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dosjaja · 5 years
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a hora de hoje é a mesma de amanhã
15:30
Ela caminhava pelas ruas ensolaradas apertando os olhos. O sol era forte demais. O bafo quente soprava o pescoço e ela tentava se manter em linha reta enquanto seguia seu caminho. Certa vez, leu sobre o que o caminhar de uma mulher dizia sobre ela. Poderia dizer, mas talvez ninguém entendesse. Ela não entendeu, pelo menos.
Sua prima elogiou o caminhar de uma mulher. “Ela anda cruzado”, e desde então tentava caminhar de forma cruzada, sem que os pés se encontrassem mas que os calcanhares batessem; sua luta era para equilibrar-se enquanto tentava. O sol era forte demais.
15:40
Mantinham a sala fechada porque talvez acreditassem que o ar-condicionado velho, que gritava para que o jogassem fora e respirava ar quente como forma de protesto, fosse aliviar o forno da rua. Fazia tantos graus que ela não sabia contar. Uma lagartixa era sua única companhia na sala empoeirada e cheia de mofo.
Vez ou outra alguém aparecia e lhe perguntava coisas. Ela não sabia responder porque ninguém lhe dizia nada, nem o porquê. Sua informação sobre o lugar era quase nenhuma. Lutava para não se desanimar.
15:51
Lembrou de um momento em que suas preocupações não a acompanhavam.  Lembra não por saber, hoje, que é a última, mas por achar a situação engraçada. Para ela tudo era engraçado porque ela não sabia adjetivar nada.
Seu coração era feito de pneu de avião. Era resistente. Usado.
15:56
O calor molhava as costas. O suor escorria por seu corpo, trilhando um caminho de desconforto entre carnes mal cuidadas e pelos sobrando. Ela não fedia por pouco. Sentia os lábios secos, o sobre lábio molhado, o pé suado e a nuca pedindo um sopro. Abanar-se não era uma opção porque seria energia gasta e mais calor gerado. Tentava se manter parada. 
15:39 outro dia  ela sou eu, mesmo que, por vezes, negue. Não aguento mais fingir que a mentira não me abala, que a dissimulação não me afeta e que o descaso é mais uma questão para ser facilmente envolvida nesse novelo infernal e descuidado. Pastas, burocracia, descaso, calor. Calor. Calor. Calor. Um calor infernal. Falta água para beber, tomar banho, comer e sobra calor. É como se toda água tivesse sido evaporada pelo calor e só sobrasse o vazio quente. 15:43 sempre imaginei que o vazio fosse frio. Esse vazio que sinto agora é quente e apavora porque todo o vento, que seria alguma coisa, se mistura ao quente porque também é quente, tornando-se vazio, também. Vazio. Esse vazio tem cor e é marrom. O vazio é preenchido pela poeira seca que invade as ruas, o rosto, o corpo, a roupa. Deixa o rosto oleoso e ao mesmo tempo seco. O sol é marrom cor de poeira.  
15:47  o tempo parece não seguir enquanto escuto gritos desesperados sobre situações que não dependem de mim para serem resolvidas. penso em abolir a vírgula porque ela me lembra o tempo que a gente perde com as coisas poucas, mas ao mesmo tempo vejo pessoas que engolem a concordância ocupando cargos complicadíssimos e sérios. é difícil ter seriedade nessa situação. meu vestido molhado gruda em minha bunda que gruda na cadeira que me gruda em um lugar que não queria ficar. é tempo ra rio.
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dosjaja · 5 years
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18/02 eu escrevi isso em um momento de sandice, sem hora
preciso me expor para que outras pessoas também entendam. acho que amadureci quando percebo que aceito as pessoas como são e não imponho mais minhas idealizações. percebi esses tempos que consigo enxergar as pessoas com olhos de quem entende o que elas são: ser. energia. matéria. pensante. individual e coletiva. única. única. sem plural. me relacionei tantas vezes com a projeção do que eu achava certo e belo e lindo e belo e inspirador e tanto e tanto que em algum momento eu percebi que eram minhas frustações que me impediam e a realidade da outra pessoa que me afastava. a pessoa ser como ela é me afastava. e me frustrava. me incomodava. e me incomoda em lembrar.  
eu não sei até quando esse pensamento, e tudo o que vem na bagagem, ficará comigo. não aguardo as mudanças. me acalma saber que eu me reconheço sendo eu e reconheço o outro sendo outro. isso evita dor de cabeça. evita dor. 
eu sei também que há outras interrogações e exclamações e tantos porém nesse meio todo, mas simplificar também pode ser uma opção. acho que a mediocridade pode ser boa.
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dosjaja · 5 years
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Keiichi Tanaami, P.B Grand Prix, 1968
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dosjaja · 5 years
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15:51 situações hipotéticas, claro
[ ] Silêncio enquanto entra no banheiro escondida porque a curiosidade, essa que é companheira solitária mas que por vezes recebe a visita do casal medo e desespero, permitiu que descobrisse, sem que ninguém indicasse ou convidasse, onde ficava. Veja que loucura: ser convidada a usar o banheiro! Não poderia mais segurar o que guardava há mais de duas horas. O estomago vazio abria espaço para a bexiga cheia, e a sensação de que ninguém convidaria a excelentíssima prima distante de quinquagésimo terceiro grau para adentrar o aposento celestial e libertador do sanitário era o que martelava em sua cabeça. [ ] Escrevi em terceira pessoa porque o espaço que eu ocupo agora é desolador demais para que eu tenha que sentir na minha pele e transcrever por mim mesma. Agora espero o convite do almoço, o ensopado de legume que tem mais carne do que no meu corpo. Aguardo. As conversas sobre pais separados, filhos desesperados e em crise de meia idade, a meia idade de menos de 12, é o assunto que acompanha meus comentários sobre como isso é complicado, criança é assim, é verdade…, enquanto eu tento não enfiar o garfo nos meus próprios olhos para não ter que ver minha vergonha. Ao mesmo tempo, surgem loucuras de outra idade, mais velha que 50 e menos de 100, mas tão desconexa quanto conversar com alguém de 200 anos atrás que não faz sentido nenhum, embalando o fim do almoço e o meio do desconcerto afinadíssimo e harmônico. [ ] Logo depois surge um homem grande de pequeno, menor do que meus 1,70 mas com a presença de alguém de 14 anos, que chama os outros de tia e disfarça a insegurança por não ser como seu pai mantendo uma barba enorme e falando como adulto. [ ] Tantas coisas passam na minha cabeça agora. Eu só queria deitar e dormir na rede
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dosjaja · 5 years
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12:01 o que
Debulho sementes de esperanças podres e volto ao ponto de partida da terra seca, infértil e vazia. Vazia. Seca. Infértil. Eu queria que uma plantação nascesse mas não dediquei meu tempo, minha água, minha vontade para que isso acontecesse. Esperei um milagre, eu ainda espero, mas não sei onde olhar, como olhar ou se devo olhar. Sinto curiosidade mas isso não é suficiente. Não é suficiente. Vejo minhas sementes tão secas. Minha terra sem vida. E tudo me parece tão inútil, não sei se espero a chuva, se eu mesma faço minha chuva, se eu mesma planto minha árvore e espero que ela cresça e dê fruto. Por enquanto só como enlatado. Queria poder escolher.
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dosjaja · 5 years
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00:49 cansada de assistir seriado, me enrolo em mim
Desencontro de palavras, palavras-chave que não dizem nada sobre o todo, sobre o contexto, sobre o assunto ou sobre o que interessa. Perdida entre essas palavras que não são ditas e entre tantas outras que não gostaria de ouvir, fecho meus sentidos para concepção de ideias porque me recuso a pensar sobre como estou agindo e minha motivação ou assimilar qualquer coisa que tenha a ver com o agora que me atormenta. O café pode ser sem açúcar, com leite vencido ou com água fria, não me importo em me servir com nada que seja agradável, nenhum estímulo faz diferença porque buscar cada vez mais ficar alerta não funciona, mesmo que meus olhos se mantenham abertos e ressecados e vidrados e sem foco. Eles estão sem foco. Assim como eu. Não consigo ser paciente com quem tenta trilhar um caminho ja conhecido por mim e me arrependo de cada voz alterada, resmungo ou reclamação ou alterar a voz ou resmungo ou reclamação até que eu desisto da versão impaciente e adoto uma postura mais calma e que possa contribuir de verdade com o trabalho. Eu queria alguém como eu quando eu precisei. Mesmo não sendo, agora, minha versão. Evito falar sobre minha vontade de chorar por não conseguir controlar esse comportamento. Ler sobre passados entrelaçados em meu presente e futuro! Que ideia! Mais uma coisa adicionada ao pacote de paranóias e ansiedades e angústias. Eu estou odiando usar vírgulas. Minto sobre evitar. Deu pra perceber. Sinto dores musculares. Abro feridas em espaços contaminados por exposição, narcisismo e toda essa merda louca que acusam ser dessa era, e contamino meu comportamento. Insisto em não pensar sobre o que escrevo e acabo falando demais sobre mim. Preciso parar com isso e tentar fabricar uma versão melhor de mim para escrever. Sigo. Outras palavras virão. Descontos e palavras-chave sem que digam nada sobre tudo.
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dosjaja · 5 years
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sem hora sem nome sem sentido sem vírgula
Fazem dias que não penteio o cabelo. Não consigo pensar nas palavras exatas mas algo é inquieto dentro de alguma coisa que não sei nomear. Fazem dias que me sinto estranha. Não vou mais publicar o que eu escrevo em momentos de desespero para me acalmar enquanto não encontro alguém para falar porque percebi que essa exposição não faz sentido nenhum. Eu já falei centenas de vezes sobre não fazer sentido mas nem isso faz sentido dizer porque não existe um motivo convincente para ser dito. Eu pensei em escrever um texto para uma peça, mas desisto antes de tentar, eu pensei em escrever um romance, mas desisto antes de tentar ou pensar, eu pensei que escrever online me traria algum tipo de paz mas não trouxe nada além de constrangimento. Até dizer isso não faz tanto sentido. Me limito. Acho que de alguma maneira que não sei explicar, a única coisa que faz sentido agora é explicar que deixarei disso. 
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dosjaja · 5 years
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17:05 me frustra mais do que me faz sentir querida
eu detesto despedidas, queria me esconder, fugir, não aparecer. eu só sei ser assim, não consigo me sentir bem desejando felicidades quando eu não me importo, acho que deveria me desculpar por não me importar mas eu também não sinto muito por isso. eu só queria ir embora e seguir, sem terminar nada, sem colocar ponto final em nada, eu odeio quem espera na saída para se despedir de outros e me encontra e frustra meus planos de fugir sem aviso, não é como se eu alguém se importasse com minha presença, mais do que isso, eu sei que ninguém se importa com minha ausência. 
eu sinto muito mas eu acho que preferia continuar escondida em meu casulo, sendo alguém que as pessoas acham que eu sou só por comodidade, eu não sou quieta, eu só estou quieta, não é como se eu fosse assumir minha persona confortável em um lugar que me desconforta. eu não sou isso e ninguém conhece quem eu sou em minha plenitude, talvez nem eu, mas pior do que isso, eles não me conhecem em minha tranquilidade e comodidade. só não.  me desconforta a mentira que tenta me tranquilizar e me acalmar ou me fazer me sentir querida porque eu sei o que eu fiz e eu sei como eu me mostro, e o que foi dito sobre mim não era a verdade que possuem sobre mim. entendo essa coisa toda de interpretação bla bla bla sobre qualquer coisa pode ser valida tetete, mas a superinterpretação é nociva, se é que eu posso dizer que em algum momento houve entendimento sobre minhas ações. foram só palavras genéricas que poderiam ser usadas para qualquer pessoa. eu não quero isso. eu não quero regra, nem cortesia. eu não quero mentiras educadas.
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dosjaja · 5 years
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dosjaja · 5 years
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16:10 frio e confusão fazem de sara uma garota chata
eu não sei dizer se é o passado que me puxa e constantemente se esbarra ou se sou eu que ainda continuo a ter ideias absurdas demais para um presente.  ainda acho estranho dizer você, lhe, te ou qualquer coisa pontuando quem é, porque a todo momento escrevo sobre alguém, quando não escrevo sobre mim. me esbarro com o que eu achei que fosse alguma coisa, e o constrangimento ambulante alheio também me desconforta. se fosse por mim, seria mais simples. não fui eu que compliquei. mesmo com a miopia, enxergo sem óculos a tentativa de se esconder, de sumir, de ter querido perder o ônibus para que naquele momento, naquele exato segundo, não estivesse onde estava. 
eu não acho graça nisso. acho que, mais do que tudo, isso me magoa porque o desconforto não é reciproco mas me contagia. me recrimino por isso. me recrimino por pensar nisso. me recrimino por querer parar de pensar e quanto mais tento, mais penso. eu sinto vontade de chorar por tudo e isso só acrescenta mais um pingo de lágrima, água, espaço, vento e me aflige caminhar pelas mesmas trilhas de memória que sempre me levam a um lugar que eu não quero estar. acho que só pelo fato de não me sentir magoada por ações mas por palavras, relevo o grosso e me apego a detalhes que podem ser justificados. nesse momento eu não penso, como sempre pareço não pensar, e só jogo qualquer coisa que venha a minha cabeça. me escondi durante uma tarde e de repente, a pessoa que eu tentava me esconder, surge e permanece por minutos que mais parecem horas ao meu lado. finjo estar ocupada, não prestar atenção e não ouvir, mas isso me influencia em cada palavra e, se duvidar, escolha de termo. no final, é a mesma coisa. é como se eu tentasse me esconder e, por lembrar de que preciso me esconder, as coisas, pessoas, situações e sentimentos, surgem para me cobrar. eu só não consigo ser indiferente, mas o esquecimento, por vezes, me auxilia no esconde-esconde de adulto imaturo e irresponsável.
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dosjaja · 5 years
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16:27 o contrato que me condena e julga
mais uma vez me desespero por minha irresponsabilidade e procuro respostas no que eu não entendo e não toco. procuro o que me motiva a ser como sou, olho no passado e tento descobrir meu presente mas é errado e confuso e distante e confuso, confuso, confuso. eu sou confusa. eu só não sei quando eu comecei a ser e qual o motivo, onde isso me levará e se devo parar e tentar não ser. será que mudar isso me transformará por completo e deixarei de ser quem eu acho que sou? posso me tornar uma pessoa melhor ou me perder entre tantos outros sem nome e sem nada?
evito o encontro com quem me rodeia, eu não gosto de contatos, não gosto de toques de pessoas não intimas, me debato entre o falar e o silêncio que por vezes é considerado falta de educação e fujo de qualquer reflexão que me coloque em destaque. faço minha parte quando preciso fazer mas não me exponho quando sou eu me colocando. eu não quero palavras de afetos falsos, isso me incomoda, eu não quero demonstração física de afeto, que destino a pessoas que amo sem barreiras, vindas de pessoas desconhecidas de mim e eu delas. eu não consigo porque eu sou assim e sou dessa forma que sou porque sempre fui. mas não sei até que ponto sou eu. não sei até que ponto foi outro. eu me calo. o destaque de palavras me denunciam e eu tenho medo de falsas memórias e de verdades escondidas. não sei o poder de minha imaginação mas temo essa ignorância. 
ps: eu não pensei muito sobre o que estava escrevendo, foram impressões. nesse momento, alguém que eu não quero próximo de mim me rodeia como uma cobra, proferindo falsas palavras - que eu considero nojentas e pegajosas e todo tipo de baba nociva que convir. às vezes quero deixar minha educação na casa do caralho mas a uso como escudo. talvez seja mais por pena.
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dosjaja · 5 years
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15:17 sinusite
três dias completos preocupada com o rumo de uma vida que talvez nem seja tão longa. me preocupava com pouco e esse pouco hoje é tanto que me assusta. minha sinusite me avisa que existe vida após uma chuva de lavar a alma, que não a minha, e, mesmo ouvindo sobre maturidade emocional, me desdobro em minhas próprias paranóias e questiono minha experiência me conhecendo. eu me conheço. por que não consigo me ajudar? por que quando percebo que vou trilhando o mesmo caminho de sempre, onde o final não é surpresa pra ninguém, eu não me impeço? não me aviso? não me ajudo? acho que devo precisar fazer drama sobre tudo para parecer real. me questiono sobre a realidade ainda. eu não sei se outros me conhecem e se eu conheço os outros ou se eu realmente me conheço. me pergunto se é a versão de mim que eu conheço. me pergunto quantas versões de mim existem e se tenho controle sobre elas.
me preparo para todas as coisas negativas, mas enfio pela garganta anal o que poderia ser bom porque parece que me privo do meu próprio suor merecido e glorificado. não sei. 
só como e durmo. sem pensar.
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dosjaja · 5 years
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interessante
o que de que
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dosjaja · 5 years
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17:10 com fome mas rindo da ironia da vida
Sai de casa para uma entrevista de emprego. Preciso de dinheiro, o que significa que preciso me dedicar a ser uma profissional. Começo já com refluxo e ficando mais de 4 horas seguidas sem comer absolutamente nada além de sapos e ficar enjoada quando comer porque a barriga está vazia demais.
Fiquei mais de 2 horas esperando. Com fome. A moça da recepção era cativante e evangélica. Tinha um sorriso enorme e parecia conhecer todas as pessoas que estavam da recepção. Assim que cheguei, a moça da recepção me perguntou se eu estava bem em nome de Deus. Eu respondi que preferia estar melhor, mas não me aprofundei nos cistos estourados ou nas dores no corpo. Acho que ela não precisava desses detalhes. Amém, ela disse.
Só nós duas e a TV na Globo na recepção. Fátima Bernades. Encontro com. Eu só me encontrava com fome e chateada por esperar. Mariene de Castro começou a cantar uma música para Oxum(?) ou algum santo relacionado ao candomblé, mas eu não prestava atenção e procurava qualquer alguma coisa no celular para me distrair. O ritmo foi ficando mais enfático e mais característico. Era tambor batendo. Olhei. Ao mesmo tempo que a moça da recepção.
- Senhora Sara, você deseja mudar de canal? Assistir uma série, um documentário, alguma coisa?, ela perguntou com quase desespero.
Eu não me incomodava. Só ouvia e praticamente não olhava para a TV.
- Não, tá tudo bem. Você que fica aqui, pode escolher. Não tô nem prestando atenção!, balbuciei enquanto olhava para a televisão pela primeira vez direito e chegava a conclusão um tanto quanto óbvia da súbita vontade de mudar o canal.
Ela respondeu que não prestava atenção. Estava trabalhando. Justo. “Então deixe aí mesmo”, falei. Na verdade não queria falar, eu queria rir. Eu podia decidir sobre a mudança do canal e ela claramente estava constrangida porque eu preferi manter no canal que estava entoando cânticos a outros deuses. 
Continuei a esperar.
Mais tarde, um senhor entrou na sala. Quase uma hora depois. Eu já estava maluca de fome, atrasada para o estágio e preocupada com uma zorra de um temporal que o Inema alertou e que até o presente momento, fim de tarde,  não aconteceu.  - Boa tarde, senhor, meu nome é *moça da recepção*. Qual o seu nome? - Jesus. Eu quase cuspi minha água. Engasguei. Dei uma risada tímida porque minha barriga ainda está doendo demais e não consigo rir normalmente. A mulher, antes sorridente, parou de ser simpática de uma hora para outra. Era ironia demais.
- Esse é mesmo o nome do senhor?, séria, ela perguntou enquanto jogava um copo de plástico no lixo. Acho que as ações decorrentes do desconforto dizem bastante. 
- Não, meu nome é Senhor alguma coisa que eu não lembro*. Era senso de humor demais para mim. Fui atendida meia hora depois. Gratidão é a palavra que mais usam nesse mundo?
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dosjaja · 5 years
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06:24 sempre qualquer porque não há certeza
me canso por pouco mas quase não me pronuncio porque alimentar esse ciclo vicioso me angustia. nesse momento só queria dormir e não sonhar com nada, não ter planos, viver na esperança de um futuro já traçado pelas estrelas, pelo sol, pela lua, pelo núcleo da terra, qualquer coisa, que eu não precise me sentir sufocada pela próxima decisão que ainda não foi cogitada mas precisará vir, ou não me aflija o que eu não consigo fazer hoje mas que preciso ter feito até amanhã. posso não saber lidar com tudo isso, é uma opção, mas também não posso varrer pra debaixo do tapete - que eu nem tenho - algo que mais parecem espinhos, cacos de vidros, pedaços cortantes de objetivos descartados, ou qualquer coisa que na primeira tropeçada me ferirá. ainda que eu não veja. mesmo que eu não veja. me esfrego nas paredes engorduradas de anos sem manutenção, de feridas abertas e olhos secos, secreções borbulhando de buracos furados na tora, com sangue, pistola, esperando o primeiro sinal de melhoria para inflamar. acho que eu sou toda inflamação e me esbarrar nas minhas dificuldades, que podem até ser qualidades - não quero rimar mas também não quero buscar um sinônimo porque isso é um desabafo - me fazem relembrar que não posso, ou não deveria?, deixar a corrente me levar porque nem sempre irei parar em uma praia deserta onde eu serei bem aceita por mim. me canso de nadar e peço ajuda aos outros mas é complicado contar com outras pessoas que não sentem a mesma caibra nas pernas, não sentidot o coração apertado porque tem medo de afundar sem nem mesmo ter a chance de nadar. ouvi hoje a história de cansaço que poderia ter acabado pior. tentarei me levantar ainda que signifique minha morte. minha ignorância significa meu temor. eu não quero me apegar ao que eu não tenho, mas não consigo encontrar o que eu possuo nesse mar de incertezas. vou mapear minhas palavras e verei que são sempre as mesmas. porque eu sou eu. mas às vezes não queria ser.
cansei
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dosjaja · 5 years
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01:05 deslizo paralelepípedos
lembro do despertador como um sinal de começo. hoje não consigo ouvir a música do despertador sem lembrar das manhãs frias em que eu sentia um vazio crescer e a ausência chegar de mansinho. acho que no final todas as coisas que a gente vive são formas de testes pra ver se a sua própria presença é suportável. se a sua solidão pode ser aconchegante.
eu que tanto sufoquei com cheiros diferentes, sinto o ar único preencher todo o espaço. dá pra tocar. eu sinto. eu sinto também tantas lembranças pipocarem na minha cabeça quando só me vejo… elas se misturam e fica às vezes tão difícil saber o que foi real. queria poder jogar algumas referências fora porque a associação entre coisas, de coisas, sempre me estagna. eu tento lembrar e me perco. eu tento esquecer e não consigo me encontrar.
quem é que escolhe o que a gente lembra? quando é que a gente sabe que aquilo vai ser a foto de capa de uma série de memórias? por que toda vez que lembro de alguma coisa preciso enxergar o que eu não queria ter gravado? como eu faço para codificar as memórias mais acessíveis?
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dosjaja · 5 years
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