Tumgik
abre-asa · 2 years
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[XVa]
Estas quatro canções, escrevi-as estando doente.
Agora ficaram escritas e não penso mais nelas.
Gozemos, se pudermos, a nossa doença,
Mas nunca a achemos saúde,
Como os homens fazem.
O defeito dos homens não é serem doentes:
É chamarem saúde à sua doença,
E por isso não buscarem a cura
Nem realmente saberem o que é saúde e doença.
“O Guardador de Rebanhos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença,1994.
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abre-asa · 2 years
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Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é uma ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes,
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita coisa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do Sol
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).
“O Guardador de Rebanhos”. 1ª publ. in Athena, nº 4. Lisboa: Jan. 1925.
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abre-asa · 2 years
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“Estranhei tudo. E, por me estranhar, vi-me por um instante como sou. Gostei ou não? Simplesmente aceitei. Tomei um táxi que me deixaria em casa, e refleti sem amargura: muita coisa inútil na vida da gente serve como esse táxi: para nos transportar de um ponto útil a outro.”
— Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”
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abre-asa · 3 years
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“Adieu, dear soul. I haver just gone down into the garden and have gathered the little rose, which I am sending you. I have kissed it; put it quickly to your mouth, and then – guess where. Adieu ! a thousand kisses. I am yours from night to day, from day to night.”
— Gustave Flaubert (1821-1880), in a letter to Louise Colet (1810-1876), from “Letters: Month One”, in “Rage and fire: a life of Louise Colet, pioneer feminist, literary star, Flaubert’s muse“ by Francine du Plessix Gray
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abre-asa · 3 years
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Léon Delafosse by John Singer Sargent
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abre-asa · 3 years
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XL
Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move.
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.
“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.
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abre-asa · 4 years
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Alguns momentos, algumas coisas, ou pessoas, cheiros, visões, objetos e lembranças, nos põem em contato com o passar do tempo. Tudo o que nos emociona, tudo o que nos toca fundo, é o tempo chegando e indo embora. Se eu pudesse dar um conselho a vocês, eu diria: não queiram nunca ser eternamente jovens; gostar de viver é gostar de sentir, e gostar de sentir é, necessariamente, gostar de envelhecer.
Rodrigo Lacerda, em “O fazedor de velhos”
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abre-asa · 4 years
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Os medos, ansiedades e angústias contemporâneos são feitos para serem sofridos em solidão. Não se somam, não se acumulam numa “causa comum”, não têm endereço específico, e muito menos óbvio.
Zygmunt Bauman
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abre-asa · 4 years
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Eu nada temerei! (O medo é o assassino da mente; medo é a morte pequena que traz a obliteração. Enfrentarei meu medo! Não permitirei que ele passe sobre mim ou através de mim. E, quando ele se for, voltarei minha visão interna para olhar sua trilha. Por onde o medo passou nada restou). Apenas eu permanecerei.
Frank Herbert - Duna.
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abre-asa · 4 years
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“Os versos são prodígios escondidos da minha fantasia. Hão de ficar assim. Solenes. Mudos.” 
— Hilda Hilst, Baladas
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abre-asa · 4 years
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“Ando desnorteada, sem compreender o que me acontece e sobretudo o que não me acontece.”
— Clarice Lispector, A Descoberta do Mundo
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abre-asa · 4 years
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“esperando pela morte como um gato que vai pular na cama sinto muita pena de minha mulher ela vai ver este corpo rijo e branco vai sacudi-lo talvez sacudi-lo de novo: “Hank!” e Hank não vai responder não é minha morte que me preocupa, é minha mulher deixada sozinha com este monte de coisa nenhuma. no entanto eu quero que ela saiba que dormir todas as noites a seu lado e mesmo as discussões mais banais eram coisas realmente esplêndidas e as palavras difíceis que sempre tive medo de dizer podem agora ser ditas: eu te amo.”
— Charles Bukowski, Confissão.
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abre-asa · 5 years
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“Cheguei a dissipar de meu espírito o último traço de esperança humana.”
— Arthur Rimbaud, Uma Estadia no Inferno.
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abre-asa · 5 years
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O Corvo
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste, Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais, E já quase adormecia, ouvi o que parecia O som de alguém que batia levemente a meus umbrais. “Uma visita”, eu me disse, “está batendo a meus umbrais. É só isto, e nada mais.” Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro, E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais. Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais - Essa cujo nome sabem as hostes celestiais, Mas sem nome aqui jamais! Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais! Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo, “É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais; Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais. É só isto, e nada mais”. E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante, “Senhor”, eu disse, “ou senhora, decerto me desculpais; Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo, Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais, Que mal ouvi…” E abri largos, franqueando-os, meus umbrais. Noite, noite e nada mais. A treva enorme fitando, fiquei perdido receando, Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais. Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita, E a única palavra dita foi um nome cheio de ais - Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais. Isso só e nada mais. Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo, Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais. “Por certo”, disse eu, “aquela bulha é na minha janela. Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.” Meu coração se distraía pesquisando estes sinais. “É o vento, e nada mais.” Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça, Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais. Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento, Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais, Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais, Foi, pousou, e nada mais. E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura Com o solene decoro de seus ares rituais. “Tens o aspecto tosquiado”, disse eu, “mas de nobre e ousado, Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais! Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.” Disse o corvo, “Nunca mais”. Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro, Inda que pouco sentido tivessem palavras tais. Mas deve ser concedido que ninguém terá havido Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais, Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais, Com o nome “Nunca mais”. Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto, Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais. Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento Perdido, murmurei lento, “Amigos, sonhos - mortais Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais”. Disse o corvo, “Nunca mais”. A alma súbito movida por frase tão bem cabida, “Por certo”, disse eu, “são estas vozes usuais, Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais, E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais Era este "Nunca mais”. Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura, Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais; E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais, Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais, Com aquele “Nunca mais”. Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo À ave que na minha alma cravava os olhos fatais, Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais, Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais, Reclinar-se-á nunca mais! Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais. “Maldito!”, a mim disse, “deu-te Deus, por anjos concedeu-te O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais, O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!” Disse o corvo, “Nunca mais”. “Profeta”, disse eu, “profeta - ou demônio ou ave preta! Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais, A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo, A esta casa de ânsia e medo, dize a esta alma a quem atrais Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais! Disse o corvo, "Nunca mais”. “Profeta”, disse eu, “profeta - ou demônio ou ave preta! Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais. Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais, Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!” Disse o corvo, “Nunca mais”. “Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!”, eu disse. “Parte! Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais! Não deixes pena que ateste a mentira que disseste! Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais! Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!” Disse o corvo, “Nunca mais”. E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais. Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha, E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais, E a minh alma dessa sombra que no chão há mais e mais, Libertar-se-á… nunca mais! - Edgar Allan Poe, The Raven.
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abre-asa · 5 years
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XLIV - Acordo de noite subitamente
Acordo de noite subitamente,
E o meu relógio ocupa a noite toda.
Não sinto a Natureza lá fora.
O meu quarto é uma coisa escura com paredes vagamente brancas.
Lá fora há um sossego como se nada existisse.
Só o relógio prossegue o seu ruído.
E esta pequena coisa de engrenagens que está em cima da minha mesa
Abafa toda a existência da terra e do céu...
Quase que me perco a pensar o que isto significa,
Mas volto-me, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,
Porque a única coisa que o meu relógio simboliza ou significa
Enchendo com a sua pequenez a noite enorme
É a curiosa sensação de encher a noite enorme
Com a sua pequenez...
E esta sensação é curiosa porque só para mim é que ele enche a noite
Com a sua pequenez...
“O Guardador de Rebanhos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.
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abre-asa · 5 years
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Abro as veias: irreprimível, Irrecuperável, a vida vaza. Ponham embaixo vasos e vasilhas! Todas as vasilhas serão rasas, Parcos os vasos.         Pelas bordas - à margem - Para os veios negros da terra vazia, Nutriz da vida, irrecuperável, Irreprimível, vaza a poesia.
Marina Tsvetaeva. Publicado no livro “Poesia Russa Moderna” com tradução de Augusto de Campos - Editora Brasiliense 1985.
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abre-asa · 5 years
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I am nothing more than an animal Someone has wounded in the belly.
Marina Tsvetaeva (1892-1941), from “Poem Of The End” (1924), translated from the Russian by David McDuff in: “Marina Tsvetaeva. Selected poems”
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