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Dentro de um violão, escondi meus sonhos.
Ele tocou, então, uma triste canção.
Eu, que sou uma libélula, dancei em voos razantes sobre águas espumantes de um rio morto.
Era dia. A vara fina, a linhá e o anzol seguravam o homem de chapéu na beira d'água.
A beleza silenciosa daquela cena, era prece.
Eu, que era louva-deus, juntei minhas garras em oração.
A linha retensou e o homem enxugou a testa com a costas das mãos e puxou.
Eu era um corpo de escamas brilhantes, me contorcendo para fora do regaço.
O homem tirou o anzol de minha boca e olhou com fascinação sem igual.
Eu, sereia de longos cabelos, contei que era Iara e cantei uma canção, através das cordas de um violão, que guardava uma história triste sobre os sonhos de uma menina (menina que eu fora).
O pescador, vendo minha agonia, deitou seu corpo sobre o rio e me soltou bem devagar. Olhei em seus olhos e vi a saudade do mar virando lágrimas.
Eu, já noite, fui vaga-lume e segui o homem de volta ao seu ranchinho, onde deitei com ele em sua rede. Foi ali que fizemos amor. Uma mulher e seu homem.
Angel Piai
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Foi tão fácil me perder
pois sempre me ponho a correr.
E esse sangue nômade
a ferver
dentro de mim
me faz assim...
Sem vontade de ficar,
indisposta e a sonhar!
Longe daqui é o meu lugar.
Eu não sei fingir,
não sei mais onde ficar,
já cansei de procurar.
Me rasguei, mas
vou me costurar
como parte de você
é só querer. Pague pra ver...
Clandestino é esse meu coração,
sempre louco de paixão
Então, sigo errante,
Sei que pareço distante,
porém tô aqui
a lhe sorrir...
E trago em mim
este eterno sonhar.
Sou a louca
sempre a se apaixonar.
Mas não por isso. Não faça isso.
Não corte minhas asas
Não pode meus galhos
Não rotule meus frascos
Sou leve como um furacão
sem destino ou direção
a mais doce perversão
procurando confusão
Um vulcão em ebulição
Porque
eu enlouqueço
e quebro tudo
e destruo o mundo
e uso os cachos pra me cortar
Quando o vendaval se vai
eu fico sozinha em meio ao caos
e tenho que limpar toda a bagunça
e tenho que suturar todas as feridas
e ( juro) eu tento mesmo me consertar
Mas é tão fácil me perder
e enlouquecer, pois sou leve
como um furacão.
AngelPiai
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Sou simples como a flor do espinheiro que desabrocha sem ter jardim. Não espalho perfumes e floresço sem alardes.
Na minha inutilidade, sirvo abelhas e vespas curiosas.
Nasci sem falsas promessas de beleza ou eternidades.
Minha vida é o agora, pois o vento da tarde me arrancará as pétalas.
Valsarei incompleta, porém serena.
Não terás meu nome nenhum poema.
Quem disperdiçará seus versos com uma flor mateira?
Nenhum homem ousaria me chamar de flor.
AngelPiai
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