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nsantand · 18 hours
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Ian Hamilton - Lamento
Fiz o que pude. Meus garotos correm soltos agora.Eles buscam oportunidades enquanto a mãe deles apodrece aqui.E rua acima, o homem,Meu único homem, que me tocou em todos os lugares,Desmancha-se sob a terra. Sou triste, obtusa, velha e alienada.À noite, sinto minhas mãos vagando sobre mim,Sondando meus seios, meus joelhos,As dobras do meu ventre,Vez ou outra pressionando e às vezes,Em sua fome,…
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nsantand · 2 days
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Ross Gay – Homem tenta cometer suicídio com uma besta
"Homem tenta cometer suicídio com uma besta", um poema de Ross Gay
For Thomas Lux E fracassa. Primeiro, imagine a armaapontada para o céu, logo abaixo do queixo. Após o rápidoclique do gatilho, o seguinte: o que, para essenão-morto, deve ter soado como o estratosférico estrondo de um foguete,o que significa dizer que a setaatingiu o topo (ou seja, ficou presa). Nesse ponto, com a cabeçaagora espetada, o tal não-morto conseguiuo discernimento necessário para…
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nsantand · 3 days
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Paulo Henriques Britto - Lacrimæ rerum
É o lamento das coisas,a desdita da matéria.Não tem nada a ver conosco,com nossa breve miséria, nosso orgulho de organismo.É uma questão de moléculas,que antecede a biologiapor coisa de muitos séculos. Diante dessa dor arcananosso entendimento pasma.Nem tudo está a vosso alcance,ó seres de protoplasma. Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia…
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nsantand · 4 days
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Ursula K. Le Guin – Somos poeira
"Somos Poeira", um poema de Ursula K. Le Guin
Somos poeira em sofrimento.A luz brilha através de nóscomo através do spray das ondas, poeira de líquido*estourando, ou da chuva que cai. Trad.: Nelson Santander N. do T.: A escolha dos versos “poeira de líquido / estourando” nesta tradução busca, dentro do possível, preservar a ambiguidade dos versos “dust of water / breaking” no poema original. Esses versos podem ser interpretados de duas…
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nsantand · 5 days
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Ian Hamilton - Admissão
Os lábios rachados do porteiro noturno uniformizadoMurmuram horrivelmente contra o vidro embaçadoDe nossa ambulância escura.Nossa afliçãoInspira um único olhar marcial de desdémE logo ele nos indica o caminho, para a “Pátria”. Trad.: Nelson Santander REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 18/04/2019 Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para…
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nsantand · 6 days
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Gerard Smyth – A caminho
"A Caminho", um poema de Gerard Smyth
Estamos em um trem que segue em direção ao mar.Os nomes das estações estão no meio do caminhoentre dois idiomas. A paisagem é austera,como se à espera de um ataque.Tudo está em seu devido lugar.Tudo repousa ali sem se mover:o lodo no fundo do lago, a areiaque alcançou a praia.A quietude nos questiona sobre o que estamos fazendocom nossas almas. Uma sombra como um longo cortejoacompanha o…
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nsantand · 7 days
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Manuel Halpern - Domingo de manhã
Quantos homensse apaixonam por tiao sábado à tardeenquanto passeiam os filhosno parquee se distraemdo balançodo baloiçona adivinhaçãodas partes do corpoque trazes tapadas Mal sabem que a tua solidãonão se preenchecom a desventura eróticade um corpoque te cubrasem consoloNão há faltade quem se deitecontigosábado à noiteapenas quem acordeao teu ladodomingo de manhã REPUBLICAÇÃO: poema publicado…
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nsantand · 8 days
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Ross Gay – Como aprender a amar o seu pai
"Como aprender a amar o seu pai", um poema de Ross Gay
Coloque suas mãos sob as axilas dele, dobre os joelhos,aguarde o encaixe de seus braços que afinam; o melhor abraçoé face a face. Movimente-se devagar. Procure não se lembrar,neste momento, das formas que ele traçou ontemem suas costas, momentos antes de ser levado para a cirurgia.Não finja que a ansiosa caligrafia do toqueera um sinal além de algum inexprimível gaguejo animal. Nãoretorne ao…
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nsantand · 9 days
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Ángel González - Aniversário
Eu percebo: como estou me tornandomais incerto, confuso,dissolvendo-me no arcotidiano, brutopedaço de mim, desgastadoe em frangalhos. Eu compreendo: vivimais um ano, e isso é muito duro.Pulsar o coração todos os diasquase cem vezes por minuto! Viver um ano requermorrer muito muitas vezes. Trad.: Nelson Santander REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 15/04/2019 Mais do que…
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nsantand · 10 days
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Timothy Liu - Thoreau
"Thoreau", um poema de Timothy Liu
Meu pai e eu não temos para onde ir.Sua esposa não nos deixa entrar em casa —medo de contrair AIDS. Ela acredita quedormir com homens é pior do que um pecado,meu pai diz, enquanto nos sentamos no meio-fioem frente à casa dos vizinhos.Sessenta e quatro anos tornaram meu paiimpotente. Raízes grisalhas e tinta pretadesbotada manchando seus cabelos o fazem parecerquase cômico, como se sua…
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nsantand · 11 days
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Raymond Carver - A cabine telefônica
Ela desaba na cabine, chorandono telefone. Perguntando uma coisaou outra, e chorando um pouco mais.Seu companheiro, um camarada mais velho,usando jeans e camiseta, aguarda em péa sua vez de falar, e chorar.Ela passa o telefone para ele.Por um minuto eles ficam juntosna minúscula cabine, as lágrimas delerolando junto com as dela. Entãoela vai se encostar no para-choquedo sedan. E fica…
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nsantand · 12 days
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Mary Oliver - Às vezes
"Às vezes", um poema de Mary Oliver
1. Algo emergiuda escuridão.Não era nada que eu já tivesse visto antes.Não era um animalou uma flor,a menos que fosse ambos. Algo emergiu da água,uma cabeça do tamanho da de um gatomas enlameada e sem orelhas.Eu não sei o que é Deus.Eu não sei o que é a morte. Mas creio que eles tenham entre sialgum acordo fervoroso e necessário. 2. Às vezesa melancolia me corta a respiração. 3. Mais…
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nsantand · 13 days
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Joan Margarit - O ano em que ela morreu
"O ano em que ela morreu", um poema de Joan Margarit
Na fotografia em sépiaés jovem e sorri. Faz-me lembraras mulheres dos filmes de guerrada minha infância:barcos na neblina, trens noturnose grandes cidades sob o alarme aéreo.Na lápide está escrito que ela se foino inverno de 44,aos vinte anos, quando me apaixonavapela sufocante escuridãocruzada por um raio de luz, a heroínados sonhos de amor de minha meninice.A dura pedratem uma cavidade com água…
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nsantand · 14 days
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Tomas Tranströmer - Postais Pretos
"Postais Pretos", um poema de Tomas Tranströmer
I O calendário está repleto; o futuro é incerto.Os fios entoam uma canção folclórica apátrida.A neve cai sobre o mar cinzento. Sombrascombatem no cais. II No meio da vida, eis que a morte chegae tira nossas medidas. Essa visita logoé esquecida, e seguimos com a vida. Mas a vestesegue sendo silenciosamente cosida. Trad.: Nelson Santander Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique,…
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nsantand · 15 days
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Manuel António Pina - Corpo Presente
"Corpo Presente", um poema de Manuel António Pina
Toda a casa suspenderaa respiraçãoincapaz de contertamanha desproporção, e eu próprio desapareceraalgures na sala, entre a tua vida e a tua morte.Atenderam o telefonefalando baixo, temendo que regressassecada coisa do teu lugarsem estar prontos aindapara a tua solidão. Faltava muitopara podermos perceber,muitos passos para chegarmosaonde sempre estivéramos: mais perto do tédio do que da…
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nsantand · 16 days
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Jan Heller Levi – Nada mal, pai, nada mal
"Nada mal, pai, nada mal", um poema de Jan Heller Levi
Acho que você é mais você mesmo quando está nadando;fatiando a água a cada braçada,a maneira engraçada como respira, a boca arqueadacomo se estivesse bocejando. Você não é incrível nem péssimoindo daqui para lá.Você não ganharia nenhuma medalha, pai,mas não se afogaria. Penso em como tudo poderia ter sido diferente se eutivesse julgado seu amorcomo julgo seu nado lateral, seu borboleta,seu…
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nsantand · 17 days
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Luís García Montero - Resumo dos fatos
"Resumo dos fatos", um poema de Luís García Montero
Falei com a morte por telefonee recebi e-mails de amor que foram apagadossem deixar uma única lágrima em papel amarelo.Ninguém esqueça os tempos, mas ninguém se engane:no final, apenas o amor e a morte importam. Trad.: Nelson Santander REPUBLICAÇÃO: poema publicado na página originalmente em 05/04/2019 Mais do que uma leitura, uma experiência. Clique, compre e contribua para manter a poesia…
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