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#inventário do irremediável
antigremista · 9 months
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do livro “inventário do irremediável”, publicado pela primeira vez em 1969, no Brasil.
Caio Fernando Abreu
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trechosemlivros · 7 years
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Como chegar para alguém e dizer de repente eu te amo para depois explicar que esse amor independia de qualquer solicitação, que lhe bastava amar, como uma coisa que só por ser sentida e formulada se completa e se cumpre?
Inventário do Ir-remediável - Caio Fernando Abreu
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mad-worldd · 3 years
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naturalbrunett3 · 6 years
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tocava a pele dos braços buscando as asperezas, as brusquidões do rosto, aquele vinco amargo no canto da boca, a pálpebra trêmula, a carne flácida das olheiras, as entradas fundas no cabelo, os dedos grossos, os pêlos dos dedos grossos, as calosidades das palmas das mãos de dedos grossos - onde haviam ficado? seus dedos lisos deslizavam mansos numa superfície doce, assim mesmo, com todos os adjetivos suaves, não mais as bruscas paradas, como se tivesse esquinas e becos e encruzilhadas pela face. e o ventre raso. os pés sem calos. o pescoço sem rugas. as coxas sem flacidez. e tudo, tudo voltava a ser antigo, e no entanto novo, compreende? experimentou sentir ódio, lembrar pessoa, coisas e fatos desagradáveis, apalpar novamente a tessitura sombria do que vivera, a massa espessa de que era feita a mágoa, e todos os desencontros que tinha encontrado, e todos os desamores desilusões desacatos desnaturezas não, não, já nem ódio queria, que encontrasse ao menos a tênue melancolia, aquele como-estar-debruçado-na-sacada-num-fim-de-tarde, a tristeza, a solidão, a paixão: qualquer coisa intensa como um grito.
(caio f. abreu, em “inventário do irremediável”)
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, eu não tenho culpa não fui eu quem fez as coisas ficarem assim desse jeito que não entendo que não entenderia nunca você também não tem culpa vou chamá-lo de você porque ninguém nunca ficará sabendo nem era preciso a culpa é de todos e não é de ninguém não sei quem foi que fez o mundo assim horrível às vezes quando ainda valia a pena eu ficava horas pensando que podia voltar tudo a ser como antes muito antes dos edifícios dos bancos da fuligem dos automóveis das fábricas das letras de câmbio e então quem sabe podia tudo ser de outra forma depois de pensar nisso eu ficava alegre quem sabe quem sabe um dia aconteceria mas depois pensava também que não ia adiantar nada e tudo começaria a ficar igual de novo no momento que um homem qualquer resolvesse trocar duas pedras por um pedaço de madeira porque a madeira valia mais e de repente outra vez iam existir essas coisas duras que vejo da janela na televisão no cinema na rua em mim mesmo e que eu ia como sempre sair caminhando sem saber aonde ir sem saber onde parar onde pôr as mãos os olhos e ia me dar aquela coisa escura no coração e eu ia chorar chorar durante muito tempo sem ninguém ver é verdade tenho pena de mim e sou fraco nunca antes uma coisa nem ninguém me doeu tanto como eu mesmo me doo agora mas ao menos nesse agora eu quero ser como eu sou e como nunca fui e nunca seria se continuasse me entende eu não conseguiria não você não me entendeu nem entende nem entenderia você nem sequer soube sabe saberá amanhã você vai ler esta carta e nem vai saber que você poderia ser você mesmo e ainda que soubesse você não poderia fazer nada nem ninguém eu já não acredito nessas coisas por isso eu não te disse compreende talvez se eu não tivesse visto de repente o que vi não sei no momento em que a gente vê uma coisa ela se torna irreversível inconfundível porque há um momento do irremediável como existem os momentos anteriores de passar adiante tentando arrancar o espinho da carne há o momento em que o irremediável se torna tangível eu sei disso não queria demonstrar que li algumas coisas e até aprendi a lidar um pouco com as palavras apesar de que a gente nunca aprende mas aprende dentro dos limites do possível acho não quero me valorizar não sou nada e agora sei disso eu só queria ter tido uma vida completa elas eram horríveis mas não quero falar nisso podia falar de quando te vi pela primeira vez sem jeito de repente te vi assim como se não fosse ver nunca mais e seria bom que eu não tivesse visto nunca mais porque de repente vi outra vez e outra e outra e enquanto eu te via nascia um jardim nas minhas faces não me importo de ser vulgar não me importa o lugar-comum dizer o que outros já disseram não tenho mais nada a resguardar um momento à beira de não ser eu não sou mais tudo se revelou tão inútil à medida que o tempo passava tudo caía num espaço enorme amar esse espaço enorme entre eu e você mas não se culpe deixa eu falar como se você não soubesse não se culpe por favor não se culpe ainda que esse som na campainha fosse gerado pelos teus dedos eu não atenderia eu me recuso a ser salvo e é tão estranho o entorpecimento começa pelos pés aquela noite eu ainda esperava quase digo sem querer teu nome digo ou escrevo não tem importância vou escrevendo e falando ao mesmo tempo com o gravador ligado é estranho me desculpa saí correndo no parque e me joguei na água gelada de agosto invadi sem ter direito a névoa dos canteiros destaquei meu corpo contra a madrugada esmaguei flores não nascidas apertei meu peito na laje fria do cimento a névoa e eu o parque e eu a madrugada e eu costurado na noite cerzido no escuro porque me dissolvia à medida que me integrava no ser do parque e me desintegrava de mim mesmo preenchendo espaços aqueles enormes espaços brancos terrivelmente brancos e você não teve olhos para ver que o parque era você a água você a névoa você a madrugada você as flores você os canteiros você o cimento você não teve mãos para mim só aquela ternura distraída a mesma dos edifícios e das ruas mas eles me desesperavam você me desesperava eu não quero falar nelas mas elas estão na minha cabeça como os meus cabelos e as vejo a todo instante cantando aquela canção de morte a minha carne dilacerada e eu ridículo queria ter uma vida completa você não se parecia com Denis e tinha os olhos de mangaba madura os mesmos que tive um dia e perdi não sei onde não sei porque e de repente voltavam em você nos cabelos finos muito finos finos como cabelos finos minto que me bastaria tocá-los para que tudo fosse outra vez mas não toquei eu não tocaria nunca na carne viva e livre eles me rotularam me analisaram jogaram mil complexos em cima de mim problemas introjeções fugas neuroses recalques traumas e eu só queria uma coisa limpa verde como uma folha de malva aquela mesma que existiu ao lado do telhado carcomido do poço e da paineira mas onde me buscava só havia sombra eu me julgava demoníaco mas não pense que estou disfarçando e pensando como-eu-sou-bonzinho-porque-ninguém-me-ama eu me achava envilecido me sentia sórdido humilhado uma faixa de treva crescia em mim feito um câncer a minha carne lacerada estou dentro dessa carne lacerada que anda e fala inútil a carne conjunta das xifópagas e o vento um vento que batia nos ciprestes e me levava embora por sobre os telhados as cisternas as varandas os sobrados os porões os jardins o campo o campo e o lago e a fazenda e o mar eu quero me chamar Mar você dizia e ria e ríamos porque era absurdo alguém querer se chamar Mar ah mar amar e você dizia coisas tolas como quando o vento bater no trigo te lembrarás da cor dos meus cabelos você não vai muito além desses príncipes pequenos suas palavras todas não tenho culpa não tenho culpa eram de quem pedia cativa-me eu já não conseguiria bem lento eu não conseguiria eu não sei mais inventar a não ser coisas sangrentas como esta a minha maneira de ser um momento a beira de não mais ser não me permite um invento que seja apenas um entrecaminho para um outro e outro invento mesmo a destruição tem que ser final e inteira qualquer coisa tem que ser a última uma era inteira e a outra nascia da cintura e existia só da cintura para cima como um ipsilone mole esponjoso uma carne vil uma carne preparada por toda uma estrutura de guerras epidemias pestes ódios quedas eu me sentia culpado ao vê-las assim nosso podre sangue a humanidade inteira nelas que não riam e cantavam aquela sombria canção de morte brutalmente doce elas cantavam e minhas costas doíam como se eu sozinho as sustentasse e não uma à outra mas eu eu com este sangue apodrecido que assassina crianças de fome droga adolescentes bombardeia cidades e também você e todos nós grudados indissoluvelmente grudados nojentos mas me recuso a continuar ninguém sofrerá por mim sem mim chorar ninguém entende nem precisa nem você nem eu o anel que tu me deste sobre a folha que me contém sem compreender sem compreender que você carrega toda uma culpa milenar e imperdoável a História como concreto sobre os teusmeusnossos ombros Cristo sobre nossos ombros todas as cruzes do mundo e as fogueiras da Inquisição e os judeus mortos e as torturas e as juntas militares e a prostituição e doenças e bares e drogas e rios podres e todos os loucos bêbados suicidas desesperados sobre os teusmeusnossos ombros leves os teus porque não sabes sim sim eu tenho culpa não é de ninguém esse desgosto de lâmina nas entranhas não é de ninguém esse sangue espantado e esse cosmos incompreensível sobre nossas cabeças não posso ser salvo por ninguém vivo e os mortos não existem a fita está acabando começo a ficar tonto a dormência chegou quem sabe ao coração talvez eu pudesse eu soubesse eu devesse eu quisesse quem sabe mas não chore nem compreenda te digo enfim que o silêncio e o que sobra sempre como em García Lorca solo resta el silencio un ondulado silencio os espaços de tempo a nos situar fragmentados no tempo espaço agora não sei onde fiquei onde estive onde andei nada compreendi desta travessia cega a mesma névoa do parque outra vez a mesma dor de não ser visto elas gritam sua canção de morte este sangue nojento escorrendo dos meus pulsos sobre a cama o assoalho os lençóis a sacada a rua a cidade os trilhos o trigo as estradas o mar o mundo o espaço os astronautas navegando por meu sangue em direção a Netuno e rindo não não quebres nunca os teus invólucros as tuas formas passa lentamente a mão do anel que eu te dei e era vidro depois ri ri muito ri bêbado ri louco ri até te surpreenderes com a tua não dor até te surpreenderes com não me ver nunca mais e com a desimportância absoluta de não me ver nunca mais e com minha mão nos teus cabelos distante invisível intocada no vento perdida a minha mão de espuma abrindo de leve esta porta assim:
Caio Fernando Abreu, in: Inventário do Ir-remediável
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Banda Devassa - "Marina Julia" - Praça Marechal Mauricio Cardoso. Vídeo ...
ACORDA BRASIL !!!! ÉTICA PARA O JOVEM...  (e para toda a vida).André Carvalho Badini dos Santos. "A maior revolução de nossos tempos é a descoberta de que ao mudar as atitudes internas nas mentes, os seres humanos podem mudar os aspectos externos de suas vidas".(Willian James). Não há distinção sobre quem deve se preocupar com a conduta ética. Reputa-se a todos: professores, calouros, jovens e idosos. Assim como uma vida virtuosa se condensa a prática reiterada e contínua das virtudes, em consonância ao que aduz "Aristóteles" ao veicular que:>>> “uma andorinha só não faz verão”, o exercício ético não tem termo final. Apreender os conceitos éticos e empenhar-se em vivenciá-los deve ser atarefa perpassada por toda vida... A construção da "BASE" da estrutura da personalidade humana se dá na infância, onde por todas as injunções externas a criança, ao passo que se desenvolve, progressivamente absorve e refuta o mundo moral. Torna-se profícuo, portanto, desde já receber ensinamentos que o conduza a ter postura compatível com a convivência social. Para que ao deixar o mundo da heteronomia e principiar questionamentos de propriedade da autonomia (será que é certo, verdadeiro, válido tudo o que foi-me ensinado desde a mais tenra idade e, que abstrai e aprendi a minha revelia, antes de poder utilizar do pleno uso da minha razão?), granjeie respostas condizentes aos valores éticos/morais indispensáveis à manutenção da vida social. De fato é forçoso ensinar a criança valores éticos como a lealdade, o companheirismo, a solidariedade, o patriotismo ou a cortesia, porquanto estamos imersos numa sociedade competitiva, hedonista e voltada para o consumo em que se buscam apenas a individualidade do “estar por cima de todos”. Numa sociedade em que a marginalização, a criminalidade como ferramenta irremediável para ascensão social e manutenção da própria vida em decorrência do Estado anômico, em que a impunidade esta de laços atados às improbidades e corrupções, não somente políticas, mas do próprio ser enquanto humano, sociedade da indiferença, despreocupada com os deficientes físicos, com os idosos, que agride a natureza e o patrimônio alheio, transforma-se professor truculento das futuras gerações. Mas isso não pode ser causa de arquivamento dos projetos de torna-la ideal. Deve-se formar novos paradigmas frutos do ideal de formação em que a razão e a informação são imperativos. Como nas palavras de Lanini:   >>> “se a humanidade não se converter e não vivenciar a solidariedade, pouca esperança haverá de subsistência de um padrão civilizatório preservador da dignidade”. Estamos "omissos" em legar às futuras gerações o exemplo, considerado pelo anexim a melhor lição. Somos conformistas aos diabos sociais como egoísmo, hedonismo e o consumismo. Preocupamo-nos em primeiro lugar conosco e em seguida com o próximo, dispostos a pisar em quem quer que seja para satisfação dos nossos desejos. Vislumbra-se hedonismo exacerbado nos indivíduos, jovens principalmente, que pregam o prazer a qualquer custo e conversão da vida numa eterna festa. Curtição inconsequente, festas, sexo sem preservação e bebedeiras “é o que há”. E o que há, em verdade, são inversões de valores em que jovens, cada vez mais jovens, ao, (a título ilustrativo, alcoolizarem-se e drogarem-se sentem-se dentro dos padrões socialmente aceitos e até exigíveis). Senão, inexiste melhor demonstração de independência, maturidade e sociabilidade do que a supracitada. Instaurou-se crise de valores. A solução, irremediavelmente, resvala-se a problemática da cultura e educação a latu sensu. Reclama-se ao jovem vença as disputas competitivas dos certames sexuais, esportivos, sociais, profissionais e lúdicos. Exige-se cada vez mais vitória imediata, como se o mundo fosse acabar amanha adotando-lhe, por corolário, pressa na conquista e usufruto tas benesses a qualquer custo. Em uma sociedade valorizadora do produto consumista e supérfluo desprezam-se valores e preocupam-se tão somente com tudo que seja permanente desfrute e prazer. O âmago da nossa vida trabalha com o certo e o errado. Portanto temos ainda maior responsabilidade de conhecer a ética e a moral. Devemo-nos entalhar o quanto antes na formação subjetiva ética vez que ao se afrontar a vida deparamo-nos com normativa ética bem definida, frisa-se na vida profissional em que todas as profissões, a citar, advogados, juízes, promotores, médicos, engenheiros, enfim, possuem um código de ética que nada mais é do que a positivação das normas éticas convolando-a à norma bem definida e mais eficaz quanto a finalidade de forma que se tornem imperativo atributivo e exigível, inclusive com ferramentas de coerção. Quando discutimos os problemas da vida e das sociedades deparamo-nos com abundantes discursos e esquecemos de debater com mais intensidade suas resoluções éticas. Um dos viés seria a intensificação do discurso ético da vida, adentrando ao rol da infância, da juventude e da velhice, do aprendiz, do acadêmico e do profissional. Não podemos nos olvidar que a omissão e o descaso quanto à exigibilidade de atitudes morais e valores éticos, seja deixando de exigir dos governantes a não se corromper, dos filhos a respeitar os pais e ao próximo, dos estudantes a não colar e plagiar trabalhos, bem como dos professores em não se cederem aos incessantes pedidos de deturpação dos resultados das notas de provas ou métodos de avaliação, dos policiais a não se subornar, enfim, acaba por incutir na consciência da sociedade a pouca importância, ou talvez nenhuma importância, que apresentamos ao que seja correto, justo e ético. A observância de se realizar ações condizentes a lei e a moral não se pode ser limitada por sentimento de obrigação ou medo de eventual cominação em não faze-lo, mas por livre e intima convicção de que é o correto ter determinado comportamento. Devemos apreender a lição do pensador idealista "Descartes" que elaborou dossiê de sua vida intentando melhorar-se enquanto ser humano. Precisamos tentar fazer curriculum de si mesmo. Inventário crítico dos créditos e débitos que obtivemos com a vida (pessoal, profissional ou familiar), com o colégio e os professores e outrossim com os livros que tivemos oportunidade de ler e não lemos. Libertar-nos dos preceptores, abandonar as reflexões fúteis e convolar-nos a um ser que busca a auto-evolução, especialmente moral, e que somente se pode ser encontrado em nós mesmos ou na grande obra do mundo. Feito isto e observando tendência altruísta, elabore seu próprio Código de Ética, com todos seus efeitos e resultado deste dossiê, e empenhe-se em praticá-lo. Ter "agir moral" mostra-se essencial neste século em que se conjectura sinais de esperança. Enquanto houver quem se preocupe em exigir, propagar e praticar as virtudes e preceitos éticos, em lutar por "justiça justa" (desculpem-me o pleonasmo), quem defenda uma árvore, um animal em extinção, ajude alguém que está em dificuldade, procure sanar os "gravames do mundo" (seja doença, violência, preconceito ou indiferença), há sinais de que nem tudo está perdido. (André Carvalho Badini). ACORDA BRASIL !!!!
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parkchaeyoungworld · 12 years
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"Compreenda, eu só preciso falar com você. Não importam as palavras, os gestos, não importa mesmo se você continua a fugir e se empareda assim, se olha para longe e não me ouve nem vê ou sente. Eu só quero falar com você, escute." - Caio Fernando Abreu.
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naturalbrunett3 · 6 years
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sentada aqui, desde não sei quando, olho à esquerda, olho em frente, em cima olho quase tonta de não encontrar, olham também da mesa ao lado, já perguntei as horas duas vezes, não, três, o cara respondeu direito da primeira vez, da segunda me olhou oblíquo, na terceira comentou qualquer coisa com a mulher, deve ter dito coitada, levou o bolo, me dá nojo, não exatamente nojo, que é uma coisa de estômago que se derrama viscosa pelos outros, atingindo tudo em torno, esverdeada, não, nem ódio, que é grande demais, não cabe dentro de mim, da minha arquitetura frágil de mulher magra, as pernas finas suportando não sei como os ombros e o tamanho dos olhos, o ódio seria demais, eu tropeçaria toda atrapalhada com meu próprio peso, a raiva é mais mansa e eu me sinto capaz de suportá-la, a raiva cabe em mim porque não permanece, e as coisas só adentram em mim quando podem escapar em seguida, eu sufoco, sei bem, sufoco e quase esmago as coisas, as gentes também, apenas ultrapassam numa rapidez de quem não olha para trás e vai seguindo em frente, fraca demais para ser barreira, transparente, porosa feito cortina de fumaça, não, não exata mente, a fumaça ao menos faz os olhos ficarem vermelhos, provoca tosse, eu não consigo abalar ninguém, um plástico, material sintético, teve pena certa, eu não quero que tenham pena de mim, dói mais que tudo os outros olhando de cima, constatando a fraqueza nossa, a nossa inferioridade, quero que me olhem do mesmo plano, se ele quer comentar alguma coisa com sua companheira que diga lembra? uma vez que eu também esperei por você assim, você não vinha, não vinha nunca, eu fumava, eu bebia, eu esperava e você não vinha, mas acabou vindo e está aqui, agora, vendo uma moça que espera como eu esperei você naquele dia, parece que daqui a pouco ele vai me dizer as horas sem eu perguntar, não como se estivesse se dobrando num jeito de amigo, mas como se me agredisse lançando a espera inútil no meu rosto, esqueci completamente as horas, não sei se estou aqui desde ontem, desde sempre, parece que já choveu, já fez vento e garoa, que o amarelo das folhas sobre a calçada é do outono passado, não deste, parece que já é inverno gelando agente por dentro, que o verão pesa nas pálpebras tornando lentos os gestos, dessa preguiça no andar como se a cada instante a gente morresse, mas esse salto por dentro é primavera impulsionando para um verde renascido, garoa morna, fina, quieta nesse jeito de colocar os olhos longe, um longe despido de barreiras, ah essa toalha azul axadrezada de branco, o círculo úmido do copo onde uma mosca se debate, a minha bolsa, o maço quase vazio de cigarros, duas garrafas vazias de coca-cola, o cinzeiro cheio de pontas, essa música indefinida machucando por dentro, como se estivesse desde sempre aqui, escorregando devagar, as notas feito pingos de chuva na vidraça abaixada, vontade de dizer um palavrão, esses dois me olhando, assim, gozando, rindo da minha espera, mesmo o garçom de paletó branco, um dente de ouro na frente, vai escurecendo, trinta e duas tábuas no teto, gente saindo, passando, tivesse ao menos um jornal para disfarçar, não adianta, que horas serão, meu deus, não quero perguntar outra vez, vai ficar muito evidente, já mudei mil vezes de posição na cadeira, não encontro o jeito, seria necessário um jeito específico de esperar, é medo o que eu tenho? não sei, de repente me encolho toda; um movimento interior de defesa eriçado por um sentimento que desconheço, da mesa ao lado eles levantam, vão saindo, indo embora lentos, o garçom desaparece ao lado do balcão, começa a anoitecer, todos os relógios estão parados, não sei se é ontem, se hoje ou amanhã, se é sempre, se nunca mais, estou solta aqui, completamente só, não há relógios, não há relógios e o tempo avança liberto, sem fronteiras nem limitações, uma bola de arame farpado, o sentimento vai se adensando em mim, transborda dos olhos, das mãos, sai pela boca em forma de fumaça, sinto meus lábios ressequidos, machucados, o gosto amargo, a bola cresce estendendo tentáculos, no meio dela eu me encolho cada vez mais, presa num círculo que cresce até explodir na vontade contida de gritar bem alto, bem fundo, rouca, exausta, correndo, esmagando as folhas de um outro outono, de um outro tempo, ainda este, o tempo, o outono, a tarde, o mundo, a esfera, a espera em que estou para sempre presa.
 inventário do irremediável, caio fernando abreu
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Banda Devassa - Rio. - XXII MAREXAER 2017 - "Pista de Pentatlo Militar" ...
ACORDA BRASIL !!!! ÉTICA PARA O JOVEM...  (e para toda a vida).André Carvalho Badini dos Santos. "A maior revolução de nossos tempos é a descoberta de que ao mudar as atitudes internas nas mentes, os seres humanos podem mudar os aspectos externos de suas vidas".(Willian James). Não há distinção sobre quem deve se preocupar com a conduta ética. Reputa-se a todos: professores, calouros, jovens e idosos. Assim como uma vida virtuosa se condensa a prática reiterada e contínua das virtudes, em consonância ao que aduz "Aristóteles" ao veicular que:>>> “uma andorinha só não faz verão”, o exercício ético não tem termo final. Apreender os conceitos éticos e empenhar-se em vivenciá-los deve ser atarefa perpassada por toda vida... A construção da "BASE" da estrutura da personalidade humana se dá na infância, onde por todas as injunções externas a criança, ao passo que se desenvolve, progressivamente absorve e refuta o mundo moral. Torna-se profícuo, portanto, desde já receber ensinamentos que o conduza a ter postura compatível com a convivência social. Para que ao deixar o mundo da heteronomia e principiar questionamentos de propriedade da autonomia (será que é certo, verdadeiro, válido tudo o que foi-me ensinado desde a mais tenra idade e, que abstrai e aprendi a minha revelia, antes de poder utilizar do pleno uso da minha razão?), granjeie respostas condizentes aos valores éticos/morais indispensáveis à manutenção da vida social. De fato é forçoso ensinar a criança valores éticos como a lealdade, o companheirismo, a solidariedade, o patriotismo ou a cortesia, porquanto estamos imersos numa sociedade competitiva, hedonista e voltada para o consumo em que se buscam apenas a individualidade do “estar por cima de todos”. Numa sociedade em que a marginalização, a criminalidade como ferramenta irremediável para ascensão social e manutenção da própria vida em decorrência do Estado anômico, em que a impunidade esta de laços atados às improbidades e corrupções, não somente políticas, mas do próprio ser enquanto humano, sociedade da indiferença, despreocupada com os deficientes físicos, com os idosos, que agride a natureza e o patrimônio alheio, transforma-se professor truculento das futuras gerações. Mas isso não pode ser causa de arquivamento dos projetos de torna-la ideal. Deve-se formar novos paradigmas frutos do ideal de formação em que a razão e a informação são imperativos. Como nas palavras de Lanini:   >>> “se a humanidade não se converter e não vivenciar a solidariedade, pouca esperança haverá de subsistência de um padrão civilizatório preservador da dignidade”. Estamos "omissos" em legar às futuras gerações o exemplo, considerado pelo anexim a melhor lição. Somos conformistas aos diabos sociais como egoísmo, hedonismo e o consumismo. Preocupamo-nos em primeiro lugar conosco e em seguida com o próximo, dispostos a pisar em quem quer que seja para satisfação dos nossos desejos. Vislumbra-se hedonismo exacerbado nos indivíduos, jovens principalmente, que pregam o prazer a qualquer custo e conversão da vida numa eterna festa. Curtição inconsequente, festas, sexo sem preservação e bebedeiras “é o que há”. E o que há, em verdade, são inversões de valores em que jovens, cada vez mais jovens, ao, (a título ilustrativo, alcoolizarem-se e drogarem-se sentem-se dentro dos padrões socialmente aceitos e até exigíveis). Senão, inexiste melhor demonstração de independência, maturidade e sociabilidade do que a supracitada. Instaurou-se crise de valores. A solução, irremediavelmente, resvala-se a problemática da cultura e educação a latu sensu. Reclama-se ao jovem vença as disputas competitivas dos certames sexuais, esportivos, sociais, profissionais e lúdicos. Exige-se cada vez mais vitória imediata, como se o mundo fosse acabar amanha adotando-lhe, por corolário, pressa na conquista e usufruto tas benesses a qualquer custo. Em uma sociedade valorizadora do produto consumista e supérfluo desprezam-se valores e preocupam-se tão somente com tudo que seja permanente desfrute e prazer. O âmago da nossa vida trabalha com o certo e o errado. Portanto temos ainda maior responsabilidade de conhecer a ética e a moral. Devemo-nos entalhar o quanto antes na formação subjetiva ética vez que ao se afrontar a vida deparamo-nos com normativa ética bem definida, frisa-se na vida profissional em que todas as profissões, a citar, advogados, juízes, promotores, médicos, engenheiros, enfim, possuem um código de ética que nada mais é do que a positivação das normas éticas convolando-a à norma bem definida e mais eficaz quanto a finalidade de forma que se tornem imperativo atributivo e exigível, inclusive com ferramentas de coerção. Quando discutimos os problemas da vida e das sociedades deparamo-nos com abundantes discursos e esquecemos de debater com mais intensidade suas resoluções éticas. Um dos viés seria a intensificação do discurso ético da vida, adentrando ao rol da infância, da juventude e da velhice, do aprendiz, do acadêmico e do profissional. Não podemos nos olvidar que a omissão e o descaso quanto à exigibilidade de atitudes morais e valores éticos, seja deixando de exigir dos governantes a não se corromper, dos filhos a respeitar os pais e ao próximo, dos estudantes a não colar e plagiar trabalhos, bem como dos professores em não se cederem aos incessantes pedidos de deturpação dos resultados das notas de provas ou métodos de avaliação, dos policiais a não se subornar, enfim, acaba por incutir na consciência da sociedade a pouca importância, ou talvez nenhuma importância, que apresentamos ao que seja correto, justo e ético. A observância de se realizar ações condizentes a lei e a moral não se pode ser limitada por sentimento de obrigação ou medo de eventual cominação em não faze-lo, mas por livre e intima convicção de que é o correto ter determinado comportamento. Devemos apreender a lição do pensador idealista "Descartes" que elaborou dossiê de sua vida intentando melhorar-se enquanto ser humano. Precisamos tentar fazer curriculum de si mesmo. Inventário crítico dos créditos e débitos que obtivemos com a vida (pessoal, profissional ou familiar), com o colégio e os professores e outrossim com os livros que tivemos oportunidade de ler e não lemos. Libertar-nos dos preceptores, abandonar as reflexões fúteis e convolar-nos a um ser que busca a auto-evolução, especialmente moral, e que somente se pode ser encontrado em nós mesmos ou na grande obra do mundo. Feito isto e observando tendência altruísta, elabore seu próprio Código de Ética, com todos seus efeitos e resultado deste dossiê, e empenhe-se em praticá-lo. Ter "agir moral" mostra-se essencial neste século em que se conjectura sinais de esperança. Enquanto houver quem se preocupe em exigir, propagar e praticar as virtudes e preceitos éticos, em lutar por "justiça justa" (desculpem-me o pleonasmo), quem defenda uma árvore, um animal em extinção, ajude alguém que está em dificuldade, procure sanar os "gravames do mundo" (seja doença, violência, preconceito ou indiferença), há sinais de que nem tudo está perdido. (André Carvalho Badini). ACORDA BRASIL !!!!
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