Tumgik
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sinto saudades de versões de mim que talvez não tenham verdadeiramente existido
sinto que o que é genuinamente meu eu deixei escapar: as cores, as curvas, os cantos, os risos, os sonhos, os sentidos
às vezes parece que não há resgate possível, ou então que revivê-los não teriam o mesmo sabor
sou um paladar deteriorado que já não sabe saborear a vida. uma dicotomia entre haver e não haver fome: prevalece o vazio que transborda.
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desejo anestesiar os afetos quando eles esperneiam no peito
penso sobre o passar do tempo e sobre o quanto tudo dura, sobre o quanto devo durar
estou no ponto exato entre o barulho e o silêncio, entre o começo e o fim
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o corpo fala
tenho acordado com a boca seca, com lábios rachados que bravamente resistem aos meus cuidados. hoje isso se repetiu e me pus a pensar nas feridas que não cicatrizam. nas feridas que doem e se rasgam um pouco mais em momentos inesperados, só pra lembrar que ainda estão ali. fiquei pensando nas vezes que o corpo fala do que tá por dentro. deixa tudo exposto. a fissura-ferida mostra que o cuidado ainda não fez efeito. que não se encontrou o remédio certo. que o corpo-alma talvez não tenha recebido ainda o olhar e a gentileza de que precisa. é assim: a ferida sempre se fecha de dentro pra fora, após pequenos-infinitos-combates entre forças antagônicas que vivem em nós. às vezes fica a cicatriz, mas a dor não precisa ficar.
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algumas coisas, de tão bonitas, despertam o choro
você já se deparou com algo tão bonito que a única reação possível era chorar?
pode parecer estranho, mas é exatamente assim que eu me senti quando falávamos sobre saudade, sobre encontro, sobre precisar terrivelmente um do outro, sobre o insubstituível aconchego de um abraço, sobre sermos abruptamente privados de tudo isso.
hoje essas coisas se escancaram mais do que nunca.
toda troca é valiosa. as telas não preenchem por completo as lacunas do mundo fragmentado.
éramos no meio de tantos e tantos eram junto de nós.
é bonito ser junto. é potente ser junto.
é preciso ser junto pra aprender a ser só. é preciso do outro pra se ver, pra construir, pra pertencer.
tenho pertencido a muitas histórias e construído tantas outras. sempre em par.
espero por nossas reprises.
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a solidão tem sido minha companheira nas caminhadas de dentro e de fora
já não sei a diferença entre solidão e solitude. não sei se isso tem importado muito.
eu me arrasto por entre quatro paredes tentando preencher o espaço. o espaço da casa feita de concreto e da casa feita de carne.
nem sempre tenho tido sucesso.
eu que sempre cheguei no horário, ignoro completamente os relógios. eles já não podem me exigir nada.
já não sei quanto tempo duram os dias ou mesmo quantos dias eu duro.
não estou certa de que as coisas antes eram muito diferentes. talvez já estivéssemos há muito tempo isolados em nossas próprias ilhas, em nossas próprias bolhas. ensimesmados, sozinhos. tentando preencher os espaços vazios com coisas frágeis demais. tão frágeis quanto nós mesmos.
a solidão é seta que aponta o desamparo. ela sempre foi companheira nas caminhadas de dentro e de fora.
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tenho evitado falar de amor para não me sentir idiota caso você não me queira da mesma maneira
ouvi dizer que é possível amar muito alguém e, ainda assim, não ficar bem estando juntos.
não te parece um pensamento triste? corrosivo?
é algo como o que aqueles filósofos dizem: amar é deixar ir. deixar vir, se quiser.
mas a contradição entre o amor e a ausência estala. ainda me parece muito estranho: te amo e te quero longe.
não sou esse tipo de pessoa. quando te amo te quero perto, te quero solto, te quero ouvir, te quero tocar.
talvez seja apego. apego dói. apego é como enxergar no Outro o combustível da sua existência, da sua alegria.
talvez todo terapeuta dissesse algo do tipo. talvez não.
não te vejo assim. você não pode me fazer feliz.
ninguém pode, é verdade.
tenho pensado se nós, humanos, sabemos o que é o amor.
eu poderia tentar traduzi-lo aqui, mas me parece uma tentativa estúpida. eu não sei o que é o amor.
amor não se sabe, se sente. é mais um dos afetos inomináveis, “despencadores” (mas de um jeito bom).
tenho despencado por ti.
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sobre os cenários absurdamente felizes que poderíamos ter vivido, mas não vivemos e eu não sei por que. (ou carta nº 2)
eu já não sei sobre você. acho que você também não sabe de mim.
é uma pena, você não acha?
lembro dos cenários que você me descreveu naquela madrugada em que você chorou. achei bonito, sabe?
poucas coisas são tão verdadeiras quanto nossas feridas expostas. eu te vi em cacos. eu te vi por inteiro.
eram cenários absurdamente felizes entre nós dois. te confesso que revivo eles na minha cabeça com uma frequência maior do que eu gostaria de admitir.
seria bastante conveniente se por desejarmos muito uma coisa ela se concretizasse em nossas vidas. se assim fosse, eu te desejaria todos os minutos do dia. como naqueles cenários que você imaginou.
não eram cenários mirabolantes, era vida compartilhada. talvez por isso fossem tão bonitos.
eu te acho bonito, sabe? quando você me fala manso, quando você me faz cafuné, quando você não tem medo.
lembra quando te beijei os olhos? acho que foi o melhor beijo que eu te dei. silenciosamente eu dizia: eu te gosto pra além da casca.
estes cenários, por parecerem tão realizáveis, doem não ser vividos.
não foram vividos. e eu não sei por que.
você sabe?
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(dia)logos
“o que esse fim de tarde te faz lembrar?” - [ele me perguntou]
eu não tinha uma resposta certa para essa pergunta. mas quase de imediato, eu soube o que dizer:
não sei se é, de fato, uma lembrança. me vejo caminhando pelas ruas da cidadezinha, próxima às torres, naqueles lotes vagos de onde se pode assistir o pôr-do-sol mais lindo, das cores mais vibrantes.
[continuei o que agora me parece ser um monólogo]
estranhamente, também me faz pensar no fim. o fim do dia e a finitude de nós mesmos.
me lembro de uma mensagem que diz que devemos viver cada dia da melhor maneira possível, da maneira mais intensa possível, porque ele nunca vai se repetir.
é.
esse momento que nós compartilhamos agora não vai se repetir. e o amanhã talvez nem exista. talvez não existam segundas chances.
ao mesmo tempo, é tão difícil viver plenamente, né? eu gostaria de saber como.
...
eu ando muito sensível, preciso alertar que estarei insuportável pelos próximos dias.
“obrigado por avisar” - [disse ele enfim, disposto a me ouvir um pouco mais]
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objetos: entre o amor e o vazio
com medo de ficar sozinho
ele queria ter as duas
como objetos disponíveis
não como mulheres que sentem, amam, sofrem
ele alternaria entre as duas
para suprir suas carências
para deliciar o seu sexo
para acolher suas dores
                                                              -  ter as duas era vantajoso
“com você é diferente!” ele dizia
(para as duas?)
mas não demonstrava o afeto
não dizia “te quero comigo”
ela se submetia
esperando que o amor viesse
por acreditar ingenuamente que ele viria
como o mais devoto dos fiéis,
ela fazia sacrifícios esperando ser recompensada por seu “deus”
mal sabia ela que deuses são apenas idealizações humanas sobre os quais não recai nenhuma culpa.
“deuses” não pedem perdão.
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te sinto tanto que parece loucura
eu
que não acredito em destino, nem nos políticos ou deuses terrenos
quase consigo acreditar que te sinto, mesmo de longe.
às vezes, no meio do dia, me aperta o peito uma angústia que não é minha.
começo a imaginar se,
em outro ponto dessa geografia tropical,
você chora
como as nuvens que pingam no céu.
devo estar ficando louca.
talvez eu só sinta a sua ausência.
talvez eu me sinta demais.
talvez eu não saiba o que sinto,
o que falo,
o que calo.
eu gostaria de te saber mais.
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ouvi alguém dizer que, impedidos de nos distrair com o mundo de fora, somos obrigados a desbravar o mundo de dentro.
posso lhe garantir que é a mais pura verdade.
a cada novo dia me aproximo do espelho e reconheço uma parte até então desconhecida de mim.
encaro meus monstros. me apresento, busco ouvi-los. eles são barulhentos. famintos.
devoram algo que eu não sei bem o que é.
mas não há sombra de dúvidas de que seja algo de que sinto profunda falta.
eu deixo exposto o peito devorado. pra me lembrar da dor que dói mas não sangra.
no fim do dia, fecho os olhos e fazemos as pazes.
até que noutro dia se recomece a mesma dança.
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matilde estava certa. o mundo está tremendamente esquisito.
hoje depois da chuva eu senti a estranheza de existir.
ainda a sinto: chutando a porta do peito, me roubando o ar.
sinto falta de ser mais que eu. ou talvez de me ser inteira.
na verdade, não sei do que sinto falta.
lá fora as ruas estão vazias e escuras. talvez dentro de mim, também.
talvez por algum segundo todos nós compartilhemos essa angústia.
me parece agora que é o que temos de mais sincero, mais humano.
eu sei bem, todas as feridas doem antes que se possam curar.
é que dar vida ao verbo é o que movimenta aqui dentro.
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Tenho descoberto muito sobre mim quando penso em você.
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a gota d'água afoga
eu sempre apostava que da próxima vez ele não iria me machucar.
eu estava sempre enganada.
e, num instante, toda a cidade parecia me sufocar, me espremer.
os espaços eram estreitos demais pra comportar meu eu e tudo dele que ainda morava em mim.
eu ainda podia sentir sua língua no meu pescoço, suas mãos deslizando pelo meu corpo e o calor e o atrito entre nós dois quando ele me disse que existia alguém.
alguém que mexia com ele, para quem talvez ele pudesse se entregar, gostar.
mais que uma simples conexão carnal. enquanto dentro de mim já era muito mais que isso.
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sobre aquela que ele disse ser rainha
Era uma vez uma rainha
Do reinado fracassado
Do romance inventado
Sem um final feliz
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Me aceita.
Me aceita desse jeito?
Me encontra no meio do caminho?
Se importa.
Se importa comigo.
Você se importa?
Eu me importo demais.
Eu me entorto demais.
Você me bagunça. 
Mais uma vez.
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A minha demanda de amor esbarra na sua solitude. Solitude ou medo?  Sei que tem medo aí dentro.
Mas eu sou um outro tipo de desafio, 
um outro tipo de afeto, 
um outro tipo de sofrimento, 
um outro tipo de gozo, 
um outro tipo de entrega, [seu nome aqui].
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