Se eu fecho os olhos, tento me agarrar a qualquer espaço do tecido no colchão com as minhas mãos. Porque existe a chance de eu voltar pra lá. 10m² dos silêncios mais sujos que eu presenciei. Não quero estar lá. Mas existe tanto detalhe que o tempo me traz de volta. Tanta lamúria, desculpa, fúria. Tanta imaginação que eu cultivei, sentada ali. Tanta pureza que eu desgastei até perceber que me perdi.
Sem sucesso, saturo as cores que eu vejo nesse quarto. Branco, amarelo, azul, verde, marrom. Quero que saturem até que sumam da minha mente. Quero não saber mapear cada parte desse cenário e me desfazer dos gritos que não dei. Apagar meus rastros. Não me sentir presa em meio à caça, aceitando o destino. Porque eu consigo sentir o vento bater nas pequenas cortinas azuis, o cheiro úmido da toalha salmão estendida na cabeceira, a textura da madeira antiga da cama, a tensão no equilíbrio da cadeira quebrada sustentando o ventilador, a cômoda com gavetas e segredos emperrados, os objetos jogados, largados como eu.
Eu, deitada no travesseiro baixo, com meu corpo tomado pelo tremor, esperando a promessa se tornar real. Eu, movendo um colchão no espaço ao lado de onde ele dormia, esperando acordada, com medo de ser assustada com seus movimentos e sua presença de repente no meio da noite. Eu, sucumbindo em suor e lágrimas. Eu, sentindo suas palavras e dedos me atravessarem sem pedir, sentindo seu corpo me interromper, sentindo o gozo forçado sair. Eu, em cima da cama, presa entre ele e a parede num espaço sufocante - o ar abafado mesmo com as janelas abertas, cada partícula inspirada se tornava alívio e culpa no meu corpo (como duas sensações poderiam caber em um mesmo instante? eu não saberia dizer). Eu, contando os minutos e vendo eles se tornarem horas na minha cabeça enquanto espero um bom momento pra ir me lavar. Eu com ele, sozinha. Eu com o silêncio, sem vida.
- g.s
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Amamos como se o mundo fosse acabar. E então, sofremos como se não houvesse amanhã.
Repetimos o ciclo várias vezes sem erguer as paredes, caos.
Onde estaremos quando esse apocalipse acabar?
- A Prado
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Eu realmente não esperava que você fosse ser o amor da minha vida.
Mas gostei de todo tempo que passamos juntos.
Toda hora, minha mente me faz voltar ao exato momento que falei da sua ex e aquele olhar que você me deu aquilo me destruiu.
Você tem razão, eu não merecia passar por isso. EU NÃO MEREÇO PASSAR POR ISSO.
Mas de certa forma, eu tive um pouco de inveja, sabe?
Queria ser importante na vida de alguém assim como ela é para você.
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Quando rio, minhas águas percorrem longe,
alcançando crateras que apenas eram visitadas por pingos.
As preencho e se tornam rios que me alcançam também,
círculo vicioso de gargalhadas frouxas sem fim.
Callebe Carneiro
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Ah dear, não duramos tanto quanto pensávamos lá no início, e que grande merda heim, éramos um match e tanto putaquepariu. Arquiva esses sete anos aí como inspiração pra uma próxima.
K.F
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eu mato meu rancor todos os dias pela manhã, enquanto bebo café. não é o que você merece de mim.
tantas páginas gastas pra descobrir que nunca pude morrer em suas mãos. o dedo rola o mouse por esse documento e corre na pressa de testar não ficar. não existe beleza em reviver um sentimento que floresceu por anos se resumir à pétalas murchas e raízes secas. engulo a saliva como se fosse teu próprio orgulho: em ondas quilométricas. é um alívio enxergar essa pessoa como se fosse outro alguém que as escreveu. respiro fundo como se fossem suas tragadas no cigarro. eu vejo o brilho dos meus olhos se acentuarem ao transformar seja-lá-o-que-fosse-esse-sentimento em cinzas. a admiração egoísta tem um gosto doce e eu nunca coloquei tanto açúcar. quando passeio nessas letras, provo um pouco do que fui e do que nunca mais desejo ser. é assim que você sabe que algo terminou.
eu devoro o significado do que você era todos as noites enquanto durmo. não conseguiria te descrever nem mesmo se te conhecesse de verdade.
- g.s.
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