Tumgik
#Ela nasceu Clarice
temumaneurose · 1 year
Text
Clarice,
Eu quero te dar esse nome quando sua existência for concreta e não sonhada. Sempre disse que, se tivesse uma filha, ela se chamaria assim. Mas Clarice, minha filha, se este nome não te servir te deixarei livre para escolher.
Que estranho escrever “minha filha”, acho que vou dizer em voz alta para me testar aqui.
Pronto.
Alguma coisa explodiu em mim. Eu aceito o estranhamento indigesto. Nunca achei que diria a alguém essas palavras: minha e filha.
Você não existe ainda e nem sei se um dia será gerada, mas você já nasceu no imaginário de algumas pessoas que eu conheço. Transitou por alguns sonhos sempre muito perto e muito parecida comigo. Eu, que nunca quis alguém com os traços já rejeitados, agora quero ver como seria ter um pouco de mim em outro.
Mas acho que estou te escrevendo uma carta. A você que nem existe, que nem é um plano, ideia ou desejo. Por enquanto um estranhamento incômodo de uma noite de insônia.
Amanhã será um dia importante. Estou gestando uma mudança. E sempre que penso em renovação de ciclos comparo com a ideia de um nascimento: algo muda para sempre o curso da vida diante daquilo que nasce. O primeiro dia da existência de algo ou alguém ficará na memória como um quadro em um museu, uma fotografia em um álbum antigo, uma dedicatória em um livro.
Clarice. Te escrevo para que um dia saiba que antes dos inúmeros papéis que exerci (e agora esse) eu também fui escritora. E antes de escrever esse parágrafo pensei em encerrar mais cedo ou mudar de assunto, porque essa é a vantagem de quem escreve: manipular destinos. Mas estou aceitando o meu que é a escrita. Feito sina ou carma, quanto mais evitado, mais sentido em todas as suas formas.
Não te idealizo nada porque viver por si só já é uma espera angustiante. Queria apenas te dar a mão e conhecer o mundo pelos seus olhos como se fosse a primeira vez.
Espero que goste de andar comigo.
Acho que isso é ser mãe.
É?
Você me diz.
Até um dia.
14 notes · View notes
olhomagico · 1 year
Text
"ME PERDI COMPLETAMENTE" | Clarice Lispector ENTREVISTA
Júlio Lerner: Boa noite. Esta é uma entrevista que foi gravada em fevereiro de 1977 com a escritora Clarice Lispector. A pedido dela, esta entrevista só está sendo apresentada agora, depois da sua morte. Clarice Lispector morreu em dezembro de 1977. Ela nasceu na Ucrânia e veio para o Brasil com dois meses de idade. Viveu no Recife até os 14 anos e depois se mudou para o Rio de Janeiro. Foi…
Tumblr media
View On WordPress
0 notes
soniafragadias · 1 year
Photo
Tumblr media
E assim ela foi o que ela queria ser,aonde ela quiser. Eu sou uma eterna apaixonada por palavras, música e pessoas inteiras. Não me importa seu sobrenome, onde você nasceu, quanto carrega no bolso. Pessoas vazias são chatas e me dão sono... Clarice Lispector Como amo Clarice! ________________________________________________________ . . . Follow 👉@soniafragadias👈 . . . #boatardee #boatardinha #boatardinhaa #pessoasvazias #pessoastoxicas #pessoasfalsas #soniafragadiasdesigner #soniafragadias #soniafragadiasdesign (em Aventura, Florida) https://www.instagram.com/p/CmO_rMTOxcP/?igshid=NGJjMDIxMWI=
0 notes
aguavivaa · 1 year
Text
Hoje é aniversário de Clarice e li Clarice! Ela se foi, mas a obra fica e ressoa...
E concidentemente li a mesma página que havia lido no seu aniversário em maio... 
Voltei a ler Água Viva tem pouco tempo e agora percebo que foi perto da data que Clarice se foi... e nasceu: um dia após o outro. Coincidência.
1 note · View note
Text
Clarice Lispector 
Tumblr media
Clarice Lispector nasceu em 10 de dezembro de 1920 em Chechelnyk, na Ucrânia. Sua família tinha origem judaica e emigraram para o Brasil em março de 1922, fixando-se na cidade de Maceió, Alagoas. Por iniciativa de seu pai, todos da família mudam de nome e Chaya então passou a se chamar Clarice.
Em 1925, a família muda-se para a cidade do Recife.
Clarice cresceu ouvindo iídiche, o idioma dos seus pais. Também estudou inglês, francês e aprendeu a ler e escrever com muita facilidade.
Tumblr media
Com nove anos ficou órfã de mãe e em 1931 ingressou no Ginásio Pernambucano, considerado na época o melhor colégio público da cidade.
Em 1937 sua família muda-se para o Rio de Janeiro, no Bairro da Tijuca. Ingressou no Colégio Sílvio Leite e se tornou frequentadora assídua da biblioteca. Cursando Direito, com apenas 19 anos publicou “Triunfo”, seu primeiro conto; no semanário “Pan”.
Tumblr media
Em 1943, formou-se em Direito e casou-se com o amigo de turma Maury Gurgel Valente. No mesmo ano, estreia na carreira literária com o romance "Perto do Coração Selvagem". A obra agradou a crítica e conquistou o Prêmio Graça Aranha.
Tumblr media
O marido de Clarice era diplomata do Ministério das Relações Exteriores e ela o acompanhava nas constantes viagens. Assim conheceu Itália, Inglaterra, Estados Unidos e Suíça. Em 1959, Clarice se separa do marido e retorna ao Rio de Janeiro.
Começou a trabalhar no Jornal “Correio da Manhã”, escrevendo a coluna Correio Feminino. Em 1960 trabalhou no Diário da Noite, sendo responsável pela coluna Só Para Mulheres e também lançou "Laços de Família", um livro de contos que recebeu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro.
Em 1961 publicou "A Maçã no Escuro", conquistando o prêmio de melhor livro do ano em 1962.
Tumblr media
Em 1966, a autora dormiu com um cigarro aceso e sofreu várias queimaduras no corpo. Depois de várias cirurgias, opta pelo isolamento e dedica sua vida a escrever.
No ano seguinte publicou crônicas no “Jornal do Brasil” e lançou "O Mistério do Coelho Pensante". Tornou-se integrante do Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro.
Em 1969 recebeu o prêmio do X Concurso Literário Nacional de Brasília.
Tumblr media
Em 1977 lançou "A Hora da Estrela", o seu último romance publicado em vida. A obra ganhou adaptação audiovisual e foi premiada no festival de cinema de Brasília em 1985. No ano seguinte, conquistou o Urso de Prata em Berlim.
Clarice Lispector morreu no Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro de 1977. Seu sepultamento foi realizado no cemitério Israelita do Caju, zona norte da cidade.
Tumblr media
Prêmios:
Prêmio Graça Aranha (1943)
Prêmio Carmem Dolores Barbosa (1961)
Prêmio Jabuti (1961 1978)
Ordem do Mérito Cultural (2011)
Tumblr media
Algumas obras:
Perto do Coração Selvagem, 1944
O Lustre, 1946
A Cidade Sitiada, 1949
Alguns Contos, 1952
Laços de Família, 1960
A Maçã no Escuro, 1961
A Paixão Segundo G.H., 1961
A Legião Estrangeira, 1964
O Mistério do Coelho Pensante, 1967
A Mulher Que Matou os Peixes, 1969
Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres, 1969
Felicidade de Clandestina, 1971
Água Viva, 1973
Imitação da Rosa, 1973
A Via Crucis do Corpo, 1974
A Vida Íntima de Laura, 1974
A Hora da Estrela, 1977
Tumblr media
0 notes
toninhoeuzebio · 2 years
Photo
Tumblr media
Que honra participar de um projeto tão lindo, criado por esse cara talentosíssimo que é o André Curvello. #Repost @curvello_andre with @make_repost ・・・ Nasceu! Apresento hoje o projeto com que venho sonhando nos últimos anos: Era Outra Vez. É a primeira série original do @gigagloob ! Tudo isso começou há dez anos, quando minha filha mais velha, a Antônia, nasceu. Comecei, então, a criar e contar histórias pra ela antes de dormir. Com a chegada da Clarice, intensifiquei a produção e despertei o sonho de compartilhar essas histórias com outras crianças. Foi aí que meu grande amigo @teuzebio entrou em cena, com imenso talento e sensibilidade. Toninho, você é um gênio! Trabalhamos muito! E nos divertimos muito também. Agradeço à @patriciaschdias , pela paciência e força que me deu em todos os momentos. E, principalmente, por ter me ajudado a ser o pai que me tornei (cheio de defeitos, mas feliz!). Agradeço aos meus pais, pelas histórias que ouvi quando criança, pelo afeto e amor que até hoje nutrem por mim. Valeu, @fatimabernardes , por ter me incentivado desde o primeiro momento que compartilhei contigo a minha ideia. E, claro, obrigado à turma do Giga Gloob por ter acreditado nesse projeto! Deixo também meu agradecimento a um cara de quem virei fã: @rodrigodemarsillac , que arrasou na produção musical da série! Por tudo isso, hoje estou muito feliz!! Então, não perca tempo. Reúna a família e apresente esse trabalho para sua criança.  ERA OUTRA VEZ... #eraoutravez https://www.instagram.com/p/Ce3r2S6FLxO/?igshid=NGJjMDIxMWI=
0 notes
callmepad · 2 years
Text
Tumblr media
Após o desquite com Fernando Lobo, Anna permaneceu na casa onde nasceu e passou toda a vida. Seu filho mais velho, Danilo foi com o pai, na época o rapaz tinha 15 anos e decidiu ficar com o pai. Já a pequena Clarice ficou com a mãe.
E mesmo tendo sua família se dissolvido, Anna tentou de sua forma, dar um lar decente para a menina. E ao longo dos anos as duas se tornaram muito próximas, algo que infelizmente Anna não pode ter com a mãe.
Tumblr media
Com a idade avançando, Anna percebeu que poderia ter feito escolhas melhores para a própria vida. Um de seus arrependimentos foi ter escondido de Fernando seu trabalho no cabaré da cidade. Isso custou a sua família, ainda mais agora, que Danilo se tornou pai, mas se recusa a deixa-la conhecer a neta.
Tumblr media
Apesar de tudo, Clarice cresceu rodeada de muito amor. Assim que completou 6 anos seu pai faleceu pela idade, ela sofreu muito, já que tinha passado longos anos distante dele. Agora só ficou as poucas lembranças dele.
Tumblr media Tumblr media
E mesmo com todos os acontecimentos que ocorreram na vida de Anna, como a perda precoce do pai, ela se sente realizada com tudo que conquistou ao longo dos anos.
1 note · View note
jornalgrandeabc · 3 years
Text
Uma história de amor aos livros: Ela nasceu Clarice
Uma história de amor aos livros: Ela nasceu Clarice
O lançamento “Ela nasceu Clarice”, obra escrita por Ana Rapha Nunes, ilustrada por Ana Laura Alvarenga, e editada pela Compor Editora, do Grupo Editorial Lê, trazuma homenagem à escritora Clarice Lispector, que teve o centenário comemorado noúltimo mês de dezembro. O livro conta a história de uma menina chamada Clarice, que terá a leitura como companheira de vida desde a infância. Um dia, ela…
Tumblr media
View On WordPress
0 notes
reginamoraesbh · 3 years
Text
Tumblr media
A escrita como processo curativo
Foram mais de 50 anos ouvindo falar sobre a história da vida de Anne Frank e seu famoso livro. Nunca o havia lido. Não por falta de interesse, mas por pura procrastinação não deliberada, daquelas coisas que a gente vai adiando sem perceber.
Por uma conjunção de fatores, e após ganhar o livro de presente de uma grande amiga, decidi lê-lo. Não havia melhor hora para isso. Nada acontece por acaso – definitivamente a cada dia que passa, tenho mais certeza de que essa expressão não é um clichê. É a vida (sempre astuta e manhosa) me entregando, de acordo com a sua conveniência e não a minha, determinados eventos no exato momento em que se necessita deles.
Um diário escrito por uma menina judia, entre seus 13 e 15 anos, coincidentemente presa num confinamento, claro que em condições extremamente piores e mais aterrorizantes do que este que tem sido imposto à humanidade inteira por causa da pandemia do Covid 19, desde o início de 2020. Um conteúdo que se pretendia que permanecesse nos limites de sua vida privada e que foi escrito de maneira despretensiosa. É disso que se trata o livro. Mas o que mais me chama a atenção para a história de Anne é como a escrita do seu diário a salvou e a redimiu, de certa forma, para sempre.
A poeta mineira Conceição Evaristo, de origem pobre e etnia negra, ensina, com uma sabedoria infinita, que “a escrita tem o poder de diluir a dor”. Apesar de Anne Frank ter morrido em 1945, um ano antes de Conceição Evaristo nascer, este sentimento é algo que, para mim, as conecta e que me leva à reflexão proposta aqui.
Não consigo explicar com clareza o que sempre me fez gostar ou querer escrever. Sempre gostei de ter e escrever diários. Os que escrevi (principalmente ao longo da minha adolescência e juventude) nem os tenho mais. Mas este é um modo de me expressar que nunca me abandonou.
Luis Felipe Angell de Lama, escritor peruano também conhecido pelo pseudônimo Sofocleto, revela que “escrever é uma maneira de falar, sem sermos interrompidos”. Talvez esteja aí uma das maiores motivações de quem se sente impelido a escrever, sobretudo quando se trata de aliviar o sofrimento.
O que me leva a crer que escrever é catarse: é exorcizar-se, desapegar-se, entregar-se, revelar-se sem pudor. Até mesmo sem se importar se algum dia o que foi escrito será lido por alguém. “Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância”, assim se expressa Fernando Pessoa, um de meus escritores e poetas preferidos, sobre o ato de escrever. A escrita é libertadora neste sentido, ela importa, na verdade, mais para quem escreve do que para quem lê.
A própria Anne Frank relata em seu diário que o melhor de tudo é que ela pode escrever, ao passar a viver totalmente escondida por dois anos, até que ela e sua família fossem levados para um campo de concentração nazista. Segundo ela, se não pudesse escrever se sentiria asfixiada por completo. Entendo-a perfeitamente. Quem já leu o livro, possivelmente irá compreender que ela teria morrido ou se matado caso não tivesse conseguido se expressar através dos seus escritos.
Júlio Cortázar, escritor argentino e um dos mais aclamados autores latino-americanos de todos os tempos, costumava dizer que se sentia obrigado a escrever um conto, a fim de evitar que algo muito pior acontecesse. Com ele mesmo provavelmente.
A escrita torna-se um potente bálsamo quando se está diante de situações que ou não podem ser vividas de outra forma ou se deseja tentar traduzir em palavras sentimentos com os quais torna-se impossível lidar total ou parcialmente. Expressar-se através da palavra ou da interação com outrem pode ser importante, mas não funciona para todos ou em todos os momentos. Sob esse aspecto, não é raro que se torne caso de vida ou morte deixar que a pena fale mais do que a língua. Para não se sufocar de vez, é necessário respirar. Ou escrever. O que dá no mesmo.
Saramago, autor de tantos títulos complexos a olhos que se lançam sobre sua leitura numa primeira tentativa (já que não é possível ler Saramago apenas uma vez para entendê-lo), preconizava que “escrevemos porque não queremos morrer. É esta a razão profunda do ato de escrever”. Vou além, com a devida licença de Saramago, e digo que este “morrer” a que ele se refere possui, para mim, dois importantes significados: o de escrever, na tentativa de não morrer sufocado, como eu já disse antes, com o que se necessita que seja posto para fora; e talvez a prepotência de se achar no direito de pensar que, apesar de morrer ser um fato inevitável, o que se deixa escrito permanece eterno.
A maturidade, os acontecimentos vividos, a imensa dificuldade em lidar com a complexidade que é a vida, quando se pensa muito, quando se estuda, se lê muito e se informa muito, quando se questiona quase tudo, quando se chega à conclusão de que quase nada pode ser controlado, mesmo quando obssessivamente planejado, me trouxe até aqui. Ao ato de desejar escrever. Na esperança de que este é um caminho para a salvação. Não a salvação do ponto de vista espiritual, mas de augúrio, de sublimação do que se sente e se vive.
Tenho alma e atitude inconformistas por natureza. Recentemente, minha mãe me contou que, quando eu era um bebê, tinha que lidar constantemente com minhas inúmeras birras e pirraças e pensava consigo que “essa menina já nasceu brigando com o mundo”... Ter tido conhecimento disso, embora talvez mais tarde do que deveria (aqui cabe a pergunta: “mais tarde” como se não se tem controle sobre nada???) contribuiu muito para que eu hoje possa compreender e até tentar conviver mais pacificamente com quem sou, quem me tornei e por quê.
Percebo que essa minha eterna sensação de incompletude me levou, entre outras razões, a buscar me revelar também pela escrita. Não importa se boa ou ruim aos olhos de um eventual leitor. O que importa é não enlouquecer, não me esvair em mim mesma.
Clarice Lispector – uma das autoras que mais me inspira, me provoca, me joga no abismo e depois me resgata (me resgata mesmo?) cada vez mais questionadora do mundo, das coisas, das pessoas e do sentido de viver e de pertencer a esse mundo e da qual até já perdi a conta de quantos livros li (o último, que li em agosto desse ano, foi “A paixão segundo G. H.”, um verdadeiro soco na boca de qualquer estômago) -, disse uma vez: “Eu quero a verdade que só me é dada através do seu oposto, de sua inverdade. E não aguento o cotidiano. Deve ser por isso que escrevo”.
Acho que é isso.
Criado em: 18/10/2020
Foto: Regina Moraes (Out/2020)
5 notes · View notes
re-can-to · 3 years
Text
chorar pela escrita me reconfigura
a vida vai acontecendo e eu pensando que quero escrever, quero escrever, estou sufocada pelas próprias lágrimas que não puderam descer em forma de escrita. eu penso que choro pelos olhos e pela mão. tenho chorado mais pelos olhos porque demanda menos tempo e é mais automático. mas eu sinto falta de chorar pelas mãos. chorar pelas mãos é quando a vida lá fora, durante alguns momentos, se cessa enquanto só existe eu, minhas mãos e o que eu deleito a partir delas. é como se fosse uma espécie de meditação. e hoje, no dia em que faz 100 anos que Clarice Lispector nasceu, eu sabia que não haveria como segurar. precisei chorar pelas mãos. chorar no sentido de me reconfigurar e de chegar mais perto do meu pertencer.
sabe, eu venho pensando em você. sim, eu penso, por mais que já tenha tanto tempo e eu não tenha me permitido mais a escrever para você por não querer admitir isso (quando eu não havia chegado a lugares em mim que agora chego). acontece que outro dia eu chorei pelos olhos e achei que seria pertinente chorar pelas mãos também, porque, quando choro pelos olhos, significa que pelas mãos ainda tem muito mais a desaguar. a última vez que escrevi para você foi no dia 2 de novembro do ano passado, dia dos finados. quando escrevi, não foi com a pretensão de ser o último texto, mas acabou sendo (e, agora, não mais). inclusive, eu falei que você seguiria sendo lembrado por mim enquanto outras pessoas ainda me despertassem o que você me despertou. acontece que eu ainda entendia as coisas pela metade. não que agora eu entenda por inteiro, mas alcanço mais além dentro de mim. não são as pessoas propriamente que despertam de modo ativo, mas sou eu que estou sempre a procurar tal sentimento inconscientemente, tal vínculo com representações do meu passado. eles e, dentro deles, você também, me remetem a uma zona de conforto e conformidade, que não significam que sejam boas para mim, mas, sim, que são familiares. e, sendo familiares, se torna difícil desatar - mas, ainda bem, não impossível.
o grande erro é achar que o sentimento está naquele objeto preciso, quando, na verdade, está em vários. está na forma relacional e cristalizada que eu me constitui com o mundo e com as pessoas; eu quero amar sem ser amada. logo, todos que me deram isso, me remetem a essa zona de conforto e conformidade. não é sobre você... é sobre como ressoa em mim. é difícil entender isso, porque é muito mais fácil cair no encanto dessa zona e achar que ainda sou presa a você de alguma forma; mas não é a você, é ao que você me remete, o que, por via final, é a mim mesma. isso sim, eu ainda sou parcialmente presa. parcialmente porque eu venho, dia após dia de vivência, tentando me desvencilhar dessas armadilhas, dessas encruzilhadas que eu mesma me disponho sem querer e querendo. venho dia após dia tentando me desconhecer para ver se eu me conecto com outras partes de mim que vão me fazer bem, que vão me florescer. mas nem por isso, eu acho que, algum dia, vou me desvencilhar por completo do que me prende. não, eu sei que não; seria preciso nascer de novo. mas eu quero chegar o mais perto possível do nascer de novo para que eu possa enxergar mais possibilidades de ser na minha vida. acho que grande parte do sentido de viver é esse: procurar encontrar mais e mais possibilidades de ser que aumentem a minha potência de agir. a minha busca é por diminuir ao máximo essa forma parcial de estar conectada ao que me assombra, por mais que não seja possível por completo. e tudo bem também, há beleza nisso. é o fato de sempre estar por algum ponto que seja presa a isso que eu vou seguir no impulso de me desvencilhar. esse é o impulso vital.
eu estou vivendo uma relação tão viva, tão potente e de amor. amor que eu tenho que, constantemente, me lembrar de permitir que adentre, porque parte minha quer dar sem receber. agora eu tenho tanto a receber, mas, por vezes, demonstro resistência. cada um tem seus monstros, seus fantasmas e esses são os meus: o medo de ser amada, que me leva a ser insegura, me sentir insuficiente, não acreditar na minha potência, me sentir ameaçada por outros, sentir demasiadamente medo de perder quem amo, vontade de ser invisível porque eu mesma acredito na minha não visibilidade. jogar tudo isso e falar que é sobre você seria de grande falta de consciência sobre os meus processos.
ter essa virada de chave me fez me sentir mais liberta, assim como quando eu entendi que não se trata sobre esquecer e nem sobre superar você, mas sim sobre dar outros lugares e significados aos meus sentimentos. você me marcou, não tem como negar, como apagar, como ignorar. isso só me faria estar mais presa a mim. eu não quero mais. eu quero me libertar de mim mesma, como venho falando há tempos. me libertar de mim mesma significa dar lugar e sentido às minhas emoções tão volúveis, densas e intensas para que elas ganhem espaço e não trabalhem mais contra mim. é preciso dar voz a elas para que não se tornem maiores que eu mesma, para que eu possa direcioná-las a sentidos que me provoquem mudanças e me façam chegar mais perto do que eu acredito me fazer bem. é sobre isso, sabe? é sobre isso o percurso da vida inteira! a gente passa grande parte dela querendo não sentir um monte de coisa que a gente sente e isso só vai nos diminuindo cada vez mais. escutar o que nós mesmos temos a dizer é tão precioso, tão necessário.
acho que esse sim é um texto de despedida a você. agora, que eu admiti que penso em você e poderia escrever mais para você, é justamente também quando eu alcancei o lugar de não querer mais escrever com esse destino (bom, pelo menos por ora). o que você reverberou em mim continua e vai continuar sempre das mais variadas formas, mas é uma despedida por justamente eu ter entendido que não é puramente sobre você. é muito, muito mais.
(obrigada por ter me dado peças fundamentais no meu trajeto de desconhecimento
te desejo bem).
4 notes · View notes
almarada · 5 years
Text
Clarice
Tenho lido muito Clarice novamente, porque são tempos sórdidos e sua alma me acalenta os desafetos. Quando triste, ouço suas entrevistas. Satisfaço-me porque, para mim, é como se eu mesma falasse ali. E como tenho a ousadia de nos achar parecidas, sonho que ela, em algum lugar, me ouça— pairando numa zona pálida que a guarde, olhando-me com aqueles olhos imperiais. Clarice entende minha jornada com uma exatidão trágica, eu sinto. Acho que é porque morreu. Por isso, compreende. Está concluída em si. Assim, não pode e não quer responder minhas preces sujas e tampouco irá me atender — o que inconscientemente devo achar bom, já que ninguém quer genuinamente saber a verdade; finge-se que quer porque parece uma busca certa, mas tacitamente é preferido por nós a impossibilidade, o silêncio. Porque aí, sim, podemos ludibriar-nos e a burrice justificada é mais fácil. Clarice poderia me desalienar e trazer essa verdade límpida e dura, pois ela soube. Falecendo, descobriu! Mas me poupa. Porque somos parecidas e ela lembra que talvez também outrora não pudesse arcar com os fatos que me são escondidos — e que a foram negados também em vida, mas que ela suspeitou e comprovou em outro plano. De qualquer modo, não me diz. Eu não aguentaria a verdade e Clarice certamente sabe. Afinal, sabe mais de mim do que eu mesma. Mas mesmo não sabendo a verdade, também não aguentaria existir em cegueira; então Clarice deixa-me suspeitar e me guarda com os símbolos mágicos de suas palavras antigas. Cuida em que eu de alguma forma sobreviva — lembrando-me com seu legado literário que dá para resistir aos golpes da vida mesmo sendo assim. Assim, troncha, como sou. Perturbada. Clarice também era troncha e meio perturbada. A sua honraria é que ela nasceu grande. Eu, pelo contrário: nasci realmente pequenina demais, absolutamente enclausurada. Pois acho que é aí que nos separamos. Ela é imensa. Clarice fora ilimitada. Já eu, sou sou ínfima. Mas pelo menos tenho sua sombra a me iluminar distante.
10/19
33 notes · View notes
srtwilliams5h · 4 years
Text
Pornstar - (40) - Epílogo
...Dois anos depois...
Point Of View Lauren Jauregui
Ah, Nova York. A cidade que nunca dorme, a cidade das lojas e das compras.
A cidade onde eu morava com a minha mulher.
Olhando-a daqui de cima – por todas as janelas de vidro que iam do chão ao teto –, em meu escritório, ela me parecia bem confortável.
Fala sério, porra, eu adorava aquele lugar! Havia umas lojinhas de sacanagem que eram maravilhosas, só de pensar nelas, podia ouvir os gemidos de Camila ecoando em minha mente.
Só de pensar em Camila, eu podia sentir o meu pau estremecer, ficando duro na hora.
Mas não é nisso que eu quero focar agora e sim, em como minha vida havia mudado. Depois do meu casamento, muitas coisas aconteceram. Primeiramente, veio o casamento de Normani e Dinah.
As duas malucas viajaram para Las Vegas e casaram-se naquelas típicas Igrejas, onde o padre era caracterizado por Elvis Presley. E ainda arrastaram Camila e eu para sermos suas madrinhas.
Meses depois, elas fizeram algo que sempre estará guardado em meu coração: Adotaram Ally, uma das minhas pequeninhas que moravam na House Of Happy Children. Hoje, Ally é uma menina linda, está com sete anos e eu tenho certeza que ela nasceu para ter aquelas duas doidas como mães.
Logo depois da adoção de Ally, fechei um contrato com Normani, onde eu iria tomar conta da sede da Porn Hot em Nova York.
Ser chefa e sócia de algo nunca foi o meu sonho, mas, estar ao lado de Camila me fez perceber que, foda-se. Isso mesmo, foda-se, eu faria qualquer coisa para continuar ao lado dela.
E hoje, dois anos depois, eu percebi que felicidade era pouco para nomear nossa relação. Camila e eu comandávamos esse lugar – isso mesmo, Camila era chefa da Porn Hot de NY também –, fizemos da sede de NY, algo tão grande quanto a matriz em Los Angeles.
Camila até mesmo escreve algumas cenas, me mostrando que havia aprendido muito bem comigo, a mestre. Porra, a minha mulher já era quente, comandando tudo isso aqui comigo, ela ficou ainda mais perfeita. Camila era o sonho molhado de qualquer pessoa, mas ela era apenas minha.
Deixei isso bem claro no filme que gravamos juntas há alguns meses, em comemoração aos dois anos de casadas.
O que? Eu havia me aposentado de gravar cenas com outras pessoas, mas com a minha mulher, era diferente. Com ela, eu faria tudo.
Gravar com ela novamente foi tudo de bom e nosso filme rendeu bons frutos. O primeiro foram as vendas, o segundo foi o prêmio de melhor filme – de novo, porque somos as melhores. Somos fodas mesmo! – e o terceiro foi o nosso primeiro...
— Lauren! — Camila invadiu minha sala.
Porra, ela estava gostosa. Vestia uma saia lápis cinza, sapatos pretos e uma blusa branca, toda quente com aquele look “sou social, venha me foder”. E ainda tinha um aperitivo a mais ali.
Lembra-se do terceiro fruto que eu estava falando? Então, ele estava ali naquele momento, dentro da barriga de Camila, com seis meses, deixando-a ainda mais gostosa.
Harry Jauregui, meu garotão. Mal podia esperar para tê-lo em meus braços. Mas, por agora, eu tinha que atender à solicitação da minha esposa.
— Fale, baby. — murmurei, me aproximando dela.
Ela caminhou rapidamente até mim e enlaçou meu pescoço. Deu-me um beijo forte e rápido, de tirar o fôlego. Meu pau endureceu na hora.
— Hum... O que é isso tudo? — perguntei, descendo minhas mãos até sua bunda. Que agora estava ainda maior por conta da gravidez. Gostosa pra caralho! — Minha esposa insaciável quer foder gostoso comigo?
Ela sorriu e se afastou de mim. Caminhou sensualmente até minha mesa e enrolou a saia até aos quadris, sentando-se logo em seguida. Quando abriu as pernas para mim, pude completar aquela boceta gostosa, brilhando de tão encharcada.
— Eu não quero foder... Eu preciso foder, Lauren. — ela abriu os botões da camisa, deixando seus seios à mostra. Aqueles seios enormes, com os mamilos apontados para mim.
Porra, meu pau estremeceu. Sorri de leve e me aproximei dela rapidamente, toquei em suas coxas e subi, penetrando-a com dois dedos. Ela gemeu alto.
— Eu vou te dar o que quer. Vai ser rápido e gostoso, mas à noite, eu quero vê-la ajoelhada na cama, submissa a mim... Entendeu? — perguntei, abaixando minha cabeça para abocanhar aquele mamilo que gritava pela minha língua.
Delícia! Deus, aquela mulher me enlouqueceria de tanto tesão.
— Sim, entendi... Por favor, Lauren, eu preciso de você!
Ela desfez o fecho da minha calça e, sem cerimônia, a penetrei, enfiando meu pau duro até o fim por toda aquela bocetinha apertada. Comecei a me mover, sentindo-a ordenar meu pau e arranhar minhas costas, gritando por mim.
Camila.
A mulher da minha vida, a mãe do meu filho, dona de uma boceta que me fazia perder a porra da minha cabeça.
Gozamos fortes juntas e a beijou com força demonstrando toda a minha devoção a ela.
Porra, ela me enlouquecia, me transbordava, era tudo para mim, assim como eu era tudo para ela.
E seria assim para sempre, porque, como diz Clarice: “Valorize quem te ama, esse sim merece o seu respeito. Quanto ao resto, bem... Ninguém nunca precisou de resto para ser feliz”.
12 notes · View notes
Photo
Tumblr media
                                             A força da mulher:
Aninha nasceu. Bruna dá seus primeiros passos no quintal. Paulinha coloca sua mochilinha nas costas e sai sorrindo para o primeiro dia de aula. Mariana mostra a primeira nota 10 para sua mãe, que a abraça, sorri e enche seu coração de orgulho. Amanda faz a primeira apresentação de ballet na escola e é aplaudida por todos. Fernanda se torna líder da classe e já trilha seu caminho de luta. Camila, nervosa mas com brilhos nos olhos, dá seu primeiro beijo na saída da aula. Gabriela recebe seu diploma e posa para fotos com a família. Luiza consegue seu primeiro emprego, depois de andar quilômetros com o currículo nas mãos. Beatriz já guarda dinheiro para comprar seu primeiro carro. Isabela sai com Flávia e Bianca, para dançar e esquecer o término do namoro. Clarice e Giovana prometem ficar para sempre juntas e se mudam para um apartamento na cidade. Letícia consegue uma promoção e de forma justa, receberá o mesmo salário que qualquer homem da empresa. Jéssica entra no avião sem olhar para trás, coloca coragem na bagagem e parte para um novo desafio. Thainá chega após um ano fora, de surpresa, e abraça seus pais, que choram e matam suas saudades. Marisa dá aulas de filosofia na mesma faculdade que estudou. Vanessa, sorrindo, joga o buquê para trás, que cai nas mãos de Larissa, depois de uma batalha épica com suas amigas. Eduarda descobre dentro do banheiro, que está grávida, usando um daqueles testes de fármacia, e sai em direção à sala, sorridente, para contar a novidade ao seu marido. Luana passa a noite na praia, contempla as estrelas e agradece à vida por ser livre. Rosana, mesmo exausta, não se arrepende da luta que é estudar e criar seus filhos. Francisca se torna avó pela primeira vez, ela pega Rose Marie no colo e tomada por um amor maior do que tudo no mundo, diz que sua neta será - como ela e todas que enfrentam com coragem a vida - uma grande mulher. -William Kokubun. 
Instagram:@ williamkokubun 
172 notes · View notes
blogdojuanesteves · 5 years
Text
ENCONTRO COM LIUBA> Claudia Jaguaribe
Tumblr media
Liuba Wolf nasceu em Sofia, Bulgária, em 1923. Com 20 anos ingressou na então L'école des beaux-arts em Genebra, Suíça, atual Haute École d'Art et de Design Genève (HEAD- Genève). Ainda neste país começou a estudar com a escultora francesa  Germaine Richier (1902-1954) mais conhecida pela associação com seu célebre compatriota, o artista Antoine Bourdelle (1861-1929). Seguiu seus estudos em Paris onde passou a viver e trabalhar em 1946 e três anos depois estabeleceu-se simultaneamente em São Paulo, para a partir de 1958 viver e trabalhar entre França, Suíça e Brasil até sua morte em 2005.
Claudia Jaguaribe, nasceu no Rio de Janeiro em 1955 e é graduada em História da Arte, Fotografia e Artes Plásticas pela Boston University, em Massachusetts, Estados Unidos. Conta 13 livros autorais e é conhecida por ultrapassar os limites da bidimensionalidade da fotografia em suas obras que estão em instituições como a Maison Européene de la Phototographie (MEP) em Paris, Museu de Arte de São Paulo (MASP) e Victoria and Albert Museum (V&A) de Londres entre tantos acervos.  [ veja aqui review sobre um dos últimos livros da fotógrafa: https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/173964568616/beijing-oveshoot-claudia-jaguaribe-beijing ]
Tumblr media
Encontro com Liuba (Editora Tuí, 2019) é o segundo livro de uma trilogia imaginada por Claudia Jaguaribe, onde ela se relaciona com outras mulheres como a arquiteta italiana Lina Bo Bardi (1914-1992), no já publicado No Jardim de Lina ( Tuí, 2018) [ leia aqui review https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/179324232546/a-arquiteta-e-designer-achillina-bo-1915-1992 ]. O outro será com a escritora e jornalista ucraniana Clarice Linspector (1920-1977). Em comum, além do fato de serem estrangeiras que viveram no Brasil, soma-se três personalidades do mundo cultural de relevância internacional com obras permanentes que atuaram de maneira notável e com pioneirismo no século XX.
A fotógrafa conta que tomou mais contato com a obra de Liuba durante uma visita no seu ateliê de Paris. "Fiquei encantada com as múltiplas dimensões do seu trabalho e voltando ao Brasil, resolvi logo fotografar seu acervo em São Paulo". Jaguaribe também lembra que a escultora "faz parte de uma geração de artistas europeus que, emigrados pós-guerra, atuaram a partir dos anos 1950 e 1960, fundando o modernismo e exercendo grande influência na arte brasileira". Sua ideia com o livro foi propor uma revisão de questões atuais e passadas sobre a herança modernista da arte.
Tumblr media
A relação dialógica empreendida por Claudia Jaguaribe, assim como no caso de Lina Bo Bardi, onde ela criou elementos tridimensionais com as fotografias usando como fonte - e posterior ambientação, a sua famosa Casa de Vidro em São Paulo, também foi praticada com Liuba, criando objetos com as imagens além da relação bidimensional, montadas na galeria paulista Marcelo Guarnieri, que simultaneamente mostrou as obras da escultora com as da fotógrafa em duas ambientações (as mostras ficam em cartaz até o dia 24 de maio de 2019)
Segundo a apresentação de Liuba pela galeria, "nas peças há uma certa tensão, as figuras estão a ponto de realizarem algum movimento, que sempre é abruptamente interrompido por sua condição estática, a base está lá, dando o peso de sua circunstância física e histórica." Também é abordada a importância da relação com a escultora Germaine Richier, onde na produção das duas nota-se semelhanças com as figuras-animais-vegetais do período dos anos 1960, além delas utilizarem a mesma técnica escultórica de tradição clássica como a modelagem em argila e o molde em cera perdida.
Tumblr media
Claudia Jaguaribe explica que entendeu o desejo da escultora em expandir o processo artístico e, claro, identificou-se com a tridimensionalidade e a necessidade de ir além do plano, ocupar o espaço enxergando nela , em contrapartida, "seu flerte com a abstração da bidimensionalidade." Mas seu encontro maior foi identificar também uma procura pela extrapolação do real, que se reflete nas obras das duas artistas. Enquanto o estilo eclético da escultora buscou a modernidade, o da fotógrafa, segundo ela, se mostra na procura pelo contemporâneo.
Se as obras escultóricas expressam os  animais e outras figuras (notadamente carregadas de influências do imaginário sul-americano e do continente africano) "equivalências no cotidiano entre passado e futuro" como diz Jaguaribe, esta habilmente cria uma fusão da fotografia com as esculturas entremeando lugares e paisagens, uma proposta igualmente híbrida. Para a autora, "A carga dramática dessas formas escultóricas sobrepostas a imagens de hoje acentuam a universalidade das tensões presentes e a dimensão política da nossa condição humana."
Tumblr media
A relação da fotografia com a escultura vem de longa data. Uma das mais importantes foi a colaboração entre o húngaro Brassaï (1899-1984)* e o malaguenho Pablo Picasso (1881-1973), narrada genialmente no livro do fotógrafo Conversations avec Picasso ( Gallimard, 1964) e publicado no Brasil em 2000 pela Cosac e Naify. Experiências dele registrando as obras do artista no difícil princípio dos anos 1940 na França, onde se irradia uma interação profunda e inestimável para a compreensão não somente da personalidade do artista, mas de sua obra escultórica.
Outro relacionamento intenso entre as duas artes foi o vivido pelo romeno Constantin  Brancusi (1876-1957). Para a curadora italiana Paola Mora, o trabalho do escultor era concluído através da fotografia. Ela ganha estatus sendo o momento final de suas peças tridimensionais. Sua crença era que seu ateliê se tornara o espaço onde as obras viviam e um dia elas poderiam deixar de existir fisicamente. O envolvimento era tão grande que ele trabalhava com 8 câmeras, além de duas filmadoras, uma 16mm e outra 35mm. "Nelas é possível ver a troca constante e a metamorfose dos objetos", diz a curadora.
Tumblr media
Uma boa análise desta produção de Brancusi, encontra-se no pequeno livro Brancusi Photographe (Éditions Assouline, 1995) com texto da americana Elisabeth A. Brown, à época conservadora do University Art Museum, atual Art Design & Architecture Museum (AD&A Museum) ligado a California University, em Santa Barbara, Estados Unidos. Para ela, o escultor se considerava o único capaz de interpretar seu trabalho através da fotografia. A retrospectiva fotográfica  Brancusi and the White Work no Guggenheim Museum de Veneza em 2005, que teve curadoria de Paola Mola, está no catálogo homônimo publicado pela editora italiana Skira no mesmo ano.
Tumblr media
Claudia Jaguaribe - ao escolher também transitar pelo ateliê de Liuba, aproxima-se de Brancusi, que acreditava que o seu espaço de trabalho era o melhor lugar para expor suas esculturas. Também, pensava ele, que uma pessoa interessada em arte, deveria entrar primeiramente em contato com sua obra através de artigos ilustrados por suas fotografias, sendo assim, influenciado pelo próprio escultor. Desta forma, a ressignificação das peças da escultora, se acomodam confortavelmente na proposta do livro produzido pela fotógrafa.
Além do ateliê, as composições de Jaguaribe ampliam a comunicação do conteúdo produzido com a cidade através de recortes que dialogam com as expressões orgânicas e a robustez das formas animais e arcaicas, pretendida pela escultora, ora  interferindo na arquitetura, ora deixando que esta interfira na obra, o que promove uma contundente associacão entre o humano, o animal e a concretude da cidade. Como o crítico santista Antonio Gonçalves Filho já alertava em seu texto para o catálogo Liuba, Esculturas, Relevos , Desenhos e Jóias (Pinacoteca do Estado, 1996) "que até as mais simplistas e abstratas esculturas, mantêm algo do bestiário ancestral."
Tumblr media
Encontro com Liuba, assim como No Jardim de Lina, tem design do estúdio Bloco Gráfico, foi impresso pela Gráfica Ipsis com os papéis Munken e Color Plus com produção gráfica de Lilia Góes. Tem texto bilingue em português em inglês e difere do anterior na pós-produção fotográfica, que desta vez foi feita por Gabriel Cabral, que também foi assistente da autora. Como o livro anterior é uma edição delicada, de apenas 300 exemplares numerados. Traz aplicação serigráfica na capa e composição das páginas em dobra francesa, onde é valorizado conceitualmente e estruturalmente, como um objeto de design, associando-se assim à linguagem mais contemporânea do chamado fotolivro.
O livro será lançado, próximo dia 23 de maio na Galeria Marcelo Guarnieri (alameda Lorena, 1835, Jardins, São Paulo) É também uma oportunidade para ainda  ver as exposições Liuba e  Encontro com Liuba,  montadas desde março e que terminam ainda esta semana.
[As imagens aqui reproduzidas mostram duas páginas com o livro aberto]
 Imagens © Claudia Jaguaribe Texto © Juan Esteves
*Gyula Halász, conhecido como Brassaï, pseudônimo inspirado em Brassó, sua cidade natal (hoje na Romênia), foi um homem de características únicas, não somente como fotógrafo exemplar, mas como escultor, cineasta e escritor. Esta última atividade, atribuída a intimidade com seu pai, professor de literatura francesa na universidade parisiense Sorbonne.
Além do livro sobre Picasso, ele também foi buscar analogias entre a fotografia, a obra literária e a vida do genial francês Marcel Proust (1871-1922). Leia no link abaixo o review do seu livro   Marcel Proust sous l'emprise de la photographie (Gallimard, 1997) publicado no Brasil como Proust e a Fotografia ( Jorge Zaar, 2005)
https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/163536534636/proust-e-a-fotografia-brassa%C3%AF
3 notes · View notes
cheerlyz · 6 years
Text
˗ˏˋClarice Castellaño Del Garcíˎˊ˗  🌼
﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏
Vila del Protetorado, um lugar feliz e agradável para se viver, possui um povo alegre e honesto. Rodeado por uma imensa floresta verde e exuberante, praticamente um lugar perfeito para se viver. Mas não no dia 08 de Dezembro de 2002, O protetorado havia se tornado um lugar caótico; uma doença havia se alastrado pela vila, mais da metade da população foi afetada e morta. Em meio ao caos do lugar, em uma casa com situações não lá agradáveis, nasceu Clarice Castellaño del Garcí. Sua mãe, após o parto faleceu para dar vida à filha. Os sobreviventes da família Garcí fugiram do pequeno vilarejo para a capital cubana Havana, onde lá os esperavam uma balsa que os levariam à Flórida, nos Estados Unidos. 
 Clarice nasceu sem quaisquer problema ou doença, porém desenvolveu a Síndrome de Pinóquio a qual, cada mentira contada, soluça. A garota possui cabelos Lisos, pele morena e um sorriso inapagável, o qual herdou de seu pai. Sua família mantém viva a cultura e os hábitos de Cuba, tais como a culinária, música e principalmente a língua Espânica. Sendo assim, Clarice pode falar o Inglês e o Espanhol na mesma frase ou em palavras separadas, mas não propositalmente, apenas costume.
 Possui uma paixão imensa na fotografia, e no significado que ela tem na vida das pessoas. Gosta de apreciar os detalhes de cada coisa e tenta se esquivar ao máximo de confusões ou brigas. Vivia com seu Avô, Ruy Cruz del Garcí e Seu pai, Tomáz Perez del Garcí em Miami, no bairro "Pequeña Habana" onde residem-se um alto número de imigrantes cubanos.   
No final do ano de 2017, O Sr. Tomáz Perez del Garcí chegou com boas e más notícias em relação ao futuro de Clarice; A boa era que, a menina havia ganhado uma vaga como bolsista no Colégio Interno de Bowntans, na Califórnia. No entanto a má, era que a menina teria que se decidir entre levar o Avô ou o Pai, já que sua renda financeira não permite esbanjar tamanha quantia em passagens aéreas. Por fim, Clarice escolheu seu Avô, Ruy Cruz del Garcí, amava muito o seu pai, porém era em seu avô em que compartilhava segredos e angústias.    
 Ao sair da Flórida, a menina e seu avô que não eram acostumados a viajarem muito, se atrapalharam um pouco com o mundo fora da Flórida, porém conseguiram se adaptar. Ao pisar na Califórnia, Clarice procurou empregos de meio período, pois apenas depender e gastar para fins pessoais a  aposentadoria do avô é errado. Começou a trabalhar em uma floricultura próxima de onde reside. Não perdeu o contato com seu pai, pelo contrário, conversa todos os dias com o mesmo via Internet. Agora com 15 anos, não perde por esperar as oportunidades e objetivos que pretende conquistar, estudando no Colégio Interno de Bowtans.
∵ Características físicas ∵
Clarice é cubana e cresceu na Flórida, possui 15 anos. Sua tonalidade de pele é morena/negra, possui olhos na cor castanho claro, cabelos lisos e de cor escura. Tem um belo sorisso que emana alegria. Mede 1,60cm e atualmente pesa 47Kg, seu porte físico é saudável .
∵ Personalidade, hábitos e gostos∵
A personalidade de Clarice é hereditária de seu pai; é alegre, serena e infantil. gosta de sorrir em todos os momentos de sua vida, pois acredita que mesmo com as dificuldades, devemos sempre ter o sorriso no rosto, por mais que seja difícil. É sincera pois, quando pequena desenvolveu a síndrome de Pinóquio, que a faz soluçar a cada mentira contada.
Pode até ser inteligente em algumas áreas, em compensação por ser um pouco "avoada" possui dificuldades em outras matérias. Sabe escutar os outros, porém não sabe dar conselhos. Quando a conhece, muita das vezes pode ser um pouco acanhada, mas consegue ser bastante tagarela quando conhece uma pessoa ou um ambiente novo.
Possui defeitos, claro, é abobada, atrapalhada, ansiosa e insegura, mas se esforça para melhorar tais problemas. Não gosta de jeito algum ficar sozinha. Repudia amargamente caranguejos. Clarice pode muitas vezes falar espanhol junto com o inglês por costume.
Aprecia bastante o estilo Pin-Up. Seus passatempos preferidos além da fotografia são; Leitura, cozinhar e origami.
Clarice aprecia as flores cravos, gardênias e os girassóis. Seus gêneros literário preferidos são, Ficção científica, romance e fantasia. Sua estação predileta é a primavera. Possui uma paixão imensa em astronomia. Não é muito fã de esportes porém, gosta de ping pong, tênis e natação.
20 notes · View notes