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mari-araujopa-blog · 4 years
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Nos acostumamos tanto ao que é do outro, com a cultura musical não foi diferente. Em algum momento da história já não gostávamos tanto do nosso brega, brega rasgado, brega gostoso. Nossos rádios passaram a tocar tantos outros estilos musicais, tantas outras características mesclaram-se às nossas, e nem percebemos que ali perdíamos aos poucos, um pouco da nossa essência. Pergunte a um jovem paraense hoje se ele conhece alguma música do Kim Marques, Wanderley Andrade ou Alberto Moreno, uma minoria, que teve a influência musical de suas raízes passada pelos pais ou vizinhos saberá responder ao menos Wanderley Andrade, afinal, um mito paraense. (♡)
Hoje vasculhei meu aplicativo de música até encontrar uma playlist que me trouxesse o doce sabor das lembranças de infância. Encontrei uma recheada, que ia de Traficante do Amor a Caprichos. Imediatamente entrei em completa nostalgia, lembrei dos almoços em família na casa de uma tia que ainda hoje reside no PAAR (Proibido Andar de Anel e Relógio) explicação "carinhosa" que o bairro ganhou pela fama da segurança pública que possui, de fato, ali não tinha e não tem segurança, mas tinha os tios me puxando pra dançar um bregoso, eu, relutava, claro, mas no fim, parecia ser vencida pelo espírito dançarina do Calypso e arrasava. Tinha os primos ainda adolescentes e crianças, esperando ansiosos pela maniçoba que parecia nunca ficar pronta, tinha os avós que sorriam com os olhos nos mostrando que estavam felizes, simplesmente por ali estarem. Era uma atmosfera de carinho, cuidado, alegria e até esperança. Esperança de que não deixaríamos aquele elo apartar com o passar dos tempos, e dos caminhos que não mais se cruzariam com frequência. Foram tantos círios juntos, tantos aniversários embalados pelos melodys da época, que hoje chamamos de #Marcantes, sim, marcantes mesmo. É impossível ouvir estas músicas, e ainda hoje não sentir um arrepio neural, consigo sentir o cheiro do quintal da minha tia, consigo lembrar da piscina de plástico, dos passos de brega que eu fazia, e que com um pouco de coragem e arnica eu talvez ainda consiga fazer hoje. (Hehehe)
No mais, acho que não deveríamos nos nutrir tanto do que não é nosso, do que não nos construiu, do que não nos remeta a momentos como estes que vivi e sei que muitos viveram. A música tem o poder de marcar muito mais que uma época, ela pode marcar nossas vidas para sempre, e estabelecer em nós um ponto de partida para quando nos esquecermos das coisas que realmente nos faziam felizes. A música precisa nos tocar, mas mais que isso, ela precisa ter cheiro de lar.
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mari-araujopa-blog · 4 years
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Quando cheguei à cidade de Florianópolis/SC em (2017) um cidadão de olhos claros, branco feito nata, cabelos loiros, típico sulista, teve o disparate de me perguntar "é verdade que vocês do Norte têm jacarés circulando livremente pelas ruas?" Prontamente, vestida com meu arco e flecha psicológicos, respondi - Sim! Temos mesmo. Inclusive, o meu de estimação chama-se Rodolfo. Ele arregalou olhos tão grandes quanto um tralhoto, colocou as mãos na boca e ficou alguns segundos tentando imaginar a cena, onde eu brincava no quintal com meu jacaré doméstico Rodolfo.
Os dias passaram, e eu em momento algum fiz questão de desfazer minha mentira. Ele por outro lado, acreditando firmemente nos absurdos que contei, saiu espalhando para os demais colegas do trabalho a história toda, e a cada conto, ele aumentava um ponto. Acredito que na imaginação de algum dos ouvintes, eu já saía até para comprar pão montada em Rodolfo. (risos)
Toda essa situação me fez refletir na seguinte questão - Estamos mesmo tão distantes assim territorialmente, a ponto de alguém acreditar num fato descabido desse, ou trata-se apenas de cogitações fundadas sobre o peso de um pré conceito propagado por aqueles que se acham mais bem evoluídos socialmente que os nortistas? Estamos sempre tão conectados, tão acessíveis às culturas dos outros estados, é tão fácil hoje em dia conhecer o modo de vida das pessoas que não descendem diretamente de portugueses, italianos ou alemães.
Sei que a pergunta dele pode ter tido muito mais um tom pejorativo do que inocente de fato, mas não fiquei chateada como muitos de meus conterrâneos ficam ao serem abordados com esse tipo de questionamento, na verdade, usei de bom senso, tirei por menos, e mostrei pra eles que uma boa índia não se abala com pouco.
Chegando em casa, passei meu patchouli no corpo pra tirar as energias ruins daquele fi de égua, guardei meu arco e minhas flechas, fiz um carinho em Rodolfo e fui curtir uma boa momoca.
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mari-araujopa-blog · 4 years
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Saí da minha Terra pra modi aprimorar
Meu jeito do Mato, meu cardápio, e até meu linguajar.
Pensava que na minha terra eu não iria evoluir
Mas eu não imaginava o quanto faria falta uma tigela de açaí.
Eu pensava "agora sim", vou ser gente de verdade
Vou crescer na carreira, sair toda sexta-feira e fazer parte da cidade.
Bem-te-vi quase não tinha, farinha não encontrava
Eu pensava estar satisfeita, mas era da minha cultura que eu realmente precisava.
Não cresci, nem virei gente
Grande eu já era onde estava
Gente fazia tempo que eu era
Minha terra não tem inverno
Muito menos primavera
Mas tem igarapé, maniçoba e tucupí
E eu juro pelo Norte, nunca mais saio daqui.
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