Tumgik
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Houve também uma importante participacao de um fator: o ambiente no qual vivi a maior parte da miha vida(até agora) e tudo que ele me proporciounou, o condominio. fui para la com minha mae durante o divorcio dos meus pais, eu tinha uns 7 anos e me mudei novamente aos 17.
nos mudamos na correria do divorcio; a casa estava semipronta. nao tinha piso, janela, porta. porém tinha minha mae, disposta a manter distancia do meu pai enquanto carregava suas duas filhas nos ombros. nas primeiras noites, como a casa nao tinha porta nem portao, dormíamos em um colchao na sala, com um lencol tampando a abertura da sala.
lembro de uma cachorrinha que tive nessa época. sofia era um filhote gordinho de cor marrom. nao lembro a origem dela. eu a segurava no colo durante o dia e a  colocava para dormir comigo durante a noite. um dia minha mae me acordou e tirou ela do meu colchao, disse que ela estava chorando porque eu estava dormindo em cima dela. depois disso fiquei me sentindo mal e improvisei uma caminha de pano para sofia. conforme o tempo passava sua barriga dobrava de tamanho, era enorme. nunca fomos atras de identificar e solucionar esse problema. minha mae tinha problemas maiores. sofia vomitava e seus dejetos eram moles demais, praticamente liquidos. ela era tao tristinha. só dormia. um dia ela morreu. nao lembro o que houve com o corpo.
depois de um tempo a casa ja estava mais estruturada para nosso conforto; tinhamos camas, portas, janelas, quartos prontos. tinha tambem um monte de areia de construçao na frente da casa. eu e diele viviamos brincando la. um dia elaine veio perguntar se podia brincar conosco, e ai comecou uma amizade. elaine era mais velha que a diele uns 2,3 anos e, em relacao a mim, uns 5,6. ela cuidava de mim como se eu fosse sua irma mais nova, enquanto sua amizade de verdade era com a diele. as duas se entendiam melhor e passavam mais tempo juntas em dupla do que comigo. um dia elaine foi dormir la em casa e a cama para qual foi designada foi a minha. foi um dia divertido. enquanto dormiamos juntas ela acordou num pulo e me acordou junto. eu tinha feito xixi na cama com a elaine do lado. foi pessimo. me zoaram bastante depois disso e eu fiquei com muita vergonha.
os dias eram bons, brincavamos bastante. na areia, no quintal, tomavamos banho de mangueira.
elaine nos apresentou a bia .acabou se formando mais uma boa amizade entre nós. agora um quarteto, comigo sendo a participante descartavel porem presente. bia conhecia as crianças do condominio todo, e nos apresentou à elas. comecamos a brincar de pique pega, pique esconde, policia e ladrao, andavamos de bicicleta juntos. em todas as brncadeiras eu era café com leite, ou seja, estava la brincando, mas nao pra valer. menos no policia e ladrao. eu era boa demais nesse jogo.
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 eu preciso conhecer a minha realidade, ter conciencia de quem fui e de quem sou.
irei comecar por quem eu fui. 
cresci numa familia com meus dois pais e duas irmas, sendo eu a mais nova. meus pais se mudaram do interior para uma cidade grande a fim de melhores oportunidades de vida, cada um com suas origens peculiares e um destino em comum. se encontraram e, com uma diferenca de idade um pouco gritante, ficaram juntos. minha mae era empolgada com a vida e com as novas descobertas que viera a conhecer e, sem muita educação, acabou engravidando do meu pai aos 17 anos. assim, meus pais montaram uma loja e estabeleceram um negocio lucrativo que demandava muita atencao e trabalho duro dos dois. minha irma, 1, cresceu nesse ambiente de pais ocupados, era, porem, filha unica e com isso os dois pais compensavam a falta de atencao com coisas materiais. aos 24 minha mae engravidara novamente, da 2. ela e meu pai ja estavam bem estabelecidos financeiramente, com uma casa grande em cima da loja na qual trabalhavam. a casa era no centro de um munincipio periferico, numa zona comercial.4 andares de puro concreto e grades nas janelas e nas escadas. 1 recusou completamente a 2, visto que ja nao ganhava atencao e afeto suficientes anteriormente e agora teria que dividi-los. 1 morria de ciumes, e nao era a toa. os pais nao sabiam lidar com suas questoes,  nunca foram proximos. como 1 cresceu ao longo do tempo nessa condicao, sua relacao com os pais era puramente obrigatoria.e para melhorar a situaçao, chegou mais uma criatura para roubar o que era ja tao pouco em sua vida. 2, o membro mais branco da familia, foi uma crianca fofa, gordinha e linda, que todos queriam apertar. 3 anos depois meus pais se casaram, minha mae foi para o altar comigo já grande em sua barriga. quando nasci, 1 ficou mais ainda amargurada e 2 era educada e nova demais para ter uma grande reacao negativa. e assim seguimos: pais trabalhando das 08:00 às 20;00, nós tres estudando na parte da manha e ficando trancadas o resto do dia, geralmente conflitadas. nao tenho muitas lembrancas da participacao de 1 ate o periodo da minha adolescencia. quando eu era nova ela ja era adolescente e, quando nao estava fora na casa de amigas, estava se distanciando de mim. da 2 sim, eu fui bastante proxima. nossa relacao foi e é de grande importancia na minha vida, me influenciou por completo. 
antes de explica-la, preciso deixar claro que éramos muito solitarias, nao tinhamos apoio moral de ninguem, nem sabiamos o que isso significava. apenas engoliamos todos os sentimentos, o que resultava em xiliques exarcebados, brigas constantes, choros frequentes e birras superdimensionadas, de um modo mais intenso que uma crianca normal - do meu ponto de vista. vamos la, eu e 2, do inicio: ela era a unica pessoa com quem eu me soltava e sentia que eu podia ser verdadeiramente eu, sem escrupulos. a unica pessoa com quem tive afeto de amizade e proximidade ate meus 9 anos. a unica pessoa que eu tinha. éramos muito felizes, brincavamos bastante. eu gostava demais dela, ate porque nao tinha outra pessoa para gostar daquele jeito. era minha unica amiga. entretanto, brigavamos bastante. brigas bobas que sempre acabavam em ofensas e/ou tapas. as brigas eram muito frequentes e a participacao dos meus pais nelas era apenas de falar “se voces nao pararem nós vamos bater nas duas”. com isso, colocavam um ponto final em algo que precisava ser discutido e resolvido, alem de deixar abertura para brigas novamente por motivos bobos no futuro. e assim aconteceu, virou um ciclo. ciclo de desentendimentos nao resolvidos, ofensas rebatidas ate o momento em que chegava a autoridade e nos mandava parar: paravamos, mas nao resolviamos. choravamos enquanto engoliamos as ofensas raivosas, com mamae falando “nao quero ouvir nenhum ‘mas’, agora é sem nenhum piu”. isso foi especialmente problematico para mim, que era a mais nova, logo, o saco de pancadas da 2. eu tinha menos conhecimento do mundo e menos massa muscular no corpinho magricelo, sempre perdia as brigas. acredito que fui moldada pela grosseria de 2. ela, por sua vez, era tambem muito solitaria, tinha que ficar em casa comigo quando nao estava na escola. tinha alguns amigos, mais do que eu sempre tive. no entanto, nao tinha a presenca dos pais, e ficava a maior parte do seu tempo presa comigo. 2 estava ja bem grande, e nao havia ninguem para se relacionar alem de mim. ela precisava de conselhos e companhia que, eu, com uma idade inferior, nao era capaz de dar. sendo assim, 2 converteu sua solidao em raiva, que descontava em mim, a mais fraca. ao longo de sua adolescencia, quando nao estava fora com os amigos, estava comigo implorando por sua atencao. a irmazinha mais nova. 2 me desmerecia por eu nao saber coisas, seja la o que fosse. “como assim voce nao conhece isso?” “como voce nao sabe isso?” e me chamava frequentemente de “inutil” e “sem cultura”. eu me sentia mal e incopetente toda vez que escutava essas e outras palavras saindo da boca dela direcionadas para mim. apesar disso, tinhamos bons momentos. eu me divertia muito com ela, era legal ter uma amiga. só que, na balanca, um momento nao compensava o outro. 2 sofreu muito na sua adolescencia, e descontou boa parte em mim.
eu, sendo moldada pela raiva de minha irma, fui insegura desde pequenina. ela era a unica pessoa com quem eu me soltava, e ser julgada negativamente, ofendida e desmerecida por essa unica pessoa de quem eu tinha a amizade foi um ponto decisivo no meu comportamento diante da sociedade. 
xxxquando comecei  eu literalmente nao tinha coragem para existir. meus pais me largavam aos berros nos braços da moça do jardim de infancia todos os dias. depois de um tempo eu consegui achar um lugar naquela sociedade de pessoas pequenas como eu e algumas pessoas grandes autoritarias: eu era a menina quieta, que quase sempre(a concorrencia era alta) era a primeira a terminar a tarefa, sempre caladinha. nao tinha coragem de responder a chamada, apenas levantava a mao e esperava a professora me localizar. eu tinha alguns poucos amiguinhos de conveniencia, ficavamos juntos no recreio. nesse momento em que estou escrevendo, relembrando dessa epoca, me recordei de uma menininha da minha turma por quem eu sentia uma admiracao muito forte - algo que ia alem de um “queria ser igual a ela”, nao sabia o que era e nem me importava. agora consigo contrastar esse sentimento com as outras criancinhas me perguntando de qual menino que eu gostava, qual eu achava ser o mais bonito. vários casais existiam ja nessa epoca, possuiam um compromisso que consistia em andar de maos dadas no recreio. analisando agora esse meu sentimento por essa menininha, tao antigo, apagado e esquecido, fico feliz em saber o que era. uma situaçao que acredito que, nesse momento em que escrevo, eu nunca contei para ninguem e que me marcou bastante, aconteceu nessa época. eu costumava usar uma sainha jeans, normal. um certo dia de aula, num momento em que a professora nao estava na minha sala de aula, eu  estava sentada na minha cadeira e alguns meninos estavam juntos na minha frente, em grupinho, analisando umas caracteristicas em sua volta. caracteristicas estas eram as roupas das meninas. eu conseguia escutar o que eles diziam, mas nao dei muita importancia. até que viraram para mim, e, eu estava com minha saia jeans e as pernas levemente abertas. eles deram risadinhas e um deles disse “qual será a cor da calcinha dela?”. fechei imediatamente minhas pernas e virei meu rosto. nao sabia o que fazer, nao tinha coragem para falar em uma situacao normal, imagine naquela. me senti invadida e nao entendia nem o porquê. no outro dia agi normalmente - dentro do meu padrao de normalidade, claro.
assim eu segui minha vida: indo para a escolinha, fazendo as tarefas(uma das unicas coisas que eu tinha coragem de fazer naquele ambiente) e ficando em casa com a companhia do humor oscilante da minha irma.
em seguida me mudei de escola, pois a que eu estava era apenas o jardim de infancia, e eu estava entrando na primeira serie e ficaria nessa nova escola ate o final da quarta. tenho bastante lembrancas boas desse período, mas nao consigo lembra-las de modo linear. vou destacar o que acho importante. continuei sendo extremamente timida, fechada. gostava de jogar jogos de tabuleiro no recreio, pois assim nao precisava interagir e a companhia era garantida, visto que assim como eu sempre havia alguem que acabava tambem jogando os jogos para nao ficar sozinho. na sala de aula eu nao me atrevia a dizer um a. respondia a chamada ainda com as maos. hasteavamos periodicamente a bandeira do brasil, cantando, a escola inteira organizada em filas por turmas, o hino nacional. eu nao tinha coragem de cantar: apenas mexia a boca. era timida demais para que minha voz saísse da minha boca, mesmo que fosse para acompanhar canto da multidao. só ia no banheiro ou beber água no recreio ou na saída, nao tinha coragem de pedir para sair durante a aula. nas aulas de educacao física me soltava na queimada, eu era boa e adorava jogar. sempre pediam para as meninas amarrarem o cabelo nesse tipo de jogo, e eu me recusava. ate chorava se preciso fosse. o motivo: acreditava que ficava feia demais com o cabelo preso. meu ultimo ano nessa escola houve uma aula de danca na quadra, várias pessoas enfileiradas seguindo os movimentos do professor. no inicio fiquei bem dura, com medo dos julgamentos. depois de um tempo, quando percebi que todos estavam preocupados em seguir os passos corretamente e nao com a minha performance individual, me soltei completamente. foi um momento muito bom, dancei feliz demais e fiquei feliz por ter aproveitado o momento. o único naquela escola em que ,fisicamente, me soltei e me permiti. teve uma aula de ‘ciencias’ em que, na introducao da aula, a professora disse que faríamos um experimento perigoso que poderia nos matar. essas nao foram as palavras exatas dela, mas foi assim que interpretei.  o experimento era correr sem parar pelo patio até beirarmos um ataque cardiaco, para depois irmos à sala e  aprendermos sobre os batimentos. lembro que, apesar de ter ficado empolgada pela experiencia de quase morte, fiquei abismada com o fato da professora ter autorizacao para brincar com a vida de criancas daquele jeito. cheguei em casa nesse dia e contei, extremamente extasiada, tudo pro meu pai. ele disse “nossa. que legal”. os creditos de eu saber diferenciar a direita da esquerda são dessa escola: no lado esquerdo do patio ficava a cantina e no lado direito o bebedouro. nos ensinaram para lembrarmos disso quando ficassemos na duvida e eu até hoje recorro a esse método. numa aula de portugues a professora estava ditando frases para escrevermos no quadro, um por um. quando ela me chamou eu fui. nao sei qual era a frase, mas nela havia uma vírgula. quando cheguei nessa parte, fiz uma vírgula, normal. a professora me interrompeu imediatamente e, com seu tom horrivel de voz alterada que ela tinha, começou a falar que eu tinha feito errado. disse que eu fiz a vírgula de baixo pra cima e que o certo era de cima pra baixo. me pediu para apagar e refazer. aquilo foi uma humilhação tao grande, segurei tanto o choro na hora. me senti muito mal depois. minhamae me levava todos os dias, ai num dia especifico...acordei, levantei me arrumei e, ainda desacordada pelo sono fui logo pro carro para continua-lo durante o caminho. chhegando na escola acordo, vou descer do carro mas tinha algo faltando...para segurar..minha mochila! minha mae havia pensado que eu tinha colocado ela no chao do banco de tras, por isso nao verificou. e assim fui pra escola sem mochila.
 eu odiava dançar nas festas junitas devido a ter que usar vestido, maquiagem e prender o cabelo. além de termos que dançar com um menino na frente da escola toda. só participei de uma festa junina nessa escola, e pelo que recordo, só participei porque fui obrigada. no dia que estávamos começando os ensaios me aconteceu algo impactante. a professora estava formando os pares de pessoas, e me colocou com um menino negro. nao sei se o que mais me impactou foi o fato dele ser negro, homem ou por eu estar ali sendo obrigada a fazer algo que eu nao queria, mas comecei a chorar. nao lembro do resto da história, só sei que chorei para nao dançar com o menino. fábio era o nome dele. sei que eu dancei naquela festa, pois me lembro de estar com o vestido e com minha mae pintando as pintinhas com um lapis de olho nas minhas bochechas dentro do carro. adicional: em 2018 encontrei fábio num onibus e conversamos bastante.ele lembrava bem de mim. fiquei feliz por conseguir interagir com ele daquele jeito, foi super legal. eu adorava a cantina. a merenda era maravilhosa, sempre queria repetir. queria. nao tinha coragem. um dia, no transporte escolar, eu estava escutando musica com fone de ouvido. alguem esbarrou em mim e fez com que o fone se desconectasse do celular. a musica continuou tocando no alto falante no volume maximo. era papanamericano. eu esta com o tempo, fiz amigos. tinha a gabi. nós tinhamos muitas coisas em comum e adoravamos conversar e brincar. ela era bem ativa, brincava de pique pega e de todas as variacoes dessa brincadeira. eu nao gostava muito, nao sabia como me portar e tinha vergonha de correr(?). eu gostava e queria brincar dessas brincadeiras, mas ao inves ficava jogando jogos de tabuleiro. eu e gabi tinhamos um acordo: ficavamos separadas durante o recreio - ela brincando correndo e eu com os jogos de tabuleiro - e durante as aulas e no final delas ficavamos juntas. teve um dia em que, na saída, nossos pais ficaram de ir nos buscar e ambos atrasaram. ficamos no parquinho por um bom tempo, conversando. naquele dia senti que nos conectamos de verdade, foi muito verdadeiro para mim .tambem jogavamos um jogo online, ddtank. nao sei como surgiu a ideia, mas eramos viciadas e, na maioria das vezes enquanto jogavamos, nos falavamos tambem pelo telefone. era sensacional e empolgante. lembro de um namorado que tive no jogo, yuri, gabi tinha um tambem, jogamos os quatro como uma equipe durante um bom tempo. eu era muito mole e desanimada, nao brincava de nada que envolvesse correr ou atividades assim. gabi, como ja disse, era o contrario. as vezes ela me batia enquanto falava, nao lembro muito bem como, se ela batia mesmo ou se só gesticulava tocando em mim, mas me incomodava. acredito que ela queria arrancar alguma reacao de mim, nao lembro ao certo. sei que isso me incomodava demais, e passou a ser uma questao que me afastou dela. para ela foi estranho, pois nao conversei sobre, apenas fui cortando a interação. um dia a mae dela foi na escola e quis conversar comigo sobre a situaçao, lembro que achei péssimo pois ela me questionava da minha amizade com a gabi e eu nao sabia o que dizer, pois realmente nao tinha uma justificativa plausivel, visto que eu poderia apenas ter falado com ela sobre o que me incomodava e poderiamos ter resolvido rapidamente.fiquei me sentindo mal depois, foi ruim o jeito que a mae dela falou comigo(eu nao era preparada para falar de sentimentos muito menos do que me incomodava) e foi pior ainda eu nao conseguindo falar nada. acho que o desfecho dessa historia com a gabi acaba nessa parte.obs: felizmente, encontrei ela no cursinho, fiquei muito feliz em encontrar ela e ela pareceu feliz ao me ver tambem. conversamos sorridentes rapidamente pois eu estava atrasada para uma prova. outro dia, no cursinho, fomos fazer uma prova na mesma sala. nao podiamos conversar, apenas sorrimos empolgadamente uma para a outra. no final da prova ela me deu o celular dela para eu colocar meu numero e conversarmos depois. ela nao entrou em contato.
nessa epoca eu tive outras amizades importantes, como a luana. nós tinhamos bastante coisa em comum e nos divertiamos muito juntas. nos aproximamos no onibus escolar. tinha tambem a paola, que era, assim como eu, bastante timida.nós nos davamos muito em, e, novamente, assim como eu, ela era timida demais para brincar da maioria das brincadeiras, entao geralmente ficavamos juntas sendo sedentarias. criancas sedentarias. no final do quarto ano comecamos a jogar os jogos que envolviam bolas, como volei e queimada. éramos muito boas e sempre ganhavamos. tambem tinha a ester, amiga da paola antes de sermos amigas. as duas eram muito proximas, as conheci juntas. formamos um trio, com a paola sendo a principal e eu e a ester, pelo menos na minha caeca, disputavamos a atencao da paola. eu nao era muito fa da ester, mas a paola gostava muito dela.
essas pessoas sao as principais que me lembro. uma observação importante é que nao fui amigas de todas no mesmo período. fiquei nessa escola 4 anos e, durante esse tempo, nao fiquei com todas juntas. eu sempre tinha uma amiga protagonista a qual eu dedicava toda minha amizade. nao sabia ter mais de uma pessoa. isso era um grande problema, pois, na minha relacao com a gabi, por exemplo, fiquei sozinha por um bom tempo quando paramos de nos falar, até eu achar uma outra melhor amiga. e assim por diante. esse é um ciclo que aprendi recentemente a quebrar.
depois dessa escola fui para outra, uma que tinha o fundamental 2. fiz nela os anos quinto e sexto. como era uma outra escola da rede publica, fui encaminhada para ela, assim como varias outras pessoas. varios rostos familiares me acompanharam nessa nova escola, como a luana e a paola. a paola era da minha sala e a luana me acompanhava no transporte escolar. as duas pessoas de quem eu mais era proxima. a estrutura da escola era pessima, os professores falavam as vezes que ela podia desabar a qualquer momento e que o governo nao tava nem ai. a escola ficava no meio de um terreno super desnivelado, onde na parte plana ficava a construçao da escola e o estacionamento e, depois de uma grande declividade,  ficavam a quadra, o parquinho e uma vasta area verde. nos fundos do “quintal” da escola havia um centro para pessoas mentalmente afetadas ou algo do tipo. as portas das salas de aula davam todas num corredor comum, um corredor infernal. na entrada e na saida era pessimo passar por conta da quantidade de gente, sempre tinha engarrafamento. o que eu achava legal nessa arquitetura era a praticidade que tinha a moça da cantina: ela passava com um tipo de carrinho onde colocava a merenda e saia distribuindo, organizadamente, de sala em sala pelo corredor. no meu primeiro ano la fiquei com a paola. tambem conhecemos o vitor, uma pessoa que me tornava quase extrovertida de tao legal e leve que era interagir com ele. era muito bom ficar com os dois. na minha sala tinha tambbem o luis carlos e o pedro lucas, dois “machos alfas” passando pela adolescência. eles eram bem legais e eu particularmente me dava bem com o pedro. era estranho, pois ele insistia em conversar comigo. eu era timida demais, mas ele nao se importava e ficava conversando. era engraçado. no inicio eu nao dava bola, mas depois comecei a ter um crush nele, só que parecia ser tarde demais, parecia que ele tinha perdido o interesse. aí paramos de conversar. eu era muito boa no ingles - era nosso primeiro contato com a disciplina ingles na grade curricular e eu ja tinha uma experiencia pelas musicas que escutava- sempre gabaritava as provas. alias quase todas, eu era considerada nerd. na disciplina de historia, o professor nos mandava fazer resumos enormes para entregar para ele. eu era a unica que fazia dentro do numero minimo de paginas que ele pedia. ele era sensacional. robson. tinha vezes que ele dizia coisas que faziam parecer que eu era a unica esperança dele naquele lugar. devido as minhas boas notas, ao meu otimo comportamento(que podia ser definido em: timida e insegura demais para fazer algo alem das tarefas), e ao fato de eu ser a representante da turma, os professores confiavam em mim. uma vez uma professora me pediu para tomar conta da sala enquanto ela ia em algum lugar. meus deveres eram nao deixar ninguem sair e anotar os nomes de quem estava conversando e bagunçando. esse dia foi em especial traumatico. la estava eu, mantendo a ordem, em pe encostada na porta. o luis carlos e pedro lucas, entre outros do grupo deles, conversando e bagunçando. eu anotando os nomes deles. eles me perguntando, de um jeito grosseiro, se eu anotei o nome deles e, novamente, de um jeito grosseiro, ordenaram que eu tirasse seus nomes. ate que o luis carlos, cara grandao, pede para sair. o problema é que ele nao só pediu, como tambem me ameacou. ele chegou pertinho de mim, quase como se fosse me beijar, me intimidando e falou varias coisas. nao lembro o que, mas sei que nao foi leve. as vezes ele ‘brincava’ de ser bandido. essa foi uma dessas vezes. o pedro lucas, que no inicio ficou rindo atras dele, depois de um tempo pediu pra ele parar. eu tava com os olhos cheios de lagrimas. deixei ele sair e fiquei com a testa encostada na porta, tentando nao chorar(e falhando). um outro dia luis carlos e pedro lucas estavam fazendo brincadeirinhas com as meninas. estavam medindo a altura das coxas delas enquanto elas ficavam sentadas. eu tava distraida. eles chegaram perto de mim e, eu, que considerava que tinha uma certa proximidade com o pedro lucas, nao fiquei na defensiva, pois considerava ele um cara legal e nao pensei que seria capaz de me zoar. ate que eu descobri no que consistia a brincadeirinha deles. falavam algo que envolvia o tamanho da vagina das meninas. dependendo do tamanho ela era considerada grande ou pequena. por isso estavam medindo as coxas das meninas: eles consideravam ser esse o indicador do tamanho da vagina. estavam usando termos mais chulos que os que usei aqui. depois que entendi o conceito da brincadeira, pedro lucas chegou perto de mim e mediu o lado da minha coxa com a palma da mao. depois mostrou a medida para luis carlos e falou que eu aguentava. luis carlos, rindo, concordou. eu nao tive reação. o ambiente dessa escola me era muito estranho.eu sentia que as regras que existiam nao eram seguidas por ninguem alem de mim. era um caos. as autoridades nao tinham poder algum. meninos como os dois citados que mandavam na sala de aula. nao havia sentido em fazer os deveres, pois os professores, ao verem que quase ninguem da turma havia feito, adiavam sempre a entrega - isso quando nao davam pontos de graça. nao havia sentido estudar, pois as provas eram com consulta - ate de celular, para quem tivesse um. portanto, meu titulo de nerd, era apenas pra dizer que eu fazia o minimo dos deveres e que nao ameaçava os professores de morte. eu tinha 10 anos.
no ano seguinte me aproximei da luana, mariana e karyne. eramos um quarteto que eu gostava muito. continuei seguindo as regras de um jeito mais relaxado, pois nao havia necessidade de ser como eu era. a partir daqui eu comecei a responder a chamada com minha voz, ao inves de acenar com minha maozinha.  dizia “presente”-com a voz toda tremendo- que foi o que ensinaram, rigidamente, na outra escola. eu devia ser a unica que respondia com essa palavra na sala. achava uma completa falta de respeito as pessoas responderem com “aqui”, pois na outra escola foi tao martelado na minha cabeca que o correto era “presente”.
acredito que foi nesse ano em que algo marcante aconteceu. no sexto ano, auge dos meus 11 anos houve um acontecimento importante, que geralmente eu me recuso lembrar sobre ele, mas estou comecando a aceita-lo. no meio de uma aula eu  pedi para ir ao banheiro. no banheiro vi algo estranho na minha calcinha. ja tinha ouvido falar sobre menstruaçao e sabia do sangue. só nao consegui assumir que o que estava na minha calcinha era sangue, pois nao tinha consistencia, cheiro ou cor de sangue. era um liquido pastoso marrom escuro com um cheiro que nao me era familiar. decidi ignorar aquilo. a escola nao era lugar para lidar com aquele tipo de coisa, por isso decidir deixar para depois. enrolei papel higienico na minha calcinha, torcendo os dedos para que nada acontecesse. coloquei um casaco na cintura para disfarcar a manchinha que a excrecao que ja havia saido tinha feito e segui normalmente, pelo menos tentei. acho que a luana, minha amiga e companheira no onibus, havia faltado nesse dia. depois das aulas terem acabado eu estava sentada com uma menina que eu nao conhecia tao bem do meu lado, mas era familiar pois frequentavamos a mesma escola e o mesmo onibus. pois bem, eu sentada no lado da janela e ela no do corredor, conversando com as pessoas em volta. eu estava me encolhendo cada vez mais. podia sentir que minhas pernas estavam alagadas. estava com medo de escorrer para o chao do onibus. quase chegando no ponto da minha casa, a menina que estava do meu lado, para o meu desespero, me fez uma pergunta muito incoveniente depois de me encarar por um tempo: “voce ja menstruou?” silencio da minha parte. “sabe o que é isso?” silencio. eu ri e virei a cara para a janela. o desespero no qual eu ja havia entrado no momento da manha em que pedi ao professor para ir ao banheiro pois senti algo molhado na minha calcinha estava agora palpavel. eu tentava discretamente olhar e apalpar minha pelvis para ter alguma ideia da dimensao do problema. passei a mao por dentro da calcinha, tirei e ela veio com o negocio que estava saindo de mim. ja nao era paranoia minha, era realidade. tremi de medo pensando no sangue escorrendo do meu assento para o chao do onibus. a menina havia me perguntado pois tinha percebido. pensei. ela tinha sentido o cheiro. eu ja estava morta por dentro. quando chegou na minha casa peguei a mochila soltei a alca no maximo para ela cobrir minha bunda e sai me enrolando no meu casaco, tentando nao pensar na poça de sangue que eu devo ter deixado naquele assento.
sempre tive problema com menstruação. nunca conversei diretamente com minha mae sobre isso: depois que veio ela me deu parabens e absorventes. após o  vexame que contei, houveram outros. todos pelo mesmo motivo: minha falta de coragem em comprar absorvente; pedir emprestado; ir ao banheiro trocar; resumindo, tudo que expressasse que eu estava sangrando pela vagina era profundamente ignorado por mim, até que acabasse vazando pela minha calça. 
no dia da historia do onibus, quando cheguei em casa nao havia ninguem, portanto consegui disfarçar e nao conversei com ninguem sobre aquilo. um outro dia em que eu havia acabado de chegar na casa da minha vó, vindo da escola, estavamos eu, ela e meu pai na sala conversando. eu sentada numa cadeira com um estofado branco. falei que ia ao banheiro. percebi a droga da mancha novamente. coloquei o maximo de papel higienico possivel e voltei pro comodo que estava. os dois estavam me encarando. minha vó apontou para a mancha no estofado da cadeira me deu parabens e comecou a pensar em voz alta sobre como limparia aquele sangue. meu pai disse que falaria com minha mae. eu estava em choque, depois daquilo eu mal falei ate o dia seguinte.
eu tenho mais historias de vazamentos de menstruação do que eu gostaria. ainda me sinto constrangida quando converso com alguem sobre esse assunto, porem me forço ao maximo a interagir na conversa, preciso começar a pensar nisso como algo normal. mesmo eu sabendo que é, ainda é um enorme tabu para mim.
seguindo a historia, no sétimo e oitavo anos estudei no colegio notre dame. a primeira escola particular na qual eu (conscientemente) entrei. 
 eu considero nossa infancia caótica, pois, nós 3 tinhamos muitos sentimentos amargurados e presos dentro de nós e nao sabíamos como nos expressar, muito menos se alguem nos ouviria.
nao vou dizer que nao tivemos bons momentos, tivemos sim, mas nao foram maioria(fato comprovado pelos nossos comportamentos problematicos manifestados principalmente durante e depois da nossa adolescencia)
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