Tumgik
livrocomspoiler · 4 years
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Matadouro-Cinco
De Kurt Vonnegut
Matadouro-cinco, romance de ficção científica do escritor Kurt Vonnegut, apresenta uma história comovente e agoniante sobre a Segunda Guerra Mundial narrada por um ex-soldado que vai do passado para o futuro em poucos instantes contando sua experiência durante e pós seu recrutamento. O narrador e personagem principal Billy Pilgrim conta sua história de forma muito pessoal sobre como foi seu alistamento na guerra, como foram seus dias como soldado, seus dias como ex-soldado e também seu sequestro por extraterrestres, e tudo não só em uma forma de narração de um passado remoto, mas sim com acontecimentos presentes graças à capacidade não explicada de Billy conseguir viajar no tempo.
Escrito por um autor famoso por seus romances – como Café da Manhã dos Campeões e Cama de Gato – escreveu Matadouro-cinco em 1969 buscando retratar sua experiência como um norte-americano ex-soldado da Segunda Guerra Mundial em um livro com muito humor ácido e opiniões pessoais sobre as catástrofes da guerra não somente em morte física como o deterioramento mental do mundo.
Comprei esse livro em uma promoção da Amazon e de verdade só comprei porque vi que era ficção científica e a capa é bonita (kkkkkkkkdesculpakkkk). Porém não me arrependo de forma alguma, por ser um dos livros mais tocantes, de difícil leitura (por conta de alguns detalhes sobre a guerra) e de tanta empatia que nunca tive por ex-soldados e agora tive. Nunca fui uma grande amante por qualquer conteúdo norte-americano sobre guerra, porque sempre achei que eles romantizam e glamorizam um momento histórico horrível, os colocando como heróis do mundo e principalmente como o alistamento é algo nobre que os civis fazem por sua nação. Mas quando li Matadouro-cinco não me arrependi pelo fato de na verdade criticarem essa forma absurda de glamourização da guerra, principalmente nos filmes e livros.
Durante todo o livro, é relatado todas as coisas horríveis que a guerra proporciona não só com os civis e países afetados, como também pelos soldados alistados que em muitas vezes ficam em situações precárias, muito são mortos e outros muitos feitos de prisioneiros de guerra e nunca conseguem sair da guerra do mesmo jeito que entrou. O personagem principal Billy narra alguns acontecimentos que ele teve de presenciar na guerra como a morte de seus companheiros, ser sequestrado e ser prisioneiro de guerra em um local precário e cheio soldados de outros países com mentes perturbadas e por isso piorando a situação em que encontrava. Fora isso a própria guerra é aterrorizante, as mortes são relatadas com muita naturalidade e de forma apática, isso porque na guerra as mortes abundantes proporcionaram antipatia nas pessoas, em que a morte de uma pessoas é normal e acontece (quando cenas como esse são retratadas no livro o narrador sempre se expressa com a frase “É assim mesmo”).
Existe duas partes do texto que mostram de forma muito objetiva e triste de como uma guerra funciona. A primeira veio de uma conversa do Billy e os extraterrestres (que se chamam tralfamadorianos), e esses falam sobre o futuro da terra.
— Nós sabemos como o universo termina – respondeu o guia – E a Terra não tem nada a ver com isso, exceto pelo fato de ela também ser varrida do mapa.
— Como… como o universo termina? - perguntou Billy.
— Nós explodimos o universo fazendo experiências com novos combustíveis para discos voadores. Um piloto de testes tralfamodoriano aperta um botão de ignição, e o universo inteiro desaparece.
É assim mesmo.
Essa cena diz muito bem como e porquê acontecem as guerras. É um interesse individual sobre vida de pessoas que não tem nada a ver com isso, e quem se fode é prejudicado são milhares de pessoas que morrem e sofrem as consequências de uma guerra que nunca quis. Outra parte é sobre um escritor de ficção científica que Billy gosta muito: Kilgore Trout (que se não me engano aparece também no outro trabalho de Vonnegut Café da Manhã dos Campeões).
Trout, a propósito, tinha escrito um livro sobre uma árvore que dava dinheiro. Brotavam notas de vinte dólares em vez de folhas. Suas flores era apólices do governo. As frutas eram diamantes. A árvore atraiu seres humanos, que mataram uns aos outros em volta de suas raízes e se tornaram um abudo excelente.
É assim mesmo.
Acho esse trecho tão perfeito e bem escrito que não quero nem comentar nada para não estragar esse sentimento.
O texto é feito de forma muito segmentada e muitas vezes não entendemos como a cronologia funciona e onde estamos na história do protagonista, mas sinto que isso o torna ainda mais especial pra presenciarmos essa forma diferente que o Billy viaja no tempo. Pelo que vemos no livro, Billy é incapaz de controlar as viagens do tempo, viajando às vezes pro passado, às vezes para o futuro. Com essa informação gostaria de abrir uma discussão: esse livro é ficção científica? Sabemos que um livro não deve ser classificado somente em um tipo, sendo assim Matadouro-cinco é além de ficção científica é também ficção histórica, sátira e metaficção. Porém não concordo muito em ser ficção científica. Quando li os primeiros capítulos de Matadouro-cinco fiquei assustada por não ter achado esse livro ficção científica (sendo que tinha comprado por issokkkk), isso porque senti muito mais que o personagem era um ex-soldado extremamente perturbado com as experiências que teve na Segunda Guerra Mundial e acabou enlouquecendo. Não achei que todas as viagens do tempo são fatores decisivos de ser classificado como ficção científica, porque nunca foi explicado como ele viajava, ele simplesmente viajava, e explicar como (mesmo de um jeito não tão científico) é muito importante em uma ficção científica de viagem no tempo (como acontece em Máquina do Tempo de H.G Wells e Doctor Who).
Outro ponto que acho que faz com que ele pareça ficção científica e eu interpretei de outra forma foi o Billy ser sequestrado por extraterrestres. Essa parte eu sinto que é tão irreal e que todas as coisas que acontecem enquanto ele está com os extraterrestres tão irreal que sinto que essa parte nunca aconteceu. Eu acho que Billy está perturbado mentalmente e acaba tendo esses delírios que foi sequestrado por extraterrestres. Eu senti que a presença do Billy Pilgrim na Segunda Guerra Mundial (e outros acontecimentos horríveis na vida desse cara) o deixou extremamente perturbado emocionalmente e mentalmente, e na época não havia cuidado algum com as vítimas das guerras, e por isso muita das coisas que ele sentia não eram de fato verdades: entre elas a viagem no tempo e a visita dos tralfamadorianos.
Gostaria de saber a opinião sobre o livro ser ou não ficção científica hehe
Esse livro é muito delicado, seco e triste, Vonnegut fez um ótimo trabalho com uma bela escolha de formato de texto para retratar a mesma coisa que ele passou na guerra. Recomendo-o caso queira ler alguma coisa ficcional sobre guerra e que não exista heroísmos em uma história tão desagradável e infeliz
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livrocomspoiler · 4 years
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Hibisco Roxo
De Chimamanda Ngozi Adichie
Hibisco Roxo, primeiro romance publicado pela escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, conta a história dos aspectos sociais, políticos e religiosos da Nigéria atual, de forma narrativa e pessoal por uma adolescente chamada Kambili e sua família. Mostra os problemas da imposição da religião cristã na Nigéria pós-colonial, no final dos anos 80 e início dos anos 90, e em como tal imposição afeta as tradições culturais antes da colonização da Inglaterra e como afeta também as relações familiares. A história pessoal e intrigante da personagem principal passa durante um momento histórico muito delicado na Nigéria, onde há diversas guerras civis e tomadas de poder por militares.
Ganhei esse livro de presente de aniversário (obrigada Cabral) e o devorei em 1 semana, pois além de ser de leitura fácil e acessível, apresenta uma história linda e difícil com uma cultura diferente do que eu já havia lido. Confesso que li poucos livros de autores pretos (e me arrependo profundamente, além de reverter essa situação) e a Chimamanda além de ser uma mulher preta extremamente inteligente e formidável, ela quebra a barreira norte-americana e britânica de literatura escrita em inglês, por ter nascido e estudado por alguns anos na Nigéria e contar sobre a Nigéria.
Quando comecei a ler o livro eu não fazia a menor ideia do que se tratava, não tinha lido nenhuma resenha e nem a sinopse, só conhecia a autora por outros livros e por recomendação também. E não me arrependi de ter começado assim. Às vezes é bom pegarmos um livro extremamente estranho que você só foi recomendada ou presenteada e lê-lo, sem ver sinopse ou resenha, é uma aventura totalmente diferente em que você, além de nunca ter o lido o livro antes então literalmente não sabe o que vai acontecer, você não sabe nem quem são aqueles personagens ou o que eles estão ou vão fazer. É algo extremamente surpreendente e encantador.
Acredito que todos os personagens do livro são muito bem construídos, indo da personagem principal até os personagens que não aparece nem mais de duas vezes no livro inteiro. De todos os personagens, a que mais me encantou foi a prima de Kambili, Amaka. Ela é uma adolescente da mesma faixa etária de Kambili, mas muito diferente da mesma. Kambili é uma menina muito reservada, tímida e muito cristã tradicionalista (isso tudo por conta do pai, que vou explicar mais na frente), já Amaka é muito moderna – tanto nos pensamento quanto na estética – e vez ou outra zomba de Kambili por conta de seu tradicionalismo, mas mesmo assim amando a prima e a protegendo. O fato de eu gostar de Amaka não é só porquê ela é moderna, e sim porquê eu acho a construção dela como personagem a mais completa.
No início do livro, Amaka não se sente muito feliz por ter Kambili por perto e por ela ser sua prima, isso porque sente raiva de Kambili não ter opinião própria e não saber nada sobre o mundo, achando que isso ela faz de propósito – ou porque ela é burra ingênua ou porque faz isso pra irritá-la – mas depois de conhecer Kambili e como a sua família funciona, começa a ter cada vez mais empatia pela menina e começa a gostar e fazer amizade com sua prima. Vendo assim parece que Amaka é uma menina que não dá oportunidade as pessoas de primeira vista e começa a julgar todo mundo que não é igual a ela, mas na verdade é que Kambili não sabe e não tem opinião sobre nada mesmo, e quando tem nunca se expressa sobre isso, o que começa a irritar Amaka porque ela tendo a mesma idade, sendo de família muito mais pobre que Kambili e achar que elas têm a mesma criação parental, e mesmo assim Kambili ser tão diferente e pensar de forma tão tradicional a faz ficar irritada com a futura geração de jovens que a Nigéria vai ter.
A personalidade da Kambili é moldada no início pelo pai. Ele é um cara extremamente cristão e tradicionalista, e leva a religião branca de forma muito séria e repudia qualquer coisa da cultura pagã, inclusive o seu pai. Kambili vê seu pai de forma muito amorosa e querida, mas, ao mesmo tempo, tem por ele medo por ser muito ríspido e agressivo, então o fato de ser reservada, tímida e não expressar suas opiniões é porque em sua própria casa, opiniões diferentes da do seu pai não são aceitas.
A religião cristã entrou na Nigéria durante a colonização da Inglaterra e foi impregnada como a única salvação para a nação e o povo, mas não só a religião é tratada dessa forma, mas também a própria língua inglesa. Tendo a sua própria língua na Nigéria, a inserção da língua inglesa foi importantíssima pra afirmação do controle inglês no país. Durante o livro, Eugene, pai de Kambili, é muito agressivo em relação a isso, não gostando que seus parentes falem outra língua que não seja a inglesa, justificando-se com a informação de que a língua inglesa engrandece o povo e é a língua de Deus.
Apesar da família de Kambili ser rica, a situação dos nigerianos é diferente, até mesmo sua tia e seus primos passam por dificuldades que ela nunca teve que passar. Isso tudo por conta de todas as coisas que a Nigéria naquela época estava passando, sendo narrado muito sutilmente – porém de forma espetacular – crises políticas e econômicas, golpes e pobreza nas cidades da Nigéria. Conforme o romance flui, ele conta sobre diversos problemas que os nigerianos são forçados a enfrentar, como a censura dos jornais, morte por rebeldia, corte na universidade e vários cidadãos fugindo de seu país buscando qualquer coisa melhor no exterior. É muito interessante a leitura dessas partes do livro porque nos lembra o que o Brasil já passou a não muito tempo.
A tia de Kambili, Ifeoma, é uma professora universitária que por não receber a muito tempo seu salário e ser censurada muitas vezes em seu trabalho é levada a fugir do país para os Estados Unidos, com diversas incertezas do futuro, por não conter nada em sua conta bancária e por saber que muitos dos imigrantes que possuem diploma fazem trabalhos que conseguiriam com ensino básico.
O maravilhoso livro de Chimamanda Achiche, Hibisco Roxo, abordam diversos acontecimentos políticos em um olhar de uma adolescente tímida e ingênua, fazendo isso de forma extraordinária e leve. Recomendaria esse livro para todos que gostariam de saber um pouco mais sobre literatura contada sobre uma nigeriana sobre a Nigéria e todos aqueles que querem um livro ótimo para se ler em uma sentada deliciando de cada página e cada palavra que esse romance político nos oferece.
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livrocomspoiler · 4 years
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Vidas Pretas Importam
Como uma mulher preta já está nítido o meu posicionamento diante ao Black Lifes Matter (Vidas Pretas Importam), mas prefiro comentar aqui para conscientizar outras pessoas, principalmente aquelas não-pretas, sobre a importância desse posicionamento político e social.
Pessoas morrem no mundo inteiro, mas é inevitável perceber que existem certos grupos assassinados por conta da sua cor e sua etnia. É claro que todas as vidas importam, mas uma vida está sendo morta diariamente por causa de sua existência. E esse assunto não só para com vidas pretas, mas com vidas de povos indígenas também.
Por isso é imensamente importante demonstrar apoio a esse movimento, que quer alertar e protestar para o mundo como é visto pelo Estado, pela polícia e pela população como é tratado as vidas pretas.
Mas o que fazer além de usar a hashtag e postar foto de como você se sente sobre isso? Apoiar o trabalho de pessoas pretas! Por isso separei diversos conteúdos de pessoas pretas que eu já li, ouvi ou vi para você dar uma conferida e dar seu apoio. E vou ser honesta aqui: deveria ler, ouvir e ver mais conteúdo preto.
(Queria ficar somente nos livros, mas vejo que existem outros tipos de arte que devem ser vistas também.)
ESCRITORES:
1. Roxanne Gay: tive o prazer de ler o livro da escritora norte-americana “Fome – Uma Autobiografia do (Meu) Corpo” e que foi uma das melhores leituras que fiz.
2. Machado de Assis: sim, Machado de Assis é um escritor preto (tem que se falar mais disso nas escolas). Simplesmente um clássico brasileiro e um dos melhores e maiores escritores mundiais, me fez sofrer muito com “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, seja pelo seu vocabulário extenso ou seu jeito apaixonante de escrita.
3. Chimamanda Ngozi Adichie: uma escritora nigeriana fantástica que me fez ficar apaixonada profundamente pela sua história e escrita em livros como “Hibisco Roxo” e “Sejamos Todos Feministas”.
4. Angie Thomas: uma escritora preta norte-americana, que escrever um livro intenso e verdadeiro como “O Ódio Que Você Semeia” e que te faz entender como funciona o racismo estrutural e a violência policial em jovens pretos em uma história narrativa muito bem escrita.
CANTORES:
1. Elza Soares: vou começar com a cantora que eu mais amo nesse mundo inteiro, que compõem músicas incríveis e profundas que te faz apaixonar cada vez mais por ela. 
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2. Jxxiii: ela é uma rapper não muito conhecida, mas que tem tanta música incrível que vale muito a pena escutar e começar a apoiar.
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3. Umi: atualmente, acho a Umi a melhor cantora de música alternativa e que tem um estilo próprio e lindo.
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4. Willow: a cantora que com apenas 15 anos começou a carreira musical incrível e me fez questionar porquê não estar tão presente na mídia quanto ela merecia, você precisa ouvir as músicas de uma menina tão nova e tão excepcional.
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YOUTUBERS
1. Nátaly Neri: ela é uma youtuber fantástica que fala sobre a causa preta (inclusive projetos incríveis), aromaterapia, veganismo e conversas sobre beleza e saúde mental. Canal: https://www.youtube.com/channel/UCjivwB8MrrGCMlIuoSdkrQg/featured
2. Tássio Santos: criador do canal Herdeira da Beleza, Tássio é maquiador e jornalista que dá sugestões de produtos bons – principalmente para a pele preta – e que faz um trabalho maravilhoso e honesto sobre a beleza. Canal: https://www.youtube.com/channel/UCB-oEpDm0Ab8wl6ZGBd0XpA
3. Guto: não sei se vocês sabem, mas eu gosto bastante (muito mesmo) de anime e mangá, e quis recomenda um conteúdo desse jeito para vocês que eu amo e admiro bastante. Guto é o criador do canal Cronosfera que fala sobre anime, mangá e cultura japonesa de forma muito engraçada e com ótimas recomendações. Para o mundo otaku, acredito que o Guto seja um dos únicos que faça um conteúdo bom!! Canal: https://www.youtube.com/user/CronosferaTV
4. Odileia Sena: uma recomendação de um booktuber agora!! Dona do canal Leyabooks, Odileia é uma youtuber de livros em que ela faz recomendação de livros e vlog de leitura. Canal: https://www.youtube.com/channel/UCU54DGoZ4fdLzfsKlz_3HQA/videos
Vou recomendar também um perfil na rede social Twitter que fala mais sobre recomendações de livros escritos por pretos: https://twitter.com/afroliteraria
É extremamente importante apoiar artistas pretos e também comprar do trabalho deles na causa antirracista, mas também é importante assinar as petições e fazer doações para essa causa não acabar.
Carrd com todas as informações reunidas:https://vidasnegrasimportam.carrd.co/
Criadora: https://www.instagram.com/limanayu/
Não basta não ser racista, tem que ser antirracista.
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livrocomspoiler · 4 years
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Quarentena e Livros
Não estamos passando por um momento fácil, e nesses momentos precisamos nos apoiar no que mais nos dão apoio e segurança, podendo ser família, amigos, interesses amorosos, filmes, séries ou livros. Peço que fiquem em casa, se cuidem, cuidem da sua saúde – física e mental- e da saúde de quem estiver com você. Seria mentira dizer que tudo está bem pra mim e que tudo parece estar às mil maravilhas, sendo que não é esse o cenário, mas decidi não deixar tudo isso me abalar e procurar ajuda no que mais me conforta, além de dar tempo para mim mesma, porque todos nós estamos vivendo uma pandemia, então não é necessário estar produtivo 24 horas por dia (a não ser que você trabalhe ou estude, e mesmo assim pegue leve consigo).
Me desafiei a ler um livro por semana por um mês (queria estender, porém estou em ressaca literária), e queria contar como foi a experiência, o que li e como me organizei.
Apesar de não ser muito desafiador para muitos leitores quatro livros por mês, pois existem aqueles que leem mais de 10, para mim que estou tentando voltar a rotina literária que tinha quando criança/adolescente, é difícil até mesmo ler um livro por mês. Desta forma, foi realmente um desafio que me submeti e eu tive algumas “regrinhas” para conseguir finalizar: escolhi livros que tem menos de 300 páginas, livros que eu já tinha interesse em ler e livros em que eu tinha o formato físico na minha casa. Não farei textos enormes sobre os livros porque pretendo fazer um post de cada um depois, então vou dizer mais sobre a experiência de ler esses livros do que de fato sobre eles. E vamos falar sobre os livros!
1ª semana – Hibisco Roxo de Chimamanda Ngozi Adichie
Esse foi um livro que ganhei de aniversário e fiquei bem animada de lê-lo porque já conhecia a autora e sempre tive boas recomendações nesse livro. Não cheguei a lê-lo logo quando a quarentena começou, porém no final da semana (em uma quinta-feira) na minha cidade já estava decretado isolamento social e a minha universidade tinha cancelado às aulas. Foi um livro muito bom de ter lido nesse isolamento por ser um livro tranquilo, de leitura fácil e incrivelmente bem contado, em que todas as personagens são cativantes de um jeito especial.
2ª semana – Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago
Não foi uma boa ideia ter lido um livro sobre uma doença contagiosa enigmática no meio de uma pandemia de uma doença contagiosa enigmática (essa menos enigmática). Porém li kk. Eu já tinha lido a primeira parte do livro faz um tempo, mas as cenas estavam tão difíceis e problemáticas que não consegui terminar na época (por isso foi o único livro de mais de 300 páginas) e peguei para terminar nessa quarentena. É um livro extremamente difícil, até em outros períodos, então imagine nesse, porém é um livro muito bem escrito, clássico literário e que eu acho que todos que queiram uma leitura mais tensa leiam, só não recomendo que seja agora.
3ª semana – Capitães de Areia de Jorge Amado
Esse foi o livro mais espetacular que eu tive o prazer de ler. É uma leitura fantástica que me prendeu do início ao fim e me fez amar cada vez mais Jorge Amado. Conta histórias que apesar de difíceis também apresenta a leveza da vida no nordeste e que foi o único livro – até agora – que me fez chorar (2 vezeskkkkk), mas que também me fez tão feliz e encantada com a história. Recomendo MUITO.
4ª semana – Laranja Mecânica de Anthony Burgess
Eu tinha esse livro desde 2017 e nunca conseguia começar na época esse livro então peguei para terminar com o sofrimento de nunca ter lido esse livro nesse isolamento. Eu sou muito apaixonada pelo filme e agora sou ainda mais apaixonada pela história, que apesar de meio estranha e às vezes nojenta e agoniante, no livro as cenas são mais leves e quase suportáveis, que se você estiver procurando uma leitura incrível (ou horrorshow, como Alex diria) de ficção científica distópica, eu recomendo muito esse livro.
E foi assim que terminei o meu desafio de leitura :)
Todos os livros foram meio que escolhidos no acaso e que me ajudaram a passar o tempo nesse isolamento social. Espero que vocês estejam bem e possam procurar conforto dentro de um livro, mas também não se force a ler só para tentar ser produtiva, leia só pelo prazer, principalmente em épocas como essas.
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livrocomspoiler · 4 years
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Gabriela, Cravo e Canela
De Jorge Amado
O escritor modernista, Jorge Amado, escreveu “Gabriela, Cravo e Canela” em 1958 na cidade do Rio de Janeiro (apesar de a obra se passar na Bahia). A história conta sobre Gabriela, uma nordestina retirante que trabalha de cozinheira, e Nacib, descendente de árabes que contrata Gabriela para ser a provedora na cozinha de seu bar. E assim se desenvolve histórias de amor, traição, política e questões sociais, raciais e de gênero.
Eu comecei esse livro passando férias na mesma cidade na qual ele é narrado, Ilhéus – Bahia e foi a melhor experiência que eu já pude receber, pois ler um livro e passear nos lugares na qual ele ocorreu, ter certo na sua mente os personagens andando nas ruas que você andou e até mesmo comer onde o bar do Nacib ficava, ver a igreja em que as irmãs Dos Reis passavam a maior parte do tempo e logo a frente o cais que Mundinho Falcão construiu. É uma experiência formidável que eu tive o prazer de ter.
E esse talvez foi um dos motivos primordiais por esse livro ser um meu favorito entre todos que já li, mas não somente disso vive uma leitora, o livro em si também é extremamente bem contado e com um enredo formidável que faz qualquer um se prender na história de Gabriela e Nacib.
Quando comecei a ler eu fiquei muito ansiosa pela aparição da Gabriela (que só aparece no final da primeira parte do livro), mas quando ela apareceu eu fiquei encantada com a personagem. Em poucas páginas já dava para entender que Gabriela era uma mulher independente e forte, que aguentou muita coisa na vida mas mesmo assim conserva um sorriso no rosto e alegra todas as pessoas na sua volta.
O livro é dividido em duas partes e quatro capítulos (não se preocupem que cada capítulo também tem a suas divisões) e em cada capítulo tem um poema em dedicação a alguma história que o texto contará, assim quebrando um pouco a leitura em prosa e tendo textos ritmizados e musicais no meio da obra. Esse foi o poema que eu mais gostei na obra:
Cantiga para ninar Malvina
Dorme, menina dormida teu lindo sonho a sonhar.
No teu leito adormecida partirás a navegar.
Estou presa em meu jardim com flores acorrentada.
Acudam! vão me afogar.
Acudam! vão me matar.
Acudam! vão me casar numa casa me enterrar
na cozinha a cozinhar na arrumação a arrumar
no piano a dedilhar na missa a me confessar.
Acudam! vão me casar na cama me engravidar.
No teu leito adormecida partirás a navegar.
Meu marido, meu senhor na minha vida a mandar.
A mandar na minha roupa no meu perfume a mandar.
A mandar no meu desejo no meu dormir a mandar.
A mandar nesse meu corpo nessa minh´alma a mandar.
Direito meu a chorar.
Direito dele a matar.
No teu leito adormecida partirás a navegar.
Acudam! me levem embora quero marido pra amar não quero pra respeitar.
Quem seja ele – que importa? moço pobre ou moço rico bonito, feio, mulato me leve
embora daqui.
Escrava não quero ser.
Acudam! me levem embora.
No teu leito adormecida partirás a navegar.
A navegar partirei acompanhada ou sozinha.
Abençoada ou maldita a navegar partirei.
Partirei pra me casar a navegar partirei.
Partirei pra me entregar a navegar partirei.
Partirei pra trabalhar a navegar partirei.
Partirei pra me encontrar para jamais partirei.
Dorme, menina dormida teu lindo sonho a sonhar.
O relacionamento entre Gabriela e Nacib é muito bonito, puro e diferente do tradicional, em que eles tem algo muito mais parecido com um relacionamento aberto do que um relacionamento patriarcal que a maioria dos homens de Ilhéus – e do Brasil – tinha. E esse relacionamento chegou a esse patamar não por conta de Nacib que era um homem desconstruído, e sim por Gabriela que era uma mulher muito decidida e fez com que o Nacib amasse ela do jeito que ela conseguia dar o amor para ele. O Nacib pelo incrível que pareça ainda era um homem muito sexista, mas que com o tempo acabou aprendendo a ser uma pessoa melhor, por influência da Gabriela e também pela cidade, que estava virando uma cidade mais modernizada, por conta do aumento de produção do cacau e as maiores oportunidades de emprego por conta disso.
Se engana a pessoa que ao começar a ler o livro e acha que a Gabriela ou o Nacib são os protagonistas (essa pessoa fui eu também). A história aborda diversos outros personagens complexos, além de questões políticas e sociais na cidade de Ilhéus na Bahia. Problemas como os retirantes saindo da seca para sobreviverem, questões políticas de coronelismo, um Brasil extremamente rural, questões escravistas e diversos momentos de libertação da mulher são abordados durante o livro de Jorge Amado.
A minha personagem favorita do livro inteiro seria a Malvina. Ela era uma adolescente/jovem incrível que foi prometida a casamento com um homem chamado Josué, mas ela não se interessava por ele e muito menos por ter que “respeitá-lo” de alguma forma, então se sentia livre para fazer namorar outros rapazes. Um desses rapazes era um engenheiro de um outro lugar que foi trabalhar em Ilhéus, porém seu pai odiou a convivência dos dois e determinou que ela era proibida de namorar com aquele homem e obrigada a estudar em um convento longe de Ilhéus. Porém Malvina não aceitou tais condições e fugiu de seus pais e começou a sua vida livre de quaisquer obrigações que as mulheres daquela cidade tinham. No final foi descoberto que Malvina vivia muito bem em São Paulo, trabalhando em um escritório e estudando de noite, mas foi vista de forma bem pior pelo seus pais que já desistiram de seu “futuro”.
Existe na obra diversas mulheres incríveis e marcantes, sendo elas: Gabriela, Malvina, irmãs Dos Reis, Glória, Sinhazinha, Filomena, Dona Arminda. A força feminina no livro é gigantesca e muito gratificante de se ler, mais por conta da época em que foi escrito e também por ter um autor masculino que pôde – finalmente – construir mulheres fortes e com personalidade.
Eu recomendaria esse livro para qualquer que se interessar pela literatura brasileira, principalmente livros modernos brasileiros. É de leitura fácil e gostosa de se ler, em que apesar de terem muitas páginas, consegue-se ler rapidamente por prender o leitor em todas as palavras colocadas no texto de Jorge Amado.
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livrocomspoiler · 4 years
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Uma Breve História da Literatura
De John Sutherland
           O livro de John Sutherland é do gênero de pesquisa e não-ficção, sendo um texto para estudo de literatura (inglesa) desde o seu início até os tempos modernos. Apresenta muitas referências de livros literários que podem ser usados para anotar na sua lista de livros a se ler até morrer, e entender mais um pouco como a literatura progrediu até os tempos atuais.
           Desde o seu início explicando o que é literatura até o seu fim explicando como funciona os prêmios literários e a ascensão do e-book, Sutherland conclui seu trabalho muito bem em uma narrativa muito simples (bem mais simples que a academia) em 300 páginas.
           Agora vamos para a análise (sobre a minha opinião) mais profunda e possivelmente contendo spoilers.
           O livro de Sutherland peca com seu conteúdo. Apesar de ser um livro se uma linguagem simples que possa agradar aos iniciantes da literatura e apesar também de ser um trabalho bastante completo para poucas páginas, ele é um livro que tem um conteúdo muito diferente do título. Ao se ler “Uma Breve História da Literatura” espera-se um conteúdo não muito profundo sobre a literatura MUNDIAL, mas o livro se estringe em somente a Inglaterra, e vaga um pouco para a Grécia Antiga e Estados Unidos, e não se vê mais nenhuma menção a outras literaturas. Me entristeceu um pouco pelo fato de não ter nascido na Inglaterra e esperar pelo menos uma menção ao Brasil, e poder assim me identificar com o livro, além de ter muitas partes de grande lentidão (assumo q pulei três capítulos por isso, MAS EU NÃO CONSEGUI EVITAR) por conta da falta de menção de outros países, e só ter um foco absurdo na Inglaterra.
           Mas nem tudo é tragédia. Diversos capítulos do livro me encheram os olhos por conta das coisas incríveis que eu não sabia da literatura inglesa (foi meu primeiro contato teórico desta literatura) e consegui relacionar muito em alguns livros que já li ou já experienciei (como Shekespeare, Jane Austen e Virginia Woolf) e também me trouxe curiosidade a outros escritores.
           Os livros são muito bem explanados no texto, contendo alguns spoilers (perigoso se você não gostar de receber) e tendo uma explicação muito mais simples que o texto original, ajudando assim a novos leitores a se interessar em livros um pouco mais complexos e mais antigos. Um bom exemplo disso é sobre o livro “Édipo Rei” de Sófocles, em que por ser um texto mais antigo contem-se um inglês mais arcaico, e pode dificultar o interesse pela leitura direta a obra, mas a explicação do livro (presente no capítulo 4, caso aja interesse) é feita de forma tão natural e simples que deixa o leitor a ter curiosidade à obra e conseguir lê-la com uma maior facilidade.
           Existe durante o texto curiosidades marcantes que me trouxeram muito conhecimento que não tinha, entre eles há sobre a Bíblia. Escrita no capítulo 8 e sob o título de “O livro dos livros: A Bíblia do Rei Jaime”, há uma dissertação que vai explicando desde a Inglaterra em seu processo maluco de trocar a cada reino a religião oficial de seu país (e repreendendo quem não fosse da religião da vez) até indo da decisão do porquê escrever uma Bíblia, que antes era em latim, para o inglês.
           O livro além de conter explicações de escritores ingleses e processos literários diferentes, apresenta um conteúdo teórico sobre coisas que acontecem dentro da literatura sem ser diretamente sobre literatura. Alguns exemplos de como isso ocorre no livro é sobre os processos de impressão e direitos autorais, como funciona a seleção de livros que são/irão ser publicados, literatura infantil, a proibição de livros durante as décadas, literatura dentro do cinema, TV e palco, literatura étnica (meu capítulo favorito do livro hehe), entre outros tipos de conteúdo que não se fala diretamente sobre literatura.
           O livro “Uma Breve História da Literatura” eu recomendaria para aqueles que querem conhecer um pouco mais de literatura inglesa em uma linguagem mais fácil e simples, saindo um pouco dos artigos e livros acadêmicos, para aqueles que querem começar a se interessar por livros e também aqueles quer querem um livro que quebre um pouco a ressaca literária. Não espere nesse livro explicações profundas sobre literatura, até porque não é o seu objetivo, e não espere muitas referencias de livros fora da Inglaterra, porque o máximo que você vai conseguir é Estados Unidos e o início da literatura na Grécia Antiga. Se for ler, boa leitura!
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livrocomspoiler · 4 years
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Apresentação
Olá!! Bem-vindos ao meu blog de resenha de livro!! Espero que gostem do meu conteúdo, dos livros que leio e das minhas opiniões como leitora amadora. Vamos começar a falar um pouco sobre mim. Meu nome é Clara, tenho 19 anos e estou indo começar o curso de Letras Português, almejando a Universidade Federal de Brasília (UnB), – e nesse exato momento estou roendo as unhas esperando o meu nome na segunda chamada kk – sou amante de, principalmente, clássicos literários brasileiros e ficção científica. Sou também apaixonada em línguas, anime e Hello Kitty. Espero que gostem dos meus textos >.< Eu criei esse blog em um primeiro momento porque queria ter um registro físico dos livros que estou lendo, das opiniões que tive dos livros e para poder futuramente ver como eu pensava na leitura de determinados livros. Então pensei: “Por que não publicar esses textos e dividir opiniões sobre os livros que ando lendo?”. Falo isso porque a coisa que mais me faltava como leitora é compartilhar o sentimento que tenho nas leituras que faço, e ir a um clube do livro é quase impossível para mim (não acho muitos na minha cidade e a maioria é muito longe de casa). Então juntei o útil ao agradável e em vez de ter que sair de casa ou ter que anotar minhas opiniões em um caderninho individual, faço essa ideia um blog para compartilhar ideias e opiniões sobre os livros que ando lendo.
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