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SEMANA DO DIA 14/06, CANNES/FRA.
Depois de ter um momento eureka lendo os diĂĄrios da sua mĂŁe, Wolfgang se obrigou a procurar jeitos de se livrar daquela situação. Tinha esquecido o seu celular quando foi Ă casa dos Glock uns meses atrĂĄs e nunca mais o achou. Logo depois que Baptiste Dupont desaparece, misteriosamente pistas contra ele ressurgem e ele Ă© preso pela polĂcia com base em dicas e no prĂłprio celular que havia perdido. E, claro, qualquer um que o conhecesse poderia dizer que esse nĂŁo era o tipo dele, e que realmente tinha mandado mensagem para os amigos e contatos avisando que perdeu o celular, mas como Chandler o orientou, isso podia ser apenas uma estratĂ©gia e Wolf nĂŁo tinha provas, enquanto a delegacia tinha seu celular.Â
EntĂŁo, ele precisava criar algumas provas.
ATO I.
SĂł que nĂŁo era tĂŁo simples quanto parecia. Como ele podia provar que o avĂŽ era um babaca que estava hĂĄ dĂ©cadas sabotando a prĂłpria famĂlia? Lembrava de ter tirado fotos das transaçÔes para Baptiste, mas tinham todas ficado no antigo celular, entĂŁo isso estava fora de questĂŁo. O homem era extremamente poderoso e sabia que ninguĂ©m de alta patente ou influente ia ajudĂĄ-lo, porque provavelmente jĂĄ estavam no bolso dele. Como se derrotar o inderrotĂĄvel? O evitar o inevitĂĄvel? O Ășnico jeito na cabeça dele era pedir ajuda de alguĂ©m que nĂŁo fosse influente escancaradamente, mas discretamente. AlguĂ©m que tinha poder, porĂ©m ninguĂ©m sabia disso. AlguĂ©m que podia descobrir qualquer coisa do seu avĂŽ sem que o contrĂĄrio tambĂ©m acontecesse. Um hacker. O hacker.Â
Wolfgang realmente desejou que CĂ©dric ainda ficasse de olho no antigo celular, porque seria um pouco constrangedor ter que ligar para a ex namorada pedindo para falar com o irmĂŁo. Felizmente, a sua mensagem de pedido de ajuda foi respondida no outro dia.Â
Quando soube que Eloise e CĂ©dric tinham saĂdo de Cannes, Wolf ficou um pouco triste porque tinha criado, ao menos em sua visĂŁo, um laço de amigabilidade. Gostava do garoto e nĂŁo concordava com tratarem ele mal, especialmente porque Martin sĂł fez tudo que fez por causa da famĂlia. Ainda assim, ficou feliz que o outro pudesse seguir em frente e que de alguma forma a vida o deu sim a sua irmĂŁ de volta... Exatamente por isso achou que nĂŁo o veria mais. EntĂŁo foi bem chocante, mas legal vĂȘ-lo na sua frente de novo no dia 13 de junho, batendo na sua porta.
â â Quem Ă© vivo sempre aparece.â â foi seu cumprimento com um sorriso, que surpresamente recebeu de volta. âEu nĂŁo posso ir embora por umas semanas e tu jĂĄ se enfia nessas roubadasâ, respondeu ele. Depois disso, ele passou a tarde toda conversando com CĂ©dric e explicando a sua situação. Foi um longo dia.
ATO II.
No fim das contas, o Martin sĂł podia o ajudar atĂ© certo ponto. Claro que ele conseguiria puxar dados, conversas e atĂ© movimentaçÔes bancĂĄrias do avĂŽ, mas seria muito difĂcil que um juiz aceitasse isso, pelos meios ilĂcitos em que foram conseguidos. Ainda assim, os dados que ele extraiu serviriam para sustentar a defesa de Chandler e para que ele arranjasse meios de transformar aquelas provas que nĂŁo tinham validade jurĂdica em algo cabal, como procurĂĄ-las por outro meios mais juridicamente aceitos.Â
Chegaram em concordĂąncia de que o melhor jeito de pegar GastĂłn era fazĂȘ-lo confessar. Mas como isso era possĂvel? Primeiro que o homem nĂŁo se retirava da sua fortaleza lĂĄ em Viena e, mesmo que viesse para Cannes, como iam conseguir a sua confissĂŁo por meios lĂcitos?Â
Essa parte ficou a seu encargo e, surpresamente, foi toda planejada por Wolfgang, cria de filmes e musicais de todos os gĂȘneros e nacionalidades.
Primeiro, o Mateschitz precisou fazer uma visitinha na MansĂŁo Glock. Precisou, com muito Ăłdio no peito, pedir autorização do juiz para sair do paĂs, mas depois de um acordo com Dietrich e o contato com a polĂcia, foi possĂvel. Chegou com o rabo entre a pernas, triste, falando da sua prisĂŁo, dizendo que suspeitava do avĂŽ paterno. JĂĄ tinha percebido que falar mal do velho Mateschitz era a chave para o coração dos Glock desde sempre, entĂŁo se utilizou daquela tĂ©cnica para manipulĂĄ-los a ponto de que pensassem que ele tinha sido ludibriado por eles com muito sucesso. Para pessoas arrogantes, nĂŁo bastava muito. Comentou sobre sua aceitação em Juilliard e que significaria muito para si que estivessem na peça de primavera que seria encenada no seu colĂ©gio, que seria uma forma de ter sua mĂŁe consigo em um momento crucial.
Dito e feito.Â
O Ășltimo passo para que aquilo desse certo era um esforço conjunto de Chandler e CĂ©dric e Wolf ficou nervoso com o combo improvĂĄvel; ainda existia muito que pudesse dar errado naquilo tudo.Â
ATO III.
No dia da peça, Wolfgang estava uma pilha de nervos. Precisava atuar de forma consistente e digna para nĂŁo decepcionar os colegas e nĂŁo fazer feio na frente de tanta gente importante (imagina se a Juilliard revoga a aceitação dele?); ainda assim, a Ășnica coisa que ressoava em sua mente era tudo o que precisava fazer e falar.
Antes do inĂcio do Ășltimo ato, como combinado com o homem, GastĂłn veio falar com ele. O garoto respirou aliviado ao vĂȘ-lo entrar no camarim, porque chegou a imaginar que talvez nĂŁo fosse dar certo. O velho o parabenizou e o encheu de elogios. Entrava aĂ a parte final do seu plano.
â â Obrigada. Significa muito a presença de vocĂȘs. Gostaria que minha mĂŁe estivesse aqui.â â foi como iniciou a coisa toda. GastĂłn assentiu. âEla estĂĄ aqui, do jeito delaâ, o clichĂȘ usado irritou muito Wolf e ele temeu nĂŁo conseguir atuar do jeito que precisava. â â VocĂȘ acha que ela teria orgulho de mim? Sendo aceito na Juilliard? Ăs vezes fico me perguntando isso, se ela ou meu pai gostariam de quem eu sou e das escolhas que estou fazendo.â â declarou, encarando o avĂŽ com o que esperava ser um olhar infantil. âEu tenho certeza que sim, ela se orgulharia de vocĂȘ independentemente de qualquer coisa. E seu pai, bom, nĂŁo Ă© meu filho, mas era como se fosse. Ăramos muito prĂłximos. Ele tambĂ©m teria muito orgulho, porque ele mesmo tomou decisĂ”es parecidas com as suas. Ele tambĂ©m notou que seu outro avĂŽ nĂŁo era alguĂ©m para se ter por perto. Os dois teriam muito orgulho, filho, ainda mais de saber que vocĂȘ Ă© corajoso e inteligente para entender as coisas e fazer as suas escolhasâ, o garoto mal acreditou que um velho inteligente daqueles tinha caĂdo na sua armadilha tĂŁo facilmente; achou que precisaria dançar um pouco mais para tal.Â
Agora vinha uma parte crucial. Ele precisava agir conforme o plano e nĂŁo ferrar com tudo. Precisava. Fez uma oração silenciosa e entĂŁo mexeu nos bolsos, se certificando de que o gravador do celular estava ligado. â â Ă uma loucura que um avĂŽ faça isso com um neto, nĂŁo acha?â â forçou o tom, voltando a encarĂĄ-lo. Notou que alguma coisa mudou na expressĂŁo alheia, mas Glock era mestre em disfarçar. O homem assentiu. âĂ uma atrocidade da naturezaâ, afirmou. â â Ainda bem que eu escolhi o lado certo da famĂlia. NĂŁo ia querer ficar do lado de um criminoso que planta evidĂȘncias e comete acidentes contra a prĂłpria famĂlia.â â insistiu, e naquele momento o celular gravando quase escorregou da sua mĂŁo, de modo que movimentou o bolso e GastĂłn percebeu.Â
Bruscamente o mais velho puxou-o pela mĂŁo e tirou o aparelho do seu bolso. Um riso de deboche saiu dele. âEntĂŁo essa era sua estratĂ©gia, garoto? Me arrancar uma confissĂŁo. Devo dizer que te subestimei, mas nĂŁo muito. Isso Ă© extremamente infantil da sua parte se achava que eu ia simplesmente soltar meus segredos para vocĂȘ gravarâ, debochou ele. â â Deve ser de famĂlia tentar plantar evidĂȘncias.â â Wolf respondeu, olhando-o com raiva. âBom, pelo menos vocĂȘ descobriu a verdade, o que quer dizer que nĂŁo Ă© completamente retardado. Pior para vocĂȘ, que vai ter que passar o tempo na cadeia sabendo disso. Me dizem que Ă© pior, mas nĂŁo sei, porque nunca aconteceu comigoâ, o tom dele era enervante e se jĂĄ nĂŁo estivesse por um fio, teria agredido aquele velho ali mesmo. âMas me diga, filho, tenho curiosidade de saber como descobriuâ, demandou ele, cruzando os braços e parecendo interessado. â â Os diĂĄrios da minha mĂŁe. Ela escreveu coisas sobre vocĂȘs e... Bom, sĂł conectei os pontos.â â contou, fechando as mĂŁos em punho, tentando conter o Ăłdio que sentia por aquele homem bem ali. âAh, Brigitte. AtĂ© quando nĂŁo estĂĄ aqui Ă© a pedra no meu sapato. Depois de tudo que passei para fazer isso ter um fim, era de se imaginar que ia ter paz. Mas pelo visto Ă© verdade o que dizem, o fruto nunca cai longe da ĂĄrvoreâ, a frieza com quem ele falava aquelas coisas espantavam Wolfgang e o deixavam ainda mais tentado a perder o controle. â â VocĂȘ Ă© um velho egoĂsta e ganancioso. Tudo isso pra que, hein? Dinheiro? Que dinheiro compra uma famĂlia?â â questionou.Â
A resposta foi uma sonora risada. âEsse Ă© seu ponto fraco, Wolfgang, pensar desse jeito. Ou melhor, nĂŁo pensar. Por qual motivo vocĂȘ acha que uma famĂlia perdida ia aparecer depois de anos? Com certeza nĂŁo Ă© porque quer te chamar para jantar. VocĂȘ Ă© um garotinho burro. O Ășnico motivo pelo qual vim aqui hoje foi porque queria ver a sua cara de derrota pela Ășltima vez antes de ser preso. VocĂȘ surrupiou os diĂĄrios da sua mĂŁe, entĂŁo imagino que saiba o que acontece com quem se mete onde nĂŁo Ă© chamadoâ, foi o tom ameaçador usado pelo mais velho. O garoto respondeu: â â O que tĂĄ dizendo, entĂŁo? Que vocĂȘ, Gaston Glock, mandou matar sua prĂłpria filha? Mandou prender seu prĂłprio neto?â â questionou ele. Antes de responder, ele riu novamente. âTem certeza que tem todos os neurĂŽnios, filho? Precisa que te desenhem? VocĂȘ quem deixou seu celular na minha casa e eu seria um tolo de nĂŁo usar isso ao meu favor. Quem sabe depois de sair da cadeia vocĂȘ aprende a nĂŁo cair no papo das pessoas tĂŁo facilmenteâ, ironizou Glock; Wolfgang estava furioso. â â EntĂŁo nĂŁo foi Baptiste DuPont que me entregou para a polĂcia...â â comentou e o avĂŽ balançou a cabeça. âVocĂȘ acha que aquele covarde ia ter coragem de fazer isso? Ele saiu correndo assim que a coisa ficou feia para ele. Na verdade, Ă© atĂ© inteligente da parte dele, pena que vocĂȘ nĂŁo fez o mesmo, aĂ eu fui obrigado a fazer as coisas do meu jeitoâ, â continuou o homem. â â EntĂŁo vocĂȘ plantou evidĂȘncias mesmo? Isso Ă© crime!â â exclamou o garoto. O mais velho riu novamente. âMuitas coisas sĂŁo crime nesse mundo e tem gente que liga muito para isso.. Ă por isso que podemos diferenciar os bilionĂĄrios das pessoas comunsâ, o homem proferiu. Os dois ficaram em sil~encio por uns segundos, e o celular de Wolf, que estava ainda na mĂŁo do avĂŽ, fez o sinal de mensagem.Â
Wolfgang sorriu, o que causou estranheza em Glock. âPerdeu completamente a cabeça, garoto?â, questionou. â â Veja sĂł, GastĂłn, vocĂȘ tem razĂŁo. Eu sou um garotinho inocente na maior parte das vezes. Talvez isso seja porque eu sempre senti muito a falta de uma famĂlia, ou sei lĂĄ o que, mas eu nĂŁo sou burro. Como vocĂȘ bem disse, a fruta nĂŁo cai longe do pĂ©. E isso Ă© verdade, mais do que vocĂȘ imagina.â â iniciou o seu monĂłlogo. Agora que fez tudo que podia, precisava ter o seu desfecho naquilo tudo. â â Uma vez eu perdi uma luta super importante, final de campeonato. Cara, aquela doeu. NĂŁo sĂł porque ele me nocauteou, mas porque eu fiquei muito feliz quando soube quem era o meu competidor. Um garotinho, dois anos mais novo que eu, 15 centĂmetros a menos. TĂĄ de brincadeira? SĂł podia ser a final dos sonhos. Eu fiquei me gabando disso por semanas. E sabe o que aconteceu? Ele me nocauteou com poucos minutos. Sabe por que? Porque eu fui arrogante. Igualzinho Ă vocĂȘ agora.â â foi muito satisfatĂłrio falar aquilo e o sorriso do austrĂaco apenas aumentava. â â VocĂȘ realmnente achou que eu fosse burro o suficiente pra quase derrubar o celular do bolso enquanto tentava te gravar e isso foi o que garantiu que nĂŁo percebesse que tinha outra coisa te gravando. Ou pior, projetando a sua voz e imagem lĂĄ fora para o pĂșblico inteiro ver.â â declarou, apontando para o macbook de CĂ©dric posicionado em uma cadeira logo ao lado de ambos. â â Game over, grandpa.â â disse, sorrindo. O rosto do homem ficou totalmente vermelho, mas antes que pudesse responder ou mesmo agredi-lo (Wolfgang se perguntou se ele nĂŁo carregava uma Glock por aĂ), Bernard Chateaubriand abriu a porta. âGastĂłn Glock, vocĂȘ estĂĄ sendo preso por suspeita de corrupção, extorsĂŁo, lavagem de dinheiro e homicĂdioâ, continuou o homem enquanto fechava as algemas em seus pulsos. âVocĂȘ tem o direito de permanecer em silĂȘncio. Tudo o que falar pode ser usado contra vocĂȘ no curso do processo. vocĂȘ tem direito a um advogado antes de ser interrogado e durante o interrogatĂłrio. se vocĂȘ nĂŁo puder pagar um advogado, o estado irĂĄ lhe providenciar umâ.
Enquanto via o homem ser carregado e algemado, Wolf sentiu-se emocionado. E nĂŁo era por vĂȘ-lo finalmente ser preso por suas açÔes abominĂĄveis, mas porque tinha reconstruĂdo sua relação com Dietrich; porque tinha se reconectado com uma parte dos pais; porque tinha sido aceito pela universidade dos seus sonhos; porque tinha uma namorada incrĂvel que amava muito; e porque tinha vingado os pais e tantas outras pessoas que o Glock insistia em fazer mal â pela primeira vez desde que nasceu, a vida nunca pareceu tĂŁo boa de ser vivida.Â
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