Tumgik
analumendez-blog · 6 years
Text
Diferenças entre os modelos econômicos dos Estados Unidos e do Brasil
Há cerca de duas semanas eu tive a honra de conversar, por mais deu ma hora, com a professora Deirdre McCloskey. Falamos sobre as diferenças que existem entre os modelos econômicos dos Estados Unidos e do Brasil.
Falamos também sobre liberdade de mercado, segurança jurídica dos contratos, organização tributária e a importância do sistema bancário para o desenvolvimento de uma sociedade.
Eu sempre fui, pessoalmente, um grande fã do seu trabalho. É uma economista que, além de Distinguished Professor da universidade de Illinois, também ocupa cadeiras em filosofia e clássicos, na mesma instituição.
Lembro que uma das perguntas que fiz, foi: "Professora, os Estados Unidos possuem mais de seis mil bancos, nós, no Brasil, possuímos apenas quatro. No que isso influencia a...", e fui interrompido:
- Você sabe quantos bancos majoritários existem na Inglaterra?
- Não. Quantos?
- Quatro, também. A questão não é tanto a quantidade dos bancos, mas a força das instituições e com que força elas defendem a liberdade e a autonomia dos mercados. É bem possível que, em alguns setores, os bancos ingleses sejam ainda mais livres e eficientes que os americanos, mesmo sendo apenas quatro.
A grande lição que sai daquela sala foi a de que a força das instituições (e a sua probidade, autonomia e isonomia no trato) influenciam no desenvolvimento ou não de uma civilização.
Hoje, depois da tragédia da queda do prédio no centro da cidade, tem gente se remexendo todo porque o Boulos apontou que o culpado por isso tudo é o poder público. A tendência que a maior parte da direita terá é de responsabilizar o pessoal lá da invasão.
Mas, pense bem: que força tem uma instituição que permitiu que um amontoado de pessoas, amealhadas por um grupo de aproveitadores, fosse viver sob a cobrança ilegal de aluguéis?
Que há cinco anos vem recebendo notificações de que a estrutura está condenada e que não possui força burocrática o suficiente para resolver a situação? Que a única coisa que é capaz de fazer é, após uma torre cair no centro da capital financeira do continente, dar uma declaração às pressas, repetindo mais do mesmo?
Quais as chances de um prédio da "Polícia Federal" da Inglaterra, dos Estados Unidos ou de qualquer país institucionalmente forte ser invadido e deixado de lado por décadas? Assim, deixa pra lá...deixa a Deus dará.
E quem garante que boa parte do bairro não sabia que essa cobrança de aluguéis irregulares existia? Quantos POLICIAIS não sabiam que existia? Tinha até canhoto e carimbo mês a mês, cacete.
Podemos culpar os invasores, podemos culpar os corsários desses movimentos, que, à força, cobravam aluguéis e podemos, também, culpar as famílias, que viviam de maneira irregular; mas, definitivamente, pelo menos na minha opinião, todos os ratos faziam essa festa (e continuam fazendo, em pelo menos mais 70 prédios da cidade) porque o gato permite; e ele permite porque, de duas uma: ou é negligente ou ganha algum tostão com isso.
De qualquer forma é apenas mais um, "só" mais um, dos incontáveis reflexos de que fracassamos em quase tudo como sociedade organizada. Que é isso que nos restou: não conseguirmos sequer manter de pé os prédios que os nossos pais construíram.
Por: Ícaro de Carvalho
0 notes
analumendez-blog · 6 years
Text
Filosofia de Nassim Taleb
De acordo com a filosofia de Nassim Taleb, ter a pele em risco é o primeiro ponto para que sejamos dignos da atenção do outro. Que, sem o nosso na reta, não deveríamos ser levados a sério por ninguém.
E por que? Porque não há qualquer efeito (punição ou prejuízo) quando estamos errados. E, sem as consequências, acabamos nos viciando em comentar sobre tudo. Sobre qualquer coisa temos uma análise e proferimos uma sentença.
Lembro como se fosse hoje da luta que aconteceu entre o Conor McGregor e o Floyd Mayweather. Estava em Iguape, na casa de um amigo, quando um sujeito, já bêbado, começou a gritar aos quatro cantos que o pugilista seria nocauteado no primeiro round.
Que não teria chances contra o McGregor. Que seria um vexame e, ao mesmo tempo, o maior dia da história do esporte -- no caso, o MMA.
Falei que era bobagem. Que era improvável que o McGregor conseguisse aguentar até o fim da luta. Que ele começaria pressionando muito, que era a sua única chance, mas que com o desenrolar da luta as coisas iriam se arranjar e, no padrão normal, ele seria nocauteado.
O cara ficou maluco. Disse que assistia vale-tudo desde o primeiro UFC. Que já havia praticado, que isso e aquilo.
Olhei pro meu sogro, voltei pra ele e disse: "Tá, então vamos apostar um dinheiro".
O cara tirou vinte reais da carteira e falou: "Pode casar".
Eu disse: "Vinte reais não. Dois mil".
O sujeito deu uma risada amarela, olhou pros lados, zerou mais um copo e falou: "Ai você me quebra. Dois mil não dá. Vintão, vai. Pela amizade".
Isso é só mais uma prova de como as pessoas, antes cheias de certeza, recuam quando precisam pôr a pele em risco. Eu apostaria os dois mil reais porque eu sei que, em condições normais, a vitória do Floyd seria a regra. Que, se perdesse, teria estado em melhores condições e com a história a meu favor.
Teria sido um trade em ações com grandes chances de ganho. Ganhar 100%, ainda mais.
Bom, ele desistiu.
Outro fato interessante foi que, em 1997, quando voltou para a Apple, Steve Jobs decidiu eliminar 70% dos projetos e dos produtos que a empresa estava desenvolvendo. Quis focar só naquilo que ele acreditava que seria bem sucedido.
Dois anos depois, lançou a Apple Store. Ele se orgulhava de que a sua loja possuía 75% de espaço livre, para que os clientes andassem, produtos dispostos em balcões e um atendimento de primeiríssimo nível.
Centenas de jornalistas, analistas, especialistas e pitaqueiros criticaram o conceito. Aqui vão alguns deles:
"Perdão, Steve. Aqui seguem os motivos pelos quais a Apple Store não funcionará" - Businessweek.
"O problema da Apple é que ela ainda acredita que o caminho para crescer é vender caviar em um mundo que parece bastante contente em consumir biscoitos e queijo" - Joseph Graziano.
"Eu lhes dou dois anos até que eles tenham que fechar as portas em um caro e doloroso erro" - David Goldstein.
Dez anos depois, havia mais de 350 Apple Stores espalhadas pelo mundo. Elas possuem o metro quadrado mais rentável do planeta e a sua força de venda é quase duas vezes mais eficientes do que o segundo colocado. Todos os críticos erraram. E o que eles aprenderam com isso?
Nada. Como não tinham a pele em risco, continuam livres para opinar sobre qualquer outra coisa, em busca do acerto "na mosca" que os tornará famosos.
O que Steve perderia? Tudo. Seu nome, sua reputação, o valor das suas ações, provavelmente a sua credibilidade em gerar novas saídas para a empresa que fundou...
Se você pensa em investir, abrir um negócio, tocar uma empresa ou algo do tipo, a primeira coisa que tem que fazer é dar ouvidos apenas a quem tem a pele em risco. A quem aposta o próprio dinheiro nas próprias sugestões, que aplica o que ensina ou que põe em prática o que vende.
Caso contrário, é bem provável que sirva apenas de comida de peixe a quem sobrevive vendendo aquilo que não acredita o suficiente para pôr em prática.
Certo estava La Rochefoucauld, em seu aforismo mais conhecido: "A perfeita coragem é fazer, sem testemunhas, o que seríamos capazes de fazer diante de todos".
Por: Ícaro de Carvalho
0 notes