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hicarolinesouza · 11 months
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No munda da Luna, Carina Rissi #resenha
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Luna sonha em ser jornalista, algo que parecia estar prestar se tornar realidade quando ela foi admitida na Fatos & Furos. Mas tudo acabou se tonando um pesadelo: o trabalho é de secretária, o chefe é um grande babaca (e ainda por cima não sabe seu nome) e a revista está em crise. Nessa hora, porém, ela parece ter sua grande chance, ou um pequeno atalho. Luna vai assumir a coluna de horóscopo! Seria a chance perfeita, exceto por um detalhe: ela não sabe nada sobre o assunto. Nada que um baralho cigano meio suspeito não possa resolver.
Nunca tinha lido na da Carina, mas sabia que ela era uma dessa escritoras que arrastam multidões apaixonadas. Depois de anos dando um tempo de Talita Rebouça e Sophie Kinsella, estava com saudades de embarcar num romance levinho e engraçado. A história ainda tem um ar de magia, triângulo amoroso, um ambiente jornalístico... aí pega demais!
Cada cena, cada capítulo, é um misto de diversão, vergonha alheia e encantamento... viciante, impossível deixar de ler. Luna é carismática, mas sabe como ninguém tomar péssimas decisões. A virada da protagonista acontece, sem muito enrolação, e como tudo acontece bem cedo, passamos um bom tempo sem saber pra onde a história vai. Até aí tudo certo, a quebra de expectativa é legal e acaba gerando novas expectativas, mas é um pouco irritante quando algumas "promessas" não se cumprem, quando ameças de "perigo" não se materializam.
Por exemplo, Luna é advertida muitas vezes sobre o uso das cartas, mas até o final da história não vemos praticamente nada de concreto marcando esse perigo. Os casos amorosos de Luna são outra loucura. Com Dante vemos o caso de amor e ódio, com Vini é aquele amor platônico. Mas quando com um ela vive aventuras e com outro apenas projeta situações que é incapaz de encarar, perde totalmente o sentido. Não tem muita dúvida entre um e outro, só na cabeça da Luna e da Carina Rissi mesmo!
Você só pode ter feito um feitiço! Não é normal desejar alguém da forma como eu desejo você
Um outro problema nítido é a avalanche de "close errado". É um livro relativamente recente, então não cola a desculpa "precisamos considerar a época em que foi escrito". Questões sobre o corpo, relações no ambiente de trabalho, problemas de relacionamento e, sobretudo, o machismo. Isso aparece não apenas nas falas, mas também nas atitudes, nas expectativas de quase todos os personagens.
Porém, para ser bem honesta, confesso que tomaria muitas atitudes parecidas com as que vi aqui. Muitas vezes queremos que o livro seja para nós um pilar moral, um bastião perfeito do politicamente correto, mas precisamos assumir que não é assim. Ser humano é ser contraditório, imperfeito e as vezes até hipócrita. E OK, desde que não deixemos de nos policiar.
Para compensar, vale o destaque para o conto incluído no final do livro nessa edição especial. Além de ser uma passagem hilária, foi um grande acerto ter ficado no fim. Depois de saber por tudo que o casal acabou passando, juntos e individualmente, é curioso ver que o início de tudo - mesmo que nem eles soubessem. Esse capítulo à parte me trouxe bons sorrisos.
Mesmo depois que a tensão cai um pouco e os incômodos aparecem, o livro não perde a graça. Bem daquele jeito bem heroína imperfeita que quem ama o gênero está acostumado a ver. Já bem próximo do fim a autora faz umas escolhas bem clicês, guardando algumas surpresinhas pro fim. Fica um pouco óbvio demais, Luna e Dante não são o casal mais legal do mundo, mas tem seu charme. E por mais que tenha sido uma leitura prazerosa no fim das contas, começo a acreditar que não sirvo mais para esse tipo de livro. Seria o fim de uma era? 💔
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hicarolinesouza · 11 months
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O que é verdadeiro resiste à magia. Apenas o artificial perece
CARINA RISSI, No mundo da Luna
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hicarolinesouza · 11 months
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“Claro que era irrelevante que ele soubesse que meu Twingo passava mais tempo na oficina do que comigo. Na verdade, a culpa era minha, não do carro, pois eu nunca tinha dinheiro para fazer as manutenções necessárias”
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hicarolinesouza · 11 months
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Quais são seus gêneros favoritos e o livro favorito de cada um deles?
Chick-lit: O Segredo de Emma Corrigan
Romance: A mulher do Viajante no Tempo
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hicarolinesouza · 11 months
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Capitães da Areia, Jorge Amado #resenha
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"Sob a lua, num velho trapiche abandonado" vivem os Capitães de Areia, um grupo de meninos pobres que, sem casa, sem família, sem comida e sem persperctiva de futuro, vivem de pequenos furtos e aterrorizam a capital baiana. Em grande parte são figuras sem rosto, sem nome, mas sua fama e seus feitos dominam a cidade. Se por um lado os ricos e governantes os olham como delinquentes, no olhar de alguns poucos despertam piedade e compreensão. Afinal, que outra alternativa eles tiveram?
No começo dessa leitura, não tive certeza se conseguiria ir até o fim. O autor consagrado e a linguagem um pouco mais antiga me fizeram pensar que enfretaria muitos tropeços pelo caminho. Mas, ao contrário, o que encontrei foi um show de brasilidade. Jorge Amado abusa da linguagem regionalista, se aproxima tanto da oralidade a ponto de parecer que não estamos lendo e sim ouvindo os personagens falarem.
Porém, ultrapassando a primeira metade do livro, não tive dúvidas: esse livro é para os fortes! E pior: eu estava muito fraca para encará-lo. Uma coisa é assistir reportagens no jornal sobre jovens infratores, outra coisa bem diferente é conhecer a história de cada um, seus dramas internos. Por um lado, são tão maliciosos - não necessariamente maldosos - , capazes de cometer quase todo tipo de crime e violência. Quase nos esquecemos que a maior parte deles sequer tem mais de 15 anos! Por outro, são crianças que tiveram a infância roubada pela necessidade de sobreviver, e mesmo assim não abandonaram completamente seu lado lúdico.
Nesse momento de música eles sentiram-se donos da cidade. E amaram-se uns aos outros, se sentiram irmãos porque eram todos eles sem carinho e sem conforto e agora tinham o carinho e conforto da música
A saga dos bandidos-heróis é dividida pelo autor em 3 partes: Primeiramente, conhecemos os Capitães. Quem são, como vivem e se organizam, suas aventuras e traumas. Apenas alguns conhecemos mais intimamente, mas o bastante para já nos afeiçoarmos na primeiras páginas. Em seguida, uma forte onda de varíola invade a cidade, levando à morte sobretudo os mais pobres. Depois desse episódio, a vida dos meninos nunca mais será igual, especialmente quando entra para o bando a primeira e única mulher.
Já aqui entendemos que não estamos lendo uma ficção qualquer. Estamos vendo a história de uma país. O retrato de uma desigualdade desumana que, mesmo após décadas desde que o livro foi escrito, em nada mudou. E as discussões vão além da luta de classes: intolerância religiosa e descrimininação sexual são temas recorrentes, além de questões sensíveis relacionadas a abusus sexuais. Não é difícil, então, considerar que Jorge Amado tenha sido perseguido, censurado. Seria novamente caso a obra fosse lançada hoje.
[...] aprendeu que não era só no sertão que os homens ricos eram ruins para com os pobres. Na cidade, também. Aprendeu que as crianças pobres são desgraçadas em toda parte, que os ricos perseguem e mandam em toda parte. Sorriu por vezes, mas nunca deixou de odiar
Cada capítulo desse livro parece um episódio de uma série, inclusive com a sensação de que um não depende do outro. É sempre com muita ação, acontecimentos marcantes, emocionantes, engraçados e tristes na mesma medida. Em alguns, conhecemos os personagens mais de perto, em outros vemos a dinâmica de pequenos grupos. Enfim, no terceiro ato da história, vemos o destino de cada um, os caminhos que escolheram seguir - ou não conseguiram desviar. Se o todo nos lembra uma série, o desfecho é como um apoteótico capítulo final de novela.
O que fica ao final da leitura é uma mistura de alívio e saudade. Os capitães são figuras ambíguas. Torcemos por eles apesar de tudo, rimos de suas traquinagens e torcemos para que eles se deem bem no fim. Ficamos cansados de vê-los sofrer, queremos dar um alívio ao sofrimento que eles passam. E mesmo quando, em tese, o grupo se desfaz, sabemos que é apenas o início de um novo ciclo, o surgimento de uma nova geração.
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hicarolinesouza · 11 months
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Nem o ódio, nem a bondade. Só a luta
JORGE AMADO, Capitães da areia
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hicarolinesouza · 11 months
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“Essa será a sua vingança. Não deixará que o peguem, não tocarão a mão no seu corpo [...] Quando os corações das demais crianças ainda estão puros de sentimentos, o do Sem-Pernas já estava cheio de ódio. Odiava a cidade, a vida, os homens. Amava unicamente o seu ódio, sentimento que o fazia forte e corajoso apesar do defeito físico”
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hicarolinesouza · 11 months
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Havia, é verdade, a grande liberdade das ruas. Mas também havia o abandono de qualquer carinho, a falta de todas as palavras boas
JORGE AMADO, Capitães da areia
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hicarolinesouza · 11 months
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Nix, Nathan Hill #resenha
Professor universitário frustrado e escritor fracassado, Samuel é obrigado a lidar com antigas feridas após inesperado ressurgimento de Faye, a mãe que o abandonou na infância. Acusada de um crime que se torna viral na internet, ela é retratada pela mídia como uma hippie radical de passado sórdido. Numa tentativa desesperada de salvar a carreira, Samuel decide desvendar o passado da mãe, revelando a rede confusa de uma família que pouco se conhece.
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O livro é dividido em 10 partes, intercalando entre 2011 e 1968. No passado, somos surpreendidos com uma Faye boa moça que se casou cedo com o namorado da escola. Mas há um mistério em entender as circunstâncias que a levaram a tomar certas atitudes, e porque é tão difícil relacionar a jovem e a mulher retratada na mídia. Apesar do futuro promissor, Faye é praticamente um imã para confusão e péssimas decisões.
Do outro lado da história, Samuel. Na infância, ele desenrola uma trama interessante com os irmãos Bishop e Bethany, seu melhor amigo e seu primeiro amor. Mas as consequências do abandono fazem dele um homem inseguro, que desconta as frustrações jogando videogame e torturando seus alunos. Em 2011, vemos que nem mesmo os laços de amizade do passado ele consegue manter, vivendo sempre a sombra dessas figuras.
Sem dúvida alguma, voltar aos anos 60 é o maior prazer dessa leitura, enquanto a volta ao presente de Samuel é a maior tortura. Apesar de muito sofrimento e uma série de desventuras, revelando o passado de Faye é quando o livro fica cada vez ficando mais denso, conturbado. confuso e, então, finalmente se converge numa trama impressionante. Impossível ficar entediado.
Um farol é tanto um convite quanto um alerta. Um farol diz: Bem-vindo ao lar. Mas depois, logo em seguida, também diz: Perigo
Já em 2011, o vício de Samuel e sua atuação na universidade nos apresentam dois personagens que, no fim, são quase completamente descartáveis. Inclusive, não poderiam ter desfecho pior. O próprio protagonista, na verdade, é detestável. Sua apatia se explica, mas não se justifica. Apesar da posição de protagonista, ele está mais para uma escada para outra trama que não a dele.
Entretanto, talvez a maior falha do livro tenha sido em decidir, ou não decidir, sobre o que ele é afinal: É o retrato de uma era dominada pelos videogames? Uma crítica a superficialidade dos universitários desse tempo, e até mesmo do ensino como um todo? Um psicodrama entre mãe e filho? Uma tragicomédia sobre o a hipocrisia do jogo político estadunidense? A alternativa mais acertada deve ser considerar que a história como um drama familiar. Afinal, Samuel percebe que não sabe quase nada sobre quem é sua mãe, assim como Faye descobre que pouco conhece o próprio pai. Os nós da vida de ambos se desfazem apenas quando esses segredos são revelados.
O tempo cura muitas coisas porque nos coloca em trajetórias que fazem o passado parecer impossível
Sendo assim, o que importa todo o resto? É desperdício de tempo, sequer é interessante ou curioso. O autor foi pretensioso em querer abordar tantas questões – na verdade, até o fez bem em certos aspectos, mas sem necessidade. Faltou dosar a mão. Na expectativa de construir uma espécie de romance histórico, Nathan Hill acabou deixando de lado o que realmente importava. Páginas e capítulos inteiros seriam facilmente descartados sem prejuízo.
De toda forma, inicialmente, a história flui muito bem. As quebras entre um capítulo e outro, entre uma época e outra deixam a expectativa lá no alto. Deve-se destacar ainda que o ponto mais interessante do livro está na abordagem de mitologias nada usuais: as grandes histórias norueguesas de fantasma. O Nix é um ser que atrai, ilude e destrói. Sem forma definida, essa entidade pode se apresentar de diversas maneiras na vida de alguém. Essa lenda conversa bastante com um conceito do mundo dos games apresentado na trama: “inimigo, obstáculo, quebra-cabeças ou armadilha. Toda pessoa que você encontra na vida é uma dessas quatro coisas”.
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hicarolinesouza · 11 months
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As coisas que você mais ama são as que mais irão machucá-lo
NATHAN HILL, Nix
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hicarolinesouza · 11 months
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Faye: Porque quando você tem apenas a lembrança de uma coisa, tudo em que você consegue pensar é que não a possui mais
Samuel: Acho que isso não é verdade
Faye: Você é muito jovem
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NATHAN HILL, Nix
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hicarolinesouza · 11 months
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Nunca esquecemos as coisas de fato. Apenas perdemos o caminho de volta até elas
NATHAN HILL, Nix
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hicarolinesouza · 2 years
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Flores para Algernon, Daniel Keys #resenha
Algernon é um rato de laboratório que passou por uma cirurgia para aumentar sua inteligência por meios artificiais. Charlie Gordon, um jovem de 30 anos com uma severa deficiência intelectual, será o primeiro humano a passar pelo procedimento revolucionário. O experimento é incrivelmente bem sucedido, mas o entendimento de si mesmo e de sua história provocam uma série de questionamentos e uma crescente perturbação, mostrando que a existência por si mesma pode ser desafiadora.
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Através dos relatórios de progresso, os diários que formam os capítulos, acompanhamos a meteórica evolução de Charlie, até mesmo em sua personalidade e a forma de se relacionar com os outros. De um rapaz infantilizado, dócil e tolo, até o gênio rebelde e desconfiado. Inicialmente cheio de erros gramaticais, o texto se torna mais denso, complexo. É apenas após a cirurgia que podemos conhecer o passado de Charlie, e é então que as coisas podem se tornar um pouco confusas.
[...] eu me tornei uma erva daninha, autorizado a existir apenas onde não fosse visto, em cantos e parte escuras.
Confesso que fiz uma leitura cheia de interrupções, me deixando a sensação de que não estava aproveitando ao máximo, sem mergulhar totalmente, me desconectando um pouco da história. Porém, entre discussões, devaneios e lembranças, não é fácil entender com clareza o que está se passando, quais as motivações, intenções e ações dos personagens. Não sei ao certo se o erro foi meu ou, talvez, se foi escrito para ser assim mesmo - é bem possível.
Mas desconsiderando os detalhes, Flores para Algernon é bem direto. O livro trata da dignidade das pessoas com deficiência mental, de como a sociedade as recebe: a falta de afeto, de compreensão, estudo, respeito e simplesmente o tratar como ser humano. Antes da operação, Charlie servia de chacota, era motivo de vergonha e maus tratos; já na condição de gênio, ele permanecia desumanizado ao ser colocado como uma cobaia, um objeto de estudo. Para o personagem, isso acaba sendo ainda mais doloroso, pois agora tinha consciência plena de tudo.
Mas agora sei que existe algo que todos vocês negligenciaram: inteligência e educação sem doses de afeto humano não valem de droga nenhuma.
Apesar de ser uma ficção científica, surpreende a forma como Daniel Keys torna a leitura acessível e instigante, provavelmente por focar mais nos dramas pessoais que nos termos técnicos. Mesmo sem uma grande reviravolta, a história simplesmente prende, em especial a partir do ponto em que o destino do protagonista é anunciado e não se pode fazer nada a não ser acompanhar o desfecho. 
Chega a ser difícil falar de um livro que, ao mesmo tempo tão sem rodeios, é complexo nas discussões que traz. Ciência, desenvolvimento humano, tecnologia. Deficiência mental, psicologia, existencialismo. Amor, sexualidade, empatia, medo, solidão. Entre a racionalidade e a emoção, mais do que comovente ou sensível, é uma história muito dolorosa e impossível de ser ignorada.
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hicarolinesouza · 2 years
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Alice: O que posso fazer para ajudar, Charlie?
Charlie: Eu não sei. Sou como um animal que foi trancado do lado de fora de sua jaula boa e segura.
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DANIEL KEYS, Flores para Algernon
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hicarolinesouza · 2 years
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Vejo agora que o caminho escolhido pelo labirinto me faz quem sou. Não sou apenas uma coisa, mas também uma maneira de ser - uma das muitas maneiras -, e saber os caminhos que percorri e os que me restam vai me ajudar a entender o que estou me tornando.
DANIEL KEYS, Flores para Algernon
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hicarolinesouza · 2 years
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Charlie: O problema, querido professor, é que você queria alguém que pudesse se tornar inteligente, mas continuasse numa jaula e fosse exibido, quando necessário, para colher as honras que você buca. O problema é que sou uma pessoa.
Nemur: Você está sendo injusto, como sempre. Sabe que sempre o tratamos bem, fizemos tudo o que podíamos por você.
Charlie: Tudo, exceto me tratar como um ser humano.
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DANIEL KEYS, Flores para Algernon
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hicarolinesouza · 2 years
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A vida invisível de Addie Larue, V. E. Schwab #resenha
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Moradora de uma pequena vila francesa, Adeline Larue sonha em conhecer o mundo além dos muros da cidade. Porém, conforme cresce, as chances diminuem e, num momento de desespero, ela acaba fazendo um pacto com um deus misterioso. Tudo o que ela queria era liberdade, mas acaba numa armadinha: em troca da imortalidade, sua vida é apagada, como se nunca tivesse existido. Vagando ao longo dos séculos, Addie acaba se conformando em ser esquecida ao mesmo tempo que procura brechas para deixar sua marca no mundo.
O que é uma pessoa, se não as marcas que deixa para trás?
Um dos maiores fenômenos de 2020, uma das histórias, e autora, mais hypadas do ano, e simplesmente não me conquistou. Esperava algo completamente diferente, principalmente no quesito "uma aventura que se desenrolará por séculos e continentes, através da história e da arte" prometido pela sinopse. Para mim, o potencial de tudo isso é incrivelmente desperdiçado. A heroína vai à bem menos lugares do que poderia, apenas esbarra em pouquíssimos momentos históricos e tornar-se uma espécie de musa inspiradora é quase uma piada, um easter egg, um acidente, um acaso.
A não-linearidade da narrativa a torna instigante como deveria, ainda assim fico me perguntando se uma ordem cronológica não deixaria a tensão anda maior, porque de certa forma já sabemos no que uma coisa ou outra vai dar. Por exemplo, o fato de alguém finalmente reconhecer Addie após 300 anos de anonimato seria um ponto de virada mais forte se ficasse oculto da sinopse do livro. Afinal, é algo transformador para Addie, e poderia ser para o leitor também.
Senti o tom do livro mudar drasticamente a partir da metade, ganhando um aspecto estranho de "fanfic", tanto em relação ao envolvimento dos personagens entre si como no destino para onde a história se insinuou. Para falar a verdade, achei um pouco massante e ficou uma vontade de rescrever a história à minha própria maneira. Mas considerando o ponto de partida, V. E. Schwab consegue um maravilhoso desfecho para Adeline, ela engenhosamente conquista o que queria e ainda sobra um clima bom de incerteza.
A coisa mais perturbadora sobre o tempo é que nunca é o bastante. Talvez seja abreviada por uma década, ou talvez por apenas um momento. Mas a vida de uma pessoa sempre acaba cedo demais.
Infelizmente para mim, A vida invisível foi o suficiente para não querer conhecer mais nada da autora - apesar de me ter arrancado muitos quotes. Mas nisso culpo menos a autora, seu estilo de escrita e originalidade de suas histórias, e mais o gênero. Não que tenha vasta experiência no gênero, mas talvez um foco na mitologia ao invés dos personagens possa me prender mais. Existe muita magia por aí e, entre high e low fantasy, em alguma eu me encaixo.
É curioso que mesmo não gostando de como a história se desenvolve, o tema central consegue me cativar. Por um lado, a imortalidade: contemplando o que há de melhor e pior no mundo, Addie não se cansa de descobrir coisas novas, como alguém que tem muita sede de viver e sabe aproveitar a vida; por outro lado, toda essa preocupação em deixar um legado: um sentimento talvez tão presente neste século como em nenhum outro, todos queremos fazer algo de significante, inovador ou grandioso, tanto que nos angustia. Todo mundo quer ser lembrado, ninguém quer ser esquecido.
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