A atenção é o maior ativo do mundo?
Na confusão causada pela fartura de informações, salva-se do desequilíbrio apenas quem é dotado de cultura sólida, que o permite selecionar as informações certas e assimilar e valorizar apenas as que são úteis. Domenico De Masi (apud Oliveira, 2020)
Tenho comentado com certa frequência sobre a importância da captura da atenção das pessoas, até por se tratar de um grande desafio num mundo repleto de múltiplos estímulos.
De fato, a relevância do tema é tal que originou um campo de estudo próprio, a Economia da Atenção (Attention Economy). Neste paradigma socioeconômico, a atenção humana é vista como um recurso valioso e limitado, apto a ser comercializado. Esse conceito ganhou proeminência em um mundo saturado de informações, onde empresas, mídias e outras organizações competem intensamente pela atenção das pessoas.
Do que se trata
Nesta postagem vou brevemente me concentrar em considerações sobre os riscos dessa enorme profusão de estímulos que recebemos, ainda que haja evidentes benefícios envolvidos, como surgimento de novos negócios e carreiras. Os termos “comunicação”, “linguagem”, “propaganda”, “mensagem” e “informação”, por vezes se confundem, pela proximidade, e optou-se pelas palavras “estímulo” e “mensagem” para representá-los.
A contemporaneidade parece abarcar uma ansiedade generalizada entre as pessoas, ao que Dimenstein (2001) refere como “Mal do século: síndrome do excesso de informação”. O excesso de informação provoca angústia, porque não se consegue “[…] deglutir a carga de informações disponível em livros, na imprensa, na televisão e na Internet.”
Mais de vinte anos depois a situação comentada pelo autor não parece ter sido pacificada. Ao contrário, o excesso de estímulos parece ter evidenciado ainda mais “cybercondríacos”, neologismo por Dimenstein usado.
Cybercondríacos e absorção de conteúdo
Ah, sobre os cybercondríacos: “Quem tem a síndrome não consegue dormir: não quer perder tempo e quer continuar consumindo informações. As pessoas com quadro agudo dessa síndrome são assoladas por um sentimento constante de obsolescência, a sensação de que estão se tornando inúteis, imprestáveis, ultrapassadas. A maioria não expressa sintomas tão sérios. O que as persegue é uma sensação de desconforto.” (Dimenstein, 2001, grifo nosso).
Pesaroso, concordo, mas que soa familiar. Em algum momento podemos ter sentido sintomas assim.
Silencia-se notificações no celular, adiciona-se ad-blocks no navegador e há impressão de controle sobre estímulos recebidos. Contudo, ainda assim, com todo o cuidado tomado, há uma contínua massa de informações que somos expostos, até porque o sujeito continua sendo estimulado em seu cotidiano, ao andar pelas ruas, usar a internet, jogar no celular, trocar mensagens, assistir uma série, usar redes sociais e em todas as demais atividades rotineiras (Andrews; Leewen; & Baaren, 2016).
Tentativas de quantificar a exposição diária individual indicam relevante quantidade de estímulos comerciais, entre 5.000 e 8.000, considerando também todas as interações pessoais que acontecem. Esse contexto torna a atenção muito, muito difícil de se conseguir. (Johannessen et al., 2010).
O “não absorver” pode parecer uma limitação, contudo Andrews, Leeuwen e Baaren (2016) tornam claro que, felizmente, não se possui a capacidade cognitiva de processar todas as informações. Isso é necessário para se manter a sanidade, o excesso de estímulos sobrecarrega o organismo.
O Marketing, por outro lado, ciente disso, busca meios para repercutir no público-alvo pretendido. Aliás, outras áreas de conhecimento distintas há anos procuram formas de resolver essa situação, particularmente Jornalismo, Sociologia, Design, Publicidade e Psicologia. Resultado dessa investigação são trabalhos que surgiram, como Neuromarketing, Copywriting e UX Design.
Enfim..
Lembram-se dos instrumentos persuasivos para aumentar a Expansão e Consolidação no Mercado que comentei em sala? É sobre isso que estávamos falando.
Persuasão e comunicação, nesse contexto, geram sinergia e há um estudo da Escola de Negócios de Coimbra sobre a influência da comunicação, mencionando que a linguagem exerce […] influência poderosa sobre as pessoas e seu comportamento. Isto é especialmente verdadeiro nas áreas de marketing e publicidade. A escolha da linguagem para transmitir mensagens específicas com a intenção de influenciar as pessoas é de vital importância. (Johannessen et al., 2010, p.6, tradução nossa).
Dessa forma e de maneira complementar ao que foi abordado no primeiro encontro, se apresenta parte dos assuntos tratados. Qual é a opinião de vocês?
Imagem que abre o post: ‘RCA test pattern 16x9′ foi um padrão de teste de televisão que foi introduzido em 1939 pela Radio Corporation of America (RCA) para seus novos modelos de televisores. A imagem era usada para calibrar e ajustar televisões, permitindo que técnicos e usuários finais ajustassem a imagem de suas TVs para obter a melhor qualidade possível. Assim como o ‘RCA test pattern 16x9’ foi projetado para ajustar a nitidez de uma tela de televisão em meio a possíveis distorções, no atual cenário de sobrecarga de informação, precisamos calibrar nossa atenção. Em um mundo onde somos bombardeados por estímulos visuais, sonoros e digitais, torna-se crucial definir nossos próprios ‘padrões de teste’ internos, filtrando o ruído e focando no que verdadeiramente importa.
___
REFERÊNCIAS
ANDREWS, M.; VAN LEEUWEN, M.; VAN BAAREN, R. Persuasão na publicidade: 33 técnicas psicológicas de convencer. São Paulo: Gustavo Gili, 2016. Acesso em: 25 ago. 2023.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos: apresentação. 2 ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2023. 19 p.
CAVALCANTE, G. B. O uso dos mecanismos psicológicos na influência de escolha do consumidor. A saúde mental em discussão Volume, p. 88. Disponível em: https://fametro.edu.br/storage/2021/05/saude_mental_discussao.pdf. Acesso em: 25 ago. 2023.
DAVENPORT, T. H.; BECK, John C. The attention economy. Ubiquity, v. 2001, n. May, p. 1-es, 2001. Disponível em: https://dl.acm.org/doi/fullHtml/10.1145/376625.376626. Acesso em: 06 out. 2023.
DIMENSTEIN, G. Mal do século: síndrome do excesso de informação. Folha de S.Paulo, São Paulo, semana de 03 set. 2001 a 09 set. 2001. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/imprescindivel/semana/gd020901a090901.htm. Acesso em: 27 jun. 2018.
GOLDHABER, M. H. The attention economy and the net. First Monday, 1997. Disponível em: https://firstmonday.org/ojs/index.php/fm/article/view/519. Acesso em: 06 out. 2023.
JOHANNESSEN, K. et al. The languageofadvertising: Powerful, innovativeandenvironmental? New perspectives on sustainability, n.2, 2010. Disponível em: https://revistes.udg.edu/new-perspectives/article/viewFile/11405/14954. Acesso: 25 ago. 2023.
OLIVEIRA, S. Banquete indigesto: o excesso de informações que nos é servido afeta a saúde e gera estresse, ansiedade e até falta de memória. Vivabem, 2020. Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/reportagens-especiais/excesso-de-informacao-afeta-nossa-saude-como-lidar-melhor-com-isso/#cover. Acesso em: 25 ago. 2023.
ROSE, F. The Attention Economy 3.0. Milken Institute Review, v. 17, n. 3, p. 42-50, 2015. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/280132192_The_Attention_Economy_30. Acesso em: 06 out. 2023.
0 notes