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truthsofaheart · 27 days
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Carta que nunca enviei
“Querido pai, Que olhos atentos lançaste sobre mim? Acreditas que permaneço aprisionada num limbo do reino encantado dos contos de fadas como quando eu ainda era uma criança. E isso não vai passar. Elevaste-me a um 'mini-pedestal', mas eu nunca quis estar lá. Perdoa-me por não ser perfeita. Dizes que desconheço o que almejo, mas eu só não almejo o que almejas para mim. E até mesmo em teu almejo percebo desconexão em ti. Não esqueças, foste tu quem me criou... Por vezes desejo emprestar-te meus olhos, mas sobre isso não detenho poder algum. Não me julgues severamente, pois desconheces a dor desse processo. Na última vez, vi-me compelida a recorrer a artimanhas para preservar minha sanidade. Achas que é uma perda de tempo fazer as coisas que eu gosto, mas não deténs poder para mudar-me. Perdoa-me por não ser perfeita. Uma vida me foi dada, única e fugaz. Não seria justo dissipá-la em busca de validação para algo que não ressoa em meu ser. Eis minha jornada, minhas decisões. Mesmo que tua descrença em meu caminho persista, há uma voz interior que grita, quase urgente, para que eu siga o meu coração. Se falhar, ao menos tentarei. Não espero que entendas. Cada alma tece sua própria narrativa. Quiçá acerte, quiçá erre; a incerteza é uma constante nesta dança chamada vida. Não tens o poder de me proteger. Lamento se, de alguma forma, desapontei. Perdoa-me por não ser perfeita. Não penses que rompi os laços da morte para saborear o supérfluo, navegando com a correnteza, quando anseio desbravar a contracorrente das águas. Esta carta é um pedido de desculpas. Entretanto, não posso renunciar a mim mesma para te deixar satisfeito. Já é chegada a hora de compreender que já não sou mais aquela criança de outrora, e que os filhos não são meras extensões dos pais. Anseio por trilhar o meu próprio destino. Compreendo que tudo o que fazes é por amor, buscando o que julgas melhor para mim. Contudo, o sopro das boas intenções não tece a trilha da retidão, e muitas vezes os pais se equivocam, cegos à singularidade de um indivíduo apenas por ser seu filho. Não julgo-te severamente, pois imagino que não seja fácil para ti e assim como tu, também desconheço a dor do processo. Mas saibas que não espero que sejas perfeito. Com amor, sua filha.”
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truthsofaheart · 28 days
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Filha de Eva
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Se eu tivesse os meus dezoito anos, poderia permitir-me errar e dizer que estava tudo bem, poderia ir e voltar, explorar e mudar de ideia sem grandes consequências, atribuindo tudo à inexperiência da juventude. Mas agora, já não tenho mais dezoito anos. Não há tantas possibilidades assim. Não posso mais mudar de opinião a cada instante, nem proclamar que ainda estou por me descobrir. Os anos se esvaíram mais rapidamente do que eu pude notar, e já não sou mais uma garota; tornei-me uma mulher. O mundo jamais cessou seu girar para que eu pudesse remendar meu coração partido, e apesar de tudo, o sol continuará a nascer amanhã. O mundo não será gentil, mesmo que você irradie gentileza para o mundo. Poucos se importarão com o seu bem-estar. As demandas são impostas, e no mundo real, é uma questão de ganhar ou perder. Isso não diz nada sobre você, é verdade, mas você não sabe disso quando se é jovem. E, ao amadurecer, você percebe que é você quem deve se ajustar. A realidade pode ser dolorosa, às vezes até abrasiva. Ou você cresce com ela ou se afunda na autocomiseração. É cruel encontrar-se em um estado em que sente pena de si mesmo. Mas você pode transformar seus erros em sementes, plantando-os no solo fértil do crescimento e avançando em direção ao seu propósito, ou pode deixar que eles se transformem em pedras que pesam sobre você, até te sucumbir. Se você conhece seu propósito, tudo se torna mais intenso. Não digo que se torne mais fácil; na verdade, pode até se tornar mais árduo, mas ao menos te delimita uma direção. E é importante que você se lembre disso… Entretanto, você ainda está nos seus vinte e poucos anos. Incerto se o fruto valerá o esforço. Anseias pela resposta, mas sinceramente, ainda pairam infinitas dúvidas em tua mente. Tais incertezas inquietam a tua alma. Você ainda é jovem. Não tanto para aceitar que é normal abraçar os erros como algo corriqueiro, mas também não em plenitude para compreender completamente teu eu. Não há garantias, nem certezas, mas ao menos tens um vislumbre de tua essência. Tal é uma evolução por si só. Eu poderia ter alcançado os anos dourados sem intuir… Mas vislumbrar os oitenta seria uma dádiva, mas quem poderia predizer? Se o amanhã, obscuro e incerto, escapa-nos à mão. Trata-se de pura contingência. E essa incerteza me remete a uma urgência de que não há mais espaço para desvios. Numa convicção ilusória de que há um ponto de chegada, quando, na verdade, o ponto de chegada consiste no término de nossa jornada terrena fugaz. E talvez tudo isso seja uma farsa, pois a imperfeição é a sina da nossa existência, atrelada à humanidade, à minha espécie, à qual nasci. E já nasci condenada. Desafortunada filha de Eva. Ouça o som da trombeta, que ecoa pelo éden, apontando para o pecado de Adão. E quem ousaria dizer que a natureza está errada? Mas os humanos, tantas vezes, se desviam do caminho certo, num ciclo de equívocos que os afasta da retidão incessantemente. E a natureza se revela em um destino inexorável, que podemos entrever, mostrando o movimento perene e a pulsante necessidade do Ser eterno.
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truthsofaheart · 29 days
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No lar dos cacos
O que eu faria se tu voltasses para casa, Aos cacos que deixaste estilhaçados, Ainda espalhados pelo chão? Anos se passaram, mas o pensamento perdura. Aprendi, porém, a coexistir com essas lembranças. E se viesse por uma temporada? Terias ainda o poder de me afetar? O que eu faria se tu não regressasses, Aos destroços que deixaste espalhados, Ainda esquecidos no chão? E então me deparasse com aquela que hoje Ocupa um espaço outrora meu? Quão angustiante seria compreender Que não fui o suficiente para ti? Enquanto, em meus olhos, desvelo-me Em magnífica sublimidade. Serias capaz de ainda afetar meu orgulho? O que eu faria se tu voltasses para casa, Mas não encontrasses os cacos espalhados pelo chão? Pois cuidei de uni-los meticulosamente. Anos deslizaram, e a aparência serena Permanece refletida em meu semblante. Mas ainda terias o poder de me desestruturar? Quão angustiante seria persistir No desconhecimento e no erro. E, em meus próprios olhos, Não me reconhecer, mas me perder De mim outra vez. O que tu farias se voltasses para casa, Mas não encontrasses os cacos espalhados pelo chão? Pois eu fiz questão de juntá-los. Anos se passaram e trilhamos caminhos diferentes, Mas o pensamento ainda persiste, E o amor importa mais do que o teu orgulho. Mas te deparastes com uma versão Até então desconhecida de mim para ti. Em teus olhos, eu era a personificação Da magnífica sublimidade, Um lírio do campo que um dia abandonaste. E quão angustiante seria para ti, Ter novamente teu caos interno desnudado Em contraste com a idealização que fizeste de mim, E no fim, perceber que o tempo não perdoa, E o lírio, por fim, desfez?
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truthsofaheart · 1 month
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Ode à liberdade
Tire-me o chão, que eu ainda tenho asas para voar Aquelas mesmas que um dia tentaram me cortar Aprisionaram-me em caixas, Mas não permiti que me adoecessem Apararam-me às asas, E eu cuidei para que crescessem A cada dia mais fortes e belas Não me desculpo pelos voos, Por minha profundidade, Por minha liberdade de ser.
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truthsofaheart · 1 month
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Condenadora de amores
Afundei-me em ciúmes. Tentei separar o que era ego do que era afeto. Ou simplesmente busquei me fragmentar, à semelhança do Pessoa quando torna-se Bernardo Soares. Mas eu não sou o Pessoa. Eu não sou genial. Ele havia dito que era uma questão ínfima e que havia revelado para conter. Era expansível de qualquer forma. Desconheço o que se sucedeu. Eu senti uma questão ínfima, mas optei por não revelar para conter. Era expansível de qualquer forma... mas quis interromper, como quem extrai embriões do útero quando são frutos de uma gestação indesejada. Acredito ter sido sútil. Tão sútil que ninguém percebeu. Tanto que ele sequer percebeu. Desconhecia o que se passava em meu íntimo. Eu quis assim. Condenar o que ainda não era nascido. Condenadora de amores.
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truthsofaheart · 2 months
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details by Roberto Ferri
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truthsofaheart · 2 months
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Narciso, Caravaggio
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truthsofaheart · 2 months
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Queria poder te ligar Dizer que sinto a sua falta Que dentro de mim ficou um vazio Que é do seu tamanho Queria poder te ligar E te pedir desculpas Por tudo o que fiz E tudo o que falei E pelos planos juramentados Abandonados no campo das projeções Nunca trazidos para este plano Queria poder voltar atrás E morar no teu abraço Queria o teu carinho E o teu cuidado És o menino mais lindo que já vi Queria que fosse o meu menino Mas olho ao redor e nunca encontro você A gente parecia tão certo...
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truthsofaheart · 3 months
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Reflexões da madrugada
Tenho buscado seguir meu coração, na esperança de que, no final, isso se concretize. Por vezes, me conforto pensando que, mesmo se não "funcionar" de uma maneira específica, contribuirá para minha construção pessoal (o que tem sido meu principal foco desde que me enxerguei como sou). Mas isso não significa que, às vezes, eu não tenha medo.
Dá medo pra caramba!
Acontece que em alguns momentos, surge o receio de me enxergar tão diferente a ponto de nada mais fizer sentido. Com isso, pergunto-me: afinal, tenho medo de mudar tão drasticamente a ponto de não me reconhecer como tal? Não seria isso fazer do ato de se encontrar um porto seguro e não se permitir viver à deriva por medo de se perder? Ou apenas tenho medo de não aproveitar o meu tempo de uma forma sábia, confundindo sabedoria com minha tolice da juventude não tão jovem assim?
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truthsofaheart · 4 months
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“Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.”
— Martha Medeiros. 
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truthsofaheart · 5 months
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Por que não celebro aniversários?
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O dia do meu aniversário costuma ser um dia introspectivo, de reflexões e contemplações mentais. Reflexões têm o poder de dar tons ao momento. Tais tons podem ser tristes, felizes ou ambos ao mesmo tempo. Elas assumem sua própria forma. No meu aniversário do ano passado, vivi um turbilhão de emoções, como uma espécie de montanha russa de sentimentos, onde a alegria e a tristeza se chocavam num abrupto vaivém. Foi então que um amigo me distraiu e fez-me companhia. Agradeci.
"Ninguém tem que estar lá para organizar sua bagunça".
E eu sempre organizei a minha sozinha. Mas, este ano, é provável que esse amigo sequer lembre do meu aniversário, já que não temos mais tanto contato assim... E, sinceramente, não espero que seja diferente. Tenho que organizar a minha bagunça sozinha. Logo eu, que sempre me considerei madura por compreender os ciclos da vida, agora penso que talvez não devesse ter sido tão “madura” o tempo todo, especialmente quando não era necessário. Talvez devesse ter me permitido ser jovem, mas por alguma razão, nunca me dei essa liberdade.
Já me odiei e já aprendi a me amar. Já vi o mundo extremamente cinzento e nublado, onde não havia uma fresta de cor nele, ou uma fresta de luz solar. Já mergulhei em uma escuridão profunda e permaneci entre os meus fantasmas e vozes que me diziam que o mundo iria me esmagar e que eu era fraca demais para suportar. Mas ali havia uma fresta de luz: a luz no fim do túnel. Ao fim de tudo, descobri que não era fraca demais para suportar; suportei e sobrevivi. Essa experiência vivida tão jovem fez-me perceber que eu era muito mais forte do que imaginava, ou do que aparentava aos olhos dos outros.
É que um dia, eu tinha onze ou doze anos, e o mundo se apresentava cinzento para mim. Ou talvez as lentes que eu usava distorciam as suas cores. Colocam-te num mundo em que tens corpo e alma estritamente conjugados, confundidos e misturados. Um corpo tão conectado ao seu espírito que sentes nele e em partes dele apetites e afecções. O teu corpo é o teu ponto de contato com o mundo... E é neste corpo composto ao qual chamo de meu que sinto dor ou prazer, fome, sede, libido, sono, cansaço... E ainda é neste corpo que chamo de meu que percebo que outros corpos que não são meus, causam-me comodidade e incomodidade. E ainda é neste corpo e espírito que chamo de meu que sinto a necessidade de amor, de me sentir pertencente e conectada, necessidade de haver uma razão, um sentido, um propósito. Colocam-te no mundo, tens um corpo, um espírito e uma mente que apreendem o pesar da existência.
Constantemente questiono-me como as sensações afetam as pessoas em escalas divergentes.Se ao acessar uma lembrança, você se enxerga em primeira pessoa ou em terceira pessoa. Se você sente o cheiro de melancia quando há uma grande concentração de águas reunidas à noite, seja num rio ou no mar. Se você já se sentiu tão feliz a ponto do seu coração vibrar. Se você, mulher, já experimentou o êxtase do orgasmo, e se sim, como descreveria a sensação. Porque eu já tive orgasmos com sensações completamente distintas umas das outras. O fato é que não me parece horas gastas à toa quando pondero sobre como as sensações e os sentimentos nos afetam de maneiras diferenciadas, talvez únicas. De todo modo, nunca chego a uma conclusão definitiva.
Mas colocaram-me no mundo, com um corpo e um espírito. E com uma mente que me permitia apreender a noção da existência. Colocaram-me no mundo e não me ensinaram a lidar com o fardo que carregamos, que é existir. Apenas nos lançaram no mundo, sem manual de instruções. Cabe a nós descobrir o nosso caminho, sozinhos. E eu não sei dizer pelos outros, mas sempre senti demais. Tudo parecia ser demasiado intenso para mim. Tudo se apresentava de forma demasiadamente exacerbada. Nunca consegui ser moderada. Sempre fui oito ou oitenta.
"O mundo vai te esmagar".
Os moinhos de vento eram meus dragões. E vivenciei tantos “fins de mundo” que nem consigo enumerá-los. Não me ensinaram a lidar com os meus sentimentos, com a intensidade que eu sentia, com o meu exagero. Apenas fui lançada no mundo. E não sabia lidar com meu sentir, com a minha maneira de sentir e com o peso que era existir. Caminhei por tantos lugares em busca de respostas, apenas para perceber que muitas delas já estavam dentro de mim. Acredito que se Deus é bom, nos coloca neste mundo, nos concede um corpo, um espírito, os sentidos e uma mente capaz de compreender o peso da nossa existência, certamente também nos proporcionaria meios de acessar as respostas para essa existência.
Todo dia, o suicídio batia à minha porta, e me seduzia com sua sinistra melodia. Quis me entregar em seus braços sombrios, mas nas profundezas da minha escuridão, uma luz no fim do túnel surgia: a paciência. Uma breve expectativa no futuro. Uma expectativa na minha “eu” em potência. Um vislumbre da mulher forte e corajosa que eu me tornaria. As trevas sussurravam minha fraqueza e me deixavam no chão. É que depois de tantos dias consecutivos de perdas, há uma necessidade, quase uma honra, em vencer. Eu sobrevivia, sim, eu a sobrevivente em pessoa.
Se o mundo me parecia cinza, não era mais hora de enxergar cores nas cinzas, mas de colorir a vida com a minha própria arte. Sobreviver já não era mais suficiente, eu precisava viver. Minha vida não mudou. Nunca muda da noite para o dia. A intensidade com que os sentimentos me atingiam continuou a mesma. Não houve nada drástico ou fora do habitual. Apenas aprendi a viver o dia e a valorizar as coisas simples, a deixar de me concentrar tanto no que desejava e não tinha, mas a valorizar o que possuía, a ser grata, a olhar para as pessoas, para a natureza, e contemplá-las com os olhos atentos para enxergar o divino que há na criação. E aprendi a doar amor todos os dias, sem alarde, mas em gentilezas simples como um “bom dia”, um sorriso, um olhar atento, uma escuta empática, um ombro amigo, expressando o divino que trago em mim: o amor.
Assim, pintei a vida que outrora se apresentava cinzenta para mim, com diversas cores radiantes, em um novo matiz, com pinceladas de amor das quais fui presenteada. Transformei o meu dia a dia em meu próprio jardim, o qual todos os dias, com um olhar apaixonado, eu contemplava a beleza do Criador na criação. Ele era o meu Autor favorito. E hoje, ao colorir as cinzas, percebo que não havia fraqueza em mim, mas sim muita força e coragem. E hoje, quando as coisas se apresentam extremamente cinzentas para mim, de tal forma que me é apresentado como um bloqueio criativo de coloração, enxergo nas cinzas não mais a esperança da mulher que eu iria me tornar, pois eu já sou ela; mas sim a menina forte e corajosa que fui por ter suportado tudo aquilo sozinha, tão jovem, e ter sobrevivido e seguido em frente. Hoje tenho orgulho da minha história. E quem eu fui é quem me dá forças para continuar. Ora, se passei por aquilo sozinha, tão jovem, quando ainda era uma menina, acreditando que era fraca, como não poderia passar por algo semelhante hoje que sou uma mulher e tenho consciência da minha força e coragem? Poderia eu encontrar alguma motivação e inspiração melhor? Presumo que não.
Então, talvez eu devesse celebrar aniversários, não apenas por ser uma sobrevivente, mas por ter aprendido a enxergar cores nas cinzas. Contudo, creio que o meu verdadeiro superpoder reside em colorir aquilo que está cinza. É a conexão com a minha arte. É a contemplação da criação. É o amor que habita em mim, transbordando em gentilezas e sutilezas. É o que faz sentido. É o cotidiano. Um dia é só um dia. Um dia comemorativo configura-se numa convenção de uma contagem de dias, mas a vida se desenha no conjunto, no tecido diário de cada dia em que há fôlego de vida.
Eu aprendi a amar a vida, e a amo todos os dias. Meu aniversário é um evento anual, uma oportunidade de celebrar, mas escolhi não limitar minha celebração a apenas esse dia. Optei por viver cada dia, seja ele cinza ou colorido. Alinhado com o aprendizado que a vida me contou sobre ter tato para compreender quando devo deixá-lo cinza e quando devo pintá-lo com cores, sejam vibrantes ou em tons pasteis. Escolhi apresentar-me ao palco da vida, simples e sem grande público, ou ao menos sem um público fixo.
Talvez um dia eu ressignifique e volte a celebrar aniversários, mas, por enquanto, o que valorizo e faz sentido para mim, é o amor do dia a dia. É o sentido das coisas pequenas que realizamos cotidianamente, consciente de que tudo bem se, por uma razão divina, Deus julgar apropriado que chegou a minha hora. Não significa isto que não tenho mais sonhos que almejo realizar; eu os tenho. Mas compreendo que a vida não se resume a uma lista de tarefas que seguimos a fim de sermos aceitos, nem a uma corrida insana que se configura como uma competição de quem se diverte mais. Significa, sim, que vivi cada dia, sem esperar pelo futuro ou lamentar a memória do passado. Estive atenta ao presente, transbordando o amor imenso que fui agraciada, desfrutando do meu olhar sobre a vida, ao qual nasci cega, mas fui afortunada em enxergar. Assim, usufruo os segredos que um dia a vida fez questão de me contar.
- Da série: Confidências explícitas
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truthsofaheart · 5 months
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Você idealizou-me. É loucura amar apenas as rosas de um jardim. Tu não suportas quando conheces as suas espículas. Afeiçoaste-te às minhas rosas e não soube lidar com os meus espinhos.
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truthsofaheart · 5 months
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Te escrevo cartas apaixonadas sem estar apaixonada Desejo ter te comigo e fazer amor Mas sem fazer amor E sem ter te comigo Quero te em corpo Quero te em instantes Mas nunca por instantes eternos Nunca pra sempre Nunca uma conexão Quando foi que eu desacreditei do amor?
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truthsofaheart · 5 months
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truthsofaheart · 5 months
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Dia dos zumbis
Terça feira ás 18h39. As luzes acesas dos carros na cidade. O horário de pico evidenciava que o dia dos zumbis acabaram. Vão para suas casas. Tomem um banho. Comam alguma coisa. Sobrevivam. É preciso que sobrevivam para essa escravidão. Você pode assistir um pouco mais do espetáculo na tela do seu celular. É preciso distração para essa escravidão. Depois, descanse. Prepare-se para o dia seguinte. É preciso repor as energias para essa escravidão. Quando foi a última vez que você realmente fez o que queria fazer? Entre um cansaço que te fez perder a vista, entre o teu tempo roubado... Você rolava a tela do seu celular, para a direita e para a esquerda em um aplicativo de relacionamento e nem reparou naquele rapaz bonito que estava sentado ao seu lado. Você rolava a tela do seu celular, e diante dos seus olhos estavam um casamento perfeito, um corpo perfeito, uma vida perfeita, mas você não viu os bastidores, repleto de abuso, insegurança e insatisfação. Você saiu de férias, e tirou tantas fotografias lindas com o seu celular, mas você nem gostava de praia. Você rolava a tela do seu celular enquanto o seu filho queria atenção, até que ele cresceu, e você não percebeu... E agora era ele quem queria ficar dentro do quarto olhando a tela do celular. Você rolava a tela do seu celular, e quando se deu conta, o dia todo havia passado. Você estava tão conectado nas redes que esqueceu de se conectar consigo mesmo, não cuidou de você, não testou a receita nova que você quis fazer em algum momento, não escreveu, não leu aquele livro incrível que estava na sua cabeceira, não dançou como se ninguém estivesse te olhando dançar, nem cantou bem alto embaixo do chuveiro. Você não observou o olhar triste das crianças que trabalhavam no farol e nem retribuiu o sorriso daquela mulher refugiada. Você não percebeu que as árvores floresciam, e o pôr do sol, tão espetacular, desdobrava-se como uma pintura divina. Você estava no piloto automático, alheio ao mundo, concedendo-lhe apenas um fugaz vislumbre, agora incapaz de ver à tua volta, deu-o por visto, imerso apenas na tela do seu celular.
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truthsofaheart · 5 months
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Reconheço a ausência do vínculo emocional
Em tudo estranhos, incógnitos
Entretanto, sintonizados
Embriagados pela atratividade carnal.
Peço perdão por meus pecados
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truthsofaheart · 5 months
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Onde residem os sentimentos
Queria perguntar ao mundo seus mistérios e seus segredos, e compreender a relação da conexão da minha psique com você. Se não o vejo, sequer faz sentido. Porém, já se passou tanto tempo e tua lembrança permanece tão vívida. Ao adormecer, crio narrativas em meu inconsciente, as quais talvez eu desejasse que fossem reais, embora saiba que não são. Entre diálogos que se convertem em solilóquios, entre o meu eu e a versão tua que idealizei, sequer sei se corresponde. Tão sutil é a linha tênue, pois na minha idealização tu não és perfeito, mas carregas os defeitos que me atraem em ti. Julgo em si mesmos atraente, ao menos soam atraentes em ti. Por quais razões desconheço, e nem ousaria buscar conhecer. Talvez por solidão, ou pela atração que pressinto existir entre nós, nos cantos ocultos das palavras não pronunciadas, mas manifestadas em gestos e olhares. Quanto a essa conexão tão única e intensa, das coisas raras que não se encontra em qualquer lugar e que acredito que simplesmente existem e não têm explicação. Não se vincula à beleza ou atributos específicos, tampouco à admiração. Apenas existe, misteriosa e incompreendida. Ou pode ser que eu tenha me encantado com a maneira como me lia, sem sequer me conhecer, sem que eu dissesse uma palavra. Talvez no íntimo do meu interior eu desejasse alguém que me lesse, como eu sei que podes fazer. Residem tantos pontos de interrogação incansáveis que pairam sobre minha mente, e acredito que nunca serão solucionados completamente. Habita em mim a ideia das cartas que escrevi e nunca entreguei e no meu âmago reside a noção do "e se" ainda que, torto e inapropriado, mas já não mais na dimensão da idealização, e sim na noção da realidade. E me questiono constantemente: o que acontece com os sentimentos que moram dentro de nós e nunca são expressados? Podem eles morrer? Serão eles parte de mim e de quem eu sou? Estaria eu condenada a seguir a integridade, em nome de uma causa maior? Ou o faço por escolha, talvez má e desafortunada? Não seria eu mais feliz se desviasse do caminho e vivenciasse aquilo que um dia almejei, entregando-me aos prazeres da devassidão que habita em mim, mas que repudio veementemente? Não seria mais satisfatório dissipar essa dúvida que paira em minha mente e saber se me queres? Não estaria eu em busca de uma virtude inalcançável? Da qual sei que nunca irei atingir, pois nunca passo no crivo, sempre fico aquém.
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