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isso foi a coisa mais linda q alguem ja falou p mim
Nathália
É estranho pensar que te conheci com 14 anos (ok, já eram quase 15 e talvez a nossa amizade tenha engrenado MESMO aos 16, mas é mais impactante assim) e agora tenho 1-mês-para-22, ao mesmo tempo que somos jovens nós já nos conhecemos há um terço do tempo que existimos.
É mais estranho pensar que eu existi num contexto antes de você. Nathália, pessoas salvam pessoas, e você me salvou mais vezes nesses 7 anos do que você jamais vai saber, mais vezes do que consigo mensurar ou do que cheguei a realizar.
Algo que me ocorre desde a adolescência e muito ainda hoje em dia, é o sentimento de que todo mundo mantém amigos de infância menos eu, você é a minha amizade mais antiga e, é claro que conheci o restante do pessoal da Etec no mesmo período, mas você é a única que se manteve presente, a única para qual o termo amizade ainda faz sentido e não é aquela coisa de chamar de amigo quando não existe mais afinidade mas mesmo assim você mantém uma velha consideração. Muitas vezes me sinto inadequada pensando "o que tem de errado comigo para ninguém ter se mantido na minha vida desde a minha infância?", às vezes esse pensamento se dissipa e chego na conclusão de que me cerquei de filhos da puta desde o início da vida, você acha que é possível que todo mundo seja mesmo meio péssimo comigo e eu seja a ingênua e injustiçada que depositou confiança em pessoas erradas? Me pego me sentindo assim com frequência porque tudo o que tenho feito na vida desde que deixei de ser um pequeno saco de carne e ossos que come e caga e acordei consciente um dia pensando "opa, agora posso pensar" é pensado para agradar os outros, para tentar convencer os outros de que mereço afeto e fico me questionando qual é o defeito tão grande que os outros enxergam em mim há 21 anos e não me falam? Talvez esse defeito não exista e talvez as outras crianças só fossem mais legais e especiais para merecerem amigos duradouros e não colegas que só te chamam pra ir no parquinho quando a mãe de todos os outros não deixaram eles descerem pra brincar? Talvez eu só fosse sem sal? Eu me sinto inadequada perto dos meus pais, dos colegas de faculdade, da família do João, da empresa, me sinto fraca e pequena perante a vida, é como se o mundo todo fosse a 13 de maio e eu fosse uma formiga correndo tímida e desesperada tentando não ser pisoteada, a mesma criança assustada de 18 anos atrás num corpo que inevitavelmente envelheceu.
Apesar de toda a inadequação, eu nunca me senti inadequada perante você, esse pensamento nunca me ocorreu por sua causa, parece que seja lá qual o defeito gritante que me priva de amizades duradouras, você de alguma forma é incapaz de vê-lo.
Nunca sonhei em ter um namorado ou um marido, meus relacionamentos aconteceram porque foi o fluxo que a vida seguiu, mas almejei a vida toda ter uma melhor amiga e ela nunca chegava, muitas vezes projetei esse desejo em garotas com quem dividi gostos em comuns por um ou dois anos, mas tudo se esfarelava assim que as férias escolares chegavam ou eu mudava de escola, nunca fui inesquecível como gostaria de ser mas no fim fico feliz por esperar por 14 anos, ainda bem que foi você ocupou esse espaço na minha vida, toda a espera vale a pena quando você pode ter alguém que se encaixa tão naturalmente na sua vida e que você pode se sentir seguro porque é amado de forma que seus defeitos passam despercebidos, até quando estavámos brigadas ou afastadas esse posto emocional nunca era tomado de você, simplesmente não é a mesma coisa, se eu te dissesse que nossa conexão é tão especial porque quando falo com você me sinto compreendida seria algo muito raso, na realidade me sinto confortável com você porque falar com você não tem o esforço de estar falando com outra pessoa, não é bem fala, seria mais telepatia falada, como se eu conversasse com meu próprio pensamento, como se meu cérebro saísse da minha cabeça, se dividisse em dois e conversasse com ele mesmo.
Sabe, eu sempre quis ser especial pra um homem a ponto de ser uma musa, de ser motivo para poemas e artes e merecer ser eternizada de alguma forma, ninguém nunca escreveu sobre mim como eu gostaria que escrevesse, é muita pretensão também, mas nós sempre fomos pretensiosas.
E então eu percebi que a única pessoa que eu teria como musa seria você, espero que isso não seja muito sáfico da minha parte. Tem uma música do Bowie "Fascination" que eu sempre pensei dizer "Every time I see you, fascination" na realidade não é isso que ele diz, e espero que você não procure a letra verdadeira para que isso não pareça ainda mais sáfico, a analogia só vai funcionar com a versão da minha memória, mas de qualquer forma, foi esse o sentimento que tive quanto te vi pela primeira vez com cabelo água de salsicha na Etec vazia enquanto ia comprar armário, um presságio dos próximos anos da minha vida. Fascinação é o sentimento que tive te vendo todos os dias na escola por 3 anos, é o sentimento que tenho quando te vejo até hoje, uma parte de mim sente fascínio toda vez, você tem uma presença que grita que você está ali para o ambiente todo, eu nunca tinha visto ninguém que gritasse personalidade só pelo fato de estar parada existindo, e você não exala essa personalidade por aparência, por estilo alternativo nem nada disso, é simplesmente existindo, se as pessoas tivessem uma aura em volta seria simplesmente impossível olhar pra você, todos teriam as retinas imediatamente derretidas pela sua luz.
O fato de ter te conhecido moldou boa parte da minha personalidade, te via completamente escandalosa nos corredores da escola e para mim que sempre fui reprimida, isso era desesperador e fascinante (vou te apelidar de fascinathy daqui pra frente, é muito ruim?), conforme conheci outras pessoas consideradas "escandalosas" (não considere esse termo como algo perjorativo, pelo contrário, você não é escandalosa, só é você mesma, e muitas vezes é introvertida também) eu me sentia esmagada por elas, me sentia o extremo oposto à elas, mas quando pensava na gente nos via como complementares, você disse muitas coisas que eu gostaria de ter dito e não fui corajosa o suficiente, a sua falta de filtro me fez parar de filtrar tanto o que digo, e para você nunca precisei filtrar nada, quantas vezes não te confessei coisas banais mas que eram muito ridículas e que não seria capaz de contar pra mais ninguém e no fim você compartilhava do mesmo pensamento ridículo? (2018, estacionamento superior do shopping, achar aesthetic fumar cigarro apesar de matar e pior ainda, nos deixar fedendo, achar aesthetic tirar foto fumando, tentar tirar foto fumando, ficar horroroso) Será que se não tivesse sido você eu seria uma frígida? Você moldou tanto a minha personalidade porque você é inevitavelmente autêntica, é muito esquerdo-macho chamar uma mulher de autêntica? Mas você é, é a única pessoa na vida que parece não ter medo de ser quem é, não é que você não tenha, mas parece não ter pra quem vê de fora. Antes de nos tornarmos amigas e eu te amar eu te admirei primeiro, até de longe e durante toda a vida desde o momento que nos conhecemos é como se você tivesse sido meu farol guia mesmo também estando perdida, eu tentava melhorar o que podia me inspirando em você, (estou com medo de que esse texto esteja soando como uma louca obsessiva que de repente corta o cabelo igual ao seu, pega seus ex e tenta fazer amizade com seus amigos como se assumisse sua identidade lentamente) é como se Nathália Porto fosse a maior influencer da rede social da minha vida, mas nunca num pedestal inalcançável, porque sempre me identifiquei com você, mas não consigo deixar de me sentir mais legal e com mais síndrome de protagonista por ter como melhor amiga alguém que seja tão cool (esse termo é absolutamente horrível, não consegui pensar em nada melhor).
Pra mim a melhor parte sempre foi isso, você sempre é admirável pelos gostos, originalidade, inteligência, estilo e até pela sua aparência mas é sempre alcançável, nunca te vi em um pedestal distante onde eu não pudesse te enxergar a ponto de não ver suas fragilidades, sempre está se destacando perto de qualquer pessoa mas no fim do dia sempre foi problemática e perturbada igual eu, sempre teve ambição pelo improvável e por aquilo que parece não merecer esperança, sempre deprimidas mas meio aquela música do The Smiths "there is a light that never goes out" (eu te odeio muito, Morrissey) crônicamente tomando no cu juntas, tomando no cu e rindo.
Eu acho que se você morrer antes de mim vou te tatuar em algum lugar do meu corpo, e se for quando estivermos muito velhas eu vou tatuar você pelada, e o melhor de tudo é que o tatuador não vai precisar tatuar suas pelancas, porque minhas próprias pelancas vão criar dar o efeito necessário.
Não acredito que duas amigas possam ter sido mais deprimidas, fudidas, arregaçadas pela vida e felizes uma com a outra do que nós fomos até aqui.
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