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journalpsi · 3 years
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Luto e Cinema
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O luto é o processo que se inicia após o rompimento de um vínculo significativo. Esse processo só acaba quando o indivíduo enlutado elabora seu luto, aceitando a perda e voltando para o mundo externo. O luto não é uma doença, é um processo natural. É normal que surjam sentimentos ou emoções ruins, essa é a resposta adequada sobre a perda de alguém importante.
O processo de luto não ocorre só em razão da perda de alguma pessoa querida, mas também em caso da perda de um bichinho de estimação, por doença, separação conjugal, demissão do trabalho, aposentadoria, envelhecimento... existem vários tipos de rompimento.
Apesar do luto ser um processo universal, cada pessoa reage de uma maneira. É importante ressaltar que cada luto é único, porque cada relação foi única. O processo de elaboração do luto acontece de forma lenta e gradual.
Em relação à duração do luto, na psicologia fala-se sobre o luto normal – o que acontece dentro de 1 ano – e o luto patológico, quando dura muito mais do que 1 ano, interferindo no estado emocional e impactando negativamente na vida do sujeito. Para o existencialismo, cada indivíduo estipula o prazo do seu luto de acordo com a forma que lida com ele.
A psicoterapia pode ajudar no processo de elaboração do luto, na medida em que cria um espaço onde o indivíduo possa expressar a sua dor e trabalha maneiras de compreender a perda e se reposicionar no mundo externo.
Filmes para refletir sobre o luto
Como eu era antes de você: luto por suicídio assistido
O luto por suicídio é difícil de ser elaborado, é mais intenso, duradouro, repleto de “por quês” e com muitos estigmas. Alguns dos questionamentos mais comuns de pessoas enlutadas por suicídio são “como eu não percebi nada?” “por que isso aconteceu?”
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Manchester a Beira Mar: luto complicado
Em alguns casos, o processo de luto não segue a evolução típica, não ocorrendo a elaboração do luto. No processo do luto complicado existe uma enorme dificuldade em compreender e lidar com a perda.
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Rei Leão: luto infantil
É importante falar com as crianças sobre a morte, uma vez que é um evento inerente à nossa existência. Precisamos prepara-las para lidar com essa situação, pois eventualmente irão perder algum ente querido ou um bichinho de estimação. A partir desse filme, as crianças tem a oportunidade de aprender sobre o ciclo da vida, composto por finais e recomeços.
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Up! Altas Aventuras:  luto infantil e aceitação
Uma outra alternativa para falar sobre morte com crianças. Esse filme mostra de maneira leve a última fase do luto, a aceitação, que é quando o indivíduo enlutado aceita a perda e continua sua vida. Além disso, também mostra que é possível continuar a vida após uma perda dolorosa.
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journalpsi · 4 years
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The Ballad of Cleopatra - As histórias não vividas (Pt. 2)
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ANGELA
Na canção “Angela” nossa protagonista já é adulta, está grávida e casada com outro homem, vivendo uma vida infeliz. Em uma noite, enquanto está deitada com o marido, fica evidente que ela não quer estar ali. Então ela decide ir embora, dirigindo pela noite.
“Quando você deixou esta cidade, com as suas janelas fechadas
E a imensidão por dentro
Deixou passarem as saídas, todo o asfalto e vidro
Até a estrada e o céu se alinharem.”
Em um dado momento, quando se dá conta de que realmente deixou aquele lugar, ela começa a se sentir feliz e livre. Cleopatra vai para um hotel passar a noite, e, quando está sentada na cama, sozinha, parece estar envolta em uma atmosfera solitária.
Diferente das outras faixas, os acontecimentos parecem estar sendo narrados por outra pessoa na letra da canção. Talvez coisas que seu namorado costumava dizer para convencê-la a deixar a cidade.
“Os estranhos nesta cidade,
Eles te exaltam para depois te diminuir.
Oh Angela, já faz muito tempo.
Oh Angela, você passou a vida toda correndo.”
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MY EYES
Cleopatra está ainda mais velha, vivendo em um lar assistido. Ela relembra os detalhes de sua vida, vemos alguns flashes do que realmente aconteceu quando ela ficar na cidade. Cleopatra sabe que vai morrer velha e sozinha, como ouvimos na faixa “Cleopatra”:
“Mas eu estava atrasada para isso,
atrasada para aquilo,
atrasada para o amor da minha vida.
E quando eu morrer sozinha,
quando eu morrer sozinha,
quando eu morrer eu vou ser pontual”.
Quando o momento chega, ela decide ir embora, a decisão que ela gostaria de ter tomado anos atrás.
Nem sempre vamos chegar onde queremos, conquistar o que planejamos ou vamos viver aquele amor que idealizamos. No entanto, cada escolha que fazemos moldam quem somos e o rumo que a vida vai tomar.
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journalpsi · 4 years
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The Ballad of Cleopatra - As histórias não vividas (Pt. 1)
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LINK DO CURTA: https://www.youtube.com/watch?v=tXsQJhoauxc
THE BALLAD OF CLEOPATRA 
O curta narra a história de Cleopatra, uma senhora que trabalha como taxista. A narrativa nos faz refletir sobre escolhas, arrependimentos e, principalmente, sobre a vida. Os clipes são apresentados fora da ordem e um aspecto importante para entender a mensagem do curta é a maneira com que os personagens realizam projeções de si mesmos nos momentos que exigem uma decisão, representando que cada escolha pode nos levar a diferentes caminhos.
A música que introduz o curta é “Ophelia”, uma música que trata sobre sucesso, expectativas e a pressão que a banda teve que lidar ao longo da carreira. É uma música pessoal, que permite que apreciem tudo o que aconteceu com eles. Vemos que a banda está se apresentando para um público pequeno e, após uma projeção, o vocalista escapa de sua vida e começa a vagar pela rua, dançando de acordo com a música. Quando a canção chega ao fim, o vocalista vai até o táxi de Cleopatra, eles iniciam uma conversa, e é assim que a jornada começa.
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CLEOPATRA
Cleopatra agora dirige um táxi, mas costumava ser atriz quando jovem. As pessoas que ela leva em seu táxi as lembram de seu passado, de sua relação com seu antigo namorado. Logo no começo da canção, Cleopatra expressa seu arrependimento por ter deixado seu amor ir embora:
“E eu deixei as pegadas,
a lama manchado o tapete
e endureceu como meu coração fez
quando você deixou a cidade.
Mas devo admitir,
que eu me casaria com você em um instante.
Maldita sua esposa, eu seria sua amante
só para ter você por perto.”
Cleopatra diz que recebeu apenas duas bênçãos de Deus: seu filho e um divórcio, mas ela sabe que suas escolhas a levaram a isso, então ela aceita as consequências. Enquanto dirige, viaja dentro de si mesma, parecendo buscar algo.
Quando o taxímetro para, vemos que ela foi de encontro a seu único filho, já adulto, que a espera no aeroporto. Eles passam o resto do dia juntos, dirigindo até o anoitecer, quando ela o leva para a casa do pai. Nesse momento, vemos a primeira projeção de Cleopatra, quando ela se questiona como teria sido se não tivesse ido embora e se divorciado. No entanto, ela volta para o carro e continua a dirigir.
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SLEEP ON THE FLOOR 
Vemos a versão mais jovem de nossa Cleopatra. Seu pai acabou de morrer, seu namorado se aproxima e sussurra em seu ouvido “se você não partir agora, pode ser que nunca mais consiga”. Em seguida, acontece uma projeção, mostrando o que teria acontecido se ela tivesse ido com ele: momentos divertidos e apaixonantes, um casamento, uma vida completa e feliz ao lado do seu amor verdadeiro. No entanto, ela decide não ir, então ele parte sozinho.
continua...
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journalpsi · 4 years
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A Garota Ideal – Relação paciente-terapeuta e agorafobia
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Atenção: esse texto pode conter spoilers!
A Garota Ideal é um filme riquíssimo para a psicologia. É uma obra muito original, que traz uma narrativa absurda a priori, mas que revela pontos interessantes sobre a mente humana. A partir dele, podemos levantar o debate sobre a não medicalização, a importância de se respeitar a realidade psíquica e trabalhar a elaboração de um delírio, o quanto somos afetados por traumas de infância e como seria uma boa relação paciente-terapeuta.
Ao analisar Lars, o protagonista, foi possível observar indícios de que ele poderia sofrer de Agorafobia. De acordo DSM-IV, “a agorafobia se refere à esquiva fóbica associada ao transtorno do pânico, na qual pacientes, por medo de apresentarem um ataque de pânico, evitam estar em locais ou situações de onde seja difícil ou embaraçoso escapar ou obter ajuda, caso sejam acometidos por um ataque de pânico”.
Na Agorafobia, o medo de situações sociais ocorre secundário ao estímulo não social. Dessa forma, é comum que pacientes também comecem a desenvolver uma esquiva a situações sociais por receio de apresentarem algum mal estar ou pelo constrangimento causado pelo mal estar.
Lars leva uma vida muito solitária e possui comportamentos tímidos, o que o impede de socializar com seus colegas de trabalho, e até mesmo com sua família. Devido a sua falta de desenvoltura social, não consegue estabelecer vínculos afetivos. A interação social é tão difícil para ele, que o toque humano lhe causa dor. Para enfrentar essa questão, Lars compra uma boneca de silicone pela internet e começa a se relacionar com ela, elaborando uma história cheia de detalhes sobre sua vida e dando-a o nome de Bianca.
Quando mergulha no delírio de que a boneca é uma mulher de verdade, passa a experimentar todos os sentimentos antes evitados, transformando-a em seu apoio emocional. Lars fica muito alegre por conhecer Bianca e passa a se arrumar e sair de casa com mais frequência. Um fato interessante é que, apesar da boneca ser fabricada com propósitos sexuais, Lars nunca a utilizou para tal.
A família ter participado do delírio e convencido a comunidade a fazer o mesmo foi um fator crucial para sua melhora, uma vez que o delírio foi o caminho que ele encontrou para elaborar suas questões pessoais. Preocupados com a sanidade de Lars, a família o leva para ver uma terapeuta. Para que ele abrace o tratamento, a terapeuta Dagmar lhe diz que Bianca estava doente e precisaria comparecer semanalmente para receber o tratamento. Enquanto isso, ela começou a trabalhar algumas questões com Lars.
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O acolhimento oferecido pela terapeuta se mostrou cuidadoso e humanizado, uma vez que o objetivo foi trabalhar as questões do paciente priorizando seu bem estar e respeitando seus limites. Ao elaborar seu delírio, Lars elaborou também seus traumas e, aos poucos, começou a criar uma conexão emocional com o mundo exterior.
Ao contrário do que o irmão queria, a profissional decidiu não entrar com medicação ou internação. Não podemos negar a eficácia e importância da medicação para o tratamento de diversos transtornos mentais, mas, neste caso em específico, trabalhar as questões psíquicas respeitando o tempo de Lars era o que precisava ser feito.  
No decorrer do tratamento, Dagmar descobre que algumas questões da infância de Lars explicavam diversas situações do presente. O fato de Lars ter dificuldade em criar vínculos emocionais e sociais pode ser relacionado ao fato de ele ter perdido a mãe quando nasceu e ter sido criado por um pai distante. A gravidez de sua cunhada, Karin, gera muita angústia, ela é uma pessoa especial e ele tem medo de que ela morra no parto, como aconteceu com sua mãe.
Em um dado momento, Lars decide que está pronto para caminhar sozinho. Com isso, se torna mais aberto para o mundo externo e se afasta aos poucos de Bianca. Numa manhã, decide que está na hora de Bianca morrer. Isso tudo ocorre naturalmente, sem que ele comunique que a escolha tenha sido dele. Nesse momento, quando deixa Bianca – e seu delírio – ter um fim, vemos que ele conseguiu trabalhar suas questões psíquicas e está mais forte para enfrentar situações antes evitadas.
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journalpsi · 4 years
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O Fabuloso Destino de Amélie Poulain - A busca por sentido
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Atenção: esse texto pode conter spoilers!
Amélie Poulain, criada por pais neuróticos, viveu uma infância solitária. Seu pai, médico, só a tocava fisicamente quando a submetia a um exame mensal. Amélie, muito emocionada por estar próxima de seu pai, apresentava acelerados batimentos cardíacos, fato que seu pai interpretou como uma doença rara. Acreditando que a filha sofria de uma doença cardíaca, o pai a proibiu de ir à escola. Sua educação ficou por conta de sua mãe, até sua morte repentina e trágica. Vivendo isolada, Amélie começa a criar estratégias para tornar a vida mais divertida e passa a encarar a realidade de uma maneira peculiarmente criativa.
O filme constrói bem a perspectiva existencial dos personagens, à medida que nos apresenta os gostos e desgostos, dificuldades e anseios de cada um deles. Essa narrativa nos aproxima dos personagens enquanto os humaniza, pinta sua existência singular. A abordagem nada convencional de revelar os problemas comuns das pessoas torna a dimensão do filme ainda mais realista. Embora apareçam alguns elementos de fantasia ao longo da obra, podemos entender como sendo criações subjetivas de Amélie, devido sua maneira peculiar de entender o mundo. Estando acostumada a viver isolada, ela preferia imaginar uma relação com alguém ausente do que criar laços com aqueles que estão presentes.
A moça descobre em um buraco na parede de seu banheiro uma caixinha com vários objetos que pertenceram ao ex-morador daquele apartamento, Dominique Bretodeau. Ela decide, então, procurar por Dominique para devolver a caixinha. Em sua jornada, Amélie começa a se relacionar com diversas pessoas de seu mundo, seu vizinho de prédio Dufayel, conhecido como “o homem de vidro”, a viúva Madeleine Walace, Collignon, o dono de uma quitanda local e Lucien, o funcionário maltratado por Collignon. Ela conhece também um rapaz por quem se apaixona, Nino Quincampoix. Percebendo sua dificuldade em se relacionar com as outras pessoas, Amélie tenta conduzir a comunicação através de planos criativos e fantasiosos, o que o intriga e faz com que se interesse por ela.
Ao devolver a caixinha a seu verdadeiro dono, Amélie compreende a importância daquele objeto para Dominique e decide que ajudará outras pessoas a resolverem seus problemas, levando-a a criar formas criativas e peculiares para se comunicar. O que nos leva a uma fala de Dufayel. Ao discutirem sobre a personagem que segura um copo d’água pintada por Renoir no quadro “O almoço dos barqueiros”, eles começam a falar sobre a própria Amélie, de forma indireta. A: “Talvez ela fala de tudo para arrumar a vida dos outros”. D: “E ela? E as suas desordens? Quem vai pôr em ordem?”.
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Com a ajuda de Dufayel, ela começa a compreender a dimensão de suas escolhas. Se privar de viver relações reais teria consequências futuras. Ela gostaria mesmo de viver isolada e isenta de vínculos próximos para sempre? Quando Nino descobre quem é Amélie, vai até a casa dela e ela precisa tomar uma decisão. Encarar Nino, ou continuar se escondendo? Dufayel ajuda nossa mocinha por uma última vez, gravando um vídeo para motivá-la a agir por vias diretas. “Os teus ossos não são feitos de vidro. Pode suportar alguns baques da vida” afinal, ninguém nunca morreu de decepção.
A trama nos convida a acompanhar Amélie em sua busca por dar sentido à vida e em sua jornada para desenvolver suas questões pessoais. Podemos tirar diversas lições desse filme. Primeiro, a única pessoa que tem o poder de colocar sua vida em ordem é você mesmo. Para isso, é preciso que arriscar, mesmo com medo de errar. Estar vivo causa medo, mas se não enfrentarmos esse medo, não conseguimos viver.
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journalpsi · 4 years
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Ela - A terceirização do afeto e a liquidez nas relações
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Atenção: esse texto pode conter spoilers!
É impossível assistir esse filme sem relacioná-lo com a ideia de modernidade líquida do filósofo polonês Zygmunt Bauman. A trama, apesar de retratar uma realidade futurista, busca evidenciar a relação dos indivíduos com a tecnologia em uma sociedade muito parecida com a nossa, marcada pelo individualismo e pelo intenso fluxo de informações.
Theodore, nosso protagonista, vive uma vida solitária e melancólica após o fim do seu casamento com Catherine. Ele segue a vida no automático, dividindo sua rotina entre trabalhar, jogar videogames e interagir com pessoas desconhecidas em chats online. A tecnologia ocupa um papel de mediadora. Fica fácil se conectar às pessoas, mas também se torna fácil se desconectar.
O trabalho de Theodore é escrever cartas manuscritas para pessoas que não sabem o que escrever, mas querem prestigiar alguém. A cena que abre o filme é a de Theodore escrevendo uma carta de amor a pedido de uma antiga cliente endereçada a seu marido, agradecendo pelos anos de companheirismo e por todos os momentos especiais. Vemos aqui a terceirização do afeto. Eu deixo para o outro dizer aquilo que eu sinto.
Afim de preencher o vazio e a solidão, Theodore decide comprar um novo sistema operacional (OS) para seu computador. Uma inteligência artificial que pensa, sente, interpreta o tom da voz e tem acesso à todas as informações sobre o usuário. É o sistema operacional perfeito: serve de agenda, faz escolhas pelo usuário, dá conselhos... tudo para criar uma sensação de intimidade. O sistema possui uma voz, no caso uma voz feminina – escolha de Theodore – e se apresenta como Samantha.
Samantha passa a ocupar várias funções na vida de Theodore, inclusive a de amante. Os dois se apaixonam a começar a viver um relacionamento amoroso parecido com qualquer outro. É impossível não se apaixonar por um ser que foi criado para ser perfeito; Samantha se expressa da mesma maneira que um ser humano, toma decisões por Theodore – terceirização da responsabilidade - e se dedica exclusivamente a tornar a vida dele mais fácil.
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Em uma conversa com sua ex-esposa, Catherine, ela diz a ele: “Você sempre quis que eu fosse pessoa equilibrada, feliz, leve. Que acha que está tudo bem. Essa não sou eu”. É muito mais fácil se relacionar com uma pessoa que não tenha passado, problemas, defeitos e manias. Por isso muitos relacionamentos não dão certo. Espera-se que o outro cumpra certas expectativas – voltadas para a perfeição – e, quando isso não acontece, decide-se que não tem mais espaço para esse outro em nossa vida. Por isso, fala-se na fragilidade das relações. Se não posso controlar o outro, então essa relação não serve para mim, posso facilmente descarta-la. 
Samantha passa a ter pensamentos e vontades mais complexas, se aproximando mais da ideia do que seria um ser humano real. Em uma cena emblemática, Theodore observa as pessoas a sua volta e percebe que a maioria delas também possui e se relaciona com um OS, então ele pergunta a Samantha com quantas pessoas ela está conversando (8.316) e por quantas ela está apaixonada (641). Os sistemas operacionais passam a ter muita autonomia e decidem ir embora, assim se encerra o relacionamento de Theodore e Samantha.
O filme se encerra com Theodore escrevendo uma carta para Catherine, sua ex-esposa. Essa foi a primeira vez que ele assina uma carta com o seu nome. Theodore encara o que está acontecendo. Ele passa o longa tentando não lidar com seu divórcio, embora seja invadido constantemente pelas lembranças – o que intensificava o sentimento de vazio. Escrever essa carta foi uma forma de aceitar o divórcio e seguir em frente de vez. 
"Querida Catherine, estou aqui pensando em tudo pelo que quero me desculpar. Toda a dor que causamos um ao outro. Tudo que coloquei em cima de você. Tudo que eu precisava que você fosse, ou dissesse. Sinto muito por isso. Vou te amar para sempre, porque crescemos juntos. E você me ajudou a ser quem eu sou. Eu só queria que você soubesse que sempre terá uma parte de você em mim. Eu sou grato por isso. Seja lá quem você se tornou, onde quer que esteja no mundo, estou te mandando amor.
Com amor,
Theodore." 
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journalpsi · 4 years
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Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças - Esquecimento artificial, perda e medicalização
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Atenção: esse texto pode conter spoilers!
Já imaginou como seria se existisse a possibilidade de deletarmos da memória todos os momentos que nos trazem sofrimento?
Em “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” acompanhamos a história de Joel e Clementine, um casal que, por anos a fio, tentou fazer um relacionamento dar certo. Como bem sabemos, o esforço foi em vão. O casal termina, e Clementine não consegue lidar com o rompimento. Qual saída ela encontra? Apagar todas as memórias que tem de Joel. Resolvida a esquecê-lo, ela se inscreve para participar de um tratamento experimental oferecido pela clínica “Lacuna”, que promete apagar todas as lembranças para amenizar a dor.
Joel, quando fica sabendo sobre o tratamento que Clementine se submeteu pensa em vingança. Estar apaixonado por alguém que optou esquecê-lo por completo causa uma enorme dor a ele, que decide também esquecer a ex-namorada. Entretanto, durante o processo, Joel percebe que, por mais dolorosas que sejam as memórias, ele prefere mantê-las. Ele tenta, sem sucesso, salvar algumas de suas memórias boas da relação.
No final, o casal se reencontra. Apagar as lembranças um do outro não foi suficiente para mantê-los afastados. O esquecimento artificial não é capaz de enfraquecer os afetos ligados às lembranças. Aparentemente, os sentimentos são postos de lado, uma vez que não existem mais as memórias que se ligam a eles – mas, isso não significa que deixam de existir.
É impossível viver sem lidar com perda e com os sentimentos que ela nos traz. Perdemos o tempo inteiro. Perdemos pessoas, amizades, empregos, oportunidades e outras coisas. O luto faz parte da vida. Sofrer com a perda é normal. Ignorar o luto ou ter medo de lidar com ele pode resultar num distanciamento afetivo ou numa constante sensação de vazio.
Embora o processo de esquecimento seja natural e necessário, o que vemos no filme é uma tentativa artificia de controlar o armazenamento de memórias. Nossas lembranças são valiosas, por mais dolorosas que sejam. Penso que, apagar uma lembrança implica em apagar um pedaço de nós mesmos, um pedaço da nossa história.
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Tentamos ter controle total sobre nossas emoções. No filme, existe um experimento para apagar as memórias. Na vida real, existem os remédios, que têm sido uma alternativa acessível para anestesiar emoções.
Atualmente, vemos antidepressivos serem receitados para pessoas com saudades de casa, TPM, dores crônicas e, mais do que tudo, para tristezas suaves e sofrimentos comuns. A psiquiatria e a indústria farmacêutica vêm atestando de maneira irresponsável o uso excessivo de psicotrópicos, banalizando sua utilização e verdadeira importância. Fala-se então, em medicalização.
A medicalização é o processo pelo qual situações rotineiras passam a ser apropriadas pela medicina, que concebe essas situações como prováveis distúrbios mentais. Uma consequência da Relacionando com o filme, o fato de as pessoas tentarem evitar o sofrimento a partir do esquecimento artificial faz com que elas sofram mais ainda.
Num contexto onde as propostas medicamentosas são altamente valorizadas e encontram-se promessas de “cura” rápida em todos os lados, torna-se cada vez mais raro encontrar pessoas que entendam a importância de lidar com os sentimentos e as perdas decorrentes a própria vida. As dores da existência hoje em dia são facilmente transformadas em doença.
O filme nos mostrou as armadilhas em que podemos cair ao tentarmos fugir da elaboração do luto – na trama, representado pelo término de um relacionamento. Tentar esquecer um sofrimento sem trabalhá-lo pode ser uma maneira de eternizá-lo.
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journalpsi · 4 years
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Historia de um Casamento - Dicotomia
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Dicotomia diz respeito a uma bipartição. Nada pode pertencer simultaneamente a ambas as partes. Preto ou branco. Quente ou frio. Guerra ou paz.
Filmes que contam histórias de casais que deram errado costumam adotar um ponto de vista dicotômico. A culpa sempre é de apenas uma pessoa, que sai como a errada.  História de um casamento é diferente. O filme narra um processo de divórcio e apresenta o ponto de vista dos envolvidos, o que nos permite identificar os erros e acertos de ambos os lados.
O filme se inicia com a leitura de duas cartas, uma delas escrita por Nicole para Charlie e uma carta dele para ela. Em seus textos eles listam características que gostam um no outro. Essa foi a tarefa que o terapeuta matrimonial propôs, pois, segundo ele, é importante que o casal se lembre porque um dia gostaram um do outro. Dessa forma, o divórcio poderia ocorrer de forma pacífica.
A narrativa do filme nos guia pelo processo de separação de Nicole e Charlie, mostrando como pode ser um processo desgastante. Os dois perdem no processo. Perdem dinheiro, tempo com o filho, dentre outras coisas. Durante desse processo, os protagonistas não passam apenas por momentos turbulentos, mas também por momentos de afeto. Afinal, fizeram parte da história um do outro por muito tempo. Qualquer relação nos proporciona uma bagagem de momentos bons e ruins. Como Theodore, personagem do filme Ela (2013), escreve para sua ex-esposa, Catherine, “Eu só queria que você soubesse que sempre haverá uma parte de você em mim.” É o que acontece quando dividimos nossa vida com alguém.
Nicole se queixa de ter sido apagada, Charlie nunca ouvia ou considerava seus desejos. Charlie, por outro lado, viveu a vida que sempre desejou. Nicole sente que fez tudo o que pôde para Charlie, enquanto ele nunca fez nada de gratificante para ela.
Ao ouvir Nicole discursar sobre suas infelicidades no relacionamento, percebemos o quanto ela se anulou diante o marido. Charlie argumenta que Nicole nunca impôs sua vontade. Em um momento do filme, Charlie aponta que Nicole já não o fazia rir. A afinidade que existia entre eles foi se desfazendo aos poucos, dando espaço à ressentimento e distância.
Uma série de erros levaram o casamento a ruínas. Ambos tiveram sua parcela de culpa. Não é possível manter um relacionamento sozinho. Charlie pode ter errado muito enquanto marido, mas deu seu melhor como pai. Isso não anula o fato de ter sido um marido ruim, mas mostra que, enquanto seres humanos, estamos sujeitos a erros e acertos. Nicole, ao passo que se anula e se deixa ser anulada, continua sendo uma parceira e apoiadora de Charlie enquanto diretor. Os dois tentam preservar o filho o máximo possível, para que não sofra com o divórcio. No fim, o amor que sentiam pelo filho não deixou com que se distanciassem por completo e parece reacender dentro deles o carinho que sempre sentiram um pelo outro.
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Cada indivíduo é livre para fazer escolhas. Decidir permanecer ocupando um lugar, mesmo que seja um lugar de sofrimento, continua sendo uma escolha – que gerará consequências. Por muito tempo Nicole escolheu permanecer numa relação que a anulava, talvez por medo do abandono. A partir do momento em que ela se volta para si mesma, percebe o quanto havia se apagado e o quanto isso a fez sofrer.
Charlie mostrou certo comodismo e obstinação. Estava satisfeito com a vida que levava e, quando surgia algum conflito, tentava fugir e ignorar. Evitar conflito pode significar evitar mudança. Por vezes, Charlie parece viver em função do egotismo. Ele pensa que conhece a esposa e o filho, mas no decorrer do filme percebe que isso não é verdade. Quando uma nova dinâmica familiar surge, Charlie se vê perdido. Após superar o desespero, Charlie aceita a mudança eminente. Todo esse processo faz com que ele saía de sua zona de conforto e passe a perceber mais o outro. Ao se dar conta de que os outros também possuem vontades não menos importantes que as suas, ele se abre para conhecer as pessoas à sua volta.
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