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sobreiromecanico · 1 day
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sobreiromecanico · 5 days
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Lupin III: O Castelo de Cagliostro: Miyazaki antes de Miyazaki
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De certa forma, Lupin III: O Castelo de Cagliostro, a primeira longa-metragem de animação realizada por Hayao Miyazaki (em 1979, uns bons anos antes dos Estúdios Ghibli) é uma espécie de Miyazaki antes de Miyazaki: antes de ser o mais consagrado realizador de animação do mundo (algo que me parece indiscutível) e de fazer filmes absolutamente originais, como Nausicaä do Vale do Vento, O Meu Vizinho Totoro, A Princesa Mononoke, A Viagem de Chihiro ou o tão recente O Rapaz e a Garça, trabalhou noutros projectos (colaborou com o amigo de longa data Isao Takahata em Ana dos Cabelos Ruivos, uma série animada da qual a minha geração ainda se lembrará) e com personagens que não eram originalmente suas, como este Lupin III: uma criação curiosa da banda desenhada japonesa dos anos 60, depois transformada numa franchise multimédia com filmes, séries e até videojogos. O protagonista é o neto do icónico ladrão Arsène Lupin, criação célebre do autor francês Maurice Leblanc. O Castelo de Cagliostro é precisamente o segundo filme de animação de uma longa série de filmes animados produzidos desde 1978 até aos dias de hoje - o mais recente, Lupin III: The First, data de 2019.
É possível encontrar neste filme algumas ideias e alguns conceitos que Miyazaki viria a explorar ao longo da sua riquíssima carreira (não podiam faltar máquinas voadoras, por exemplo), mas na prática podemos dizer que este filme será talvez mais um ensaio - um belíssimo ensaio, é certo, mas ainda assim algo preliminar, quando constatamos o tremendo salto qualitativo que a trama, a destreza e a força narrativas, e a animação do realizador japonês dão no intervalo de cinco anos que vai deste Lupin III ao impressionante Nausicaä do Vale do Vento. O que, atenção, em nada diminui este filme: Lupin III: O Castelo de Cagliostro é um excelente filme que não acusa a idade (excepto talvez na quantidade de cigarros que Lupin e o seu parceiro, Jigen, fumam durante todo o filme), pois o tipo de história que conta é tão invulgar que se torna refrescante vê-lo hoje: a aventura mirabolante, o castelo cheio de armadilhas impossíveis, as reviravoltas vertiginosas, tudo isto leva-me para os desenhos animados da minha infância, para as histórias que rabiscava em cadernos aleatórios, algures a meio entre o desenho e a escrita, cheias de labirintos e alçapões e passagens secretas, e veículos com motores impossíveis. E é claro que a animação de Miyazaki já brilhava - a perseguição inicial nas estradas de montanha a caminho do reino de Cagliostro é uma delícia de ver, assim como todas as encrencas em que Lupin se mete, e das quais se safa com destreza, malandrice, e um pouco de sorte.
Não sei bem quem decidiu remasterizar Lupin III: O Castelo de Cagliostro e colocar o filme em exibição em salas de cinema de todo o país (ainda está em exibição, é aproveitar), mas a iniciativa merece aplauso. E já agora: não querem repor toda a filmografia do mestre?
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sobreiromecanico · 5 days
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No correio (23)
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Chegou mesmo antes de eu ir de férias, este This Could Be Texas, o muito aguardado disco de estreia dos English Teacher, pelo que ainda terei de esperar uns dias para o colocar a rodar (até porque o gira-discos ainda não está reparado). Mas já o ouvi em formato digital várias vezes, e é uma maravilha. Estes miúdos vão longe.
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sobreiromecanico · 6 days
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Leituras da Semana (#14// 22 Abr 2024)
The Life and Death of Hollywood [Harper's Magazine]
Na edição de Maio da Harper's Magazine, Daniel Bessner assina um artigo interessantíssimo sobre a crescente precarização dos argumentistas de televisão e de cinema em Hollywood, fazendo uma retrospectiva histórica das condições destes trabalhadores. O cenário actual não é brilhante, e ver uma descrição tão pesada das dificuldades por que passam os criadores das histórias que nos entretém, encantam e estimulam no grande e no pequeno ecrã (ou mesmo nos ecrãs diminutos, para quem veja filmes ou séries em telemóveis) praticamente ao mesmo tempo em que lemos sobre a remuneração multimilionária extra de executivos inúteis* torna-se enfurecedor
(*ou, como diria Cory Doctorow, executivos eminentemente guilhotináveis)
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sobreiromecanico · 6 days
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A rever A Princesa Mononoke no grande ecrã
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Se falarmos com dez fãs de Hayao Miyazaki, é possível que surjam pelo menos cinco opiniões distintas sobre qual será o melhor filme do mestre japonês - e é perfeitamente possível construir um argumento sólido a defender qualquer uma delas. Da parte que me toca, sem qualquer dúvida mas também sem menorizar qualquer outro dos trabalhos de Miyazaki, a minha escolha recai sobre A Princesa Mononoke, de 1997, porventura o trabalho de animação mais violento e mais ambíguo de Miyazaki; nas mãos de outro realizador teríamos uma fábula moralista (já vimos tantas com este tema), mas Miyazaki nunca opta pelas respostas simples e pelas resoluções fáceis.
No fim-de-semana passado tive a oportunidade de rever A Princesa Mononoke no grande ecrã, cortesia da iniciativa Cinepop. Foi a terceira vez que vi o filme em sala: a primeira foi há muitos anos, no auditório do Museu do Oriente, numa sessão esgotadíssima; e a segunda foi há menos de um ano talvez, numa sessão da Cinemateca Júnior (devidamente enquadrada, com o organizador a reconhecer que este não é um filme infantil). É sempre uma experiência formidável ver a animação de Miyazaki no grande ecrã, mas a experiência em sala vale tanto pela qualidade da imagem na tela como pela acústica da sala, a que eleva a extraordinária banda sonora de Joe Hisaishi. Será decerto um dos próximos discos que tentarei obter.
Num destes dias talvez me dedique a fazer aqui uma retrospectiva dos filmes de Miyazaki, e nessa altura escreverei mais um pouco sobre este A Princesa Mononoke, um filme do qual fico a gostar mais um bocadinho sempre que o volto a ver (estará decerto entre as minhas cinco longas-metragens preferidas).
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sobreiromecanico · 9 days
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No correio (22)
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Nada como chegar a casa no final de uma daquelas Quinta-feiras que mais parecem Segundas e ter um livro novo à espera. Há não muito tempo não sei se chegaria a este The Siege of Burning Grass de Premee Mohamed, por esta mais afastado da fantasia literária, mas leituras recentes como The Spear Cuts Through Water ou The Saint of Bright Doors trouxeram-me de volta ao género ao mostrar-me que há muita originalidade e muita irreverência na fantasia moderna. The Siege of Burning Grass vem-me muito bem recomendado; é provável que o leia antes do Verão.
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sobreiromecanico · 12 days
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Leituras da Semana (#13// 15 Abr 2024)
Why Are So Many Fantasy Novels Published as Trilogies? [Adam's Notebook]
Este não é um texto novo, no sentido de que foi publicado há quase dois anos; mas só o descobri na semana que passou, pelo que será a minha sugestão de leitura: no seu blogue, o académico e escritor de fantasia e ficção científica Adam Roberts interrogou-se no seu blogue por que motivo tantas histórias de fantasia literária foram e são publicadas como trilogias. A resposta simples é O Senhor dos Anéis, claro, mas a obra-prima de Tolkien talvez não responda por completo a esta questão. É um ensaio vasto, fascinante, e até inesperado por vezes. E serve para ir abrindo ao apetite à Short History of Fantasy que o autor está a escrever, e que serviu de contexto para esta reflexão. Vale muito a pena para quem gostar de fantasia literária.
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sobreiromecanico · 13 days
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Canetas há muitas
Houve há dias uma polémica pateta no Twitter - passe a redundância - a propósito de canetas. No caso, a propósito da caneta utilizada por uma ministra na tomada de posse da semana passada, uma Montblanc qualquer coisa que custa largas centenas de euros. Não fazia ideia de que em pleno ano de 2024 ainda existiam pessoas razoavelmente informadas que pelos vistos desconheciam a existência de canetas caras, mas aqui estamos. São objectos de luxo como outro qualquer: há quem goste de relógios, ou de malas, ou de qualquer outra coisa - como uma caneta. No caso em apreço, convenhamos que a Montblanc da ministra nem será decerto das mais caras da marca.
Enfim, a discussão foi palermacomo não podia deixar de ser, mas serviu de pretexto para este apontamento. Gosto muito de escrever, e há já muitos anos que vou escrevendo inúmeras coisas em blocos de bolso, tipo Moleskine. Não Moleskine, claro, que esses são caros e hoje em dia sempre há imitações perfeitamente funcionais de marca branca a preços três ou quatro vezes mais baixos (voltamos ao ponto acima, ainda que numa escala um pouco mais curta). Ainda tive alguns Moleskines, é certo, antes de as imitações se banalizarem: um deles foi o primeiro caderno deste tipo que comprei há já nem sei quantos anos, e este que tenho aqui a estrear, que comprei por impulso em Fevereiro, alusivo a uma das minhas passagens preferidas de um dos livros da minha vida (a saber, a Marcha dos Ents sobre Isengard em O Senhor dos Anéis: As Duas Torres).
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Foi caro, mas enfim: é uma vez sem exemplo.
Há de tudo nesta minha colecção de cadernos: pensamentos soltos, rascunhos de textos dos vários blogues onde escrevi ao longo dos anos, listas de compras, esqueletos de baralhos de Magic, ideias nunca concretizadas, rabiscos diversos. Estive a folheá-los há dias: até encontrei as notas da entrevista que fiz ao George R.R. Martin quando ele esteve em Portugal pela última vez, por exemplo. Não são exactamente um diário, mas são um registo de qualquer coisa. Já tive alturas em que gastei vários cadernos num espaço de tempo algo curto, e outras em que pouco ou nada escrevi. De há uns meses para cá tenho escrito com mais regularidade, pois o blogue ajuda, e redescobri o gosto pela escrita. Vários textos mais longos deste blogue foram primeiro escritos em papel, o que me fez recuar muitos anos: há qualquer coisa muito particular e muito especial no acto de escrever em papel, na concentração que requer, no foco que exige. Tenho tido a sensação de que os meus textos fluem melhor quando os escrevo no caderno, enquanto me sinto a bloquear com frequência no teclado.
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(Por ironia, este texto foi escrito directamente no editor de texto do blogue. Calhou! Mas no último fim-de-semana, por exemplo, escrevi no caderno um texto inteiro sobre a banda desenhada que li durante aquela tarde. Ainda tenho de o transcrever para aqui.)
Voltando às canetas. Não escrevo com uma Montblanc, como é evidente; nem sei ser a minha caligrafia (estou a ser generoso, como se nota acima) funcionaria com uma caneta de tinta permanente. Volta e meio leio o Neil Gaiman e o Tade Thompson nas redes sociais a falar sobre canetas e tintas e acho fascinante, mas é um mundo que me é muito distante. Há uns bons anos li um artigo interessantíssimo numa publicação online sobre a forma como o tipo de canetas condiciona a caligrafia, traçando o declínio da letra cursiva em paralelo com a banalização das esferográficas, mas encontrá-lo hoje seria uma missão quase impossível. Adiante. Durante anos escrevi com as canetas que tinha à mão, fossem esferográficas de brinde ou alguma Bic ou Uniball que comprasse algures. Mas uma coisa é escrever com o que calha quando calha, outra coisa é escrever por gosto: as ferramentas, afinal, fazem diferença, pelo tom da tinta, pela textura, pela forma como a ponta desliza pelo papel. Aconteceu algumas vezes encontrar uma caneta com a qual gostei de escrever, mas deixá-la chegar ao fim sem conseguir encontrar outra que a substituísse. Por exemplo, no que a esferográficas diz respeito, a última de que gostei foi desta:
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Se a memória não me falha, comprei-a numa papelaria em Picoas. Não voltei a encontrar canetas destas em lado nenhum. Ainda tem tinta, mas já não deverá durar muito. Talvez ainda procure alguma (sim, eu sei que as lojas online existem), mas entretanto arranjei uma alternativa muito em conta (afinal, este artigo não pretende pesar na carteira de ninguém, e muito menos na minha):
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Comprei primeiro a 0.4, e gostei da sensação ao escrever com ela, apesar de sentir que ficava demasiado fina no papel. Logo, a seguir comprei a 0.6: melhorou, mas fica um pouco grossa de mais para o meu gosto. Donde podemos concluir que o ideal seria encontrar uma 0.5. Eu bem procurei nos locais que tinha mais à mão, sem sorte nenhuma.
Foi, aliás, durante a procura pela Staedtler Pigment Liner 0.5 que encontrei o caderno que comprei ali acima. Ocorreu-me passar na papelaria do El Corte Inglés e perguntar a um funcionário se tal caneta existia. Ele bem procurou, e ficou admirado por concluir que não tinham em stock. Mas - é por estas coisas que vale a pena ir a lojas dedicadas, que empregam funcionários que percebem do que estão a vender - decidiu procurar-me uma alternativa, e sugeriu-me esta:
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E é perfeita (e bem gira, já agora).
Sem exagero: a grossura da linha, a textura, o toque, a sensação de escrita - impecável, por três euros e meio (também é perfeita para a carteira). Tenho escrito imenso com ela, e com muito gosto. E decidi que desta vez não vou ser apanhado desprevenido: na passagem seguinte pelo El Corte Inglés abasteci-me.
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É pouco provável que algum dia calhe ter de assinar a tomada de posse como ministro (ha!), mas se acontecer julgo ter aqui uma caneta que não borra o papel e que não causará comoção nas redes sociais. Ou então peço uma Montblanc emprestada só para arranjar sarilhos.
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sobreiromecanico · 15 days
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No correio (21)
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Ursula K. Le Guin e SF Masterworks. Dificilmente se encontra uma melhor combinação.
(e com uma Great Horned Owl na capa!)
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sobreiromecanico · 16 days
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Lupin III de Miyazaki regressa às salas de cinema
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Não tinha no meu bingo para Abril ver o primeiro filme realizado por Hayao Miyazaki no grande ecrã, mas agrada-me imenso esta reposição - até porque se trata de um dos poucos filmes do cineasta japonês que ainda não vi, e Miyazaki merece sempre ser visto no grande ecrã.
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sobreiromecanico · 20 days
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Leituras da Semana (#12// 08 Abr 2024)
Too big to care (Pluralistic.net)
Remember the first time you used Google search? It was like magic. After years of progressively worsening search quality from Altavista and Yahoo, Google was literally stunning, a gateway to the very best things on the internet.
Lembro-me bem, como toda a gente que usou a internet no final dos anos 90 se deve lembrar. Cory Doctorow tem falado imenso da enshittification (merdificação, se quisermos uma tradução muito livre) das plataformas online, descrevendo o processo de captura de valor dos utilizadores e dos clientes empresariais para os accionistas. A pesquisa do Google é um óptimo exemplo deste processo de degradação contínua de um serviço incrível após a conquista de um monopólio absoluto nas pesquisas da Internet, mantido não às custas da qualidade do serviço mas da quantidade de recursos disponíveis (leia-se: dinheiro) para manter este status quo.
Onde noto muito isto é mesmo aqui no blogue. Quando mantive o Viagem a Andrómeda entre 2012 e 2014, era raríssimo ter dificuldade em encontrar através do Google imagens para ilustrar os meus textos - fosse a capa de um livro, vários posters oficiais de filmes, fotogramas de filmes ou séries. Aliás: a dificuldade por vezes residia no excesso de escolha! Dez anos volvidos e a pesquisa de imagens do Google é horrível: a maioria dos resultados remete para lojas online, ou para formatos impossíveis de utilizar.
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sobreiromecanico · 20 days
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A ler entretanto
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Pergunto-me se ainda tenho conhecimento suficiente de Francês para ler a Métal Hurlant. Mas ao folhear a revista não consegui resistir à entrevista com Alan Moore e à pequena série de bandas desenhadas inspiradas em clássicos do cinema. Enfim, parece-me um bom programa para uma tarde de sol em Abril.
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sobreiromecanico · 22 days
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No correio (20)
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Dois livros de dois autores que nos deixaram recentemente. A Vernor Vinge conto regressar mais tarde, mas o Dragon Ball de Akira Toriyama é já uma das minhas leituras do momento. A ver se deixo aqui algumas notas sobre o primeiro volume num destes dias.
(Já agora: podemos incluir nas declinações das Leis de Murphy algo como "Se estiveres à espera de uma encomenda para amanhã e hoje não estiveres em casa, ela vai chegar hoje e não amanhã?)
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sobreiromecanico · 24 days
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Hellboy, Hellboy 2, e algumas memórias das adaptações cinematográficas de banda desenhada
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E já que estou virado para as memórias de cinema (é um pretexto para me manter ocupado, tenho demasiadas coisas para escrever), também se assinala por estes dias o 20º aniversário da estreia de Hellboy, a adaptação de Guillermo Del Toro da aclamada banda desenhada de Mike Mignola, com Ron Perlman, John Hurt, Selma Blair e Doug Jones. Não o vi em cinema em 2004, nem mais tarde; aliás, só viria a ver este filme muitos anos mais tarde, na televisão. O filme que me recordo de ver no cinema foi a sequela de 2008, Hellboy 2: The Golden Army.
Hoje é curioso notar que em 2008 estrearam, com poucos meses de diferença, Hellboy 2: The Golden Army, The Dark Knight de Christopher Nolan, e Iron Man de Jon Favreau - três grandes adaptações cinematográficas de personagens clássicas da banda desenhada norte americana. Iron Man, para além de ser um excelente filme, foi a pedra angular da construção do "Marvel Cinematic Universe", que para o bem ou para o mal dominou o cinema comercial nos últimos quinze anos. The Dark Knight, o segundo capítulo da trilogia de Nolan dedicada a Batman, foi aclamadíssimo pela crítica e pelo público - talvez seja um pouco sobrevalorizado, mas continua a ser um óptimo filme, e deixou para a memória o enorme Joker de Heath Ledger. E pelo meio destes dois colossos da Marvel e da DC Comics, no ano em que os super-heróis saíram definitivamente das pranchas para o grande ecrã e e se tornaram num negócio multimilionário, Hellboy 2, transpondo para o cinema pela segunda vez a personagem icónica da Dark Horse Comics, passou pelas salas de forma mais ou menos discreta.
O que é pena: é o melhor filme dos três.
Claro que em 2008 ninguém imaginaria no que se tornariam os filmes de super-heróis da banda desenhada. Certo, antes de 2008 houve o Spider-Man de Sam Raimi e os X-Men de Bryan Singer e Brett Ratner, duas trilogias que têm em comum o facto de terem obtido um sucesso considerável para a época, e de serem compostas por dois bons filmes e um último filme pavoroso. Mas também houve, convém lembrar (ou talvez não), o Hulk de Ang Lee, os dois Fantastic Four de Tim Story, o Daredevil de Mark Steven Johnson, a Elektra de Rob Bowman, e a Catwoman de Pitof. E decerto mais algum que me escapa*. Pelo meio desta lixeira cinematográfica, Guillermo Del Toro realizou Blade II e Hellboy, dois filmes bem acima da média do seu género, e por isso genericamente esquecidos.
(Perguntava-me aqui por que motivo não teria visto Blade II no cinema, já que no final dos anos 90 recordo-me de ter gostado bastante do filme original, mas a resposta é evidente: o filme estreou em 2002, e nessa altura eu ainda vivia na aldeia. Dito de outra forma: não tinha acesso a cinema; filmes, só os que passavam nos quatro canais generalistas.)
Mas como disse, não vi Hellboy no cinema, mas vi Hellboy 2. Aliás, das três adaptações de banda desenhada de 2008 a de Del Toro foi a única que vi em cinema, e foi com desconfiança: só conhecia a personagem de passagem, era uma sequela e não tinha visto o primeiro filme, e dados os filmes de super-heróis recentes a vontade de gastar dinheiro num bilhete de cinema era pouca ou nula (até porque super-heróis nunca foram exactamente a minha praia). Mas o João, amigo de longa data desde o Alentejo, insistiu: já conhecia algumas histórias, Hellboy era diferente, o humor e o tipo de história seriam diferentes, não haveria de fazer grande diferença não ter visto o primeiro filme, e de resto também não havia melhor programa para aquela noite. E lá fomos ao Alvaláxia ver o filme, que para minha surpresa me maravilhou do início ao fim: pelo sentido de humor, pela história cativante em redor da perda e da efemeridade, pela estética - Del Toro nunca desilude neste ponto -, e por várias cenas e inúmeros momentos que revi ao longo dos anos, assim como por elementos que se foram transmutando nos filmes de Del Toro (a Morte do seu extraordinário Pinocchio dá ares ao Anjo da Morte de Hellboy 2, por exemplo).
Como referi acima, 2008 marcou o início da linha de montagem de adaptações de super-heróis, mas isso só terá ficado evidente mais tarde, talvez em 2012 com a estreia, e o sucesso colossal, de The Avengers. A bilheteira modesta dos dois primeiros Hellboy e alguns projectos nunca concretizados por Del Toro (por exemplo, era suposto ter realizado aquilo que se tornou na trilogia The Hobbit) ditaram que o realizador mexicano não chegou a ter a oportunidade de fechar a história com um terceiro filme. Sabe-se que Ron Perlman gostaria de regressar à personagem e concluir o arco narrativo, mas nada aponta nesse sentido: se não se conseguiu fazer o filme durante o tempo das vacas gordas das adaptações de banda desenhada, é improvável que se consiga agora, quando a coisa já está em franco declínio. O que é pena: Hellboy 2 deixou óptimas pistas para uma continuação, e não há outro realizador tão perfeito para esta história como Guillermo Del Toro. Enfim, é regressar à banda desenhada, é rever os dois óptimos filmes que temos, e imaginar o que tal filme poderia ter sido.
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*no caso de algum leitor mais atento reparar na omissão: não, não me esqueci do Constantine de Francis Lawrence, um filme que adorei na altura, quando ainda não conhecia a banda desenhada da Vertigo, e do qual continuo a gostar imenso hoje, quando já estou familiarizado com o John Constantine que Alan Moore, Steve Bissette e John Totleben criaram nas páginas de The Swamp Thing, e que Jamie Delano et al. desenvolveram durante décadas em Hellblazer. É uma boa adaptação da banda desenhada? Talvez não, e não será apenas por o Keanu Reeves não ser parecido com o Sting. Mas é um excelente filme, com um elenco óptimo - o Lúcifer de Peter Stormare é imbatível - e uma realização muitíssimo competente. Por isso, mantenho Constantine, tal como Hellboy, bem longe da galeria de horrores que foram as adaptações de banda desenhada norte-americana para cinema entre 2003 e 2008.
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sobreiromecanico · 25 days
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Retornar a 2001
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(ao filme, não ao ano)
2001: A Space Odyssey estreou há 56 anos.
Não é um número redondo, certo, mas qualquer pretexto é bom para para falar da obra-prima de Stanley Kubrick (autor de uma filmografia recheada de obras-primas) e daquele que será decerto o melhor filme de ficção científica jamais realizado.
Descobri 2001 não nas salas de cinema, mas na recta final do meu curso universitário, quando me inscrevi num curso de escrita de guiões orientado pelo escritor Mário de Carvalho, que também leccionava na universidade que frequentei. Excelente escritor, e professor à altura: naquelas horas da Primavera de 2007 os meus horizontes cinematográficos alargaram-se como nunca. Lá descobri Hitchcock (ou redescobri, de certa forma), encontrei um dos filmes da minha vida, The Night of the Hunter de Charles Laughton (que também vou ver à Cinemateca sempre que posso), e fui apresentado a Kubrick em geral, e a 2001 em particular. Recordo-me perfeitamente: o professor quis mostrar como um guião não precisava necessariamente de diálogos, e mostrou à turma, naquele ecrã de televisão que não fazia justiça à imagem, toda a primeira parte do filme, a célebre Alvorada do Homem, até ao famoso corte do osso atirado ao ar para a estação espacial em órbita, milhões de anos no futuro. Nesse momento, Mário de Carvalho parou a imagem, olhou para a turma, e disse:
"E esta, meus caros, é a elipse mais longa da história do cinema."
Não acabámos de ver o filme ali, até porque a aula não teria tempo suficiente, mas encontrei forma de ver o filme na íntegra pouco tempo depois, e fiquei maravilhado. Um par de anos mais tarde ofereceram-me uma edição em DVD que ainda hoje tenho, mas ainda teria de esperar alguns anos até poder ver 2001 como ele deve ser visto: numa sala de cinema. Essa oportunidade veio enfim em 2013, a propósito do 45º aniversário do filme (aqui temos um número mais redondo, vá), num regresso às salas de cinema que à época registei com brevidade aqui, e num registo mais longo aqui. E foi a primeira de muitas: daí para cá já o revi várias vezes em sala - numa sessão do Cinepop há uns anos; numa exibição incrível no auditório do CCB, com um som e uma acústica formidáveis; duas vezes no Nimas, a primeira pouco antes do início da pandemia em 2020, e a mais recente em Novembro último; e talvez ainda uma outra na Cinemateca. E suspeito de que não ficarei por aqui: havendo oportunidade, lá regressarei ao cinema para rever esta incrível aventura no grande ecrã.
Ao longo dos anos, nos vários blogues pelos quais passei, escrevi várias vezes sobre 2001: A Space Odyssey. Não valeria a pena compilar aqui todos esses textos, até porque na sua maioria não são nada de especial; mas recupero aqui este breve apontamento que publiquei no blogue Delito de Opinião em 2018 por ocasião do falecimento de Douglas Rain, o actor que deu voz a HAL 9000, a mais famosa inteligência artificial do cinema:
Douglas Rain faleceu ontem, aos 90 anos. É possível que o nome diga muito pouco à maioria dos leitores; a sua fotografia, se aqui fosse publicada, pouco mais diria. Mas este círculo vermelho e a sua voz grave tornaram-se inesquecíveis quando, há cinquenta anos, construíram a mais famosa inteligência artificial da ficção científica: HAL 9000, o tripulante incorpóreo da Discovery na sua expedição à órbita de Júpiter para confirmar o elusivo primeiro contacto feito com o monólito lunar. Falo de 2001: A Space Odyssey, claro; todo o segundo acto do filme pertence à expressividade impossível que Rain confere ao olho inescrutável que vigia cada recanto da nave espacial, um feito notável quando pensamos que, num filme com tão pouco diálogo, praticamente todas as palavras relevantes são proferidas pela personagem tornada presente pela sua voz. Do orgulho inicial ao impulso homicida, da determinação pela continuidade de uma missão que não consegue compreender até ao desespero dos momentos finais, quando Dave Bowman, suspenso em gravidade zero, lhe desliga os circuitos de memória um por um - o tom enganadoramente monocórdico de Rain transmite todas as emoções da personagem com subtileza, sem esforço aparente. Voltei a confirmar isto mesmo nos últimos meses, nas duas oportunidades que tive de rever a obra-prima de Stanley Kubrick no grande ecrã: inúmeras visualizações depois, o HAL 9000 continua tão fascinante e ameaçador como da primeira vez que o ouvi. Douglas Rain, o actor, talvez tenha tido uma passagem discreta pela Terra; mas a sua voz, essa, perdurará entre as estrelas.
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sobreiromecanico · 27 days
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Leituras da Semana (#11// 01 Abr 2024)
Harlan Ellison's Last Words: The Ambitious Plan for Sci-Fi Writer's Posthumous Comeback [Los Angeles Magazine]
Vale sempre a pena recordar Harlan Ellison, falecido em 2018, e autor de um legado impressionante na ficção científica: de contos desafiantes a antologias inovadoras (Dangerous Visions, de 1967, foi uma pedrada no charco, e mesmo hoje ainda lá encontramos alguma irreverência) e a guiões televisivos, Ellison foi célebre pelo seu talento, e também pela sua personalidade arisca. J. Michael Straczynski, amigo de longa data do autor (e sim, o criador de Babylon 5), é o executor literário de Ellison, e tem dedicado imenso tempo e imensa energia a resgatar as suas histórias do lento e injusto esquecimento a que pareciam estar destinadas. E graças a este trabalho neste ano teremos: Harlan Ellison's Greatest Hits, uma colectânea de contos editada por Straczynski e com prefácio de Neil Gaiman; a reedição de Again, Dangerous Visions, o segundo volume da antologia de Ellison, publicada em 1972 e há muito fora de publicação; e finalmente a edição de The Last Dangerous Visions, sem dúvida o mais famoso livro de ficção científica jamais publicado, um projecto que Ellison começou logo após a segunda antologia, mas que jamais concluiu. Vários autores que escreveram contos para o projecto já faleceram; outros retiraram os seus trabalhos há muito (Cristopher Priest foi um deles, e um crítico severo deste projecto); e agora Straczynski propõe-se concluir a empreitada com o material deixado por Ellison, e mais alguns contos de autores contemporâneos. De fora ficarão decerto as famosas introduções de Ellison a cada conto, já que aparentemente só terá escrito uma, mas será decerto interessante descobrir não exactamente o que teria sido, ou o que poderia ter sido The Last Dangerous Visions, e o que acabará por ser.
Nobody Wants to Buy the Future: Why Science Fiction Literature is Vanishing [Typebar Magazine]
O título parece-me clickbait-y, na medida em que existirá decerto uma diferença entre a ficção científica não constar nas listas de best sellers (os exemplos dados também não são os melhores) e não encontrar leitores, mas este artigo de Simon McNeil levantar alguns pontos interessantes.
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sobreiromecanico · 27 days
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Primavera
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Páscoa chuvosa no Alentejo. Ou seja, bom tempo.
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