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qesyarodrigues-blog · 3 years
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Lili e a importância da sensibilidade médica
Durante a intervenção do meu próprio grupo, eu tive o prazer de me ver desconstruindo conceitos a respeito da comunidade trans. Apesar de ter alguns colegas que são e de me considerar informada a respeito do assunto, eu nunca me debrucei de fato sobre a temática, e, por esse motivo, ainda possuo muitos conceitos pré formados.
Eu já conhecia o filme A Garota Dinamarquesa. A forma como os médicos trataram Lili sempre me deixou inquieta, mesmo sabendo que para a época isso era o esperado. No entanto, ainda hoje eu escuto relatos de pessoas que passam por situações semelhantes. O que mais me deixa confusa é que não encontro um motivo plausível para se desrespeitar uma pessoa que talvez você não conheça. Como já disse em outro texto desse portfólio, o preconceito é o defeito mais grave da humanidade.
Para além da empatia que deve ser algo presente na vida de qualquer ser humano, é preciso que se cative a sensibilidade nos médicos e outros profissionais que atuam na área da saúde. Nos documentários que assisti a respeito do assunto, o constrangimento na hora do atendimento é a principal queixa de homens e mulheres trans. Nós estudantes de medicina e os médicos já formados temos que estar sempre dispostos a aprender a melhor maneira de atender alguém. Desse modo, nossa intervenção buscou expor um pouco da realidade de uma pessoa trans no SUS, apresentando os principais entraves e as principais conquistas que a comunidade trans possui no nosso sistema de saúde. É importantíssimo que a gente se angustie e se sensibilize com um depoimento de uma pessoa que foi mal tratada durante um atendimento médico, mas para além disso, cabe a nós buscar essa mudança ao nosso redor. São nas pequenas intervenções, como essa que fizemos, que uma mudança significativa começa a acontecer. 
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qesyarodrigues-blog · 3 years
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Caminhos para o autocuidado
Durante a intervenção do grupo, nós fomos convidados a refletir sobre a importância de cuidar de si antes de cuidar do outro. O que mais me chamou a atenção foi que o grupo buscou alternativas diferentes das que normalmente vemos nas redes sociais.
Atualmente muito tem se falado sobre autocuidado. No entanto, percebo que estão sempre atrelando isso à figuras do capitalismo, como assistir uma série numa plataforma de streaming, usar cremes caros, etc. Porém, pouco se fala sobre os prejuízos à saúde física e mental que o uso excessivo de redes sociais pode causar, hoje passamos metade dos nossos dias nas redes sociais vendo pessoas falarem sobre autocuidado. 
Eu, particularmente, tenho uma mania de querer sempre oferecer o melhor para os outros e me deixar em segundo plano. Isso faz com que eu fique sem tempo para mim ás vezes. Durante a intervenção, pude perceber que uma forma de autocuidado é me por como prioridade. Além disso, coisas corriqueiras como beber água, dormir 8h por noite, comer todas as refeições do dia, fazer exercícios físicos, e etc, são coisas que eu costumo negligenciar. Como futura profissional de saúde, para não cair na hipocrisia, devo me policiar para não deixar de cuidar da minha própria saúde.
A intervenção do grupo me fez refletir bastante sobre muitas questões que deixei de lado principalmente nesse momento de pandemia. Que cuidar e se importar com nós mesmos seja uma prioridade, para que então possamos cuidar do próximo.
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qesyarodrigues-blog · 3 years
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Interpretação da obra Guernica sob a perspectiva da clínica ampliada
Durante a intervenção do grupo nos foi proposto pensar a respeito da clínica ampliada sob a perspectiva da obra Guernica do pintor Pablo Picasso. No meu grupo, discutimos sobre a atuação da única médica da cidade que também haia sido vítima do acidente e enfrentava problemas emocionais. 
Durante a discussão, eu, que entrei na faculdade recentemente e nunca atuei como médica, tive meu ponto de vista a respeito do assunto alterado. Mais do que uma opção, a carreira médica é um compromisso ético com outros seres humanos que às vezes estão completamente dependente desses profissionais. No entanto, é preciso que o profissional esteja apto para o exercício médico sem que haja prejuízo para os pacientes. Nesse sentido, a médica precisa ter o seu estado emocional estabilizado para que cumpra aquilo que optou por se responsabilizar.
Outras discussões como se portar diante de uma crise na emergência, como lidar com familiares que perderam seus entes queridos, e etc, teceram uma discussão importantíssima sobre algo que talvez nós só saberemos como é na prática.
Romantizar o exercício médico como um sacerdócio é algo que me deixa angustiada em relação ao futuro. No entanto, algo que sempre tento ter em mente é que estarei lidando como seres humanos, vidas que talvez estejam passando pelo momento mais marcante de sua trajetória. Mais do que o biológico, olhar para além da patologia, para além da medicação e do prognóstico, é preciso que se atenha às peculiaridades e vivências do ser que, naquele momento, talvez precise de uma palavra sua para continuar vivendo em paz. Para além da caricatura do médico como super herói, é necessário que se pinte a figura do médico sensível.
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qesyarodrigues-blog · 3 years
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A OBRA DE ARTE DA MINHA VIDA
Após muito refletir, cheguei a conclusão que –uma das- obra de arte da minha vida é o filme Estrelas Além do Tempo.
O filme conta a história de três mulheres: Katherine Johnson, Dorothy Vaughn e Mary Jackson. Três mulheres negras que trabalham na NASA em um EUA segregacionista e sexista.
Separei três cenas do filme com as quais me emociono
1. Katherine é a primeira mulher negra a trabalhar em uma missão de lançamento de foguete. No entanto, o único banheiro feminino para “colored people” fica a quase 1km do setor no qual ela trabalha. Um dia, após levar uma reclamação por sumir todos os dias durante quarenta minutos, ela explode e explica que trabalha muito e mesmo assim é muito maltratada por ser mulher e negra. É uma cena que mexe muito comigo porque evidencia uma das maiores doenças da humanidade: o racismo.
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2. Mary Jackson trabalha como engenheira na projeção de foguetes. Um dia, recebe a noticia de que precisa de uma pós-graduação para continuar atuando na área. No entanto, a única faculdade na região que oferece o curso não aceita “colored people” no corpo de alunos. Então, Mary vai até o juiz, e, em um apelo emocionante, pede para ser a primeira.
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É uma cena que mexe muito comigo, pois mostra a resistência de uma mulher que vive em uma sociedade amarga, que insiste em erguer muros em volta de pessoas que só têm a contribuir. Mesmo com todas as dificuldades, Mary insiste, se empoderando da inteligência que ela tinha e sabia que levaria o homem ao espaço.
3. Katherine é viúva e flerta com um rapaz da igreja que ela frequenta. Um dia, durante um almoço, ele pergunta com o que ela trabalha e ela responde que é matemática na NASA. Ele, surpreso, pergunta “Mas deixam mulheres fazerem isso?”. Ela, com uma calma e paciência que eu não teria, responde “Não é porque nós usamos saias, é porque nós usamos óculos.”
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Como mulher, já passei por muitas situações em que tive minhas capacidades intelectuais questionadas. Eu e meu namorado fazemos medicina, estamos ambos no mesmo semestre. No entanto, percebo que as pessoas sempre fazem alguma pergunta relacionada à área direcionando para ele. Quando eu respondo a pergunta, as pessoas ignoram e esperam que ele responda. Isso já aconteceu algumas vezes.
O campo científico não é nada convidativo para mulheres. Estrelas Além do Tempo traduz isso de maneira muito emocionante, além de trazer a luta da população negra para apagar o mais triste capítulo da humanidade. É um filme emocionante, baseado em fatos reais e que mostra um pouco de uma sociedade que fecha as portas para as mulheres todos os dias. É importante que nós enxerguemos e nos apoiemos na história dessas mulheres que nos antecederam, lutaram para que hoje continuemos lutando por reconhecimento, igualdade e respeito. Parafraseando Isaac Newton, “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.”
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qesyarodrigues-blog · 3 years
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LITERATURA E CINEMA: POSSIBILIDADES TERAPÊUTICAS
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Os textos trazem duas perspectivas sobre a arte no âmbito da saúde: a dos pacientes e dos profissionais de saúde.
PARA OS PACIENTES
A arte é uma das maneiras do ser humano expressar emoções, vivências, opiniões, etc. Através dela, temos a possibilidade de nos comunicarmos subjetivamente. A arte proporciona confronto, reflexão, indignação e... alívio. Todos têm aquele filme de infância, ou a música que a mãe costumava cantar. Apesar de às vezes nos esquecermos, tudo isso é arte, e desperta em nós sentimentos reconfortantes.
Partindo desse princípio, a arte é uma excelente maneira de proporcionar alívio a pacientes que estão passando por um momento muitas vezes difícil. Uma internação, por exemplo, significa quebra de rotina, vulnerabilidade, incerteza, dentre outras coisas. Pode ser que através da arte, aquela pessoa consiga por um breve momento a sensação de estar em um lugar confortável, onde as coisas são familiares e não assustam. Especialmente falando de crianças, formas de expressão artística como filmes, músicas, dança e representações circenses podem ajudar a quebrar a imagem séria e sombria que hospitais costumam ter.
Isso pode impactar na recuperação do paciente, além de facilitar as coisas caso ele necessite voltar ao ambiente hospitalar, que agora não parece tão hostil.
PARA OS PROFISSIONAIS
O trabalho costuma ser estressante para quase todo mundo. Mesmo que tenha sido algo de nossa escolha, ainda é trabalho. Quando falamos de profissionais de saúde, estamos falando de pessoas que lidam com outras pessoas muitas vezes dependentes das atitudes daquele profissional. Isso cria um ambiente de pressão, e aquele profissional pode acabar tomando para si responsabilidades que não estão ao seu alcance. Diante disso, um serviço de apoio psicológico é fundamental para o bem estar dos profissionais e, consequentemente, dos pacientes.  
Além disso, algumas ferramentas podem tornar a rotina mais leve. Através de diferentes formas de arte, esses profissionais têm a oportunidade de expressas suas frustações, angústias, receios, medos, etc. Além disso, pode aproximá-los, criando uma rede de pessoas que se apoiam e se compreendem e, acima de tudo, entendem que passam por situações semelhantes que podem ser compartilhadas. Além disso, a arte desperta em nós a sensibilidade. Isso é importante para que se criem profissionais mais humanos, que percebam além da patologia.
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A arte é uma importante ferramenta para aliviar as situações difíceis vividas em hospitais, clínicas e postos de saúde. Pode ser usada como entretenimento, terapia, prática educativa, etc, e, dessa forma, contribuir positivamente para o tratamento de pacientes e para a rotina dos profissionais de saúde. É importante que nós, médicos em formação, aprendamos a valorizar a arte como auxiliadora para as dificuldades do dia. Que possamos enxergar a potência de fazer a apreciar arte.
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qesyarodrigues-blog · 3 years
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Com Amor, Van Gogh: o retrato de quem somos sob a perspectiva do outro
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No filme “Com Amor, Van Gogh” um conhecido tenta traçar um retrato do pintor sob a perspectiva de pessoas que conviveram com ele. Algumas pessoas o viam como uma pessoa depressiva e desequilibrada, outras como alguém alegre, outras como alguém misterioso. De todo modo, eram apenas interpretações. Ninguém sabia, de fato, quem era Van Gogh.
Durante todo o filme, o que mais me fez refletir é que, por mais que sejamos claros e objetivos em nossas atitudes e opiniões, as vivências e o caráter do outro sempre vão influenciar na visão dele a nosso respeito. Talvez seja por isso que o preconceito é algo tão recorrente na nossa sociedade, formular uma opinião sobre outra pessoa baseado apenas naquilo que se vê é algo intrínseco ao ser humano. Nossas expressões faciais, nossas roupas, e até mesmo o nosso jeito de falar são determinantes para que alguém suponha que estamos tristes, felizes, irritados, ou que somos “uma pessoa fechada” “uma pessoa sensível” “uma pessoa carente”.
Eu, particularmente, tenho sobrancelhas naturalmente arqueadas. É algo de família, herdei do meu pai. É uma característica física a qual sou indiferente, às vezes nem lembro que existe. Mas é essa sobrancelha a responsável pela minha cara de mau que costuma afastar muita gente. Perdi as contas de quantas vezes ouvi “nossa, achei que você fosse diferente!”. Acho engraçado como nosso retrato diz tanto e tão pouco sobre nós. Quem olha pra mim não diz que gosto de filmes de romance, da cor rosa, do livro Fazendo Meu Filme da escritora Paula Pimenta, ou de roupas florais, mas eu gosto. No entanto, eu realmente não costumo demonstrar carinho de uma forma óbvia, talvez isso faça de mim uma pessoa fria (malvada não, apenas fria), e pode ser que isso seja condizente com a minha sobrancelha de vilã.
Trazendo o assunto para uma perspectiva médica, nós como seres humanos sempre vamos pré conceber opiniões a respeito de um paciente baseado apenas na aparência dele. Isso não é errado, é algo nosso. No entanto, é importante sempre estarmos dispostos a ouvir e desconstruir tudo aquilo que achamos. Nossa bagagem emocional, nossas opiniões, nossos princípios e nossos conceitos não devem influenciar na maneira como tratamos um paciente. Do mesmo modo, às vezes as pessoas falam através de expressões, roupas, gestos... Principalmente quando se tratando de questões psíquicas. É importante entender que o que é dito por alguém nem sempre condiz com o que essa pessoa transparece, e isso é um sinal que deve ser considerado.
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qesyarodrigues-blog · 4 years
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AUTORRETRATO
Escolhi essa ilustração que eu gosto muito (e que dizem que se parece muito comigo rs) porque simboliza o peito de mar aberto, o que casa com uma música que eu gosto muito de Vanguart.
Em volta, coloquei elementos que eu gosto e que me simbolizam de alguma forma.
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qesyarodrigues-blog · 4 years
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VULNERABILIDADE E ADESÃO TERAPÊUTICA
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Existiu e ainda existe na medicina uma concepção ultrapassada de que ao médico só interessa a doença. No entanto, o ser humano é um ser biopsicossocial e existem vários fatores que devem ser levados em consideração quando se observa um indivíduo e sua doença. Por exemplo, em um local onda há falta de saneamento básico é possível que doenças parasitárias sejam frequentes. Em crianças, isso pode se configurar como um problema grave, visto que a diarreia pode levar à um alto grau de desidratação e ocasionar o óbito. Desse modo, é mais eficaz que se recorra às autoridades necessárias e se exija o saneamento adequado. 
Nesse sentido, é fundamental que se entenda a vulnerabilidade do indivíduo de maneira ampla e não de maneira individual. Quando olhamos pessoas pertencentes a um determinado grupo devemos levar em consideração que cada pessoa tem uma história pregressa, cresceu em um contexto familiar diferente, viveu em um determinado lugar e um determinado período de tempo, e diversos outros fatores que podem interferir diretamente em como aquele indivíduo enxergará o mundo. Numa mesma sala de faculdade é possível encontrar uma pessoa altamente vulnerável emocionalmente, bem como um indivíduo que consegue lidar com tranquilidade com a demanda proposta aos estudantes. Mesmo que ambos assistam as mesmas aulas, recebam as mesmas atividades para casa e tenham acesso as mesmas bibliotecas, o sentimento em relação a cada coisa vai depender de diversos outros fatores.
Dessa maneira, quando uma pessoa recebe um diagnóstico de uma determinada doença, diversos fatores vão influenciar no modo como a pessoa recebe a notícia, como ela vai compreender a nova informação e a maneira que ela vai lidar com aquilo dali em diante. Portanto, se há uma relação médico-paciente fragilizada a adesão ao projeto terapêutico também pode ser prejudicada. 
Em primeiro lugar, é fundamental buscar entender a concepção daquele indivíduo sobre aquela doença. Apenas informar ao paciente que ele possui tal comorbidade não garante que ele saiba todas no que isso pode afetar em sua vida. Além disso, algumas doenças carregam consigo tabus que dificultam a sua real interpretação. A AIDS e a hanseníase são exemplos de doença altamente estigmatizadas, o que pode dificultar a adesão ao tratamento.
Outro fator importante a ser observado é a realidade do paciente. Um indivíduo que possui diabetes e é vulnerável economicamente talvez tenha dificuldade em seguir a dieta necessária por falta de opção alimentar. Fatores como grau de escolaridade, faixa etária, realidade financeira, e muitos outros podem ser limitantes ou impulsionadores para que o plano terapêutico seja cumprido. Se você diz ao paciente diabético “é preciso diminuir os carboidratos” mas ele não sabe ao certo o que é um carboidrato, possivelmente terá prejuízos na dieta. 
A partir daí, é muito importante que o plano terapêutico seja uma decisão conjunta e consensual. Se o medicamento para hipertensão faz com que o indivíduo vá muitas vezes ao banheiro e isso prejudica o bem estar dele, é melhor que a medicação seja trocada ao invés de interrompida por conta própria sem uma outra alternativa. Desse modo, o paciente se sente participante ativo naquele processo, o que modifica a sua concepção dos malefícios que a doença trouxe a sua vida. Isso pode significar uma melhor perspectiva em relação ao que o indivíduo está passando e, consequentemente, uma maior adesão ao plano terapêutico.
No caso de Gregor Samsa, o primeiro passo seria explicar a ele o que estava acontecendo e o porque ele havia se transformado em um inseto gigante. Depois, buscar alternativas viáveis para que ele se adapte ao seu novo estilo de vida. Junto ao serviço nutricional, buscar adaptar a sua dieta à sua nova realidade, mas de uma forma que possa ser sustentada pelo paciente. Em seguida, junto ao serviço psicológico, buscar amenizar os impactos da mudança brusca em sua aparência ao seu emocional. É de suma importância que haja uma rede de apoio para tornar esse momento menos difícil e fazê-lo compreender que existe uma perspectiva de futuro, onde ele será amparado e suas angustias e necessidades serão acolhidas.
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qesyarodrigues-blog · 4 years
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ARTE, SOCIEDADE E SAÚDE
“Somos apenas poeira de estrelas trazidas à vida, depois dotada pelo universo do poder de se compreender - e nós apenas começamos.” Neil DeGrasse Tyson
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A arte como processo de autoconhecimento
A arte permeia o ser humano desde sempre. Nos primeiros registros encontrados nas paredes das cavernas e em grandes rochas milenares, a arte se faz presente e é dotada de significado e sentimento. Talvez fosse uma tentativa de se comunicar, talvez o homem primitivo acreditava que ao desenhar um animal ou um grupo rival ele estaria aprisionando sua força nas paredes de rocha. No entanto, algo que não deixa dúvidas é que ali naquele momento o homem estava buscando conhecer a si próprio e como as coisas ao seu redor funcionavam.
O processo de criar arte está intimamente ligado ao processo de autoconhecimento. O ser humano é o único animal capaz de modificar a natureza ao seu redor. A nós foi dada a dádiva, ou talvez a infelicidade, da capacidade de viver além da sobrevivência. Mais do que acordar todos os dias e lutar pela possibilidade de repetir tudo no dia seguinte, nós temos a capacidade de escolher o percurso, e tudo isso pede arte!
Se os homens das cavernas representavam naquela época seu modo de viver, hoje nada disso mudou. Nossas músicas, nossos livros, nossas pinturas e nossas esculturas, da arte popular à arte erudita, tudo isso representa quem somos e nossa realidade. Quando você se identifica com uma música, você reflete nela suas angústias, suas felicidades, suas paixões. Aquele livro que te fez chorar quando você chegou na última página te tocou porque, de alguma forma, ele te faz visitar a si mesmo. A arte é o processo de se conhecer.
Arte e ciência
Polegares opositores e neocórtex desenvolvido são nossas armas para explorar o mundo. Compreender o porque que o dia e noite existem, porque a água ferve a 100º C na pressão de 1 atmosfera e porque nada pode viajar mais rápido do que a luz é o que nos torna humanos, para o bem ou para o mal. É através desse processo de conhecimento do mundo a nossa volta que desenvolvemos tecnologias cada vez mais sofisticadas e inacreditáveis. 
Em 20 de agosto de 1977, a NASA lançou no espaço um sonda robótica com o objetivo de explorar planetas distantes da Terra. Para conseguir esse feito, a sonda teve que ser constituída por um material que suporte variações bruscas de temperatura e pressão, além de uma tecnologia de comunicação que possibilite que as informações viagem de seja lá onde até o nosso planeta. Isso é incrível e nós conseguimos. A mesma sonda carrega consigo um disco de ouro denominado “Sons of Earth”, onde há sons e imagens gravadas. Dentre os sons da natureza como o barulho do mar, canto de pássaros, o som de um trovão, há também uma coletânea de músicas gravadas, clássicos como Beethoven e pop como Chuck Berry. No disco está gravada em inglês a frase “Para os produtores de música de todos os mundos e de todos os tempos.”
Isso é, em essência, o que somos. Em nós está a ciência e a arte. Nossa necessidade urgente de conhecer o mundo e o universo está acompanhada da necessidade de expressar isso. 
Arte e autocuidado
Autocuidado implica diretamente em autoconhecimento. Se não entendermos nossas necessidades, prazeres e limitações, não seremos capazes de ajudar a nós mesmos. Além disso, o contato direto com nosso interior (sentimental e biológico) é fundamental para que possamos compreender os processos de saúde e adoecimento que nos acometem. 
Biologicamente falando, nós possuímos sentidos para perceber as variações ao nosso redor e montar respostas à elas. Ao ouvirmos um som, respondemos a isso, ao sentirmos um cheiro, reagimos a isso, e assim por diante... A arte tem a capacidade de conectar os nossos sentidos com os nossos sentimentos. O mesmo ouvido que usamos para perceber o som de algo se aproximando e, se necessário, fugir disso, também é capaz de captar aquela música que nossa mãe cantava para gente na infância e despertar em nós sentimentos e emoções tão profundos que as vezes nem nós mesmos conseguimos explicar. A arte nos conecta com nós mesmos.
Além disso, viver em sociedade é inerente ao ser humano. É muito importante para a saúde física e psicológica que dividamos nossas vidas com outras pessoas, e a arte tem essa capacidade. A arte proporciona que pessoas se juntem e compartilhem sentimentos, ainda que em silêncio. A arte permite diferentes maneiras de se expressar e, a partir daí, diferentes maneiras de se comunicar. A arte nos conecta com outras pessoas.
REFERÊNCIAS
1. The Golden Record. NASA. Disponível em <https://voyager.jpl.nasa.gov/golden-record/>. Acesso em 24 de set. de 2020.
2. BIERNATH, A. O que é a musicoterapia e o qual o seu potencial. VEJA SAÚDE, 2019. Disponível em <https://saude.abril.com.br/bem-estar/o-que-e-a-musicoterapia/>. Acesso em 24 de set. de 2020.
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