Tumgik
cia-bellatores · 10 years
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Ídolos
Era um clã formado por ídolos mestres da música: Cazuza, Renato Russo, Tim Maia, Cassia Eller, Michael Jackson, Chorão e Charlie Chaplin.
Todos com intuito de julgar e analisar os cantores e gêneros da atualidade. Uma votação onde um dos falecidos voltaria a terra para produzir e cantar suas próprias canções.
Foram citados Michel Teló, Bonde das Maravilhas, Mr. Catra, Gusttavo Lima e seus respectivos gêneros.
Diz Cazuza:
 - Quero voltar para o meu túmulo. Não fiz meu sucesso para servir de inspiração para um cara com tamanha ridiculice. “Ai se eu te pego, ai, ai, se eu te pego.” #Partiu #Túmulo.
Já Michael Jackson resmunga:
- Não me tornei Rei do Pop para servir de inspiração para um “quadradinho de oito”. #Partiu #WhoIsBad
Enquanto Tim Maia:
- Sou fã do Catra, pai de muitos filhos, verdadeiro procriador. Se eu tivesse a oportunidade de cantar com alguém de novo, esse alguém seria o Mr. Catra.
Depois de tantas conversas e muitas decepções, o clã decidiu, em mandar o cara que sempre entra mudo e sai calado das reuniões, para provar que mesmo ele conseguiria fazer melhor que todos. Charlie Chaplin.
    Wesley
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cia-bellatores · 10 years
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Apenas mais uma de amor
Reservei uma noite para escrever tudo o que sei sobre você, mas só pude relatar sentimentos. Se meus registros fossem uma avaliação, provavelmente tiraria um doce zero. Não soube citar sua canção preferida, ou destacar certas palavras com a sua cor predileta, nem sequer fui capaz de referir-me aos seus pais pelo nome.
Questionei-me se isso seria um empecilho, ou se realmente pessoas podem gostar tanto de outro alguém sem sequer conhece-lo. Percebi que é principalmente assim que as pessoas se gostam, com a vantagem do desconhecido, afinal, só assim podemos deixar nossas mentes trabalharem, imaginando e moldando o ser perfeito à nosso gosto. Muitas vezes o encanto se vai no momento em que descobrimos a outra pessoa.
Mas o meu não se foi. Continuo te amando, te admirando, mesmo te conhecendo tão pouco. Ainda não fui ouvidos para suas histórias de criança, desconheço a origem de seus machucados. Ainda não olhei seu boletim escolar, nem sequer ouvi opiniões de seus amigos sobre a pessoa que você é quando não está comigo.
Sei que não ama doces como a maioria das pessoas, e que não é o maior fã dos filmes de terror. Sei que nem todas as músicas de seu repertório me agradam, mas que quando está perto de mim, procura tocar as que me tocam.
Diariamente aprendo uma coisa nova, é uma conversa aqui, uma confissão ali, e a esperança - sempre acesa - de te desvendar. Enquanto isso vou tentando, errando, acertando… nessa troca gostosa de informações, onde um aprende com o outro e, a cada dia, se conhece mais e mais.
    Luna
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cia-bellatores · 10 years
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Dominando o mundo
Antes de serem rivais e disputarem pela presidência no Brasil em 2014, Dilma e Aécio eram amigos de escola.
Dilma, com certa dificuldade em chamar a atenção dos alunos mais populares da escola, fez sua fama em cima dos menos capacitados; da classe baixa, com menos cultura; basicamente metade da escola. Os poucos amigos que tinha eram conquistados com sua lábia. Menina esperta, bastava encontrar apenas um ponto fraco para tê-los na palma de suas mãos.
Seus relacionamentos eram complicados, difíceis e perturbadores aos olhos de quem via de fora. Sorriso encantador, dentes perfeitos, cabelo moderno: assim Dilma se enxergava. A futura presidenta do Brasil não gostava de vôlei, basquete, futebol ou quaisquer tipos de esporte que envolvessem um objeto redondo.  
Aécio, sempre elegante, bem sucedido e de boa aparência; mais conhecido como o garanhão das cocotas – se fosse nos dias de hoje provavelmente seria o terror das novinhas. Sua polêmica o tornava ainda mais interessante. Ele gostava de provocar seus adversários, isso porque era o melhor jogador de peteca da escola. Ganhou muitos campeonatos, tanto no Brasil quanto no exterior. Todos admiravam as habilidades na peteca de Aécio.
    Wesley
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cia-bellatores · 10 years
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Crônica de uma crônica
Não me lembro bem sobre o que escrevia noite passada, mas lembro que meus dedos doíam e a tinta da caneta diminuía cada vez mais. Lembro que o sol já havia ido embora e que a brisa vinda da janela já não era abafadiça. Lembro-me de minha mãe gritando que o jantar estava pronto. Lembro de coisas irrisórias, totalmente irrelevantes.
Hoje voltei a escrever, mas não encontrei as folhas rabiscadas de ontem. Isso vem me intrigando a manhã inteira, que diabos terá acontecido com minhas anotações?
Morri de vergonha há pouco, dei uma de Dona Marta, minha mãe, e prometi dar três pulinhos a São Longuinho se as benditas folhas aparecessem. Claro que ninguém me viu fazendo tal promessa em meus aposentos, mas minhas bochechas não puderam deixar de rosar quando terminei de pronunciar as palavras. E o pior é que as folhas nem apareceram.
Acho que lembrei; tratava-se de uma crônica. Sim, eu escrevia uma crônica, mas não consigo recordar o tema. Sei que continha uns dez parágrafos. Santa crônica imensa. Era linha que não acabava mais.
Ora bolas, anoiteceu novamente. Não consegui achar minha crônica, não consegui visualizar ou proferir aquelas palavras. Não consegui finalizar uma nova. Mas amanhã há de ser um novo dia, quem sabe eu pise nas folhas ao sair da cama; quem sabe eu lembre de minha obra no café da manhã; ou quem sabe eu durma frustrada novamente.
    Luna
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cia-bellatores · 10 years
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Ataque consumista
Mas um dia se inicia e com ele uma leve sensação de tranquilidade, por ser um final de semana com feriado. Só que toda essa leveza é desvanecida rapidamente após lembrar que trabalho aos finais de semana e, ainda por cima, o contingente de visitantes da loja duplica. Continuei minha caminhada rumo ao trabalho, peguei o ônibus que, por sinal, estava vazio pela hora, em um dia da semana ele estaria lotado, cheio de gente indo para a escola ou serviço. O mais engraçado é que todas essas pessoas vão diariamente para seus serviços em busca de dinheiro para usar no final de semana, e aí é que está a experiência que quero compartilhar.
Chegando ao meu local de trabalho que fica dentro do shopping, notei que todos já estavam fazendo as preparações para as lojas abrirem, e por ser feriado abriríamos um pouco mais tarde, no caso ao meio-dia. Fiz toda a organização necessária antes da loja abrir, e ainda fiquei com um tempo livre de alguns minutos até que o acesso ao shopping fosse aberto para os clientes. Fui até a porta apenas para ver se já havia alguma pessoa para recepcionar, quando vi aquela imagem fiquei boquiaberto com a imensidão de pessoas esperando para entrar.
Logo veio em minha mente o quanto as pessoas viraram consumistas, ao nível de correr para chegar antes das outras nas lojas. Vi aquele mar de gente entrando no shopping, como se fosse um ataque zumbi visando as ofertas das lojas; ofertas essas que daqui a um mês estará a metade do preço de hoje.
Mas não posso reclamar, toda essa loucura de consumismo descontrolado é o que paga as minhas contas, se não tivessem pessoas que trocam de celular a cada lançamento apenas por vaidade, tenho certeza de que não estaria na posição que hoje estou. E sim, me aproveito da situação para empurrar aos clientes nossos planos de seguros, para caso de quebra dos aparelhos. Muitos desses planos vêm embutidos no preço de nossos produtos, mas as pessoas estão tão cegas em obter seus objetos, que não conseguem ver o óbvio. Não digo que me aproveito das pessoas, mas tenho que fazer o meu serviço, afinal, é isso que me foi orientado.
E todo o caos ainda está por vir: presentes de natal, presentes de ano novo… A temporada está chegando e estamos no litoral onde cresce cada vez mais a quantidade de clientes. É agora, final de expediente vou voltar para a casa, e vou voltar no ônibus que de manhã estava vazio, tomara que eu tenha a mesma sorte!
    Mathaus
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cia-bellatores · 10 years
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A amizade
Já era segunda-feira e Gustavo ainda conseguia sentir a caipirinha em seu estômago; aquela caipirinha de sábado, que bebera com seus amigos em uma balada qualquer. Gustavo ainda sentia o enjoo e o estômago embrulhado, motivos para ficar abatido, talvez triste, mas não era o que acontecia com o jovem.
Olhando fotos e relembrando os momentos que curtira naquele dia, os que não tinham sumido em meio a tanto álcool, ele sentia uma felicidade verdadeira vinda de dentro. O jovem lembrava-se de estar feliz na balada, mas não por estar bebendo mais do que deveria, e até mais do que suportava seu corpo.
As memórias brincavam com sua cabeça dolorida, iam e vinham em pequenos flashes, mas ele já não se apegava nelas, já tinha entendido o que acontecera, e o motivo da felicidade que o tomava. Foi aniversário de um amigo bem próximo, todos extravasaram e curtiram, mas o que realmente deixava Gustavo contente era lembrar o sorriso de cada amigo naquela noite.
Com um sorriso de canto de boca, e bem no intervalo do enjoo, o jovem resumiu seu fim de semana, talvez até uma boa parte de sua vida, em uma frase:
- Foi demais, eles são demais.
    Guilherme
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cia-bellatores · 10 years
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Já passou
E dos tantos assuntos na boca do povo, o 7x1 já passou! E você já sabe do que se trata, aliás, já sabia. Dá-lhe duas semanas e o povo já esquece, igual soluço: tomou uma aguinha e já se foi. Será mesmo que foi tão ruim assim?
Tanto problema a resolver e discutir… Depois de cinco meses, passa um pobre mendigo hoje, dia 11 de novembro de 2014, gritando: “nossa, que vergonha! Perdemos de sete a um!”.
Fez o povo dar risada, mas no fundo refletir, de verdade, sobre o desastre mais comentado do que o atentado ao World Trade Center.
Entretanto, não podemos esquecer o Brasil é o país do futebol, mesmo com tudo que já aconteceu. E já, já outra copa está aí, o povo ansioso está esperando.
Dá-lhe Brasil novamente!
    Yago Campozano
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cia-bellatores · 10 years
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Mundo vadio
Numa piscadela, sentiu que o tempo já passara, o tempo não para, as águas que correm aqui já não correm mais.
Ela se lembrava melancolicamente das pessoas que passavam por sua trajetória, e das chances que já perdera. E num respaldo de tempo resolvera viver, afinal nada do que fizera se considera mudança.
A menina era perfeitamente correta, alinhada sob tudo aquilo que se enquadrava no padrão moral.
E num desejo tardio pensava consigo mesma: “padrão moral? Afinal, não serão as raízes de uma sociedade conservadora que limitam o pensamento, e escravizam nossas mentes…”. E a passos do silêncio construira seu pensamento; algo a perturbava, algo a incitava, algo a corrompia.
Sua fase de “boa mocinha” já se fora; agora ela era um beta, se criara na rua, era uma veterana do mundo e conhecia suas imperfeições.
Em suma, a ação de viver não implica no fato de como viver e sim de viver. Sendo determinismo ou fatalismo, o que importa é que a vida está batendo em sua porta.
     Yago Campozano
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cia-bellatores · 10 years
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Ela faltou de novo!
Não acredito! Mil horas até chegar aqui, e nada da bendita. Ela, que costuma ser bem exigente quanto a horários e acertos, desmarca novamente um compromisso que, já aguardado por mim, não acontece. Ansioso, olho para os lados e tento imaginar o motivo da sua falta. Vai saber o que se passa; talvez seja febre, talvez seja amor, talvez não seja nada, talvez até nem seja. Imagino a coitada assistindo à TV, amendoins ao dispor e seu empregado servindo breja. Nossa, será ela capaz? Não, já descobri a brincadeira, a danada vai sair hoje à noite, em plena terça-feira, deixando a manta que a cobre do frio do Alasca, empolgada para uma noite sertaneja.
Apreensivo por uma resposta, torço para não ser nada mais grave. Espero que seja apenas uma dor de garganta. Nossa, mas eu, que anta! Essa deve ser a pior dor para uma professora. Bom, desejo melhoras, talvez na próxima terça possamos assistir a uma aula boa, e eu não precise escrever essas asneiras. Yago Campozano
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cia-bellatores · 10 years
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Um motivo para não ir à final do campeonato
O estádio estava digno de uma final de campeonato. Duas semanas atrás contrataram uma equipe para pintar os muros que cercam aquele gramado. Hoje, dia de clássico, vejo muitos torcedores eufóricos, prestes a prestigiar a partida que tem tudo para terminar em uma vitória nossa.
O rival não conta com seu principal craque e o juiz está vestindo um tom muito parecido com o nosso verde. Podem me chamar de supersticioso, eu sou mesmo. O sol está brilhando e minha mulher não me deu sermão ao sair de casa. Tudo estava caminhando bem, bem até demais.
Dirigi-me ao bar de sempre para tomar aquela gelada antes do início da partida – aquela que dá sorte -, mas o ritual não saiu como planejado. Na porta do bar o Pedrão, líder da nossa torcida organizada, gargalhava e bebia junto a nossa bateria. Seria uma visão normal em dia de jogo, se não fosse pelo menino magricela vestindo farrapos. Era de cortar o coração.
Não que o Brasil seja um país maravilhoso, onde situações assim são raras de se ver, mas o moleque tinha muito de mim. Se eu não estivesse ali, diria que o coitado era eu, quando pequeno.
Aproximei-me do garoto a fim de tentar ajudar em algo. Ele não pareceu nem um pouco assustado ou intimidado com a minha presença, isso me fez repensar a ideia de que ele se parecia comigo. Definitivamente, não tínhamos nada a ver um com o outro. Ofereci uma lata de Coca-Cola e, imediatamente, o guri aceitou. Caminhamos até o bar e lá trocamos uma ideia. Ele insistiu para que eu o pagasse uma cerveja. Confesso que me senti tentado a dar álcool ao menino, mas não, ele já me parecia ter problemas demais. Nada de aumentar as chances de criar mais um alcoólatra.
Bebi refrigerante para acompanhá-lo e, quando me dei conta, não havia mais torcedores pelo bar nem pelas ruas. O jogo já devia ter começado. Ele percebeu minha análise e fez menção de se levantar. Ora, eu não podia deixar o garoto ir embora naquela situação. Claro que a mulher jamais me deixaria adotar um menino de rua, ela é decente e de bom coração, mas tem muito medo de criança com a mente já formada. Se fosse para adotarmos, ela faria questão de um bebê que pudéssemos educar à nossa maneira.
Pela gritaria vinda do estádio, com certeza fizemos um gol. A vontade de estar lá dentro era imensa, meu time estava prestes a ser campeão nacional (ou não). Respirei fundo, puxei o ingresso meio amassado do meu bolso e entreguei nas mãos do guri. Ele me olhou com desdém, pensando que eu estava zombando da cara dele, mas deu um baita de um sorriso e me abraçou de imediato quando percebeu que era sério. Tive de acompanhá-lo até os portões de entrada do estádio para garantir que os brutamontes responsáveis pela segurança não o barrariam.
Foi apenas o tempo de vê-lo entrar e acenar de longe. Aquele sorriso, de fato, era de alegria.
      Guilherme
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cia-bellatores · 10 years
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Seu Alberto, o Pensador
Seu Alberto pensa todo dia de manhã. Desce as escadas de pantufa branca e samba-canção grená, senta em sua poltrona de couro preto e pensa. Dona Dalva resmunga e Seu Alberto pensa. A chuva faz poças no jardim e Seu Alberto pensa. Espanta-me o fato de Seu Alberto nunca ter tido dor de cabeça de tanto pensar.
Na manhã de domingo, Seu Alberto levantou e foi em direção à sala para cumprir sua rotina. Dona Dalva deixou o café no fogo e foi em direção à porta recolher o jornal. Antes que pudesse encostar a poupança no estofado, o velho ouviu o grito desesperado de sua mulher. Correu em direção à porta, mas ali nada havia a não ser o jornal do dia na grama molhada. Ele observou a rua com cautela e, diferente de todos os domingos, a Aristóteles Cunha estava deserta. De repente, um clarão esverdeado dominou o céu. Ele correu assustado para casa e, com muito custo, passou a chave na porta.
- Dalva, Dalva! Cadê você, mulher? – gritava o Alberto desesperado.
Mas Dona Dalva não respondia. E o verde deu lugar ao preto e, a cada segundo que passava, mais escura a casa ficava. Se olhasse pela janela só nuvens negras era possível ver. O tique-taque do relógio ecoava alto pelos cômodos. Ao soar da primeira explosão, Seu Alberto não se conteve e molhou totalmente a samba-canção grená. Ele correu para o quarto do casal e ajoelhou em frente ao retrato de Santa Maria, Mãe de Deus.
- Minha santinha, minha senhora… Mãe… Sei que nunca rezei e muito zombei das orações da Dalvinha, mas, seja lá o que estiver acontecendo, me tira dessa, mãezinha!
Mas, com ou sem oração, a escuridão só ficava pior. E o frio começou a dominar o ambiente, fazendo a mandíbula de Seu Alberto sacolejar. Vultos estranhos começaram a aparecer, na sala, no quarto, na poltrona de couro preto. Vultos, frio e mais vultos. O velho não sabia o que fazer, tentou abrir a porta de entrada, mas a maçaneta ardia em brasa. Tentou subir as escadas, mas estas começaram a derreter. Tentou fugir pelo vitrô da cozinha, mas uma fumaça negra o impedia de enxergar.
Seu Alberto tremia, perambulava, rezava, mas o pesadelo parecia sem fim. Então ele desabou. Caiu de joelhos e se pôs a chorar. E chorava, soluçava e rezava. E pedia, se irritava e arrependia. E chamou Dalva, a mãe, Seu João da padaria e até Tobias, o pinscher miniatura que perdera havia uns dois anos.
De repente, ouviu o grito de Dalva:
- Vai dormir, seu velho drogado!
     Guilherme
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cia-bellatores · 10 years
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Esperanza
E eu, enfim, resolvi morrer…
Mas os pensamentos não cessam e meu corpo, por ora trêmulo, não consegue nem sequer digerir a ideia de um dia deixar de existir. Sei que ficarei bem, meu coração anseia pelo desligamento de todas essas máquinas desde o momento da internação. Ele nunca quis estar aqui, assim como eu.
Ouço o ranger da porta se abrindo, mas meus olhos não conseguem fazer o mesmo. Há dias que não pisco, que não vejo a claridade. Aqui é tudo escuridão. Posso sentir seu perfume… meu olfato ainda funciona bem, ou talvez minha pequena irmã ainda não tenha perdido a mania de querer ser notada. “Eu sempre te noto”, quis a ela dizer, mas meus lábios - frios, sem cor, sem vida - já não mexem mais. Não pronuncio nenhum som, e o silêncio é ensurdecedor! Mas é melhor do que ouvi-la chorar (todas as vezes em que me visita); nestes momentos me questiono se ela pode me ouvir. Por que ela sempre chora quando os pensamentos sombrios me atingem? Ou será apenas minha imaginação me pregando peças? Ora, ela sempre chora. E, ainda assim, a chorona é minha melhor companhia. Não que o amor aos demais seja menor, ou o desejo de tê-los comigo, mas ela necessita de mim… Da minha presença, de minhas asas, da minha proteção. E se lutei até aqui, foi por causa dela.
Porém, hoje meu corpo dói. Morfina – ou seja lá que diabos a enfermeira me aplica diariamente – já não surte tanto resultado, e minha cabeça, maldita cabeça… Constantemente me pego perdida em meio a devaneios. Meus parentes vêm até aqui e pronunciam palavras de conforto, às vezes até frases e pequenos discursos de grandes ícones da humanidade como Gandhi, Shakespeare, Luther King. Minha doce mãe é a única que me lê poesias. Lembro-me da época em que eu devorava livros. Sinto falta de poder ler.
Às vezes sinto que lágrimas escorrem em meu rosto, mas por que ninguém as vê? Serão elas fruto de minha imaginação? Custo a acreditar. Havia noites em que eu podia sentir uma presença divina, e nestas eu me alegrava, o que me ajudava a sobreviver. Porém, acabou. Acabaram-se os sonhos e também os pesadelos, afinal, nada é mais assustador que a minha própria realidade.
Já é noite, posso sentir pela brisa que vem pela janela. E o aprofundar da escuridão que emerge em meus olhos fechados também me ajuda a distinguir. Hoje foi diferente. Agora, conversando comigo, senti o meu subconsciente agir… Ele me trouxe lembranças da família, dos amigos, dos abraços, dos sorrisos. A brisa gelada não me deu frio, pois um calor tomou conta de mim. Acho que é Deus. Acordei num anseio pela morte e inconscientemente mudei o meu desejo.
Já é noite, e só o que eu quero é mais um dia de vida. Posso sentir as lágrimas contornando as curvas de meu rosto. Dessa vez, mentalmente eu sorri. Não era fruto da minha imaginação, minha irmã as viu. A excitação dela foi o melhor presente que recebi ao longo de toda a minha jornada. Não vou desistir! Um dia, meus olhos hei de abrir.
E eu, enfim, resolvi viver…
    Luna
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cia-bellatores · 10 years
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Sensação de Liberdade
Estou a 80 km/h na Rodovia Rio-Santos, com um sorriso no rosto pelo simples fato de estar fazendo uma das coisas que mais me agradam. Tenho certeza de que esse sentimento que a maioria de nós possui ao viajar em ocasiões como essa, onde o trajeto não é tão grande, a preferência é ir de carro. Sentindo a estrada e o vento no rosto, a música que toca e os amigos que geralmente vão junto, transformando a jornada numa festa completa.
Aliás, o caminho pode até ser longo, o que importa mesmo é essa sensação indescritível quando você passa por um lugar nunca antes visto e para em determinados pontos apenas para ver o sol ou tirar uma foto, se deliciar em algum restaurante, trocar conhecimento com os moradores pelas cidades no caminho. Esse é o tipo de coisa inevitável para quem realmente gosta de viajar – e viaja. E outra, por mais que tenhamos um roteiro programado, estamos sempre em busca do novo.
Geralmente uma boa viagem rápida leva de 3 a 5 dias, o primeiro sendo apenas para se instalar e os próximos três para aproveitar o máximo que puder. O quinto e último dia é toda aquela preparação para voltar pra casa. Uma tarefa muito difícil, pois é um choque e tanto voltar à realidade, muitas vezes bate a vontade de jogar tudo para o alto e ficar mais dias aproveitando a vida. Mas como nem tudo são flores, nós sempre voltamos ao mundo real para que outros dias como esses sejam futuramente possíveis.
    Mathaus
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cia-bellatores · 10 years
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O Guaxinim Pererê
Nossa história se inicia em 10 de abril de 1912, com a brincadeira “Só a cabecinha ou quem quer ser um talarico” do jovem Jack – galanteador, cabelos loiros, pele branca, olhos tão azuis quanto o céu às 10h da manhã, em suma, uma aparência perfeita – muito parecido com um tal de Leonardo DiCaprio. Uma brincadeira que o levou à morte encefálica causada pela hipotermia, num naufrágio em meio ao Atlântico Norte, na madrugada de 15 de abril do mesmo ano. Rose – ruivinha maligna e egoísta, que não teve a capacidade de dividir o espaço sobre a porta gigantesca que a salvou naquela noite – era noiva, e foi o principal motivo da morte de Jack, após tê-lo induzido ao caminho da perdição. Ambos viveram uma linda história de amor, que durara somente cinco dias, mas resultara em algo para o resto da vida, um filho.
Nove meses após o acidente, nasce Frederico Martins, uma criança quase perfeita, se a mesma não tivesse nascido sem a perna esquerda. Fred, assim apelidado, sofreu abandono aos cinco anos, quando sua mãe Rose – que sofria com distúrbios mentais – decidiu aventurar-se em uma jangada, embarcando em uma jornada sem volta à procura do seu amor, que acreditava estar vivo e perdido no mar. Desde então, Fred foi criado pelos tios Tico e Consuelo.
Fred cresceu em meio a diversas dificuldades impostas pela ausência de sua perna esquerda. Sofreu muito bullying no colégio. Nas aulas de educação física, o mesmo era sempre o último a ser escolhido durante a divisão dos times de futebol. Os outros meninos sempre zombavam: “Quero ver você me dar uma rasteira, perninha”. Ainda assim, com todas as limitações, Fred conseguia se adaptar sem a perna. Tico, seu tio, sempre lhe mostrou o outro lado da moeda, dizendo que nada acontece por acaso e que tudo nessa vida passa, pois, apesar das dificuldades, no final as coisas sempre se resolvem. Apesar de ser o garoto mais zoado da escola, Fred cresceu com o caráter de um grande homem, devido às demais circunstâncias.
No último ano do ginásio, durante um passeio escolar no zoológico Bronx Zoo, em Nova York, Fred não sabia que, ali, sua sorte iria mudar. Como sempre, o jovem estava fazendo rimas junto de seus amigos, Aristides e Célia. Durante a caminhada, o mesmo foi mordido por um guaxinim mutante que havia fugido de um laboratório secreto próximo dali. Após a mordida na nádega direita, Fred se sentiu indisposto, com tontura e alucinações. Todos à sua volta estavam ficando com cara de guaxinim. Atordoado, ele foi para casa.
No cair da noite as alucinações pioraram. De repente, o jovem sentiu algo recostado sobre sua perna; assustado, levantou-se rapidamente e, para sua surpresa, outra perna havia brotado no lugar onde nada havia. Fred sentia-se também mais forte, veloz e com todos os sentidos apurados. Para ele era um milagre. Junto às bênçãos concedidas, um sentimento de justiça nasceu dentro de si, como se uma missão fosse a ele imposta: a missão de lutar contra o mal de sua cidade, cujo índice de criminalidade era bastante alto.
A fim de treinar e aperfeiçoar seus poderes, Fred viajou para a Floresta Amazônica, no Brasil. Lá sentiu a natureza bem de perto, e pode conhecer o Mestre Maritaca, uma ave sábia de penas azuis, cujo criou um forte laço de amizade. O Mestre o treinou deixando-o cada vez mais forte, rápido e com os sentidos dez vezes mais apurados. Em meio ao treinamento, apareceu Xico - o macaco da floresta -, sempre serelepe, aprontando e fazendo farra. Xico, ao avistar Fred, logo disse que o mesmo se parecia muito com o pai. Encabulado com a afirmação, Fred perguntou:
- Xico, você conheceu meu pai?
- Sim, éramos amigos até ele se apaixonar por sua mãe. No dia de sua morte eu estava lá, fingindo-me de criança para entrar em um dos botes. Vi a tragédia de longe. Sua mãe, maldita seja, ignorou o fato daquela porta ser imensa. Cabiam muito bem os dois sobre ela. Vadia.
- O quê?
- Alegria, menino! Hoje você está aqui, com duas pernas e treinando junto ao Mestre Maritaca!
Após todo o treinamento, e com novos amigos na bagagem, Fred terminou sua jornada no Brasil com um ensinamento para a vida toda. Antes de sua partida, seu Mestre disse: “Lembre-se de quem você era e quem você se tornou. Você sempre foi forte e corajoso, mesmo sem uma das pernas.”. O Mestre Maritaca lhe deu o nome de Guaxinim Pererê para que ele nunca se esquecesse de seus ensinamentos.
De volta à Nova York, Fred deparou-se com a cidade submersa em caos. O homem Cotia - um cara perverso e maldoso - encontrava-se aterrorizando a cidade. Ali, o jovem Guaxinim Pererê encontrou a primeira oportunidade de se tornar um herói. Com seu novo uniforme preto e cinza, e sua máscara de guaxinim usada para proteger sua identidade, Fred enfrentou Cotia em uma luta intensa e, com muita dificuldade, dedo nos olhos e diversos outros golpes baixos, o Guaxinim venceu, conquistando a simpatia da população que, por sua vez, o promoveu herói da cidade.
Após isso, ele venceu outros diversos tipos de vilões, todos a mando da criatura mais perversa da cidade, Samantha, a Dona Joaninha - arisca, fria e sem sentimentos -, que queria dominar Nova York a qualquer custo, mas tinha como maior obstáculo o Guaxinim, seu mais novo inimigo mortal.
Fred andava tranquilamente pelas ruas quando encontrou Aristides, que de primeira observou as duas pernas de seu melhor amigo. Descrente do que via, Aristides perguntou:
- Mas como assim, duas pernas?
- Cara, fui até o Brasil fazer um tratamento pelo SUS. Aleguei estar com dor no pâncreas e eles me deram uma perna de carne e osso! Impressionante! Os médicos brasileiros são muito avançados, um verdadeiro país de primeiro mundo.
Após muitas gargalhadas, Fred contou a verdade para o seu melhor amigo, desde a mordida na nádega direita até o fato de ser o Guaxinim Pererê, herói da cidade. Porém, nenhum deles havia notado a presença da Formiga – extremamente invejosa, sorrateira e pequenina –, que ouvia discretamente o diálogo entre os amigos. Tomada pelo recalque, Formiga foi à procura de Samantha e revelou a identidade secreta do seu arquirrival. Samantha, a Dona Joaninha, resolveu se aproximar de Fred usando a tática de Dalila com Sansão, a arte da sedução seguida da busca por um ponto fraco.
Fred, por sua vez, ficou totalmente cego pela vaidade, orgulho e autoconfiança. Não percebeu que, quando o ser humano ganha muitos bens, passa a se sentir superior a tudo e todos. Com o ego inflado, acabou se afastando de seus amigos e colocando de lado todos os ensinamentos de seu antigo Mestre. Nosso herói começou a ser perder e, em uma de suas batalhas, sofreu um grave ferimento na perna ganha, percebendo que toda a sua força havia sido reduzida. Eis o seu ponto fraco: a perna que havia nascido era a mesma que lhe dava todas as suas novas habilidades.
Samantha já havia conquistado a confiança de Fred e, em uma de suas conversas, o mesmo acabou contando o segredo que ela tanto buscava. Na primeira oportunidade, enquanto Fred dormia, Samantha sutilmente se levantou da cama e, com uma peixeira exorbitantemente afiada, arrancou a perna esquerda de Fred.
Estava consumado, nosso herói sofria sem força, habilidade e perna. Assim, Samantha pôs em prática seu plano maligno, tomando Nova York para ela. Na escuridão, totalmente perdido sem os amigos, Fred se deparou com a Formiga que, totalmente arrependida do seu feito, se voltou ao herói dizendo:
- Você não pode desistir, lembre-se de quem você era!
As palavras o atingiram como um golpe, fazendo-o se lembrar dos ensinamentos do Mestre Maritaca: “Lembre-se de quem você era e quem você se tornou. Você sempre foi forte e corajoso, mesmo sem uma das pernas.”. A frase, mais uma vez o fez refletir e, mesmo sem sua perna e poderes, Fred vestiu o seu antigo uniforme e partiu para o tudo ou nada na mansão da Dona Joaninha.
Lá eles travaram uma luta emocionante, que resultou em diversos ferimentos para o nosso herói, que já não dispunha mais de toda a sua força e habilidade. Samantha, em um de seus golpes, o lançou fortemente contra uma parede que desmoronou em cima de Fred. Seria o fim de nosso grande herói.
Embaixo das pedras, Fred viu o filme de sua vida passar em sua cabeça, toda a sua infância, sua mãe e tios, os ensinamentos do Mestre. De repente, com um grito alto e forte, Fred viu seu corpo começar a brilhar e ter sua força restabelecida. Mesmo sem a perna que lhe concedia tudo aquilo, o jovem Guaxinim Pererê teve todos os poderes de volta, devido aos seus sentimentos mais profundos de superação. Totalmente restituído, o Guaxinim lutou bravamente contra sua arquirrival Dona Joaninha, e triunfou, tomando Nova York de volta.
Após a batalha, a única vitória que ainda o interessava era a de resgatar as suas amizades. Com tudo normalizado, ele reencontrou seus melhores amigos e, com um sincero pedido de desculpas, os uniu novamente.
Pouco tempo depois, nosso herói retornou ao Brasil para novamente treinar com o seu Mestre e fazer o tratamento no SUS, acreditando na possibilidade de reaver sua outra perna.
    Wesley
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cia-bellatores · 10 years
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A Música Certa
Mais uma vez me encontro aqui jogado no canto da sala como se não houvesse amanhã, mas não por razões ruins e sim pela experiência que mais anseio, que me leva a sensações únicas e abala o meu estado emocional a ponto de eu não conseguir enxergar o que está em minha frente. Fico a pensar em tudo o que vou e posso fazer no momento em que entrar naquele ringue. Todas aquelas pessoas que vieram prestigiar o evento, penso em como surpreendê-las, e até mesmo os meus amigos que, com toda a certeza, estão mais apreensivos do que eu. 
  Entro em transe nessas horas, ao colocar o fone de ouvido e escutar minhas músicas favoritas. Cada uma delas incita um tipo de emoção e, no momento, estou ouvindo uma que considero muito motivadora, e que me impulsiona a grandes coisas. “The Final Countdown’’ que, em uma breve tradução, significa “A Contagem Regressiva Final”. Só de escutar aquela introdução já ganho uma dose incrível de adrenalina! Não sei, mas acho que muitos de nós somos movidos à músicas ou, em determinadas fases de nossas vidas, acabamos aderindo elas como se fossem o nosso repertório particular.
  E eis o momento que eu tanto esperava: meu nome está sendo chamado. Não apenas minha mente, mas todo o meu corpo reagiu àquele anúncio. Depois de uma leve preparação eu já estava pronto para sair daquela sala de espera, ficando apenas no aguardo do segundo chamado. Sabe qual a melhor parte de tudo isso? Sempre colocam as músicas escolhidas pelos atletas para a apresentação dos mesmos.
  Eu, é claro, não poderia deixar de escolher uma que me tranquilizava… “We’ll Be Coming Back” e, assim como a música afirma que nós voltaremos, me esforçarei para voltar vitorioso.
    Mathaus
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