Tais detalhes que habitam a dança
Lâminas de gesso, contração de mistérios
Como se escrevesse com os dentes
Em recipientes oriundos de um barro deteriorado
O que transforma a observação em gran angular?
A maneira com que o voyeurismo vira cinismo?
A vontade com que o voyeurismo vira cinema?
A intensificação voyeurista à novas vigílias?
Todo cotidiano é domesticado
Alcançando sonhos, alcançando o impacto
Desvirtua-se a prepotência inconstante
Quebrando rosas ainda no caule
Rosários são milênios materializados
O pensamento é simultaneamente andrógeno
E impulsiona um Tânatos por segundo
Todas as coisas fúteis estão sob suas permutas
Quartos vazios reivindicados por moscas
E quem mais quiser invadir-me o corpo
Casa que Borges nenhum enfrenta
Há um surrealismo em toda essa provação
Outra vez, um vaso quebrado rouba minha atenção
Ao ver a terra, os olhos iluminam-se e a narina a encontra
Como se fosse preciso reconhecer seu perfume decrépito
Para ter a certeza que ainda há vida nesse aquário sintético
Desfeitas são métodos às saídas
E tudo que gira é uma boca circuncisada
Capaz apenas de comover-se em receitas
Temendo a própria voz, um réquiem minguado
Recaídas cenográficas saltadas da garganta
Um termo nostálgico carrega a calma ao ambiente
Fluí um velório de memórias enclausuradas
A cada gesto com pompa orientado ao interlocutor...
O Recife é tão poético que tudo é pensando para a contemplação. Perceba: Se estiveres no trânsito e seguires pilotando ou dirigindo na velocidade da via, tens tempo o suficiente de olhar o circular das moças bonitas nas calcadas, a paisagem da ponte do Pina e o velho Recife surgindo na margem do Capibaribe. Dá tempo de se proteger do trânsito e se apaixonar.
exterior. dia. Trocando minha pura indiscrição pela tua história bem datada. Meus arroubos pela tua conjuntura. mar, azul, cavernas, campos e trovões. Me encosto contra a mureta do bondinho e choro. Pego um táxi que atravessa vários túneis da cidade. Canto o motorista. Driblo a minha fé. Os jornais não convocam para a guerra. Torça, filho, torça, mesmo longe, na distância de quem ama e se sabe um traidor. Tome bitter no velho pub da esquina, mas pensando em mim entre um flash e outro de felicidade. Te amo estranha, esquiva, com outras cenas mixadas ao sabor do teu amor.
olhei para as folhas que restavam do meu caderno, velho companheiro de guerra, como quem olha para seus últimos dias de vida. sem dúvida, precisaria escolher bem o que colocar ali, naquelas últimas páginas. Apesar de saber, que quando se trata da vida, difícilmente a gente tem o fim tão às claras, não porque não se saiba da sua inevitabilidade ou da sua onipresença, mas porque a gente sublima, entende? a gente se deixa esquecer do fim que está sempre à espreita, por medo ou vontade de ser infinito. e, por se esquecer, a gente consome os últimos dias com banalidades.
não julgo. também há beleza no banal. mesmo assim, mesmo com a certeza de que o fim chega numa hora incerta e de que assim será comigo, não posso deixar de pensar no: "e se a gente soubesse o quando?" será que isso nos faria aproveitar melhor a vida ou será que isso aumentaria o peso de viver? uma maldição ou uma dádiva?
bom, provavel que a gente daria um jeito de foder com isso também. tão certo quanto a morte é a capacidade humana de foder com tudo.
A assembleia chega a cidade
Expectorando em todos os ouvidos:
Há demônios em meu estômago
Ansiando beber teu sangue em um cálice
Tuas embarcações são bordéis de meus cupins
Tuas leis são pesares contra vocês mesmos
Um rei por casa, um rei por casta
Embriago em suas próprias pulsões
A arte do insulto, a ópera colérica
Dança em teus ossos trêmulos
A meia-noite aguarda o clamor
Os teus mortos escondidos em números
Tal desespero, pérolas aos porcos
Domínio em linhas especificas
Tecendo outras variações
Apoiando-se em falas amenas
Cada um dos dedos é um pecado, dizem
Cada palavra é uma voz diferente
Assombrada por mortes de relicários
Conspiraram para esconder nossos nomes
Então voltamos, respirando enxofre
Teimando um espírito de revolta
Que dança com tuas filhas
As segregando de tuas vaidades
Feitos de barro e sonhos
As viúvas velavam corpos ocos
Os cadáveres estavam ainda em autópsia
Sendo recriados para o estado febril farmacológico dos porões
Queimam tuas plantações, caem teus heróis
O teu deus-chaga ainda tarda a vinda
Não por horário comercial, mas por desprendimento
Você não pertence a nenhuma das dúzias de ditados e ritos
_Esse é um poema autocrítico, sobre a minha hipocrisia e de todos aqueles, que quando pede socorro em momentos que é preciso, mas não se dispõe em ajudar o próximo, seja negligenciando, negando, fugindo ou diminuindo a necessidade e a precisão de ajuda.
(e não, não sou "eu" o poeta pedindo socorro, é apenas uma licença poética, tão sentimental, que faz Fernando Pessoa ter razão no poema Autopsicografia:)
Quando ela me procurou eu já sabia o que procurava.
Uma mulher quando é ferida em certos períodos, muitas vezes, não sabe perdoar.
A justiça é meu propósito, e, quando estou de passagem sobre a terra, nas minguantes, pelas encruzilhadas, sigo cumprindo o ofício, coloco cada alma em minha balança e sei qual será o caminho de seu destino.
Seres perversos normalmente procuram alimentar seus egos, e caminhar contra e evolução e negar o retorno á existência, seguem iludindo os inocentes para usar suas energias para alimentar o mau ao qual se entregaram.
Eu sabia que era esse tipo de ser que cruzou a vida daquela jovem. Porém, fiquei surpresa pelo tamanho de sua compaixão quando ela suplicou que ele não tivesse o destino dos injustos.
Amores puros também são raros na dimensão da terra, um lugar onde o Ego predomina, a maioria das relações são de consumo, de busca por poder, de domínios.
Nilfheim era o lugar dele, e a jovem pediu para ir em seu lugar, sugeriu trocar o sopro de sua vida, para que ele tivesse uma nova chance, e dessa forma ver o mundo com outros olhos, sob a ótica pacífica e virtuosa da qual a jovem era possuídora. [continua]