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claroescura · 2 years
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coração boqueirão
Tudo água! Tudo isso aqui... Dali do Circo até o Passeio... Era tudo Lagoa do Boqueirão. E como toda lagoa, tinha muita vida em volta. Umas casas pequenas, a Igreja. Escravizados de ganho, as lavadeiras. Baldes, bacias e o espelho d’água refletindo a luz do sol
Sem miséria, tinha água pra geral. Mas tinha que vir buscar no braço. E disso, o branco rico não gostava. As veias e artérias da cidade Eram os negros escravizados levando água limpa, água suja para tudo que é lado.
No meio da exploração, suor e sujeira ainda dava para beber e banhar no Boqueirão.
Então construíram os Arcos. Tinha que levar água do morro até lá embaixo. Mistura de óleo pedra e cal. Mesma massa que erguia os fortes, a catedral, o chafariz da Carioca com 16 bicos de bronze, que veio de Portugal.
E essas Fontes Públicas eram lagoas de pedra. Também tinham muita vida em volta. Continuava, balde pra cima, balde pra baixo. Bacia debaixo do braço. No meio da exploração, suor e sujeira ainda dava para beber e banhar nas fontes, nos arcos.
Até que tudo isso que era água virou concreto e cimento.
E secaram as fontes. Já não precisava. Canos levavam a água.
No meio exploração, suor e sujeira já não dava para beber e banhar não.
E a sede começou a matar antes que a fome O que não faz sentido algum... Porque aqui era tudo água. Tudo água! Tudo isso aqui... Dali do Circo até o Passeio... Era tudo Lagoa do Boqueirão.
por Rebecca Moure
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claroescura · 2 years
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Germano e a Ema
- Vovô, vovô! A viagem foi tão longa... Tudo muito corrido! É verdade o que papai me falou? Conta essa história do Senhor ter quase morrido! Já não tem mais idade pra pesca! Como pôde, velho assim, ter sobrevivido? Ontem foi uma tempestade danada! Como conseguiu voltar para casa?
- Graças a ‘Ema Nossa que está no Céu! Graças!’ - Ema no céu? Hahaha!  Ema não voa! É pernalta. Quem seria essa Santa Ave então? - Ih, menino, ela não é santa não. É constelação!
Você é da cidade. Já não sabe, ou então se esqueceu. Que o melhor mapa da terra é o céu. Ele te orienta no breu. Meu pai, que também pescava, ensinou a voltar pra casa, mirando o Cruzeiro do Sul. Mas ontem era tanta nuvem, tanto raio, que eu não vi o Kuruzú.
Cochilei... Eu não vi chegar o barravento. O barco sacodia tanto... A bússola girava igual cata-vento. Tomei queda. Desmaiei. Morri! Pensei...
Abri os olhos, a cabeça no chão, vista turva. Tive uma visão! Visão não, uma lembrança. Preste bem atenção!
Quando eu tinha sua idade, essa vila era diferente. Era um tal de tititi, xiquexique e blablablá. As alamedas não eram vazias assim, eram apinhadas de gente.
Tinha muita cor, cheiro de alfazema, pescado, maresia, mato, cachaça, peixe apimentado. Muita saia rodada, camisa esbeiçada, testa suada, riso escancarado. Um tanto de xaréu, namorado, badejo e robalo.
À tardinha eu fugia pro meu mundo encantado. Onde eu era dono do meu destino, lobo dos mares, monstro marinho... As velhas tábuas eram abismos gigantes entre meus dedinhos. Mas não tinha nada o que temer, tudo aquilo era apenas um barco abandonado.
Um dia, imaginava que comandava uma esquadra. Quando fui interrompido por uma seta que vinha da mata. Curioso, busquei entre as árvores. E sabe quem encontrei? Uma indiazinha invocada.
Anahí era seu nome, tinha pele avermelhada, e uma pintura preta na cara. O arco era quase do tamanho do corpo e a flecha estava lá, cravada no meu casco.
A menina era astuta. De idade, regulava comigo. Ficamos amigos. Falou que homens maus atacaram seus pais, seus tios. Contou que fugia. Precisava de abrigo, dormir e voltar para a aldeia, pelo caminho que ouviu dos antigos.
Fizemos peixe no fogo pra afastar fome e frio e Anahí contou estórias de espantar o vazio. Ensinou a achar o Sul olhando o céu, mesmo com o Cruzeiro escondido.
- Tá vendo aqueles dois pontos brilhantes abaixo do cruzeiro-kuruzú? Pois estes são os ovos que a Ema gigante engoliu. - Ema no céu? Hahaha! Aquela é a constelação do Cruzeiro do Sul! - Hahaha?! E Juruá não sabe que tudo que tem aqui embaixo, tem em lá em cima? Todo Curumim sabe. Os velhos é que contam pra gente, da terra e do firmamento. Se você olhar bem, vai ver que o cruzeiro segura a cabeça dela, tá vendo? É o Kuruzu quem impede a Ema de beber toda a água do mundo. Senão toda terra iria secar. Assim é. Assim será.
Caímos no sono juntos. Sonhamos animais siderais, estrelas em pot-pourri. Acordei e não vi mais Anahí. Mas a história da Ema ficou em mim.
Hoje de manhã fui até o velho barco. Entrei nele. E sabe o que vi? Arco e flecha, repousados. Há anos esperando por mim. Bem ali.
por Rebecca Moure
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ilustração de Miguel Bandeira
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claroescura · 2 years
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Estrela d’água
Todo dia Dona Dalva voltava com a água. O balde na cabeça e neta pela mão. Chinelo arrastando no chão. Iara sempre reclamava. Tinha jeito não, água, não tinha encanada. Subiam ladeira íngreme até chegar em casa. A avó parava sempre aqui frente ao portão, com a desculpa de apontar a noite estrelada. Mas a verdade é que assim, descansava.
A menina ouvia sempre a mesma história.  Todo dia escorava na árvore, todo dia: “Olha lá Iara, está vendo aquele ponto iluminado lá no alto? Aquela é a Dalva, minha estrela xará, que também chamam de Vênus. Você não acha engraçado, que o planeta do amor viva sozinho no céu? Será que sente solidão assim ao léu?”
Iara fechava os olhos... Respirava... Todo dia ouvia as desventuras de Vênus para avó poder se aprumar. Assim passaram semanas, meses, anos. Todo dia a gente via Dona Dalva e Iara subindo com a água.
Uns anos depois, o balde mudou de mão. Era Iara quem carregava. Dona Dalva só olhava. E toda noite paravam para ver Vênus, que brilhava.
Até que um dia vi surgir de longe Iara, Dona Dalva, não estava. A moça parecia diferente. Triste, mas contente.
Ainda assim parou ali pra olhar o firmamento. Olhou pra cima e viu algo que a encheu de contentamento.
Duas Dalvas no céu. Vênus já não estava mais ao léu.
por Rebecca Moure
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ilustração de Miguel Bandeira
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claroescura · 2 years
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ALUJÁ | balé de raios
A gamela de Xangô tem olho. Olho raio, olho trovão. Alguidar da grande visão.
A gamela de Xangô é espelho do mundo presente, passado, futuro. Com ela o Rei salvou seu povo de infinitos apuros.
A gamela de Xangô é seu maior tesouro, mas só quem tem o raio na alma pode ver. Ela mora pertinho do trono, ao lado do oxê, coroando seu pepelê.
Xangô visitava um reino distante. (Um Rei convidou para bailar em sua corte). “A dança de Xangô traz sorte.” O que Xangô não sabia é que lhe armavam um bote.
Em casa, Oya esperava seu amor chegar. Ouviu um estrondo no céu, sentiu o chão trepidar. Preocupada, alcançou a gamela pra espiar.
Viu Xangô numa masmorra preso, amordaçado. Não tardou, fez fogueira e fez-se raio. Ventou. Do olho do furacão, gritou. E montados no trovão fugiram Oya e Xangô
por Rebecca Moure
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ilustração Rebecca Moure
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claroescura · 2 years
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Be A Ba do Dr Jung
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ANIMA/ANIMUS  É o arquétipo que guia o Ego em direção ao Self. Atua como Piscopompo conduzindo o Eu pelo vasto mar do inconsciente rumo à integração. Surge no inconsciente pessoal como imagem arquetípica complementar em relação ao ego e persona, inspirando à união de opostos, à individuação.
Enquanto que a Persona e o Ego se relacionam com o mundo exterior e dizem respeito às expectativas de outrem, anima/animus se relaciona com o mundo interior e dirige suas expectativas ao si-mesmo equilibrando as forças de Eros e Logos na interioridade do sujeito.
APARELHO PSÍQUICO
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ARQUÉTIPO
Modelos psíquicos inatos de natureza coletiva, herdados e acumulados há gerações, ligados aos grandes temas da humanidade que conformam e norteiam atos, sensações, percepções, sentimentos, pensamentos, a moral e ética humanas. Os temas são infinitos, como “a mãe”, “o pai”, “a morte”, etc. São ao mesmo tempo matrizes psíquicas de alto valor energético e “formas ocas”, sem conteúdo. Funcionam como tendências (ou até) “instintos” psíquicos, ainda que lapidados pela cultura onde estão inseridas.
As imagens arquetípicas são como o estofo do molde oco do arquétipo. São as projeções acerca dos temas comuns àquele arquétipo específico. É a forma como o arquétipo de manifesta no contexto onde se revela. As imagens arquetípicas de um mesmo arquétipo podem variar de acordo com os valores e crenças de cada povo.
O Arquétipo é o coração do complexo e da imagem arquetípica, mas só pode ser acessado a através dos dois últimos, uma vez que sua carga energética numinosa seria mortal. Segundo Jung a psique não suportaria tal confronto. Pode-se encontrar ideia semelhante no Mahabharata no cântico do encontro de Arjuna e a forma divinal de Krishna, quando Arjuna pede ao Deus que volte a sua forma humana, pois a forma divina era insuportável para o mortal Arjuna.
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COMPLEXO
Vozes internas autônomas que se expressam na interioridade do sujeito. Feixes de afetos (imagens, emoções, sensações, pensamentos...) agrupados em torno de um tema, uma cena, um acontecimento, que têm como núcleo, um arquétipo. Os Complexos formam-se do início e ao longo da vida e dizem respeito ao modo como o Complexo de Ego (o primeiro a se formar, e que dá noção de individualidade ao sujeito) se relaciona com os traumas externos e desconfortos internos. A maioria dos complexos habitam o inconsciente pessoal, mas na realidade estão em trânsito, tornando-se conscientes quando ganham força se confrontam com o Ego, podendo constelar-se. Podem vez por outra, sobrepujar o Eu com intensidade, levando a cisões. Existem ainda os complexos culturais, que dizem respeito a grandes grupos humanos e são parte constituinte da sombra que habita o inconsciente coletivo.
CONSCIÊNCIA
A consciência é o que o senso comum entende como sujeito. Parte revelada de nosso aparelho psíquico que permite nossa existência em sociedade.
Surge do inconsciente ainda na vida uterina e desponta mais fortemente com o desenvolvimento do Complexo do Ego, que virá a ser o centro dessa própria consciência, que é habitada também por Personas, além das imagens, emoções, sensações e pensamentos que se relacionam com o Ego.
CONSTELAÇÃO
Quando um complexo toma o ego, inflamando ou enrijecendo os afetos, alterando o fluxo da energia psíquica, roubando energia do aparelho psíquico, criando sintomas.
Toda constelação de complexo implica em um estado transtornado da consciência, que coloca em xeque a ilusão de unidade do complexo de Ego.
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EGO
Personalidade principal constituída pela percepção do próprio corpo, por repetições e hábitos e por camadas de memória que criam noção de existência, continuidade, unidade. O Ego, ou Eu, entende a si mesmo como o centro da consciência. Começa a formar-se muito tenuamente ainda na vida uterina com as expectativas e projeções dos pais. Desenvolve-se nos primeiros anos, com o aparecimento dos estímulos externos mais intensos, chegando a sua potência maior no início da vida adulta. A construção do Ego é uma necessidade da alma. Para que se possa dialogar com externo é preciso se diferenciar dele, esse aspecto separador do externo, que torna possível essa relação é o Eu. É o que permite ao sujeito sair do estado Urobórico, quando tudo é um, e dar seus primeiros passos em direção à sua individuação. O Eu é também um complexo na medida em que é um conjunto de afetos em torno de uma ideia. A de uma consciência uníssona e senhora de si que comanda a existência do sujeito. Todos os conteúdos conscientes se relacionam com o complexo do Ego, assim como alguns inconscientes, através de complexos, sintomas, sonhos e criações. Quanto mais flexível, menos unilateral o Ego, mais saudável será a Psique, pois menores serão às resistências aos desejos do Self e mais facilmente acontecerão as integrações de aspectos inconscientes.
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FUNÇÃO TRANSCENDENTE
Movimento anímico que caminha rumo a unidade psíquica mediado pelo símbolo, que ligando consciente e inconsciente gera insights capazes de redistribuir a libido e produzir a transmutação de questões internas do sujeito.
Se o símbolo aparece como constituinte de dinâmica energética basal e portanto, presente em todo e qualquer sujeito, a função transcendente pressupõe uma relação mais forte com a consciência e depende de fatores mais complexos. Apesar de indissociáveis, a função transcendente pressupõe um esforço maior da consciência para acontecer.
A Função Transcendente vem unir consciente e inconsciente, reconciliando opostos, criando novas realidades psíquicas.
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INCONSCEINTE COLETIVO
Gigantesco continente psíquico desconhecido, comum a toda humanidade, donde brotam os Inconscientes Pessoais. Imenso manancial anímico coletivo que alimenta a alma dos seres humanos ao longo da história.
Espaço-tempo habitado por Arquétipos, memórias, afetos (imagens, emoções, sensações, pensamentos) relativos todas as experiências, histórias e narrativas vividas internas e externamente pelo homo sapiens.
INCONSCIENTE PESSOAL
Grande mar de onde nasce a consciência. A face oculta de nossa alma. Nosso continente psíquico desconhecido habitado por memórias pessoais, complexos e imagens arquetípicas.
Aquisições da existência individual, aspectos rejeitados pelo ego, talentos não desenvolvidos, memórias distantes, imagens, emoções, sensações e pensamentos, realidades vividas no mundo interior e no mundo exterior que não tiverem força suficiente para alcançar e permanecer na consciência, mas que afetam diretamente nossa existência.
O inconsciente também pode ser visto como um agente perturbador da consciência que catalisa o processo de integração de antinomias internas, de integração.
INDIVIDUAÇÃO
É a estrada do vir a ser, da auto- realização, da integralidade. Um caminho ininterrupto de confronto e aceitação de aspectos sombrios. Missão magna de todo sujeito no mundo: tornar-se si mesmo.
A individuação é um movimento engendrado pelo Self, operado pelos desígnios do inconsciente, um processo contínuo, compulsório e inevitável. Nele o Ego pode tornar o trajeto mais ou menos prazeroso de acordo com sua adaptabilidade, flexibilidade. 
A individuação se dá através da desambiguação entre Ego e Self e das integrações de antinomias internas, entre aspectos conscientes e inconscientes.
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LIBIDO (energia psíquica)
A energia não é matéria, nem objeto, ou substância, mas uma relação. A energia em si, não é um conceito exatamente tangível, mas suas formas de manifestação são: o trabalho, o calor, a eletricidade, e no caso da energia psíquica, os sonhos, as criações, os humores, insights, complexos, sintomas, cisões, neuroses e crises.
Foram as formulações acerca da questão da libido do ponto de vista energético que alargaram a percepção dessa energia para além dos desejos e pulsões sexuais estendendo o conceito a todos os afetos.
A energia psíquica, ou libido, é força motriz interna à psique, gerada pela fricção de afetos opostos, que pode mover-se progressiva ou regressivamente promovendo a alteração de estados de ânimo e disposição para a vida.
O psiquismo em si nada mais é que o pulsar dessa corrente da libido. É o movimento da energia psíquica que dá vida a alma, ao mesmo que é gerado por ela.
Sendo este um sistema fechado em si mesmo, a energia não se perde, mas por vezes apresenta uma ilusória dispersão, essa aparente diminuição de energia é na verdade uma questão de desequilíbrio na distribuição da libido. O que temos não é falta de energia, mas um excesso de energia concentrada em determinados pontos, nós, complexos, que retém a energia que deveria estar livre e disponível para todo o aparelho psíquico.
A transformação de estados psíquicos impulsionada pela função transcendente está relacionada com a quantidade de energia psíquica livre e disponível para que o psiquismo tenha força para fazer esse trajeto de um estado ao outro.
Os processos psíquicos dependem da distribuição e fluxo da libido. Uma energia de fluidez harmônica e contínua aponta para um estado de saúde psíquica. 
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PERSONA
Do italiano, “personare, “falar através de”. A expressão se refere à máscara do teatro grego usada para amplificar, para melhor ressoar a voz do ator na arena. Por extensão, uma caracterização hiperbólica do sujeito que fala.
É uma máscara da pisque coletiva que concede ao sujeito a falsa noção e sensação de individualidade. A Persona é o arquétipo através do qual o Ego realiza sua adaptação à sociedade e se relaciona com o mundo externo. Move-se em direção às expectativas de outrem, enquanto que anima/animus move-se em direção às expectativas do self.
Apesar de fundamental à inserção do sujeito na sociedade, pode ser ameaçadora quando o ego encontra-se demasiadamente identificado com ela, criando um “falso Eu” que resiste aos desígnios do self, dificultando o caminho da individuação.
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SELF
O Self é o principal arquétipo do inconsciente coletivo pois permite que os outros se formem, organizem e relacionem, pois ele é o próprio princípio de ordenação.
É o arquétipo do si-mesmo que dá ao Ego, demais Complexos e Inconsciente Pessoal a noção de unidade. Abrange desde o centro às bordas da existência, e, portanto, o arquétipo do todo, a imagem de deus.
Se o ego é o centro da consciência, o Self é o centro da personalidade complexa que inclui também o inconsciente. Ele usa as manifestações do Inconsciente como voz para direcionar a consciência à integração e a individuação.
Uma das representações mais comuns de totalidade psíquica e, portanto, do Self é o mandala uma imagem arquetípica que aparece em diversas culturas e sujeitos, com caraterísticas e funções distintas, mas mantendo sempre o efeito de “círculo mágico”.
SIMBOLO Do grego, symballein, (syn, que indica a ideia união, e  ballein, que se refere a lançar, arremeter) lançar com, arremessar junto, unir.
Para Jung o símbolo é uma imagem conciliadora de opostos. Uma imagem-ponte carregada de alto valor pessoal, que expressa uma totalidade psíquica simultaneamente particular, pública, cultural e arquetípica. Isso confere ao símbolo uma riqueza de significados infinita.
O símbolo difere-se do signo por seu efeito numinoso, e por uma significância particular para o sujeito, que é o que marca seu poder transformador. Essas imagens-porta, que transformam processos inconscientes, produzindo insights, levando luz a aspectos sombrios, reconfigurando padrões, percepções, sentimentos e comportamentos, podem ser acessadas via sonho, complexo, sintoma ou criação, inspiram a redistribuição da energia psíquica de forma a reestabelecer seu fluxo vital através da função transcendente.
Falar de símbolo nos leva sempre à Função Transcendente, pois são partes de um mesmo sistema dinâmico que se movimenta em direção à unidade psíquica.
SINCRONICIDADE
Sincronicidade diz respeito a sincronias significativas ao observador. É quando acontecimentos notáveis ocorrem simultaneamente parecendo ter um élan especial.
Coincidências desse tipo dizem respeito a casualidade, ao mistério e são percebidas como insights. A Sincronicidade pode ser lida como um símbolo, assim como o sintoma e o sonho, e como tal, ativa a função transcendente a caminho da individuação.
Um exemplo extremo: como aparecer uma aranha no momento em que falo a palavra tecer, enquanto que no rádio inicia uma tarantata, durante meu trabalho no tear, que me traz a importante memória de minha avó que me deu a primeira linha, uma imagem transformadora. As sincronias nem precisariam ser tantas, bastava que me fossem significativas o suficiente para me gerar um insight.
SOMBRA
A sombra é um Arquétipo que habita o Inconsciente e agrega em torno de si todos os aspectos vistos como indesejáveis pelo Ego e pela Persona. Imagem arquetípica onde projetamoscomplexos, afetos e memórias rejeitadas pelo Complexo do Eu, sentimentos e pensamentos “censuráveis” como também talentos não desenvolvidos. O reconhecimento e a integração da Sombra são aspectos fundamentais no Processo de Individuação da estrada do vir a ser, do tornar-se si mesmo.
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TIPOS E FUNÇÕES PSICOLÓGICAS
O sentido do movimento da libido é a alma da teoria dos Tipos Psicológicos de Jung. A energia psíquica pode dirigir-se ao exterior ou interior, gerando cenários opostos, proporcionando personalidades/ atitudes descritas como extrovertidas ou introvertidas.
Se o tipo psicológico diz respeito a como o sujeito se relaciona com o mundo e ele próprio, a função psicológica determina como esse sujeito percebe esse mundo (e ele próprio). As funções estão organizadas em dois pares de opostos complementares: intuição e sensação, sentimento e pensamento.
O sujeito introvertido ou extrovertido que tenha a intuição como função principal, terá a sensação como função inferior e terá como funções auxiliares as funções pensamento e sentimento.
Os tipos psicológicos, modulados pelas funções psicológicas formam, por análise combinatória, conjuntos de padrões de atitudes do sujeito frente às experiências e à existência, mas esses padrões não precisam ser rígidos e inalterados. A primazia de um tipo ou função, não anula a existência dos demais. Todos acessamos nossas quatro funções ao longo da vida e todos podemos experenciar fases de introversão e extroversão. Uma psique sadia pressupõe maleabilidade e adaptabilidade.
A TEORIA DE CARLS GUSTAV JUNG É COMPLEXA E VASTÍSSIMA. ESSSE POST É UMA TENTETIVA DE RESUMIR PRINCIPAIS CONCEITOS PARA LEIGOS.
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claroescura · 2 years
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Conheça a FILMOTECA CLAROESCURA
Até agora são 25 títulos que convidam a refletir sobre as relações entre arte e psique. Vida e obra de Frida Khalo | PBS TV
Uma mulher sob influência | John Cassavetes
Sonhos | Akira Kurosawa
Pumzi | Wanuri Kahiu
Os Afronautas | Cristina De Middel
O Século do Ego | Adam Curtis
O Médico e o Monstro | John S. Robertson
O Gabinete do Dr Caligari | Robert Wiene
O Espelho | Andrei Tarkóvski
Nise: Do mundo de Claralâmpia à Emoção do Lidar | Gonzaga Leal e Rubem Rocha Filho
News from home | Chantal Akerman
Meshes of the Afternoon | Maya Deren
Lost Lost Lost | Jonas Mekas
Lapis Philosophorum | Jonas Mekas
Jornada da Alma|Roberto Faenza
Imagens do Inconsciente | Leon Hirszman
How to see | Série MOMA | EPS Salvador Dalí
How to see | Série do MOMA | EPS Joan Miró
Hannah Arendt | Margarethe von Trotta
Filme Demência | Carlos Reichenbach
Face a Face | John Freeman entrevista Carl Jung
estrangeira | Rebecca Moure
Emak Bakia | Man Ray
Dersu Uzala | Akira Kurosawa
De sang et de lumiere | Alice Heit e Violaine Pecaut
A parte que falta | Gabriel Heroito
Todos as obras da filmoteca são para fins de pesquisa.Uso exclusivamente não comercial. Este canal não detém os direitos autorais das obras. A Filmoteca é um canal é público, sem fins lucrativos e visa ampliar acesso a discursos e afetos sobre arte e psique. INSCREVA-SE NO CANAL! BONS MERGULHOS!
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claroescura · 2 years
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ARTETERAPIA
É uma terapia prospectiva que usa expressões artísticas diversas e o processo criativo da arte como via para integralidade, trazendo claridade a aspectos inconscientes e agregando luz e sombra.
Em arteterapia temos uma relação triangular entre terapeuta, cliente e processo criativo. O terapeuta precisa acolher os afetos manifestos criando possibilidades de expressão de si do cliente através da arte, pondo em curso e amparando o processo criativo, que não almeja ideais artísticos, mas expressivos.
O rebaixamento de consciência característico da prática artística, favorece o aparecimento de materiais inconscientes nas produções imagéticas do cliente, que surgem embebidas em energia psíquica. A mesma libido de onde jorra o complexo criador, produz imagens simbólicas transfiguradoras passíveis de observação e ampliação em terapia.
Arteterapia é alquimia das imagens vivas, das imagens transformadas e transformadoras que surgem no processo criativo. Essas imagens pulsantes, essas imagens-símbolo são capazes de gerar mudança e integração no sujeito.
Terapeuta e cliente devem levar em consideração não somente as imagens criadas, mas o percurso, observar e considerar afetos revelados frente aos processos e materiais.
O trabalho do arteterapeuta é então de um facilitador da materialização de imagens inconscientes, através de atividades de expressão artística do cliente. O propósito final é que o cliente possa, ele mesmo, confrontar, acolher e integrar as próprias imagens rumo a uma maior sensação de integralidade.
"A arte existe para que a realidade não nos destrua." Friedrich Nietzsche. "A criatividade é o catalisador por excelência das aproximações de opostos. Por seu intermédio, sensações, emoções, pensamentos, são levados a reconhecerem-se entre si, a associarem-se, e mesmo tumultos internos adquirem forma." Nise da Silveira.
por Rebecca Moure
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claroescura · 2 years
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estrangeira
por mais que tentasse o tempo todo, só conseguia ser outro por Rebecca Moure
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claroescura · 2 years
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1001 exílios
em pleno vôo, tempo girando ao contrário.
espanto, chegamos no horário.
toma, usa o disfarce. “não quero que nos reconheçam em Damasco.”
conjuro, cuspo. asco.
“larga a forma de homem, torna a forma de pássaro!”
tira o pé da lama, aprende o vazio do espaço. dá mil e uma voltas em torno do pátio.
vigia os passos.
da escuridão, predição travestida de prece.
“silêncio, Sultana, amanhece” por Rebecca Moure
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claroescura · 2 years
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A Solidão vaga pelas ruas gasta de sol e chuva, rasga alma nua.
Vêm de diferentes cantos, Solidões distintas. Sonham sem memórias. Nas praças, nos bancos.
Tentam lembrar, não podem. Sonham passos, sapatos pesados, quartos vazios, estábulos, choros ao longe, gritos, brados.
Em flash, rompante: O frescor da grama verde entre os dedos.
(lembrar e sonhar no exílio)
por Rebecca Moure
trecho do filme LOST LOST LOST de Jonas Mekas:
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claroescura · 2 years
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Livro “I Seem to Live: The New York Diaries, 1950-1969: Volume 1” e Filme "Lost Lost Lost" como conjunto processual terapêutico a caminho da integragão do sujeito migrante. por Rebecca Moure
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O livro “I Seem to Live: The New York Diaries, 1950-1969: Volume 1” é um espelho para o filme “LOST LOST LOST”, que se pode ser lido como processo de criação terapêutico, onde as dores e sombras de Jonas Mekas são diretamente abordadas por ele e, ao som de sua própria voz, ao traço da sua mão, ao rastro dos seus olhos transmutadas em arte e libido. A obra é a história de um homem em exílio. Um homem sem lugar, a vagar. Uma coletânea de publicações, cartas, suverniers, tíkets, notas, alegres registros cinematográficos da vida cotidiana, de espaços e eventos públicos, encontros sociais, rituais e breves encenações experimentais em Nova York e arredores no período de 1949 a 1964, em contraposição à narração em primeira pessoa, profundamente introspectiva, densa e filosófica que documenta a jornada de Jonas Mekas, um homem estrangeiro em busca de si mesmo através do encontro com o outro, do imaginar com o outro. O diário, a poesia, a escrita expressiva, o cinediário, o “fazer cinematográfico caseiro” colocam-se em sua trajetória como dispositivos expressivos na produção de imagens transformadoras no caminho de sua integração enquanto sujeito, nos levando a mais amplamente imaginar o cinema no lidar com sentimentos de despertencimento, desenraizamento e fragmentação em migrantes. A potência da abordagem terapêutica da técnica cinematográfica tem dois motores mais evidentes: a semelhança entre a linguagem cinematográfica, a onírica, e mnemônica e um devir- vínculo a outrem, intrínseco ao cinema, que cria pontes internas e externas. Mekas fez filmes fazendo a si mesmo, sua grade obra prima. Uma alma rara. _ LOST LOST LOST (cópia de pesquisa para fins estritamente não comerciais)
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claroescura · 2 years
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O Cinema caseiro e a busca do si mesmo | “a memória é uma ilha de edição” * por Rebecca Moure
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O filme“Dr. Carl G. Jung or Lapis Philosophorum” poderia ser descrito como uma série de fragmentos da vida cotidiana de Carl Gustav, Emma Jung e Toni Wolf vividos na casa construída por ele, às margens do lago Zurique, mas é muito mais que isso.
As cenas do dia a dia íntimo montadas sem linearidade temporal misturam-se a conversas curtas e informais sobre a vida vivida no lugar e sobre uma escultura cúbica, que versa sobre saberes alquímicos e mitológicos, feita em pedra pelo próprio Jung, por ocasião de seu 75o aniversário. É nesse jogo narrativo-temporal que a magia do filme se faz. Como num sonho em que vivemos cenas ordinárias entrecortadas por imagens transformadoras. Entre um jantar em família e um passeio no lago, embaralhados como memórias ao sabor do inconsciente, encontramos conhecidos símbolos do Self, como a Rocha e o Quatérnio.
As imagens foram rodadas em 1950 pelo cineasta experimental estadunidense Jerome Hill, que engavetou o material. Anos após sua morte, Jonas Mekas, também cineasta experimental, debruçou- se sobre os originais e fez a montagem que conhecemos hoje como “Lapis Pholosophorum”, finalizada em 1991.
Na tela, Jung dá vozes à sua pedra. Ele lê e interpreta as inscrições esculpidas, enquanto o vemos fumar, caminhar no jardim, comer, alimentar os peixes etc. A entrevista sobre a pedra esculpida se dilui, dando espaço aos acontecimentos cotidianos, para voltar ao fim da história.
A obra é narrada por Jung e por uma conversa de duas pessoas que deflagra detalhes da vida familiar.  As vozes que comentam as cenas são de Jonas Mekas e Buffie Johnson artista plástica estadunidense e grande amiga do psiquiatra. Há ainda uma quarta voz “escondida” nesse jogo, a de Jerome Hill. Curiosamente, o filme de família de Jung é uma memória coletiva, assim como o inconsciente concebido por ele.
Pode-se traçar um paralelo entre as três vozes aparentes, Jung, Mekas e Johnson e as três faces reveladas da pedra esculpida por ele. O mesmo acontece com as partes ocultas, tanto a voz de Hill quanto a outra face do cubo de Jung.
Por ampliação, podemos dizer que a escultura seria algo como sua pedra filosofal, como sugere o subtítulo do filme. Uma materialização de seu Self, tanto pelo aspecto simbólico da rocha, quanto pelo aspecto estrutural de três lados aparentes, que remete à esquematização feita por Jung em “Aion Estudos sobre o simbolismo do si mesmo”, quando ele defende que o Self também estaria estruturado em três faces aparentes (espírito, alma e corpo) como a tríplice ascendência de Cristo (Ogodóada, Hebdômada e Jesus). Em ambos os casos a inteireza quaternária só acontece com integração da quarta face, a sombra.
O símbolo do Cristo integral, inteiro, não perfeito é tão paradoxal quanto o arquétipo do si- mesmo, que carrega em si aspectos duais, sendo único e eterno, singular e universal, bom e mau, transcendental e ctônico ao mesmo tempo.
Jung muito alertou para o problema da supressão do mal promovido pela Igreja ao negar a sombra de Cristo. A atitude fomentaria uma unilateralização, uma inflação negativa da alma. Ele alerta para o perigo da falta de tomada de consciência do mal e de antinomias interiores, que acarretaria cisões exteriores no mundo material, visível, como neuroses, doenças e guerras.
Coloca também que para realização dessa fundamental integração, para trilhar esse caminho de individuação, faz-se necessário um enraizamento do ego no plano da consciência do ponto de vista interno criando condições seguras de mergulho no inconsciente, e do ponto de vista externo sob forma de vínculos relacionais que regem fatos da vida afetiva e prática. Ele alerta que para esse duplo enraizamento aconteça serão exigidas altas doses de paciência, autocrítica, esmero e compaixão, e sugere que desta dupla raiz depende o sucesso da integração de antinomias internas.
Mergulhar profundamente em suas sombras é tarefa de muitos artistas. Em especial, aqueles forjados por traumas estruturais como guerras, catástrofes e totalitarismos. Entre os anos 50 e 70, muitos cineastas experimentais trabalharam com filmes caseiros, filmes de família, fossem deles próprios, fossem dos outros. Muitos eram sobreviventes de guerra, exilados, e tantos outros, descendentes destes primeiros.
A belga Chantal Akerman, o lituano Jonas Mekas a francesa Agnès Varda, deflagram a condição estrangeira através da estética caseira nos cinemas de vanguarda. Afora a busca plástica e narrativa, eles literalmente protagonizaram jornadas em busca de suas próprias vidas, em busca de si mesmos através de um olhar cinematográfico mais afetivo, mais imprevisível, mais selvagem, mais fluido, mais livre, mais parecido com a vida, mais parecido com a mente.
As correspondências entre a linguagem cinematográfica, os processos mnemônicos e oníricos são perceptíveis temática e plasticamente. A semelhança se dá pela relativização das relações entre parte & todo, espaço & tempo, memória & imaginação. O filme, a memória e o sonho, são todas narrativas visuais em movimento, o que aponta para a relação estreita entre o cinema e a psique.
Os recursos de decupagem e montagem nos levam para dentro da mente dos realizadores/ personagens. Dentro de uma cena, os enquadramentos nos fazem ver com o cineasta. Espaço ou tempo são suspensos por dilatação ou condensação mediante a irrupção de afetos internos. Do mesmo modo fortes emoções na trama nos projetam para o futuro, ou para o passado como uma verdadeira máquina do tempo. Assim como nossa mente, o cinema embaralha as fronteiras entre presente passado e futuro. A sétima arte parece vocacionada a uma desobediência as demandas do mundo exterior e a uma afinidade com as necessidades internas, as vontades da alma, os propósitos do Self. Ao recriar aspectos de seu mundo interior, o sujeito cria a si mesmo, pois produz imagens simbólicas, transformadoras. Ele transforma a si mesmo pela sua própria expressão, a arte se apresenta então como um guia no caminho da individuação.
Sob a perspectiva de criação de imagens transformadoras é que se pode defender uma terapêutica do cinema caseiro e pergunta-se de que forma esse fazer cinematográfico pode colaborar na expressão dos desígnios do si mesmo? Pode a semelhança entre a linguagem cinematográfica, onírica, e das construções psíquicas das memórias facilitar a produção de imagens transformadoras? Pode o “fazer cinematográfico caseiro” colaborar para criação de uma terapêutica de expressão do self? Pode-se usar o cinema caseiro como recurso em Arteterapia no setting terapêutico?
*Salomão. Waly | Carta aberta a John Ashbery | Algaravias |Ed ROCCO | 1996
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REFERÊNCIAS
Jung, Carl Gustav |9/2-  Aion | Vozes
Xavier, Ismail | A Experiência do Cinema | Ed Graal
Urrutigaray, Maria Cristina | Arteterapia. A transformação pessoal pelas imagens. | Wak editora.
Hill, Jerome e Mekas, Jonas | Lapis Philosophorum | https://www.youtube.com/watch?v=IvHpyCRf1Kk
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