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Eyes by Karl Sisson
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Dmitry Kochanovich (Russian, b. 1972)
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espero que a lua não te conte sobre as noites mal dormidas a espera do pior. ela me vigiou pelas janelas de todo o mundo, viu minhas lágrimas e o meu amor. me viu jogar pérolas aos porcos e me arrepender das palavras que nunca disse. ela me viu a ponto de eu ter medo de que ela se enterrasse na terra pelo meu ardor e não saísse de lá jamais. temi que ela se cansasse das canções que a ela cantei. temi que sumisse do céu, que desistisse de mim.
mas a lua clara sempre voltou a nascer, depois de cada madrugada, depois de cada final. linda, tucumana, forte. olhar pra ela me traz uma saudade que nasce de um canto do corpo e do eu que não sei. e a ela canto todas as minhas alegrias e dores, convido-a a cantar comigo, que cantar afasta os pesares e me acalma da angústia do vazio. ah, como é difícil ser assim gente imperfeita e repetitiva. repete os erros e cai desajeitadamente na chatice de não ser de fato esperança. eu também me canso. não controlo a cara e nem quero que espere sempre meus sorrisos. sou bicho também. e como todo bicho tem medo e desejo pelo sangue, eu desejo e temo o sangue que de mim não sai, que é sangue dentro. medo e desejo da origem da água do sagrado que não é mais tão sagrado assim, mas que do profano se reinventa também belo, em seus retalhos.
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dissoluver · 2 months
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geralmente escrevo assim. tonta, insone, pingando fogo por onde passo. é quando me rasgo mesmo sem ferida na carne. o coração tremula. hoje passei o dia com fome, apesar de comer. fome nem sei de quê. se me ofendo, é porque o vento passa e enquanto passa existe, mas depois que passa não é. mas mesmo não sendo vento, é ar que nunca deixa de correr. não sei o que dizer. e é por isso que tateio o verso rápido com que as palavras escorrem pro outro lado do mundo. vejo a mim, que nada tem de perfeito.
se é a beleza da armadilha de luz que me assombra, peço sombra. e da sombra peço luz. e chamo a sombra, peço sombra. e chamo luz, peço luz. por que fiz de mim translúcido, mas sem lucidez. por que fiz de mim espera, ânsia, raiva e desejo. por que fiz de mim o que eu não sei.
de ti tampouco compreendo o que fiz. sei que te banhei nas águas revoltas do mar de dentro, na maré cheia. lua nova, lua cheia. enquanto o silêncio dorme, eu vou e faço de conta. faz tempo que o faz de conta infantil se tornou o pesadelo da cabeça. faço de conta de tudo, mas com um apreço especial pelo horror de me ver em um mundo completamente desprovido de amor. talvez seja o maior medo, de que o amor sufoque em mim.
tento tirar a imagem da cabeça, fecho os olhos que não querem mais assistir ao teatro do mundo. tento me convencer (de novo) que o amor é eterno. não como dizem os cristãos, mas como dizem as putas e os maltrapilhos.
um choro preso na garganta me impede de continuar esse texto. não sei o que escrevo. talvez nunca saberei.
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salve o morro de areia por onde os ares passeiam. mas os ares internos não são brandos, meu amor. por isso, volta à água. volta à terra. não se deixe escapar. mantém a presença, deixa ela te agigantar. toma banho de sal, tira de si o mal olhado, o que oculto balança e perturba. volta à terra, criança, que o amor nada mais é do que você, seu próprio curador. o bimotor passando pelo céu clarinho. mantém, sustenta. eu sei que dentro de mim mesma eu quis que acabasse. talvez ainda queira. mas não o fim do amor e sim o fim da dor persistente que dói e assombra os lagos. não acredito em nada piamente, mas ainda sou devota do mistério. me curvo diante do que ainda não conheço. me curvo diante das possibilidades de mim mesma. minha descrença é vã como o verdadeiro amor é vão.
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Amanhã, no mar, verei as éguas galopando. graciosas, líquidas. montadas pelo nada, correrão, como correram hoje. não desejo o ser e sim a calma. de relance vi meu rosto em um dos laços da ponta da pedra que surgiu na baixa da maré. não aspirei meus avessos, chamei o manto da serenidade. cantei pro mar o canto do que a muito foi esquecido, retornei da toca das feras das minhas próprias rudezas e brutalidades. canto o que a alma ferve e lateja e pulsa. não me sinto forte como antes, mas o reconhecimento da fraqueza me dá força para, clarividente que sou, andar de encontro a beleza.
Grudada à minha fundura, como Hilda, atravesso os acertos e observo meu olhar acalantado. não se esqueça. cabaça costurada, criada e inventada como coisa real que é. lago calmo, parado, ondulando com o vento as vezes. de repente onda, de repente mar, infinito. acessar algo além de nós mesmos significa também se perder.
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dissoluver · 5 months
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a pedra riscada ainda é a melhor. a que caiu, se esfolou, virou pó, até. se refez no fogo líquido da lava e se transformou em mais brasa. depois de fria, transformada, a pedra virou outra que não pedra. metamórfica, andou pelo mundo, as vezes no bolso de alguém, as vezes para segurar a porta, as vezes como pedra de isqueiro. quando muito, foi posta num altar. foi jogada no rio com pedidos, foi um tanto quanto inegociável o seu valor. quando risquei o fogo e ele aceso me engoliu pensei (agora pronto). mas de pronto não tinha nada, tive que abastecer o fogo com força de transformação. 3:40 da manhã, bahia. comecei a escrever esse texto antes de antes de ontem. o sentido se esvaneceu e sinto basicamente os mesmos sintomas de brasa ardente (espero que nem tudo que eu toque se desfaça em pó), talvez como a pedra que não queimou mas acendeu.
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dissoluver · 5 months
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água fresca de rio, rio esse que tem mãos. sol na pedra lisa, ardente. tudo verde de mato. um coco de roda cantado, uma corre-campo na beirada. água doce inundada. de longe avisto a escamada se esgueirando pela pedra molhada.
assim como nosso amor é atrevido, me atrevo (talvez seja porque o amor por dentro também é curioso de mundo). cobra rajada, cabeça avermelhada. o bote, o sapo, o bocejo. e o mundo se abre assim, como testemunha. desejo o toque. sei que desejas também, como a jibóia enrolada. sento na pedra ao lado dela. observo sua cabeça, com uma confusão entre o medo e a fuga, a curiosidade e o desejo. você se põe assim na sua frente como quem não quer nada e para. ela vê, me vê também. e fica lá, estática, com sua língua de químicas emboladas, especializada.
nos olhamos de lado, só o relance do olho, não a temo, estou a quase tocá-la. quase dormi ao seu lado, com sua canção de ninar feito violeiro calmo. você também se hipnotiza. de súbito, se põe a nadar e vai, feito fita pela água, para dentro das pedras que sonham o que eu não sei. e correu a corre-campo. correu tranquila das nossas vistas. nadou lento e dançando.
essa cobra mansa, diferente da caninana bahiana. com caminhar tão suave que o sapo nem percebe que é presa. e nós, que as vezes caminhamos assim também. amor com cheiro de terra e mato, com frescor de água. te toco, com o mesmo desejo feroz de tocar a cobra, que não me percebeu. com medo e desejo e com tudo o que ficou e tudo o que irá.
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dissoluver · 6 months
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insônia. passeio sobre o fogo. a mão machucada de socar, o dedo preto, a ferocidade do bicho. a falta de fôlego, o relampear. incendeio tudo, a chama ardente cheira a sândalo e arruda. há um palhaço em mim se preparando para a melhor das inconveniências. e entre os espinhos, floresço, teimosa. meus cacos colados ainda tem ponta pra ferir. e cicatrizo tudo o que há de se cicatrizar. rejunto as paredes do sol, que arde, queima e consome mas ainda é belo. da terra, que tudo come.
em todos os eternos momentos, mudei. mudando lhes tirei a eternidade. continuamente me desconheço. continuamente não sei quem sou. continuamente me estranho. me resta a experiência de continuamente me estranhar. sou só alma. toda alma.
sigo relendo minhas próprias palavras, buscando o sentir rítmico das batidas do coração. envolta de mar me enfeitiço (dizem que o feitiço lançado retorna para o feiticeiro mas se eu me enfeitiçar, o feitiço volta pra quem?)
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dissoluver · 8 months
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nada passa desapercebido. aqui embaixo d’água qualquer movimento ondula e tudo fica nítido. o peixe viscoso pulou pra fora do aquário e no debater-se desesperado sonhou a morte e o mar. peixe que subiu das entranhas obscuras da água, sonhou as plantas, sonhou os rios. desenhou as matas, contornou os povos. o peixe que me entrega toda noite os sonhos que vem contar sobre a estranheza dos seres, da noite e do sal. no ar, um peso. melhor voltar pra debaixo d’água. se te amo, derramo água e lavo os olhos, os pés e o peito. coração velho de batalha, sagrado assim como o sangue e o fel. nada mais é tão doce assim. o mundo se partiu pra mim.
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dissoluver · 10 months
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não me aguento em mim. tenho a certeza flagrante que a palavra acesa espalhou as brasas por onde meus pés dançaram rodopiando no ar. tento me desprender da impressão do beijo, lascivo, da tocaia. tento me ninar com a estratégia pífia de fechar os olhos. eu sou o que sou. Eu sou. eu o conheço, dos antigos tempos passados, das eras marcadas do mundo dos micélios e das larvas. e no escuro, as vozes incessantes dizem: não há nenhum deus aqui. leve-me até a cova da grande Deusa terrível que orquestra uma sinfonia cacofônica de tosses, gemidos e gritos. eu saúdo a obscura, quero vê-la. Toco o altar cheio de romãs apodrecidas e busco na memória os fragmentos da era de Saturno. Resgato em mim mesma a era dos sacrifícios humanos para lembrar-te que eu, a Profana, a Sombria, sou o véu da noite que se extende no horizonte até se perder na claridade da lua. embebida de sangue e de ira eu vagueio por entre os mundos dos homens pisando em cacos de civilização arruinada. o desejo é nada mais nada menos que a morte. queimem esse livro sagrado!
eu, a que Mente. queimem a bíblia, pois eu estou de pé. eu, que me tornei a antítese do feio ao mesmo tempo que engoli monstruosidades do meu ser. a ruptura, a apoptose dos constituintes do sagrado. Mas o fogo consome e seca a água, enquanto os micélios ecoam uma voz uníssona e gigante: não há deus onde eu estou. leve-me até sua cova. Eu, logo eu, que me fiz pó. e foi Ela quem dançou comigo no fogo enquanto minha pele queimava e derretia. foi também Ela que riu, gargalhou. Nossa Senhora do Manto Negro. a mulher subterrânea que me espera com sua corte real de abominações. nós nunca nos perdemos dEla, apenas esquecemos de fitar com os olhos o seu útero vazio e ensanguentado. esquecemos de ver seu filho natimorto à beira do mundo. e eu digo: queimem esse livro sagrado!
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dissoluver · 10 months
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dissoluver · 1 year
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a intensidade do tremor do mundo me trouxe assombro, dentro da potência que nem você consegue ver. destrinchando os nós que só de perto soltam as notas da pulsação, do ritmo do coração que trabalha a todo instante. elaborando os fios da trama da néfila dourada que se medem pelo sentir mais genuíno da natureza. me sentiu? minha criança chorona que se ralou na brincadeira. eu to sempre voltando pro colo do rio pra me navegar, nas mordidas da grande serpente que me lançou nos braços da morada encantada e donde fiz meu lar. muito vidro quebrado, caquinhos de raiva e de vivência.
(ainda não sou o que fizeram de mim)
a poeira sobe e o coração da roda recebe acalanto. a lembrança dos ensinos no coração, pé descalço e pulso firme de tambor chamando boiadeiro, que o tempo me reservou de lá do sertão.
a carranca que as vezes eu visto na cara. céu estrelado imenso, trava língua de criança na lingua do p. fumaça voraz que me torna a nebulosa planetária e montanhas caladas que montam o cavalo do cavalheiro da terra. salve o viver em brincadeira
a confiança no salto, a roda e o mar. no silêncio a brota acontece. o despertar é maresia e a cor do girassol noturno me lembra o véu da mulher dentro do ônibus. talvez o sonho venha me lembrar. a firmeza na incerteza, que na clareira da mata tudo é mistério. dorme ninada pelo véu que recobre a fechadura da porta que guarda o segredo, no ver de relance a notícia do parto do mundo.
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dissoluver · 1 year
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O Tempo me contou, que enquanto tudo passa, temos que aproveitar o gosto do que ainda não sabemos. Temos que amar tudo que em nós não está encerrado. Acho que é por isso que eu sinto essa saudade assim do nada, porque entre o fio e o nó tem uma medida de três dedos. São os dedos do mistério. Faíscas de fogo-olhar e segredo amarrado com folha de aroeira. O olhar matador da mazela e das cicatrizes do mundo, com suas marcas de guerra, fazendo seus unguentos com mastruz e barbatimão. Dia e noite dentro de uma brincadeira de cabra cega. Sinto saudade de ser criança e também de ser velha. Peço aos encantos força e amor pra continuar no caminho que me foi confiado trilhar. E finalmente me despeço do olhar das lentes que foram colocadas em mim. Tenho um ardor de futuro que me aquece como o teto do livro que ninguém leu. A cura dentro dos sumos das células da terra. A cura nas seivas das plantas. Apreciar o barulho da ruína e também da restauração. Meu coração vai sobreviver ao desabamento, eu confio.
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dissoluver · 1 year
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desprendimento, despretenção
atributos pra fluidez dos corpos e do amor
batalha diária com a circularidade das repetições, com o reviver dos sintomas e das dores
foi pelo fogo vivo do amor e do saber que Prometeu continuou se reconstruindo todas as noites apesar de ser devorado vivo de dia
me sinto, com as tripas pra fora, sendo comida viva pelas vontades do mundo, que também são minhas
mas que tampouco fazem jus ao meu espírito
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dissoluver · 1 year
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meu existir desengonçado passeia
faço banho de cheiro pra me manter firme, pra me manter calma frente ao turbilhão do mundo cavalgando o tempo
como nada é certeza, não me agarro em nada e o nada, por ser queda, venta e rodopia
por desengano da vista perdi-me, depois me encontrei. me perdi de novo. não de mim, nunca de mim e sim do mundo, sim dessa humanidade já pronta, embalada no isopor e no plástico. por descuido ou por curiosidade, talvez, eu tenha tocado o vazio como coisa a toa, difusa e condensada de força ao mesmo tempo. força essa que sempre se inclinou a forma, que sempre se inclinou ao sentir.
a insegurança constante que é existir, que é, apenas é, não tem e nem pertence. ou talvez seja pertencer somente ao Nada. tê-lo, de fato, como amante secreto, traindo o mundo a todo momento. traindo o real. é como se por subversão ou rebeldia, a escolha do mundo ainda não fosse plena, como se apesar de existir aqui, no mundo verde e água, o fantástico me envolvesse em seus braços dissolutos enquanto me ensina uma canção. canção do começo e do fim do tempo. amanhã é dia 10. tiro a roupa, como Pessoa, que eu não botei. arrumo a mochila, saio. quando saio, com a fumaça arrastada do tabaco, de súbito me encontro de pé diante de um mundo que simplesmente não é ele. ao revés, me movo por entre os anos e vejo o demolir da primeira construção. vá a merda. tudo se cala. o dinheiro, a aceleração do corre e da mente. amanhã trabalho. depois de amanhã também. quanto vale? dinheiro. dinheiro que paga a comida mas não paga quem planta a comida.
o meu existir se parte. meu coração, aflito.
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Park Hoon Sung (박훈성) - 사이-식물/Between-plants, 1999-2000
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