Você me arrepia mesmo sem me tocar, me tira o juízo, me excita, me faz ter desejos incontroláveis e pensamentos cheios de você, incendeia meus poros, umedece minha boca, me desnuda de corpo e alma, me deixa ofegante e meu corpo arde por você… Tu provoca em mim os desejos mais secretos, uma vontade insaciável de sentir você junto a mim, como uma chama que queima, arde e me fascina.
Eu prefiro um amor simples com cheiro de café da manhã. Refrescante como brisa suave e intenso como o sol a pino. Revigorante como o sereno da noite que anuncia o descanso do corpo e da alma. E enquanto isso, eu repouso em seu peito. Seja meu porto seguro, meu cais. Posso navegar pelos sete mares, mas sempre retornarei para o seu porto-abraço. Nada me acalenta mais que saber que me espera com uma taça de vinho onde o líquido vermelho representa a paixão e a saudade entre nós. Cruzo os céus para poder ver em seus olhos o brilho que busquei nas estrelas enquanto estive distante. O meu coração é seu, apesar de minha alma querer desbravar esse mundo. Sinto que ainda é pouco o que essa realidade tem a me oferecer, pois o que desejo ainda é inominado. Todavia, torna-se um pouco mais real e palpável quando estou ao seu lado. Posso respirar aliviada sabendo que terei a paz que tanto busco, o amor que sempre idealizei, a vida que sonho antes de dormir. Duas almas distintas que completam-se em suas diferenças ainda que estejam transbordando de si.
nos beijamos sob um poste em que a luz piscava e você disse baixinho ao meu ouvido: “o espetáculo somos nós, aquilo é o holofote”. meu peito sacudiu quando sua boca tocou meu pescoço, roçando suavemente, ali no meio de todo mundo. com você nunca tive medo de ser vista, ou que minha mãe ficasse sabendo o que fazíamos escondidos dos outros. seu gosto viciante me tornava corajosa o suficiente para esquecer meu medo do mar me engolir, com você mergulhei como filha de um deus marinho. nadei em seus braços e me aninhei em seu coração. fomos espetáculo de luzes enquanto a cidade mal se dava conta de tamanho evento, enquanto sua voz só podia ser ouvida por mim e pelos deuses. planejei infinitos futuros para nós naquela cidade distante enquanto contemplamos os quadros que não entendíamos no museu. você olhava com curiosidade as pinceladas e eu te olhava. tua mandíbula, teu torso, teus braços. absorvia seus detalhes entendendo que matemática divina conseguiria construir algo tão etéreo que mal parecia possível de ser tocado. vivi toda uma vida em segundos enquanto mapeava seu corpo com olhos famintos.
foi um quase tão delicioso, um “e se” tão tentador, que deixamos acabar. sabendo que nada seria tão bom quanto nossa imaginação do futuro, eu e você nos rendemos ao fim da magia. sem mais postes piscando acima do nosso beijo, sem obras de arte que respiram e caminham pela cidade. te guardei como um quadro pintado há muito tempo e você me guardou como música favorita de uma fase. nos cruzamos nas ruas como se não nos conhecêssemos, mas nossos lábios se curvam levemente em sorrisos que notamos sem dar espaço para as palavras. sem acordo em voz, apenas uma telepatia viciante, decidimos que esse amor merecia ser conto e não um longo romance. na minha cabeça tem uma cena de nós num futuro que nunca aconteceu, tão real quanto minhas mãos fechadas e tensas agora.
cruzo teu caminho pelas ruas movimentadas e retorno por segundos para cada lugar que não fomos, tudo guardado como memória de uma vida que não foi minha, mas poderia.
nós ainda somos o espetáculo, os postes ainda são holofotes, contando a história do quase mais bonito que esses prédios já testemunharam.