de Agosto é o dia de Nossa Senhora da Vitória, padroeira de Ilhéus. 
Conta-se que os colonos portugueses que moravam na então Vila de São Jorge obtiveram ajuda de uma mulher muito branca que foi vista lutando na batalha contra os Aimorés, população indígena originária da região. Os registros de Jesuítas e do próprio governador Mem de Sá que estava presente liderando a luta dos colonos dão conta de uma batalha sangrenta, que deixara praias "cobertas por corpos sem alma". Nos mesmos registros, consta que os Aimorés eram a mais temida espécie de selvagens, o que justificava a matança de homens, mulheres e crianças. Findada a batalha, Mem de Sá retorna à vila e segue direto à igreja de Nossa Senhora onde agradece publicamente por mais uma conquista.
É sempre bom fazer o lembrete incômodo de que fomos educados para defender a história dos vencedores, dos conquistadores. Quem dos Aimoré assassinados nessa guerra genocida ficou em Ilhéus para contar sua história? A luta e sofrimento indígena no sul da Bahia, assim como em todo o o país, prevalece até os nossos dias. Toda vitória é santa?
4. Vencida pela sociedade ilheense, Elvira muda-se para o Rio de Janeiro aos 24 anos de idade, seu caderno de poesias na mão e uma grande vontade de encontrar-se no mundo como escritora e livre das perseguições que sofreu em Ilhéus.
Na então capital do país, Elvira foi publicada em alguns do mais importantes jornais cariocas; com ajuda dos amigos escritores conterrâneos consegue entrar no círculo intelectual da cidade. O encontro e a amizade com outra escritora a marca profundamente: Clarice Lispector, que não tinha o costume de ir a lançamentos de publicações estava lá quando Elvira lançou seu primeiro livro, Chão e Poesia (1956).
Embora a vida na grande metrópole tenha sido agitada, as cervejas com os amigos de ofício, idas ao cinema, variadas leituras e trabalho intenso de 30 anos na Revista Súmula Trabalhista não afastaram Elvira do sentimento de inadequação, desconforto e incompreensão do mundo ao seu redor, temas que crescem em sua obra literária. As mulheres de Elvira vivem o impedimento e a censura dos próprios desejos em nome de conseguir manter-se socialmente de forma aceitável. 
Na década de 70 sua produção cai até que Elvira para de escrever completamente. Cuidou dos pais até a morte de ambos e viveu a própria velhice em casas de repouso até o seu falecimento em 28 de Julho de 1994, aos 74 anos.
5. Elvira Foeppel deixou uma extensa produção literária, a maioria publicada em periódicos em Ilhéus e Rio de Janeiro, entre crônicas, poemas e contos. 
Ao mesmo tempo, se conseguiu algum destaque na cidade carioca, pouca ou quase nenhuma memória de Elvira circulava em Ilhéus até o lançamento de A Violeta Grapiúna, livro da pesquisadora Vanilda Mazzoni que resgata a trajetória da escritora ilheense, vencida e silenciada por tantos anos. Vanilda também publicou uma seleção de contos publicados da autora, Da Sombra à Luz. Ambas as obras estão disponíveis para leitura no mundo virtual.
Hoje é 15 de Agosto. Enquanto eu escrevia sobre Elvira, à meia-noite ouvi fogos para a outra dona do dia, Nossa Senhora da Vitória. Acredito que seja um dia para rever histórias e buscar novas lutas. Pode ser um dia milagroso.
Fogem ao contato frio da lama E ao horror das podridões. Na minha boca que se abre Gradativamente Ressoa o grito volumoso de todos os revoltados Que as injustiças e as misérias Fizeram morrer na garganta. No meu corpo esquecido que se mantém ereto Como torres erguidas contra o céu Pela soma de equilíbrio de todas as moléculas Instintivamente Vêm se refugiar todos os sentimentos Que pululam em grupos pelo mundo. O meu espirito se alarga em espirais Como fumaças beijando o espaço Inquietamente Em busca sôfrega e crescente De toda a Sabedoria Universal. E o meu cérebro recolhe Cuidadosamente Para a integridade perfeita Da parcela que é mais um no todo Os gestos de mistério contidos Na fecundação dos seres criados No abandono de vida dos corpos apodrecidos E na imobilidade completa dos seres inertes. E esta inquietação constante Em busca da perfeição sem limites Assustadoramente Invade como marés enchentes a praia devassada Como o meu eu Que se encerra nos contornos da matéria E se dilata pelo meu Espírito
Elvira Foeppel
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lobamariane · 2 years
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"Você tem ritmo"
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revérbero • 30.05.2020 • sábado de saturno • quarto crescente em virgem • lunação gêmeos-câncer
I
Ritmo vem do grego rhytmós. A palavra grega, por sua vez, pode ter duas raízes brotando de dentro de si: rheo  que significa fluir e ry ou w’ry, que significa prender.
Dizem que o caminhar do camelo e o rastejar da cobra influenciaram os ritmos árabes em seu surgimento. Já do ritmo do trabalho negro nos campos de algodão do sul dos Estados Unidos nasceu o blues.
O ritmo também é cíclico, como uma onda que avança sobre a areia pra depois retornar ao mar.
Fluir e prender, som e silêncio. As combinações entre esses dois elementos são infinitas.
Cada orixá tem seu ritmo que ilustra musicalmente a sua força e tudo mais que se desprende na dança do corpo que o recebe. E cada corpo tem sua dança. 
Quem ouve a música e observa a dança também marca o pulso, a batida. O corpo também vibra com as palmas, os pés batendo no chão. E eu sempre tenho a sensação de que o lugar que abriga esse fenômeno acaba virando outro lugar.
II
Parecia que eu estava tocando por horas a mesma célula, uma das milhares de combinações possíveis que um atabaque pode oferecer. Era o exercício, tocar sem parar, até.
Observei uma outra que sabia muito: como tocava e dançava e ensinava, tudo ao mesmo tempo. Parecia ser o único jeito de ser. Ainda assim, qualquer movimento que eu fizesse pra fora daquela célula me levaria a perder o ritmo e até esquecer de como voltar. Era o exercício. Achar um movimento que me fizesse uma pessoa inteira que sei que sou embora muitas vezes seja induzida a esquecer dessa sabedoria pelas distrações do mundo que são muitas.
Imagem de Izabella Valverde
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lobamariane · 2 years
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Quitéria. Felipa. Angélica.
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revérbero • mundus • 02.07.2022 • sábado de saturno • nova em câncer • lembrança das mulheres santas do 2 de julho • lunação câncer-leão • clique para ler
Existe na Bahia uma egrégora que se ergue sempre que Julho está pra chegar. No segundo dia desse mês é celebrada a Independência da Bahia, marco final de uma guerra que começou muito antes da declaração da Independência feita pelo então Príncipe Regente D. Pedro I às margens do Rio Ipiranga. Conjurações e revoluções pela liberdade do Brasil alcançam o auge no dia 2 de julho de 1823 quando o restante das tropas portuguesas derrotadas e que ainda estavam em Salvador se retiram pelo mar, consolidando o início de uma nova realidade para essa terra.
A Independência do Brasil da Coroa de Portugal é conhecida como fruto de uma série de eventos, em sua grande maioria ocorridos na região Nordeste do país, por conta da presença maior de tropas portuguesas que consideravam essas regiões como estratégicas para a manutenção do domínio lusitano. 
Foi a minha guia e orientadora artística, Amanda Maia quem colocou a lembrança 2 de Julho no meu caminho numa segunda-feira da lua, através da Rádio Café Antonina me encomendando a missão de resgatar a memória de 3 mulheres baianas que atuaram na guerra e carregam, como personagens históricas que são, fonte infinda de inspiração para revolucionárias. Como artista soteropolitana que sou, busco aqui compreender os fios da costura desse marco que é pedra fundamental na construção da alma baiana, meu lugar de nascença, minha Fonte. Começar pelo mergulho na vida dessas mulheres tem sido alimento que venho agora partilhar.
Maria Felipa
Descendente de africanos sudaneses, Maria Felipa nasceu na ilha de Itaparica, na Rua das Gameleiras e posteriormente passou a morar na Ponta das Baleias, num casarão chamado "Convento" onde quartos eram alugados para trabalhadores e trabalhadoras locais. Maria Felipa vivia do comércio de mariscos. Mulher alta, forte, sempre vista de turbante, saia longa e chinelas, a Heroína Negra da Independência envolveu-se nas batalhas contra os portugueses logo que os viu invadindo a ilha. Ela era líder de um grupo de aproximadamente 200 pessoas, a maioria mulheres negras e indígenas, que utilizavam instrumentos como pedaços de pau, facas de cortar baleia e peixeiras para atacar os invasores. A guerrilha de Felipa também é conhecida pela queima de 40 embarcações portuguesas que estavam ancoradas próximas a Itaparica e pela surra de cansanção dada nos soldados que capturavam. Além dos ataques diretos, Maria Felipa também foi responsável pela organização do envio de mantimentos para a resistência estabelecida no Recôncavo e a vigilância nas praias para evitar o desembarque de inimigos.
Por muito tempo após os eventos que culminaram na independência, Maria Felipa foi considerada uma lenda. Apenas em 1905 ela aparece em registro escrito, pelas mãos do historiador Ubaldo Osório Pimentel, que através de estudos de documentos antigos e investigação da memória popular, traz histórias da marisqueira que hoje permeiam o imaginário da população baiana. Mais recentemente a pesquisadora Eny Kleyde Vasconcelos publicou o livro Maria Felipa de Oliveira: Heroína da Independência da Bahia (2010), reforçando a memória da guerreira de Itaparica. Maria Felipa morreu em 4 de julho e 1873, e mesmo após o 2 de julho 1823, continuou liderando ataques de guerrilha contra quem ousasse ameaçar a soberania do povo da ilha, a exemplo da primeira cerimônia de hasteamento da bandeira nacional na Ponta das Baleias quando ela e algumas integrantes do seu grupo, Joana Soaleira, Brígida do Vale e Marcolina invadem a armação de pesca de um português abastado e surram o vigia do lugar. As lutas entre as população brasileira - negra e indígena - contra os portugueses tanto em Salvador quanto no recôncavo e em Itaparica ficaram conhecidas como Mata-Maroto e assim, ao final das batalhas na ilha podia-se ouvir o canto do grupo de Maria Felipa “havemos de comer marotos com pão, dar-lhes uma surra de bem cansanção, fazer as marotas morrer de paixão”.
Joana Angélica
A abadessa do convento da Lapa da Ordem da Imaculada Conceição nasceu em Salvador no dia 12 de Dezembro de 1761. Filha da união de um português, José Tavares de Almeida, e da soteropolitana Catarina Maria da Silva, aos 20 anos foi aceita como noviça no Convento da Nossa Senhora da Conceição da Lapa onde permaneceu reclusa e atuando como escrivã, mestra das noviças conselheira, vigária e por fim, abadessa, função que exercia quando, na noite de 19 de fevereiro de 1822, enfrentou soldados portugueses que sitiavam Salvador e queriam invadir o convento. Após ouvir entrada dos soldados pelo primeiro portão e perceber as tentativas de arrombar o segundo - uma porta de ferro que fechava a clausura das noviças e freiras - a abadessa ordenou que as irmãs fugissem pelos fundos e numa última tentativa de defesa, Joana Angélica colocou seu corpo entre os soldados e a porta do convento, bloqueando a entrada e foi atravessada por golpes de baioneta. A notícia do ataque português que matou a madre Joana Angélica se espalhou pela Bahia gerando comoção e aumentando o fogo da resistência e por isso ela é conhecida como primeira mártir da independência do Brasil. Em 1923 a rua da Lapa onde se localiza o convento foi renomeado desde então se chama Avenida Joana Angélica.
Maria Quitéria
Assim que o governo interino da Bahia então sediado no recôncavo conclamou os baianos para lutar a favor da independência do Brasil, Maria Quitéria foi até o Regimento de Artilharia de Cachoeira e se apresentou como Soldado Medeiros, à disposição para lutar pelo Batalhão de Voluntários do Príncipe, conhecido também como Batalhão dos Periquitos. Conta-se que antes ela havia pedido permissão ao pai, um fazendeiro produtor de algodão, que negou-lhe dizendo: "Mulheres fiam, tecem, bordam. Não vão à guerra". Mesmo assim ela seguiu seu desejo e com a ajuda da irmã, vestiu o uniforme do cunhado, adicionando uma saia no modelo dos saiotes escoceses - a inspiração para a saia veio de uma pintura - se apresentou ao Regimento, e foi recebida pelo comandante do Batalhão dos Periquitos, Major Antônio da Silva Castro, que reconhecia a sua habilidade com as armas - prática ensinada às mulheres com fins de caça ou para defesa contra invasores. Maria Quitéria combateu em Salvador, na estrada da Pituba, em Ilha de Maré, na Baía de Todos os Santos e na foz do Rio Paraguaçu, onde avançou pela água com um grupo de mulheres contra uma barca portuguesa que ali aportava.
Quando o exército libertador entrou na cidade da Bahia, após a derrota dos portuguesas, ela também foi saudada pela população entre os seus companheiros de luta. O General Labatut, comandante da resistência designado por D. Pedro I, a conferiu as honras de 1o cadete e no Rio de Janeiro ela foi recebida pelo próprio imperador que a condecorou como Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro. Quitéria morreu 1853, e no centenário de sua morte foi erigida uma estátua na praça que também carrega o seu nome, no bairro da Liberdade, em Salvador.
Onde estamos agora?
Quitéria, Felipa e Angélica são três figuras que se destacam na luta baiana pela independência do julgo de Portugal principalmente pelo registro histórico, cada uma por suas razões: a mártir religiosa que morre defendendo sua Fé, a mulher que pega em armas a despeito de qualquer convenção social seguindo seu desejo absoluto de liberdade, a guerrilheira que protege sua terra com inteligência, habilidade e força. Para cada uma das três heroínas da independência da Bahia existem milhares de mulheres anônimas que atuaram nessa mesma guerra e que nunca vão figurar os livros de História. Por isso nos desfiles do 2 de Julho pelas ruas de Salvador, elas se multiplicam: mulheres vestidas de freira, mulheres de turbante, mulheres vestidas com roupas militares e de saia. E não só. Nos carros alegóricos do tradicional desfile do 2 de julho, uma cabocla se ergue no meio da população, filha da terra, lembrança persistente da nossa Fonte, imagem cheia de mistérios que desejo conhecer.
O 2 de Julho é um marco de transição de um modelo de sociedade e, portanto não marca mudanças definitivas. As marcas da Conquista e da colonização continuam aí, rasgando e derramando sangue, nos distanciando de nós mesmas, e é preciso acordar para reconhecer essas marcas. O que acende o meu coração aqui é a lembrança pulsante do movimento e da revolução, palavras que guardam em si chaves de portal, chaves para mudar a realidade agora. E eu, como artista, quero.
A ilustração é de Victor Diomondes.
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lobamariane · 2 years
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uma visão de Perséfone e outras sementes
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revérbero • reflexão • 05.06.2022 • domingo do sol • côncava crescente em leão • aprendizados da primeira semana da lunação gêmeos-câncer
A Lunação ar mutável-água cardeal começou no dia 30 de Maio, uma segunda-feira, dia da Lua. Aprendi que se estamos sob o céu escuro da Nova, estamos num momento de plantar sementes daquilo que desejamos que cresça. 
E é assim. A cada novilúnio mais uma oportunidade de aprender com o ciclo lunar. 
Na Lunação passada escrevi aqui alguns lembretes que gostaria de ter em mente ao longo da jornada Touro-Gêmeos e entre outras coisas mencionei o aprender a comunicar. "Estou aprendendo a relatar meus aprendizados". Desde então a cada sábado de saturno eu costuro uma revisão dos conhecimentos compartilhados por artistas da Guilda ao longo da semana através do nosso canal de transmissão audiovirtual, a Rádio Café Antonina, no programa diário Fios do Imediato¹ (se você ainda não conhece a rádio, recomendo essa leitura aqui).
Aprendi com minha guia, Amanda, que Saturno é o "Tempo contado pra frente", um dia de cada vez, sem atalhos, impossível de contornar. E a cada dia que passa essa impressão vai ficando um pouquinho mais marcada em mim. Entendo nesse agora que o cotidiano como padrão de ações vazias pautadas pelo Sistema não existe, outra chave-lembrete constante de Amanda. Existe sim o dia vivido, celebrado e contado um após o outro, um conectado ao outro, alimentando o meu período de existência no fluxo eterno da vida. E acredito que esse está sendo um grande aprendizado de todo sábado em que me proponho a puxar o fio dos últimos sete dias, lembrar do que fiz, o que disse, o que ouvi, momentos que me marcaram, humores, rastros.
E agora avanço mais um pouco ao compartilhar por escrito aqui no Farol o que se desprendeu de mim através das ações e pensamentos da Guilda a cada semana, levando adiante aquele lembrete lá da lua nova passada. Aprender a relatar o que aprendi.
***
Junho começou. Aquele mês que representa um grande ponto de checagem de onde estamos agora, o "meio do ano", carrega também egrégoras muito antigas que podem enriquecer no mínimo com ideias interessantes, os nossos dias. No Fios do Imediato da última segunda-feira, ainda no finalzinho de Maio, a Sereia Mística nos contou sobre algumas dessas egrégoras que mostram Junho como o mês dos portais internos. Aqui no Hemisfério Sul, nesse mês as noites chegam cada vez mais cedo até o auge do Solstício de Inverno, quando acontece a noite mais longa do ano.
E essa semana foi de fato dedicada a preparação para a chegada da estação mais fria e escura aqui na Casa Anansi. Podemos observar a mudança no caminho do sol, como lembrou o Contramestre no Fios que apresentou na terça-feira, e a partir daí nos mover, neófitos que somos. No último Diálogo Vertiginoso² sobre Bruxaria, realizado pela Guilda Anansi uma vez a cada lunação, Amanda voltou a falar do inverno e da Roda do Ano como um todo a partir da história de Perséfone. E aqui vale outro lembrete da Grã da Mariposa: deusas e deuses são criações humanas. É sobre o ser humano lendo o mundo. Hellen, a regida por Mercúrio até alertou: vertigem é a "sensação de movimento ao acessar conhecimentos novos" e depois ainda disse mais "o Diálogo Vertiginoso é um mergulho profundo e súbito". Mesmo assim, ali enquanto ouvia a Bruxa Mariposa destrinchar passo a passo a descida de Perséfone até o lugar onde se tornaria Rainha ao acender o Sol de dentro, fui surpreendida pela vertigem. Desejei o mergulho ao absorver os ensinamentos de Perséfone, a vi no espelho, na pergunta constante, "Sou eu?". Mas não é só sobre mergulhar, Amanda lembrou, é importante mergulhar sabendo que vai buscar. E aqui eu aproveito para reforçar perguntas que ela nos lançou para nortear a descida:
E se há um viés sombrio, acolher, repelir ou dançar?
Alimentar vendavais ou combater tempestades?
Ser silêncio ou aprender a correr?
Deve-se amar todas as estações?
Aprender a fiar é um plano?
E isso ainda é só um recorte de todas as portas que se acenderam pra mim a partir desse momento.
***
Somos uma guilda de artistas que têm o teatro como grande amálgama místico, um grande trançado de linguagens. Vivemos em constante busca de compreensão sobre onde estamos agora e Arthur reverberou essa busca na quinta-feira quando compartilhou em seu Fios o trabalho de Julieta Grispan, artista argentina e uma das criadoras da revista Teatro Situado, projeto iniciado em 2020 com o desejo de compreender o estado do teatro da américa latina antes e durante a pandemia. Entre os objetivos apontados por Julieta com a criação da revista um chamou a minha atenção, a vontade de "confirmar coincidências" entre diferentes agrupamentos de teatro que se movem na contemporaneidade. Senti que ouvir Arthur partilhar esse achado já era uma confirmação de coincidência. Encontrar outros artistas que desejam falar das urgências do agora é sempre bálsamo e motivação para seguir.
Para além do Fios do Imediato, alguns programas acontecem uma vez a cada Lunação. Um deles foi transmitido na mesma quinta-feira. O Céu Mundano, apresentado por Amanda e Arthur, é dedicado a abordar a astrologia como leitura do céu a partir da episteme da Bruxaria Mariposa. O tema da vez foi Vênus e suas audácias: girar ao contrário em relação a todos os outros planetas do sistema solar, ser duas estrelas, reunir em si a egrégora das deusas nascedouro que se espalharam pelo mundo com tantas faces, tantos nomes. Muito além do "planeta do amor" que costumam dizer por aí, a Vênus no mapa é uma coordenada com a qual podemos aprender sobre os pactos que firmamos, os interesses de conexão, a afetividade e suas interseções, aprender sobre política e articulação da linguagem.
E na sexta-feira dia de Vênus, Larissa, a feiticeira venusiana da Anansi, compartilhou um recorte do que se desprendeu dela a partir do Diálogo Vertiginoso sobre Perséfone. Repito aqui a pergunta que ela escolheu para reverberar: "se sabe o que veio buscar, qual foi a jóia que coletou?". A descoberta da relação entre busca e caminho citada por Larissa me lembrou uma vez mais Inteireza, canção também de tantas faces, escrita por Amanda e lançada ao mundo pelo Gramofone Giralua: "rumar interessa mais do que o prêmio". Mais um sopro pra frente.
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Se ponho tudo o que ouvi nos últimos sete dias na palma da minha mão, me vejo cheia de perguntas para queimar. Olho com cuidado para as sementes que quero aquecer. Nesse domingo, vejo só um sorriso fino de luz da côncava crescente e lembro que se trata apenas do início.
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Na foto que ilustra esse escrito, a ideia que brotou da visão de Perséfone e que acompanha os Fios do Imediato que puxarei ao longo da Lunação Gêmeos-Câncer deste ano que aos pouquinhos vai virando. Lembrete do desejo de acender o Sol de dentro.
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¹ Fios do Imediato é o programa diário da RCA, apresentado cada dia por um artista da Guilda Anansi. ² Diálogos Vertiginosos é uma série de partilhas presenciais sobre linguagens artísticas contemporâneas realizada pela Guilda Anansi com mediação da pesquisadora Amanda Maia. Os diálogos acontecem esteados na episteme de resistência animista salvaguardada pela Tradição de Bruxaria Mariposa, valendo-se de amálgamas entre arte e hierofania descobertos nas fronteiras demiúrgicas e alicerçados na causa da liberdade das mulheres.
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lobamariane · 2 years
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Notas sobre Burnout: Corpos adaptados
Relato de uma investigação em andamento
Em 2020 começamos a estudar sobre corpo. Era interessante e curioso tratar desse assunto justamente no momento em que a grande urgência do mundo era a de manter a máxima distância entre os corpos, única forma viável de conter ou ao menos desacelerar o avanço do vírus responsabilizado por tantas mudanças em nossa sociedade.
Corpo é lugar. Abriga o vírus assim como abriga pensamentos. É comunicação transmitindo doenças e ideias. É festa de hormônios, emoções, conexões e é através dele que assimilamos todo e qualquer aprendizado. O que Descartes tinha na cabeça - e no corpo todo - quando resolveu dizer que devíamos separar corpo e mente?
Essa fragmentação dicotômica absorvida por nós ao longo de gerações é a raiz de inúmeros acordos feitos muito, muito antes da gente nascer. Nascer com um pênis ou com uma vagina, por exemplo, é informação suficiente para que decidam intelectualmente por você boa parte da sua trajetória de vida, isso se não defini-la por completo. Quanto do que me acontece, acontece "só" porque sou uma mulher? Quanto do que fazemos, quanto do nosso comportamento vem do que nos foi ensinado por um discurso sem rosto sobre o que é ser mulher?
Ao "ser" (ou me tornar) mulher nesse mundo me percebo na obrigação de corresponder a uma série de expectativas, refinadas e adaptadas com o avançar dos séculos. Batom vermelho já foi considerado algo vulgar e impróprio para mulheres ditas de respeito, assim como já foi sinal de ousadia e afirmação de empoderamento (e enquanto isso o Mercado continua lucrando vendendo batons).  Ambos os significados correspondentes ao batom vermelho são na realidade condicionantes do corpo da mulher: ou você é vagabunda, ou você é rebelde, ou você é fashion, ou você é {insira aqui o novo padrão criado para encaixotar mulheres que usam batom vermelho}. A mídia também tem um papel fundamental no processo de combustão de um corpo: cada manchete sobre feminicídio, cada celebridade queimada publicamente, cada história de "sucesso" pautada na entrega de toda a sua magia e energia vital em troca de dinheiro é um tijolo na construção do espaço de terror em que nossos corpos são inseridos.
Com o afastamento incentivado em combate a pandemia, vê-se novas formas adaptadas para manter o controle. Uma onda de autoexposição foi estimulada nas redes sociais, em especial a rede dos quadradinhos, seja para exibir uma felicidade fabricada, seja para reclamar do cansaço por "precisar estar sempre conectado" e se não é possível levar os corpos até os escritórios, inventam-se formas de trabalhar em qualquer lugar, seja na praia, na beira de um penhasco ou no próprio quarto,basta ter um smartphone e conexão de internet. Se por um lado as fogueiras contemporâneas atuam criando um espaço de terror, por outro são capazes de gerar desejos ilusórios para que caminhemos até a fogueira por "livre e espontânea vontade".
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lobamariane · 2 years
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para que serve um museu?
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revérbero • reflexão • 24.05.2022 • terça de marte • minguante em áries • lunação touro-gêmeos
Para que serve um museu Se não para reverberar em costuras o que se desprende da história humana? Se não para ser olho-espelho multicolorido que absorve e também irradia? Se não para ser abrigo das criações mágicas que atravessam os tempos? Se não para ser o ar que puxa a pergunta "onde estamos agora?"
Se a arte - que é a musa - é política E o museu não Para que serve um museu?
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revérbero reflexão a partir da escuta do Fios do Imediato com Arthur Marcus, na Rádio Café Antonina, sobre o veto do MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) à inserção de fotos do MST na exposição Histórias Brasileiras, fato que acarretou o pedido de demissão em protesto de uma das curadoras da exposição, a professora e pesquisadora Sandra Benites. Fotografia de Izabella Valverde.
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lobamariane · 2 years
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lembretes de lua nova
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relato • bordo • 30.04.2022 • sábado de saturno • novilúnio em touro • lunação touro-gêmeos 
Estou aprendendo sobre lucidez. Aqui estou eu, aí está você. Estou aprendendo sobre como aprender, como me colocar em estado de aprendizado, como ser aprendiz. Três faces do mesmo rolê: crescimento. Essa semana Amanda relatou o processo e as reverberações advindas da necessidade de limpar um brinco que estava há muito tempo guardado e que ela desejava usar novamente. Desse relato e revérberos aprendi que crescimento não necessariamente quer dizer aumentar de tamanho, especialmente se você é um neofito. Desejo crescer ou ser grande? Desejo crescer.
Estou aprendendo sobre o espaço que ocupo no mundo, os limites, os tipos de terreno, as vias, as encruzas, as ruas sem saída, os lixões e os jardins, as bibliotecas, o sol, a lua, o centro de controle, as asas, o altar. Está tudo dentro. Está tudo fora? É esse o "corpo-cidade"?
Estou aprendendo a escrever com propósito. Estou aprendendo a relatar os meus aprendizados. Estou aprendendo a comunicar. 
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