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DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!
MÁRIO QUINTANA (1906 - 1994)
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ISMÁLIA
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar…
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar…
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar…
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar…
Estava perto do céu,
Estava longe do mar…
E como um anjo pendeu
As asas para voar…
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar…
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par…
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar…
Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)
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MOTIVO
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada."
CECÍLIA MEIRELES (1901 - 1964)
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QUADRILHA
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili,
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1902 - 1987).
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CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em  cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. 
GONÇALVES DIAS (1823 - 1864).
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O CENTENÁRIO
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Hoje, exatamente nesta quarta - feira nublada em SP, Dias Gomes faria 100 anos.
Porém, infelizmente, o gênio da dramaturgia nos deixou em 1999, após sofrer um estúpido acidente de trânsito (eu tinha apenas 4 meses de nascida no fatídico dia).
Dias Gomes, autor da premiadíssima obra, "O Pagador de Promessas", escrita em 1959, marcou para sempre a história do teatro brasileiro, ao contar a trajetória do determinado Zé do Burro, com sua fiel promessa à Santa Bárbara. Dias, através de sua obra, foi também responsável por denunciar o cenário político do Brasil que, depois de tantos anos, ainda a vemos retratada na atual sociedade. Casado com sua eterna companheira, Janete Clair desde 1950, até a morte da mesma em 1983, o casal 20 da teledramaturgia se imortalizou na escrita com suas histórias que fascinaram o público brasileiro, apesar de terem estilos diferentes um do outro.
Eu estou ansiosíssima (pois, ansiedade é uma das minhas características) para ver acompanhada do meu pai, a homenagem que o Itaú Cultural, aqui em SP, está prestando ao nosso eterno dramaturgo, com a "Ocupação Dias Gomes".
VIVA ALFREDO DE FREITAS DIAS GOMES!!!
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CONTRANARCISO
em mim
eu vejo
o outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente centenas
o outro
que há em mim é você
você
e você
assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós
PAULO LEMINSKI (1944 - 1989).
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CORA CORALINA, QUEM É VOCÊ?
Sou mulher como outra qualquer.
Venho do século passado
e trago comigo todas as idades.
Nasci numa rebaixa de serra
entre serras e morros.
"Longe de todos os lugares".
Numa cidade de onde levaram
o ouro e deixaram as pedras.
Junto a estas decorreram
a minha infância e adolescência.
Aos meus anseios respondiam
as escarpas agrestes.
E eu fechada dentroda imensa serrania
que se azulava na distância
longínqua.
Numa ânsia de vida eu abria
o vôo nas asas impossíveis
do sonho.
Venho do século passado.
Pertenço a uma geração
ponte, entre a libertação
dos escravos e o trabalhador livre.
Entre a monarquia
caída e a república
que se instalava.
Todo o ranço do passado era
presente.
A brutalidade, a incompreensão,
a ignorância, o carrancismo.
CORA CORALINA (1889 - 1985).
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O PRIMEIRO BEIJO
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"Foi naquela noite, a da reunião de amigos, no apartamento de Jorge, com a revelação do sangue pataxó correndo em suas veias, que aconteceu nosso primeiro beijo.
Em certo momento, ele me pediu que o ajudasse a servir os convidados. Fui à cozinha buscar uns copos. Estava eu acabando de ajeitar os copos na bandeja, quando Jorge apareceu. "Vim buscar os vinhos", disse. Ambos de mãos de mãos ocupadas, voltamos à sala, Jorge com uma garrafa em cada mão, eu segurando a bandeja, equilibrando os copos. Ao passarmos por uma porta, juntos um ao outro, paramos, de repente, sem saber por que, e nos fitamos. Nem a bandeja de copos entre nós dois impediu que nossas bocas se aproximarem. Sem braços para abraçar, sem mãos para acariciar, nem voz para sussurrar, apenas os lábios livres sequiosos, se uniram num beijo delicado e ardente, de labareda e brasa.
Um contido tesão rolando entre nós dois desde o início, escravizado, reprimindo a duras penas, rompeu as amarras, conquistou a alforria. Nessa noite não voltei para minha casa. Nem nessa noite, nem nunca mais. Ao lado de Jorge ficaria para sempre, até o fim de minha vida." ❤️
ZÉLIA GATTAI, EM VACINA DE SAPO E OUTRAS LEMBRANÇAS (2005).
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COMO É BOM SER CRIANÇA!
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EM HOMENAGEM À SEMANA DO DIAS DAS CRIANÇAS, EU COM APENAS 1 ANINHO DE 1 IDADE, EM PORTO SEGURO - BAHIA (2000). AMO ESTA FOTO 😍
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O SUBVERSIVO
"(...) Deus é um bom dramaturgo, não se pode negar, sabe jogar com suas personagens, sabe torná - las verossímeis dentro da inverossimilhança total da vida, essa tragédia farsesca. Consegue fazer com que seus intérpretes lutem por seus papéis desesperadamente na ilusão de poder melhorá - los com uma contribuição pessoal, quando Ele, cioso de sua obra, não admite cacos, atitude que apóio integralmente. Só um reparo: repete - se muito, pois todas as suas peças têm sempre o mesmo e previsível desfecho - a morte. Sei que é antiético falar mal de um colega, mas Deus sofre de uma milenar falta de imaginação."
DIAS GOMES EM SUA AUTOBIOGRAFIA: "DIAS GOMES, APENAS UM SUBVERSIVO" (1998).
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SONETO DE FIDELIDADE
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
VINÍCIUS DE MORAES (1913 - 1980).
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O AÇÚCAR
O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo - o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.
Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.
Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
homens que não sabem ler e morrem de fome
aos 27 anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.
Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
FERREIRA GULLAR (1930 - 2016)
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A ESTRELA
Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia
Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.
Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?
E ouvi - a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais tarde ao fim do meu dia.
MANUEL BANDEIRA (1886 - 1968)
FONTE: Para querer bem, Antologia poética de Manuel Bandeira, 2005.
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JORGE AMADO, O ETERNO "MENINO GRAPIÚNA".
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DIAS GOMES - 100 ANOS
"(...) De Dias Gomes sou amigo, amigo antes de tê - lo conhecido, pois seu irmão Guilherme foi meu colega na Academia dos Rebeldes, o atual Acadêmico usava calças curtas. Dessa vez recebo não um adversário e, sim, um correligionário da esquerda, a luta reforçou ainda mais nossa amizade; somos compadres, não carregamos preconceitos: Zélia e eu, ateus, batizamos a filha do outro ateu.
Quando ele me telefonou convidando - me para saudá - lo no dia da posse eu previnir com lealdade: estás cometendo um erro, compadre, sou incapaz de fazer a análise que tua obra merece e reclama. Por que não convidas um papa da crítica literária - tens dois na pequena bancada baiana, Afrânio Coutinho e Eduardo Portella e, nas fileiras da esquerda, nosso mestre Antônio Houaiss que pelas virtudes merecia ser baiano. Não aceitou meus argumentos, tive de envergar o fardão e mandar brasa.
Alegrou - me o coração fazer o elogio do dramaturgo, o do palco e o da televisão, criador de tantas figuras que reunidas são o povo brasileiro, louvar o cidadão cuja vida decorreu na luta por uma sociedade melhor, mais justas, mais digna para esse povo do qual é filho e pai ao mesmo tempo. A obra de Dias Gomes é uma dessas poucas que se incorporam à criação anônima da gente brasileira. Zé - do - Burro não é apenas personagem de peça de teatro, de filme, de cinema, é símbolo de referência. Os heróis de suas peças deixaram de lhe pertencer, sua criação virou domínio público, bem de todos, patrimônio nosso. Glória maior não pode desejar um escritor (...)
Janete Clair, ela também pioneira da dramaturgia televisiva, a primeira esposa, mãe dos filhos mais velhos de Alfredo, das meninas menores a mãe, minha comadre Bernadeth, resplandece feliz no dia da posse do marido na Academia. Esquecia - me de consignar que o novel Acadêmico foi eleito apesar de militante comunista, bem haja, como se diz em Portugal. Ao recebê - lo, eu digo axé, em língua negra da Bahia."
JORGE AMADO SOBRE DIAS GOMES, EM NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM (1992)
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RETRATO
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Cecília Meireles
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