Foi em uma terça qualquer que te esqueci, foi no exato momento em que ri de uma piada e não me lembrei de você. Até esse momento, todas as piadas que me roubasse um riso distraído me lembrava você, imaginava como você iria rir também. Foi em uma terça qualquer que notei que decidi de forma repentina que precisava ver meu cabelereiro e cortar meu cabelo assim, sem motivo especial, só porque gosto do movimento que ele faz quando está bagunçado, parece mais livre, mais leve. E não me preocupei se você iria gostar. Foi em uma terça qualquer que eu não me preocupei em conservar a versão minha que você conheceu, por receio de que quando voltasse não gostasse da nova fase. Pelo contrário, eu sou totalmente outra, e foi em uma terça qualquer que eu notei que gosto assim. Gosto das minhas novas músicas e meus antigos poemas que já não tem gosto de culpa na boca quando os leio. Foi em uma terça dessas qualquer que gostei de ser minha e não sua. Uma terça, chuvosa e úmida, aconchegante como um dos poemas da Matilde Campilho. Foi em uma terça qualquer que resolvi ser minha, e não sua.
Te ver partindo
Me partiu
E por um bom tempo
Caminhei por aí
Pela metade
Te procurando
Pelas ruas dessa cidade
Mas nunca te encontrei
E te agradeço
Por ter sumido de vez
Porque só assim eu consegui
Te esquecer e me refazer
Nessa Cross